segunda-feira, 29 de abril de 2013

Promessa é dívida




            É sempre importante saber o que se promete a uma criança, pois como diz o ditado promessa é dívida. Muitos encaram que a criança é um ser bobinho que não liga para essas coisas ou de que depois de um tempo esquecem. Pensar assim é desconhecer e desvalorizar uma criança bem como não reconhecer o valor de uma promessa.
            Ao prometer e depois não cumprir embaralha a cabeça das crianças e dá a entender que a palavra não tem valor nenhum. Ao não se cumprir uma promessa a palavra fica empobrecida já que fica mal usada. A palavra não pode ser desprezada já que na palavra há nossos valores. Quando digo a palavra não digo que é só a palavra verbal em si, mas os atos também. Nossas ações são também palavras.
            Quando uma criança escuta uma promessa ela fica no aguardo daquilo, cria toda uma expectativa e se a promessa não for cumprida fica-se uma decepção muito grande e também gera uma desconfiança. Desta maneira acreditar passa a ser perigoso já que o acreditar pode trazer uma grande frustração. É também um mau exemplo já que ao se prometer e não cumprir é mentir. Dá-se a idéia de que se pode mentir e enganar. Portanto, ao prometer cumpra senão corre-se o risco de enfraquecer valores importantes.
            Caso, por motivos justificáveis, uma promessa não possa ser cumprida isso deve ser conversado e colocado em palavras para que nunca fique jogado ao vento. É também preciso saber o que se promete, pois há gente que promete de tudo para todos, o que só mostra que trata a palavra de forma leviana. Talvez até faça isso porque recebeu muitas promessas que jamais foram levadas a sério e perderam todo o respeito e confiança na palavra do outro e na sua mesma. Será que os políticos sabem que promessa é dívida? Como será que esses maus políticos se relacionam com a palavra? É interessante pensar nisso.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Pergunta de Leitor - Questão de enfoque



Sou viciado em cocaína. Não sei bem dizer se sou mesmo viciado, mas vejo que uso cocaína com muita freqüência e que quando fico sem ela me sinto mal e como se algo estivesse faltando na minha vida. Com ela me sinto vivo, cheio de energia e coragem para fazer as coisas. Mas tb sei que ela é droga. Fico em duvida sobre essa questão de droga. Em todas as culturas e civilizações as drogas foram amplamente usadas. Por que elas deveriam então ser condenadas? Por que eu não deveria usar drogas? Sei que o próprio Freud, criador da psicanálise, usou cocaína. Fico me perguntando até que ponto a droga é mesmo perigosa.

            Nem tudo que é amplamente usado em todas as culturas e civilizações é bom. Acreditar nisso é a mesma coisa que se fazer passivo e irresponsável perante as próprias escolhas. O importante é pensar bem sobre as coisas e não simplesmente “seguir o fluxo”.
            É verdade que as drogas acompanham a humanidade, mas isso não é desculpa para se fazer uso delas. Assassinatos e violência também acompanham a civilização, então quer dizer que devemos fazer uso deles? Me parece ser uma lógica torta que está apenas a serviço da manutenção da irresponsabilidade. É um fato que Freud fez sim e até mesmo chegou a receitar para alguns de seus pacientes a cocaína, no entanto quando Freud percebeu que a cocaína estava custando à sua vida pessoal um preço alto se desfez dela. Naquele tempo a cocaína era tida como remédio estimulante.
            Mas penso que a questão principal aqui deve ser voltada a você e não à história da humanidade com a droga. Ao se focar na história é como se você se ausentasse de responder a uma outra pergunta que lhe é sim importante: o que você vem fazendo consigo quando faz uso da droga? Será que quer legitimar o seu vício?
            Quem é viciado está preso. Ficar dependente nada mais é do que se ver preso a algo sem a qual não se consegue sobreviver. Em vez de filosofar sobre as drogas tem mais a ganhar se começar a pensar em criar meios de viver sem precisar da droga, de criar vida sem o uso de drogas. Deveria gastar mais energia em ganhar e conquistar vida e não em arrumar desculpas para a sua dependência. Responsabilizar-se significa em tomar decisões que lhe favoreça e que permita viver com mais liberdade. Que tal mudar seu enfoque?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Viver Junto



            Quando um casal decide casar ou simplesmente morar junto muita coisa muda na vida de cada um. Quando cada um está sozinho as coisas funcionam diferentes, seja no modo como se vive, como organiza a casa e as finanças, porém quando há um relacionamento é necessário toda uma adaptação a uma nova vida. O que antes dependia de uma decisão solitária agora pede uma outra análise e pensar junto se faz necessário.
            Antigamente, não muito tempo atrás, um relacionamento não era muito democrático, porque o divórcio não era bem aceito, de modo que fazia com que muitas coisas tivessem que ser engolidas por um dos membros do casal, sem muito espaço para questionamentos. Hoje isso já não precisa mais ser assim e caso o relacionamento não vai bem, o término se justifica. Com todas essas mudanças as pessoas tiveram ou têm que se adaptar aos novos tempos para manterem um relacionamento.
            Viver com outro é uma aprendizagem, pois cada um carrega suas “bagagens”, suas manias e medos. O maior problema em viver junto com uma outra pessoa é querer mudá-la, é achar que aquele outro precisa mudar para se encaixar numa determinada posição. Isso nunca acontece dessa maneira e insistir pode ser fonte de muitos desentendimentos. É claro que ocorrem mudanças nos membros de um casal, mas isso acontece com o tempo e na medida que cada um pode e não à força e porque o outro assim quer.
            Nunca é fácil manter um relacionamento e se as pessoas entendessem que forçar o outro não leva a nada, as coisas poderiam ser bem melhores. É preciso tempo e muito trabalho para um casal fazer as coisas darem certo. A pressa nesses casos é a pior companhia que pode haver, pois viver em harmonia é tal qual um trabalho artesanal, onde as coisas são feitas com cuidado, amor, dedicação e nunca com afobação e sem ligar para o sentimento do(a) parceiro(a). Mantendo junto a razão com a emoção podemos viver um relacionamento bem mais satisfatório. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Pergunta de Leitor - Da paixão ao amor



Tenho 42 anos e sou bem estabilizado na minha vida. Sou bem apessoado e sei que chamo a atenção das mulheres. No entanto minha dúvida é por que não consigo manter um relacionamento com nenhuma por um tempo mais longo. No começo é tudo maravilha. Fico encantado, apaixonado, arrebatado, mas depois as coisas começam a mudar. Todo aquele colorido que me arrebatava vai perdendo a cor e o relacionamento se torna sem graça e sem vida. Já tive incontáveis namoradas e sempre foi assim. Todos meus amigos já são casados e sinto falta disso, mas não sei qual é o problema comigo. Agora estou perdidamente apaixonado por uma mulher de 34 anos, mas tenho medo de que essa paixão acabe. Não sei o que fazer e pensar disso.

            Você consegue reconhecer sua paixão, mas o problema está em transformar a paixão em amor, pois só o amor sustenta um relacionamento. O amor é tal como uma costura, nas palavras da psicanalista Luciana Saadi, que une os apaixonados quando a paixão vai perdendo a força.
            Você está preso no estado de apaixonamento, esse estado mágico de se sentir arrebatado, que você menciona. É uma delícia estar nesse estado, onde tudo parece dar um colorido e gosto diferente. Quem está verdadeiramente apaixonado não vê mais a realidade e só quer se perder na doce ilusão que é sua paixão. O individuo apaixonado e drogado funcionam, mentalmente, quase da mesma forma: a realidade perde a força e só a ilusão tem sentido.
            Já o amor é coisa diferente. Ele vê a realidade e a aceita, mas para se amar é necessário perder o estado de encantamento e se basear em outros valores como a solidariedade, o companheirismo e a união. O amor não traz o arrebatamento e por isso mesmo não ilude, mas faz ver as coisas como realmente são. Enquanto a paixão valoriza as coincidências entre os apaixonados o amor faz valer as diferenças. À primeira vista a paixão é muito mais interessante do que o amor, porém toda paixão tem data para acabar, enquanto o amor pode ser mantido com a convivência diária.
            No seu caso você deve se perguntar por que valoriza tanto a paixão e não dá chance para o amor. Provavelmente está apegado à paixão e às sensações que ela te propicia. Está “viciado” pelo estado de paixão. Ao analisar sua história de vida pode descobrir que motivos inconscientes estão por detrás desse aprisionamento pela paixão e se livrar deles. Quando estiver livre poderá transformar o sentimento de paixão em amor e assim amadurecer seu relacionamento. Parece-me que você já está sentindo a vontade de abandonar a ilusão e viver mais a realidade. Boa sorte.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Vivendo Fardos



Há uma parábola budista que conta sobre um monge e seu discípulo que viajavam até se depararem com um rio que precisariam atravessar. Na beira do rio viram uma prostituta que precisava chegar a outra margem, mas que tinha medo de atravessar o rio, pois não sabia nadar e era pequena e frágil e receava que a correnteza a levasse. Ela pediu para o mestre ajudá-la e o mestre aceitou colocando-a sentada em seus ombros para o horror do jovem discípulo. Chegando na outra margem o mestre se despede da mulher que continua seu caminho. No entanto, por mais que tentasse o jovem discípulo não conseguia tolerar o horror pelo fato do seu mestre ter encostado numa mulher tão impura, mas por educação não fala nada. Depois de uma semana o mestre percebendo que algo ia mal com seu pupilo o incentiva a falar sobre o que o perturbava. O discípulo resolveu falar:
- Mestre, não entendo e não aceito como um homem tão sábio e sagrado como o senhor se permitiu carregar uma mulher tão impura.
O mestre caiu na gargalhada e respondeu: - Eu a carreguei só durante a travessia do rio e você a está carregando até agora!

            Essa parábola me faz pensar como muitas vezes desperdiçamos energias que seriam bem melhor usadas de outra forma, devido à nossa tendência em não mudar nosso ponto de vista. É importante saber pensar sobre algo que incomoda e pensar não significa ficar revivendo o que nos incomoda num círculo vicioso, porém significa encontrar meios de se elaborar aquilo que perturba.
            Carregamos com bastante freqüência fardos emocionais que não precisaríamos. Isso se dá porque existe nas pessoas uma tendência a evitar tudo aquilo que traz incômodo e exige um trabalho para mudar, que é o pensar. Não só tentamos evitar o pensar como também ficamos facilmente presos aos nossos preconceitos e idéias inflexíveis. Mudar como olhamos o mundo sempre origina um mal estar em boa parte das pessoas.
            Transformar nossas perspectivas é algo custoso e demorado, por isso mesmo olhamos para os fatos com o mesmo tipo de olhar do passado, preconceituoso e inapropriado, mas que agora pede uma nova revisão. Nem todas as maneiras que aprendemos a ver o mundo são benéficas, o que torna então as mudanças vitais. Se desfazer de visões antigas e preconceituosas é um trabalho de todos na sua vida particular e com essas pequenas mudanças individuais podemos criar uma grande mudança na sociedade como um todo.
            Nas filosofias orientais, antigas e sábias, o monge só pode possuir e carregar consigo seu manto, sua cumbuca de comida e um rosário. Podemos entender isso não só como um desapego das coisas materiais, mas principalmente como um desapego de todas as idéias erradas que carregava antes e que impedia de ter uma visão mais real e justa do mundo. Esse é o verdadeiro desapego que todos somos convidados a praticar: o despego daquilo que nos impede de nos tornarmos um verdadeiro ser humano. 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pergunta de Leitora - Saída



Sei que meu marido tem outra mulher com quem se relaciona há anos. Estamos casados por mais de 20 anos e vivemos um bom casamento. Vi sua resposta a mulher que tem marido e amante e decidi escrever sobre mim. Meu marido tem a mim e sua amante e vivemos bem esse traingulo. Eu aceito essa situação pois sei que nada posso fazer. Meu marido é assim mesmo e jamais vai mudar, então fazer o que? Melhor viver assim do que ficar sem marido algum. Só queria que ele fosse mais discreto em suas saídas com ela, porque sei que as pessoas comentam e disso não gosto. A vida é cheia de pormenores e para se sair bem dela é só necessário saber relevar o que não for importante para se ater ao importante. Talvez algum dia eu volte a estudar, pode ser até psicologia.


            É perfeitamente possível viver bem um relacionamento triangular, mas isso só acontece quando entres as pessoas envolvidas não há ressentimentos. Penso que esse não seja o seu caso e digo isso baseado em dois atos falhos que percebi em seu email. Como se sabe os atos falhos são reveladores do que se passa no inconsciente e nessa revelação podemos aprender muito sobre a nossa própria mente.
            O primeiro ato falho foi escrever traingulo em vez de triângulo, podendo aí revelar que na verdade você se sente traída por seu marido, ou seja, não engole tão bem essa situação. É seu direito não engolir essa situação, assim como também seria seu direito aceitar isso sem o menor problema. O mais importante é que, seja qual for sua escolha, ela seja feita porque você realmente assim quer e não porque não tem outro jeito. Você diz que seu marido jamais vai mudar, mas você sim pode mudar e se isso for para o seu bem é necessário construir um caminho para a mudança.
            Seu segundo ato falho foi quando ao falar da vida você disse para se sair bem dela, enquanto imagino que você estava querendo dizer para se sair bem nela. Essa troca de pronomes pode ser indicativa de que você deseje sair dessa situação. Ao que me parece você está nesta situação não porque lhe seja boa, mas porque você não vê outra alternativa.
            Entretanto, ao final de seu email, você diz que quer voltar a estudar. Faz bem em procurar o que lhe seja enriquecedor e que te acrescente. Talvez esteja na hora de buscar uma mudança em sua vida e sair de uma situação que aparentemente só lhe traz aborrecimentos. Não existe apenas um único caminho, mas muitos e saber o seu é sempre o melhor modo de viver. Não se esqueça disso e siga em frente.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Narcisismo



            Freud usou o termo narcisismo para descrever um estado mental que traz muito empobrecimento. Ele tirou esse termo da lenda grega de Narciso que era um belo jovem que ia todos os dias admirar seu reflexo num lago. Ele recebia atenção de muitos por sua notável beleza, porém nunca olhava para ninguém que não fosse a si próprio. Um dia caiu no lago em que se auto-admirava e morreu afogado. No local em que morreu nasceu uma flor que recebeu seu nome.
            É natural e esperado que algum grau de narcisismo todos tenhamos. O bebê, por exemplo, é puro narcisismo, pois acha que o mundo e a mãe existem apenas para satisfazê-lo. O bebê não entende que há outros fora dele. No começo da vida podemos ter essas ilusões senão seria muito difícil viver. Conforme esse bebê cresce, ele tem a chance de perceber que ele não é o único no mundo e que outros estão presentes e têm necessidades. É necessário, então, se adaptar. Claro que algum resquício do narcisismo infantil permanece quando somos adultos, mas quando isso fica muito intenso é que aparece os problemas..
            Tal como o Narciso do mito os narcisistas da vida real não estabelecem ligações verdadeiras com os outros. Ficam auto-investidos, sem conseguirem investir em relacionamentos externos e excluem tudo e todos que não seja a si próprio. Por isso que há um empobrecimento, já que se isolam e tendem a cultivar ilusões de que se bastam e de que os outros só existem para confirmar sua importância, mas o fato é que precisamos dos outros.
            O narcisista não reconhece o outro como independente, um ser a parte, mas o tem como parte de sua mente e que está ali para satisfazer seus desejos. Por isso mesmo os narcisistas são pessoas que têm uma baixa tolerância a frustrações e se irritam facilmente quando suas vontades não são atendidas. Tratam o outro como objeto, não como pessoa. Se afogam em si mesmos numa pobreza interna. Não é fácil deixarmos o narcisismo e passarmos a ser humanos de fato. É sempre um processo doloroso, mas que se faz vital para que cresçamos humanamente e com qualidade.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pergunta de Leitor - Cortejado



Sou um cara bonito e faço musculação porque gosto de ficar com o corpo sarado. Gosto muito quando as mulheres olham para mim, gosto de ser notado e que comentem sobre meu corpo que tanto tempo levo malhando. As vezes pareço inseguro. Muitas vezes pergunto repetitivamente para as meninas com quem fico se eu estou bem, se elas curtem o que vêem, se me acham bonito, se estou bem vestido. Algumas delas estranham e acham que eu sou gay só porque eu gosto de estar bem e só porque eu ligo se estou combinando as roupas e se meu corpo está bem. Fico mal com isso, eu só gosto de ser notado. Será que posso ser gay e não sei?

            Ser gay, ou seja, ter uma orientação sexual homoerótica é só quando há atração por pessoas do mesmo sexo. Não me parece ser esse o seu caso, pelo que você me contou. O que parece lhe acontecer é que você assume uma posição que é mais característica da feminina do que da masculina, ou seja, você quer atrair olhares para o seu corpo.
            A vaidade pelo corpo e pela roupa foi durante muito tempo, quase que exclusivamente, uma preocupação feminina e quase nunca associada à masculinidade. É por isso que estranham quando você fica focado, com tanta intensidade, em seus atributos estéticos. Ficou meio que estabelecido culturalmente que o homem deve se preocupar com sua potência e com suas posses e nunca com sua beleza física. Porém, os tempos já são outros.
            A posição que te agrada, a de ser olhado e elogiado, ficou estabelecida como sendo uma posição feminina. Tradicionalmente as mulheres que são cortejadas e os homens aqueles que cortejam. Você deseja o inverso disso porque quer ser cortejado pelas mulheres. Quer ser aquele que recebe os olhares e as atenções. Você deseja a posição feminina, mas isso não define, necessariamente, sua orientação sexual.
 Agora, você pode estar funcionando de uma forma narcísica. Será que há em você uma baixa autoestima que você tenta compensar através do seu corpo? Vale a pena procurar responder essa questão, já que atuar narcisicamente impede criar relacionamentos verdadeiros e íntimos. Você tem todo o direito de querer ser olhado e notado e de achar alguma mulher que queira dar o que você deseja. No entanto, é importante não correr o risco de ficar inconveniente e querer apenas uma fã e não uma companheira. Conhecer as razões desse seu desejo por ser constantemente admirado se faz necessário.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Adolescer




            Adolescer em latim significa crescer rumo à maioridade. É a fase em que não se é criança e não se tolera comportamentos infantis, mas também não se é adulto de fato. É essa fase intermediária e conturbada e fonte de grandes ansiedades. Não é à toa que é justamente na adolescência que existe o maior  numero de suicídios e de tentativas de suicídio. É realmente um momento complicado na vida de qualquer um.
            A palavra adolescer em português parece tanto com a palavra adoecer que fica até com um sentido negativo. Uma criança é reconhecida por suas características infantis e aceita-se muito do seu comportamento e vontades. Já um adolescente não é mais uma criança, porém não tem atitudes de um adulto até porque seria impossível ter maturidade para tanto. Maturidade se forma e não vem pronta. O adolescente está naquele momento da vida onde abandona aos poucos sua identidade infantil, mas ainda não tem outra para colocar no lugar. É a fase que uma nova identidade pode ser construída e como toda construção leva-se tempo.
            Na adolescência que se começa as contestações. Ficam rebeldes e irritados com muita facilidade. Já não aceitam as imposições dos adultos em sua volta com tanta mansidão e desejam ser mais ativos nas decisões da própria vida. Nessa fase, a família fica meio que esquecida e os amigos são enlevados numa posição bem mais alta. Para os adolescentes se torna importante se sentir parte de um grupo. Os grupos típicos da adolescência como os emos, coloridos, etc. são demonstrações de como eles estão em busca de uma nova identidade que os diferenciem das crianças e dos adultos que ainda não são. Muitos pais se ressentem que aquela criança tão encantadora tornou-se um ser desconhecido. Porém, os adolescentes desconhecem a si próprios e estão em busca de se conhecerem.
            É também na adolescência que a sexualidade vem com tudo. O reconhecimento da sexualidade traz muitas e fortes angústias porque pede que se construa maneiras efetivas e novas de se lidar com ela. As mudanças físicas e de interesses deixam o adolescente perdido e angustiado com sua situação. É que descobrir um mundo novo é excitante, mas também pode ser, e geralmente é, assustador. Tememos o novo e é por isso que os adolescentes podem ser tão arredios nessa fase. Entretanto, com o tempo, que é sempre o melhor aliado, e com paciência o adolescente pode aceitar as mudanças e aprender com elas. Consegue não mais temê-las como antes e criar uma identidade e continuar criando outras identidades assim que a vida exigir sem se sentir tão angustiado.