sexta-feira, 31 de março de 2017

Pergunta de Leitora - Colo




Não me entendo. Tenho 45 anos e sou casada. Sempre gostei de transar com homens. Mas ultimamente venho sentindo atração por uma amiga minha que é lésbica. Não sei por que isso tem que me acontecer. Eu ando sonhando e imaginando como seria ficar com minha amiga. Tenho vergonha desse desejo e queria que não estivesse acontecendo. Será que sou lésbica, então? Está certo que a relação com meu marido não vai bem. Descobri que ele me traiu e quase nos separamos, fiquei muito humilhada e revoltada com ele, mas o que não entra na minha cabeça é por que então não me senti atraída por outro homem? Nunca tive desejos homossexuais antes. Pensei que isso de ser homossexual fosse bem mais comum nos homens do que nas mulheres. O que me está acontecendo? Preciso de ajuda.

            Há um engano achar que existem mais homens homossexuais do que mulheres. Na verdade o que ocorre é que como o sexo é menos reprimido entre os homens estes acabam por exercer mais a própria sexualidade. Já com as mulheres a história é outra e muitas são educadas a não desejarem ou ao menos não manifestarem seus desejos sexuais. Mesmo na homossexualidade as mulheres são mais inibidas. Mas não há evidencias de que o número de mulheres homossexuais seja menor.
            Outro engano também que se tem com a sexualidade é achar que ela se trata exclusivamente de uma sexualidade hetero ou homossexual. Todos os psicanalistas concordam que a sexualidade humana é muito mais complexa do que gostaríamos de imaginar e que não existem padrões exclusivos, mas que somos todos sexuais, ou seja, que a bissexualidade é muito mais presente do que muitos acreditam. Portanto, não é incomum em alguma fase da vida tanto homens quanto mulheres se sentirem atraídas por e até mesmo ter experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo. Geralmente, isso acontece mais no início da juventude, mas não tem data certa.
            Muito mais importante do que saber se você é homossexual ou heterossexual é entender o que está lhe acontecendo sem se julgar e se condenar. Você menciona uma decepção com seu marido onde sua autoestima parece ter sido muito diminuída. Deve ter ficado tão humilhada, mais até do que pode ter percebido, que deve ter te levado a um sentimento de vingança para com os homens. Resultado: você renunciou aos homens.
            Tudo que lhe digo são apenas hipóteses que demandam melhor análise que não cabe nesse espaço. Porém, podem ser pontos relevantes para você refletir sobre o que vem lhe acontecendo. Mas podemos pensar que ao ser enganada por um homem é como se você voltasse ao colo da mãe para curar as feridas abertas. Talvez ao estar com uma mulher você se sinta mais segura. Muitas mulheres e homens se voltam à homossexualidade como defesa e não porque tenham necessariamente essa orientação sexual. Contudo, seja o que for se faz importante que você se trate com respeito e amor e deixe de lado os preconceitos.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Psicoterapia não resolve Problemas



            Ouço muita gente dizer que psicoterapia não resolve problemas, e sabe o quê? Estão certas!  Não é função da psicoterapia resolver problemas. Aliás, nem seria mesmo possível alguém ou algum forma de terapia solucionar qualquer problema que fosse. Então qual é o objetivo de alguém fazer psicoterapia ou análise que é geralmente um processo demorado e exigente? Quais benefícios obteríamos num tratamento assim?
            Os pacientes quando chegam ao consultório relatam suas dificuldades e geralmente as relacionam com alguma coisa externa a eles. Por exemplo: é sempre a esposa ou o marido, as difíceis relações no trabalho, a impossibilidade de se encontrar parceiros amorosos, não se sentir realizado ou a depressão, bipolaridade, ansiedade desmedida, etc. Muitos pacientes esperam que seus psicoterapeutas saquem sua varinhas mágicas e façam todos os seus problemas sumirem. Mas nenhum psicoterapeuta tem esse poder. Ninguém tem esse poder.
            Mesmo que uma psicoterapia “resolvesse” algum problema mais e mais problemas surgiriam sem parar. Isso ocorre porque é a pessoa que se relaciona consigo e com a vida de uma maneira problemática. É a pessoa que “gera” a maioria das suas adversidades que vive. Por isso de nada adiantaria resolver os problemas externos, por mais desagradáveis que estes sejam, pois se trata de algo interno que vem sendo a fonte que cria tantos desacertos.
            Estar em psicoterapia ou análise, portanto, é aprender a se relacionar de forma mais eficiente com o que sentimos. Muitos, erroneamente, pensam que se analisar é ficar interpretando os sentimentos filosoficamente sem sair do lugar ou ficar relembrando o passado apenas. É totalmente diferente. O passado a gente lembra não para resolvê-lo, mas para evitar repeti-lo no presente. As emoções e sentimentos não são para ficarmos interpretando passivamente, porém para trazer um sentido para o que experimentamos e abrir mão daquilo que não nos serve. A psicoterapia é uma ferramenta, muito boa, que nos ensina a lidar com o que é nosso de uma maneira mais saudável e proveitosa. No fim ela nos faz ser donos de nossa própria vida.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Pergunta de Leitora - Céu e Inferno



Minha vida é infernal. Antes de casar era uma mulher que trabalhava e tinha sonhos e esperanças, mas depois do casamento tudo foi por água abaixo. Meu marido, que estava muito bem empregado, perdeu o trabalho e nunca mais se recuperou totalmente. Hoje ele vive de bicos aqui e ali e é tudo muito instável. A irmã dele que é uma desocupada vive conosco e temos dois filhos pequenos. É muita pessoa para o dinheiro dar conta. A irmã está sempre doente, eu tenho que cuidar da casa e dos filhos e só meu marido que traz dinheiro para cá. Venho percebendo que estou desenvolvendo doenças mentais. Me sinto angustiada sem motivos e fico medrosa muitas vezes. Sair na rua virou um suplício e tenho muito medo de morrer. Não sei como superar tantos problemas e nem sei se acredito que algo possa dar certo na minha vida. Estou 40 quilos mais gorda do que meu peso ideal, amarga e cheia de cinismo e minha vida sexual acabou. Queria uma vida sem problemas, sem lutas, sem dores. Preciso de ajuda.

            A vida pode ser mesmo algo muito duro e até mesmo cruel. Há pessoas que precisam enfrentar inúmeras dificuldades mal amanhece o dia. As questões a serem resolvidas são muitas e os recursos tanto materiais quanto mentais para dar conta das incumbências são poucos.  Aliás, a maior parte da população no mundo vive sob essas tristes condições que ao se acumular podem ir contaminando tudo de bom que a vida também pode oferecer.
            Entretanto, por incrível que pareça, muitas pessoas nessas mesmas condições não se deixam sucumbir, ou seja, não fazem da vida o inferno na terra. É emocionante e gratificador observar que pessoas sob condições tão duras conseguem enfrentar a vida com dignidade e, surpreendentemente, com muito coração aberto. Essa gente encara suas adversidades não com ódio e amargura, mas tentando fazer o melhor possível dentro das possibilidades. Como será que elas conseguem fazer assim quando outras desmoronam como castelo feito com cartas de baralho?
            Obviamente a mente e como ela reage tem uma participação protagonista nesses dois resultados tão diferentes. O que torna a vida um inferno não é em si as agruras e dificuldades que nos surgem, pois destas não temos controles e a vida está repleta. Porém, o que torna a vida infernal é quando nos agarramos à ideia de que a vida tem que ser um paraíso. Se idealizamos a vida, ou melhor dizendo, se alucinamos que a vida tem que ser um perfeito mar de rosas vamos comparar essa alucinação com a realidade e vamos perder. O inferno só existe quando não suportamos viver fora de um paraíso alucinado.
              As suas condições são ruins e precárias. Mas será que não há nada mesmo que você possa fazer? Talvez o que você possa fazer seja um pequeno passo diante dos muitos que você necessita, mas um passo já pode te mudar de posição e é isso o que você precisa. Em vez de se perder imaginando uma vida de fantasia que tal ir à luta fazer o que lhe for possível? Não perca tempo fixada no paraíso.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Arrogância e Vaidade



Não há nada em uma lagarta que lhe diga que ela se transformará em uma borboleta” (Margaret Fuller)

            Com esse pensamento acima podemos aprender algo de extrema importância que tem a ver com o quanto não devemos julgar. Quem julga trata-se de uma pessoa arrogante, que crê ter certeza das coisas e não se permite observar e aprender com o que observa. A pessoa arrogante é alguém com baixa autoestima, pois se cerca de certezas (ilusões) e falsos valores como forma de não ter que se deparar com aquilo que não sabe. Quanto mais um indivíduo resiste em acolher seu próprio não saber mais vai desenvolver uma arrogância como mecanismo de defesa.
            Uma pessoa sem autoestima verdadeira se agarra à vaidade que é totalmente diferente e contrária a um verdadeiro gostar de si mesmo. Parece que alguém vaidoso gosta de si, mas isso não é verdade. O que acontece é que uma pessoa vaidosa se dá uma importância extrema como forma de se proteger de sentimentos autodepreciativos e intensamente julgadores e condenatórios. Adota-se então uma posição de vaidade, como se esta revestisse quem a sente com um manto protetor que permanece imune aos julgamentos e condenações.
            Ocorre que a pessoa arrogante, que faz uso maciço da onipotência, está sempre na corda bamba, sempre correndo o risco de ser arrasada pelos próprios julgamentos e preconceitos. Por mais que a vaidade sustente uma certa posição (ilusória) de imunidade, não dura muito e essa pessoa então vê como recurso projetar fora de si os mesmos julgamentos e preconceitos a que se sentia submetida. Passa daí a julgar o outro e trata-lo como objeto. O outro, para os vaidosos, não são mais vistos como pessoas, mas como coisas.
             O maior problema de se ficar preso a uma posição de se julgar os outros é que isso impede o estabelecimento e a formação de relações verdadeiras e humanas. Os relacionamentos tornam-se "coisificados" e desprovidos de qualquer possibilidade de um contato real. O arrogante sempre precisa fazer uso do outro, afinal em quem vai derramar os ímpetos condenatórios? Se fazemos uso do outro não temos como construir laços humanos que enriqueçam. Essas pessoas jamais conseguem entender que uma lagarta pode virar outra coisa que eles jamais sonharam. Estão tão presas aos seus preconceitos que tornam-se cegas para as transformações que a vida proporciona.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Pergunta de Leitora - Mapa Interno



Estou passando por uma fase muito difícil. Tenho 23 anos, meus pais estão em crise e vão se separar. Até aí tudo bem. Eles têm que ver o que é melhor para eles. O problema é que tem muita briga e o ambiente é muito ruim e está me afetando. Meu pai me vinculou com minha mãe, então está refletindo em mim a ponto dele achar que devo acordar a hora que for quando ele chega para arrumar janta ou café da manhã. Essa cobrança, essas brigas vêm me perturbando e está prejudicando meu namoro. Acabei sendo estressada com ele, brigando por coisa boba e acabei quase destruindo meu namoro por problemas da minha casa. Eu tô muito mal com isso porque meu namorado sempre está me dando força. Eu me senti uma ingrata pela forma que eu o tratei. Eu pedi para que ele não desistisse de nós. Tivemos uma longa conversa e estamos juntos mas sei que ele está bem chateado devido ao meu comportamento. Eu liguei em uma universidade para fazer aqueles atendimentos gratuitos com psicólogo. Sinto que preciso de ajuda.
Esqueci de falar uma coisa. Meu namorado disse que ele não queria mais continuar que ele achava que não ia valer a pena. Eu pedi muito que ele não terminasse, que eu ia me corrigir. Ele disse que não ia voltar por dó porque ele não tinha a intenção de voltar mais. Ao mesmo tempo que fiquei feliz por ele aceitar fiquei pensando nisso sobre dó. Ele não é de voltar atrás, as vezes usou esse termo para não dar essa impressão, mas o senhor acha mesmo que é por dó?

             Tive que ler e reler seu email várias vezes para conseguir entender e confesso que em muitos pontos ficou confuso. Fiquei pensando sobre isso e talvez seja por aí que você também pode começar a pensar. Sobre o que será que você falou: sobre seus pais? A separação deles? As brigas, o ambiente difícil? A complicada relação com seu pai? Seu desentendimento com seu namorado? Se ele tem ou não dó de você? Do seu medo do fim dessa relação? Enfim, parece que está difícil separar tudo o que está sentindo.
            No entanto, no meio de tanta confusão há luz no fim do túnel. A luz está em você procurar ajuda para começar a pensar sobre a sua vida. Quando você diz que está atrás de ajuda psicológica é porque já se deu conta que está intolerável viver desse jeito e que isso precisa ser transformado. Reconhecer que se precisa de ajuda é ótimo sinal e um passo importante para viver melhor.
            Hoje você está presa por tantas questões, dúvidas e angústias que imperam em sua vida. Há muita mistura entre passado, presente, medos e desejos, de modo que nem você mesma entende o que está acontecendo. Ao falar sobre sua história de vida com alguém que saiba te escutar tem a chance de dar um sentido para todas essas experiências e ir construindo um caminho.
               Os navegadores da antiguidade estabeleciam suas rotas e determinavam suas posições mapeando as estrelas. Elas serviam como guias e referência. Da mesma forma você precisa, e isso pode ser conseguido através da psicoterapia, mapear tudo o que você sente para não ficar perdida. Tenha paciência. O primeiro passo que é procurar ajuda você deu, agora é desbravar os tumultuados mares que há em você.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Instantes da Vida




“Quando entendemos o quão precioso cada momento é , nós podemos tratar cada respiração e cada instante como um bebê recém-nascido.”Michele McDonald


            Quem, em sã consciência, iria tratar mal um recém-nascido? Ninguém. Muito pelo contrário, iriamos ter para com um pequeno e indefeso bebê uma atitude de proteção, amparo e muito amor. Diante de um recém-nascido ficamos admirados com o milagre da vida e praticamente prestamos reverência aos mistérios desse mundo. Ao nos encontrarmos com um bebê nos permitimos nos abrir para a experiência do assombro e pela maravilha da vida. Pena que muitos se esquecem ou não se permitem viver a mesma atitude diante dos pequenos momentos da vida diária.
            Frequentemente, no dia a dia, deixamos de lado muitas coisas e vivências importantes por julgarmos comuns demais para atrair nossa atenção e cuidado. Em outras palavras, nos abandonamos sem a menor cerimônia e pudor e nem percebemos o quanto isso nos é bastante prejudicial. Assim como seria muito danoso abandonar um bebê, também nos abandonar não é nada bom.
                    Quando não somos capazes de aproveitar as pequenas coisas nos vários momentos que possuímos estamos cometendo um grave erro e mais ainda, estamos sendo cruéis conosco mesmos. Estamos tratando nossos momentos, que são verdadeiros milagres, como coisas sem valor. Não entendemos a preciosidade que é nossas vidas. Porém, a vida é feita de tempo, tem data de validade e quando não sabemos tirar o melhor dos nossos instantes é que no fundo não sabemos aproveitar o melhor de nossas vidas. Saber olhar para si com admiração e maravilha é uma aprendizagem importante que muitos esquecem durante a jornada da vida.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Pergunta de Leitor - Chifre em cabeça de cavalo




Tenho 45 anos e minha esposa tem 39. Temos filhos e sempre vivemos muito bem. Nossa vida sexual é muito prazerosa e ativa. Portanto não tenho reclamações nessa área. Estou escrevendo porque estou com algumas dúvidas. Um dia de madrugada acordei e sentindo uma vibração na cama percebi que minha mulher estava se masturbando ali do meu lado. Na noite anterior tínhamos transado e ela chegado ao orgasmo. Não entendi porque ela estava então se masturbando. Quando perguntei ela negou e disse que era imaginação minha, mas uma outra noite algum tempo atrás eu também achei que ela estava se masturbando e quando ela percebeu que eu tinha acordado parou. Nossa vida sexual é boa e falamos muito disso. Teve vezes que até falei que queria ver ela com outro, mas só como fantasia e não para realizar de fato. Agora fico imaginando sobre o que ela fantasia quando está se masturbando. Será que pensa em outro?

            Uma das coisas mais importantes que devemos não fazer na vida é procurar chifre em cabeça de cavalo. Cavalos não têm chifres e o único que tem é o unicórnio que não existe. Estou lhe dizendo então que talvez você esteja procurando por coisas que não existem quando considera estranho perceber que sua mulher tem uma vida sexual particular.
            A vida sexual de vocês é satisfatória, conforme você contou e que não há nada a reclamar. Mesmo assim você estranha que ela se masturbe mesmo que esteja satisfeita e de que tenha tido orgasmo na noite anterior. Ela não tem direito a masturbação? Por que isso seria tão estranho? Você nunca se masturbou mesmo estando satisfeito com o sexo com sua mulher?
            Talvez o que você estranhe seja o fato de que uma mulher possa ter desejos próprios que não incluem você. O que te deixa com dúvidas é que você está excluído quando ela se masturba, quando acredita que a mulher só tem vida sexual com o marido e a anuência deste.
             E se ela pensar em outro? Também não seria nada como o fim do mundo, não é mesmo? Talvez você mesmo já tenha se masturbado pensando em outra e não é por isso que não goste de sua mulher ou de que vá traí-la. A fantasia faz parte da vida sexual e é um direito. Ela tem todo o direito de fantasiar com outros, mesmo estando com você e você também tem esse direito. O que é ruim e deixa a sexualidade travada é quando ela precisa seguir normas e se torna obrigação. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Grama Verde não é só Sorte




            Há um velho ditado que diz que a grama é sempre mais verde no terreno vizinho, mas isso é uma bela mentira, já que a grama só pode ser verde nos lugares onde ela é cuidada de fato. Se o vizinho tem a grama verde é porque pode ter certeza de que ele está se dedicando em podá-la, aguá-la e cuidar para que ela assim fique. Apesar de isso ser óbvio e não ser segredo para ninguém, são muitos os que se esquecem disso e terminam por acreditar que a grama do vizinho é mais verde porque ele tem sorte apenas.
            Frequentemente ao olhar para a vida dos outros e nos compararmos acreditamos que os outros vivem uma vida melhor, mais fácil, mais felizes e sem tantos trancos e tombos. Tendemos a diminuir as dificuldades alheias e se a levamos em consideração sempre achamos que os problemas dos outros são de fácil solução e não chegam aos pés dos nossos que são, sim, extremamente difíceis. Ocorre que quando o problema não é nosso, ou seja, quando não os estamos vivenciando sempre acharemos que são simples. Agora, quando estamos inseridos nos nossos próprios problemas e não conseguimos ver além deles temos certeza de que estamos numa situação bem pior. Só que tudo isso não é verdadeiro, sendo muito mais uma ilusão.
            Quando colocamos a ilusão no lugar da realidade sempre vamos tirar conclusões precipitadas e certamente errôneas. É fácil ver as conquistas e vitórias de outras pessoas, mas nunca vemos o quanto que elas tiveram que batalhar duro para isso. Quando achamos que para os outros as coisas vêm fácil e sem esforço estamos no enganando. Todos têm que batalhar e quem quiser algo de valioso na vida terá que aceitar o trabalho para isso. Assim é para o trabalho, para os relacionamentos de qualidade e para a vida em geral. Quem quer uma vida como um gramado verde e vistoso precisa entender que isso não virá de graça, mas apenas como resultado de toda uma série de decisões, aprendizagens, persistência e paciência. É claro que há também sorte nessa vida, mas o que de fato mantêm um gramado bonito é esforço contínuo. 

sexta-feira, 3 de março de 2017

Pergunta de Leitor - Um Ser Humano




Sou cristão e como tal tenho que seguir determinadas regras que guiam a vida cristã. Não que eu tenha, mas assim é a minha escolha. Hoje tenho 22 anos e nunca namorei e muito menos tive relação sexual. Só se admite vida sexual no cristianismo após haver casamento. Eu entendo tudo isso, mas me sinto um pecador. Não consigo tirar a minha cabeça do sexo e penso em sexo e em mulheres muitas e inúmeras vezes ao dia. Imagino até cenas sexuais com mulheres. Sei que isso tudo está extremamente errado e não queria ser assim, tão mundano. Nunca consegui conversar com o pastor sobre essas coisas que sinto porque não quero que ele pense mal de mim. As vezes eu me masturbo e sei que isso também é pecado e atrapalha meu crescimento espiritual. Não sei mais o que fazer. Estou desesperado. Só penso em sexo, mas estou longe de casar. Queria muito ser casto e ter uma vida casta como manda a bíblia, mas estou mais para pecador do que para santo. Tem hora que odeio sentir desejo sexual. O que posso fazer?

            Você é cristão, mas antes de ser cristão é também humano. Isso não pode ser esquecido. O problema de esquecer esse simples fato é que traz muitas confusões como se só fossemos determinadas coisas e assim negamos a força de elementos que nos pertencem e que precisam ser acolhidos. Estou falando da força da pulsão sexual que não deve jamais ser desprezada, pois quem a despreza despreza na verdade a si mesmo.
            Sendo um jovem de 22 anos é mais do que natural que você tenha desejo sexual. A sexualidade faz parte da natureza e negá-la é o mesmo que negar a própria natureza e isso não temos como fazer sob o risco de causar sérios sofrimentos. Negar a natureza é sempre um tiro fatal. Infelizmente, na religião, que é feita por pessoas, a sexualidade é assunto tabu e muitíssimo mal compreendido. A tendência de muitas pessoas é negarem e desvalorizarem aquilo que não compreendem e temem. Só que o mal que essa atitude traz é incalculável. No entanto, você sente esse mal quando diz que odeia uma parte sua que não tem como ser negada. Uma pessoa que odeia a si mesma não tem como estar bem. Essa atitude não me parece ser cristã.
            No fundo você sabe disso porque teme em falar com o pastor que, nas suas palavras, pode pensar mal de você caso você se abra sobre o que vem sentindo. Você parece não confiar no pastor e preferiu me escrever. Isso diz muito e uma das coisas que isso quer dizer é que você está a procura de outros modelos, outras formas de se relacionar com sua sexualidade que não seja apenas a da condenação. Hoje, você está mais interessado em entender sobre o que a sexualidade te desperta do que em simplesmente condená-la e isso é muito bom.
            Você, também, precisa aprender que castidade é uma coisa e celibato é outra. A castidade tem a ver com a pureza e não com a sexualidade. Ser casto implica em ter auto-respeito, em poder desenvolver amor próprio. Quem não tem amor próprio age de maneira incoerente consigo mesmo e não sabe se preservar inclusive na vida sexual. O que lhe falta é poder conversar sobre todas essas coisas que lhe trazem ansiedades com alguém que não tenha preconceitos e nem uma visão limitada. Em outras palavras, falta-lhe um encontro verdadeiro e humano. Uma análise poderia lhe ser de grande ajuda para poder organizar essa confusão que se passa dentro de você. Que tal se além de cristão você também for um ser humano?