sexta-feira, 30 de março de 2012

Pergunta de leitora - Escolha inconsciente



Estou triste e sem esperanças com os homens. Esse já é meu terceiro namoro que termina pelos mesmos motivos.  Todos os homens com que me relaciono são fracos, bebem além da conta e nunca estão presentes na minha vida. São todos assim. Fico me perguntando porque só encontro homens assim ou se todos os homens são assim? Acho que no fundo os homens são fracos e não dão conta de suas mulheres como as pessoas acreditam. Sempre quis um homem que fosse forte, mas acho que eles não existem. Nós mulheres temos que ser realistas e ver que os homens são bebês chorões.  Só podemos contar conosco apenas. Não sei mais o que esperar deles.

            Quando algo começa a se repetir é melhor parar para refletir sobre o motivo dessa repetição. Esse é o seu caso. Talvez você possa se ajudar se você se fizer a pergunta certa: o que será que você espera dos homens?
            Você diz em seu email que espera que eles dêem conta de você, mas o que seria isso? Um homem que cuidasse? Um homem que resolvesse sua vida? O que é esse dar conta a que você se refere? Ao responder essas perguntas uma direção poderá surgir.
            Agora esses seus três namoros que fracassaram não foi uma coincidência. Você os escolheu, inconscientemente é claro, mas eles foram uma escolha sua. Cabe-lhe descobrir porque você priorizou homens que te levaram a reclamar. Por que você impossibilita seus relacionamentos fazendo más escolhas?
            Como vê há muitas perguntas a serem respondidas, mas que são vitais para você parar de se repetir e encontrar um caminho para ter um bom relacionamento. Com a ajuda de um analista que saiba te escutar você poderá descobrir, na sua historia de vida, a origem dessa repetição e se libertar dela para construir uma outra historia. Poderá até a aprender a desejar a pessoa certa para você. Não perca tempo em reclamar da sua situação, mas dedique-se a se conhecer melhor

segunda-feira, 26 de março de 2012

Questionamentos



            Vocês já perceberam como as crianças sempre questionam? Estão sempre a fazer perguntas e são bastante curiosas. Isso as deixam com vontade de aprender e se encantar com a vida. Que bom seria se a maioria dos adultos se permitisse se questionar mais em vez de acreditar que já sabem tudo.
            Crianças que perguntam causam, em alguns casos e dependendo das pessoas envolvidas, incômodo. É porque nunca é fácil responder, principalmente, quando nós mesmos não temos as respostas. Por isso o incômodo quando uma criança enche um adulto de perguntas.
            A conseqüência pode ser muito ruim para o desenvolvimento infantil. Quando um adulto se zanga com as perguntas que lhe são feitas ele acaba por se mostrar irritado, respondendo mal e de forma cortante. A criança não entende isso e passa a acreditar que suas perguntas não são boas e teme, então, questionar. Passa a se comportar como a maioria dos adultos que acreditam já possuírem todas as respostas e se fecham para as dúvidas que tanto nos faz crescer e enriquecer.
            As dúvidas e questionamentos não são algo mal e nem devem ser reprimidos, muito pelo contrario, deveria até ser incentivado. É através disso tudo que nos tornamos verdadeiramente humanos. Lembre-se que quem não questiona não aprende e o que seria da vida se não houvesse aprendizagens? 

sexta-feira, 23 de março de 2012

Pergunta de leitora - Loucura



Não consigo me relacionar com nenhum homem. São todos apagados e sem graça quando eu os comparo com meu pai. Meu pai é forte, bonito e sedutor. Era o homem que eu queria para mim. Queria me interessar por outros homens, mas sempre fracasso. Só tenho olhos para o meu pai. Quando saio do banho sempre fico nua na frente dele ou as vezes me enxugo ficando de costas pra ele, mostrando minhas costas que me falaram que são lindas. Sempre espero que ele fale algo ou se manifeste, mas até agora nada. Minha mãe fica brava e com ciúmes, mas ela não tem nada a oferecer pra ele. Ela já esta feia e velha e eu estou na flor da idade. É tão errado assim desejar o próprio pai?

            A fantasia do incesto é mais comum do que se imagina. Porém, você está além da fantasia porque está tentando seduzir seu próprio pai. Você está se pervertendo e desejando perverter seu pai, ou seja, é uma loucura total.
            Na vida nem tudo podemos e o incesto é uma dessas barreiras, tanto que em todas as culturas o incesto é barrado e visto como um grande tabu. Se perverter é negar os limites e achar que pode tudo e que a única coisa que conta é o desejo e o prazer. Você está jogando um jogo trágico.
            Não sei qual é a sua idade, mas posso dizer com toda a certeza que está numa posição infantil porque deseja o pai e ninguém mais além dele. Quer o olhar do seu pai, quer conquistá-lo, seduzi-lo e deixa-lo preso a você. Isso ocorre com uma menininha pequena e conforme essa vai crescendo ela percebe que o pai não se pode ter e assim ela se permite se interessar por outros homens.
            Você nega o seu limite, rebaixa e põe sua mãe de lado e espera conquistar o lugar da sua mãe frente ao seu pai. Não só quer seduzir o próprio pai como quer vencer a própria mãe. Você joga um jogo de sedução fatal e que certamente te levará e a sua família à tragédia. No filme Pecados Inocentes (2007, EUA) conta-se a história real de uma mulher que seduz o próprio filho e as tragédias que advieram desse ato de loucura. Procure se tratar. Nada de bom pode vir da realização do incesto. 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Vazio


Somos homens vazios
Somos homens empalhados
Uns nos outros apoiados
Cabeça cheia de palha, ai!
Forma sem feitio, sombra sem cor,
Paralisada força, gesto sem ação...
T.S. Eliot (The hollow man)

            Quem procura atendimento psicológico está carregando algum tipo de sofrimento. Ninguém iria procurar um psicoterapeuta porque está muito bem, mas sempre porque se encontra numa situação difícil para a qual não sabe mais como lidar. Muitos trazem problemas, relativamente, bem definidos, conseguem saber, mais ou menos, a origem do seu mal-estar. Outros, por sua vez, sabem que se sentem mal, percebem que há algo que lhes incomoda, porém não conseguem dizer propriamente o que os perturba e o que sentem.
            Essas pessoas sentem um vazio em suas vidas, notam que não têm nenhum problema que se sobressaia e chame a atenção, mas no entanto não estão felizes. Não conseguem encontrar um caminho para se sentirem bem e ficam muito incomodadas por se encontrarem nessa posição desconfortável. O vazio não as permite encontrar palavras para falar de seu sofrimento, o que torna o sofrimento pior, porque falar, dar um sentido, sempre ajuda. Quando não se encontra as palavras para significar o sofrimento cria-se uma sensação de impotência muito intensa.
            Nesses casos o caminho é trazer um significado para esse vazio, é trazer um sentindo para a vida para que ela não passe a ser algo sem sabor, mas possa se tornar algo prazeroso. Ao falar com um psicoterapeuta o paciente começa a se escutar e nessa escuta ele vai se dando conta de seu desejo e pode construir sua identidade. O ato de falar nos torna humanos e propicia que nos reconheçamos como tal. Ao se dar conta de seu vazio o ser humano pode construir novos sentidos para colocar no lugar e com isso se enriquecer e sair da posição de impotência. A potência está sempre em encontrar significados na vida, é construir uma história que traga realizações.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pergunta de leitora - Na dose certa



Sou meio maluca. Me entrego a tudo o que eu sinto de corpo e alma, sem nenhuma restrição. Falo o que eu quero, faço o que eu quero, fico com quem eu quero. Uso drogas também mesmo que me faça mal. Me sinto parecida com aquela cantora Maysa que era muito passional e jamais se reprimia. Só que viver assim as vezes me causa mal. Eu acabo ofendendo as pessoas e dizendo o que eu não devia. Prometo coisas no calor do momento e não cumpro depois. Começo a namorar um e já estou pensando no próximo que vai vir. Enfim, sou pura emoção. Tenho medo de reprimir tudo isso e ficar sem sal, perder a graça. Não sei o que fazer.

            Ser uma pessoa passional é ser uma pessoa impulsiva. O problema é que se entregar à impulsividade, sem nenhuma restrição, pode trazer muitos dissabores, como você bem sabe, já que parte para a ação sem pensar nas conseqüências dos seus atos. Viver assim pode ser extremamente prejudicial.
            Você citou a cantora Maysa e se sente como ela: passional ao extremo. Vale lembrar que a Maysa pagou um preço muito alto por sua impulsividade sem limites. Ela machucou muitas pessoas que amava e se colocava frequentemente em situações de risco. Acredita-se que sua morte, num acidente de carro e aos 40 anos, tenha sido resultado de uma mistura de excesso de álcool e remédios. É assim mesmo que você quer viver?
            A impulsividade tem a ver com irresponsabilidade. É não querer assumir compromissos. Quer tanto abraçar o prazer e afastar o desprazer, que a responsabilidade sempre traz uma dose, que se esquece que nem tudo pode e deve ser feito.
            Agora você confunde contenção com repressão. Você acredita que precisa se reprimir quando na verdade precisa aprender a se conter. A contenção se trata de não se deixar dominar e cegar pelas emoções, mas usar sua mente para pensá-las. Quem aprende a se conter não se torna sem graça, mas sabe dosar as emoções com a razão de forma harmônica e saudável proporcionando viver uma vida melhor.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Pensamento



Diz uma lenda que um bravo e corajoso jovem se empenhou arduamente em aprender tudo sobre o combate a dragões. Ele se tornou um verdadeiro mestre em como derrotar qualquer variedade de dragão e um dia deixou a escola e saiu pelo mundo em busca de aventuras onde pudesse colocar em prática suas aprendizagens. O único problema é que em seu caminho ele não encontrou nenhum dragão e perdeu toda uma vida procurando por algo que não existia.

            É justamente assim que muitas pessoas vivem. Querem matar dragões, mas não prestam a menor atenção a sua volta e não vêem que muitas vezes valorizam aquilo que não importa e que é ilusório e deixam de lado toda a vida.
            Há muitas pessoas que chegam a uma certa idade e dizem se lamentar profundamente não ter feito mais por si próprios e por aqueles que amaram. Estavam tão preocupadas com outras coisas, em perseguir fantasiosos dragões, que no fim perceberam que mais desperdiçaram tempo do que qualquer outra coisa.
            Na vida, há batalhas e batalhas e cabe a cada um descobrir quais são as batalhas da sua vida que se mostram verdadeiramente importantes. Se empenhar numa delas por algo que no fim se revela sem muito valor é jogar fora o tempo que temos. No decorrer do caminho da vida há muitas pessoas e coisas em volta que pedem nossa atenção e cuidado. Não precisamos exterminar dragões para nos sentirmos bem e potentes, para isso basta vencer os pequenos e disfarçados dragões do dia a dia.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Pergunta de leitora - Guerra doméstica



Meus filhos quando estão com muita raiva (porque eu os mando para o banho e atrapalha, ou fazer alguma tarefa, ou separo a briga dos dois e dou castigo, como não ver TV, ou não poder jogar), pegam as armas de brinquedo, miram e atiram em mim. Sem parar. Se for “metralhadora”, que eles não têm, mas fingem ter, melhor. A pergunta é: Eu os proíbo de fazer isso e como? Ou eu ignoro e volto a tocar no assunto novamente só quando eles estiverem menos revoltados?
Na hora em que eles estão permeáveis e amorosos, digo que não quero mais que finjam me matar, e eles concordam um pouco envergonhados, mas na hora da raiva, não resistem.

            O que te mobilizou a fazer esta pergunta foi o fato de que você fica triste e magoada com essa reação dos seus filhos. Além disso, você fica assustada quando eles têm uma demonstração obvia do ódio que sentem quando você os frustra de alguma forma e talvez pense que poderia haver algo de errado no relacionamento de vocês.
            Melanie Klein, grande psicanalista e fundadora da psicanálise infantil, percebeu que as crianças podem odiar com bastante intensidade e agredir (principalmente em fantasia) a mãe quando se encontram frustradas. É que as crianças projetam na mãe toda a frustração que sentem e a responsabilizam pelo desprazer que a dominam. Até acreditam que a mãe causa esse desprazer todo propositalmente e por isso sentem esse impulso de atacá-la, acabar com ela e se ver livre do incômodo.
            Quando você chama a atenção dos seus filhos, cobra deles ou os castiga, eles ficam com uma baita raiva e demonstram isso fantasiando te aniquilar. Mas você está no seu papel quando exige deles. A mãe precisa, uma hora ou outra, frustrar os filhos, para que eles aprendam e se eduquem. Deixar os filhos soltos e permitir que não tenham nenhuma responsabilidade não os ajudaria em nada, pois daria a falsa impressão de que tudo se pode.
            Não há nada de errado em seus filhos terem essa fantasia de te matar. Nos contos de fadas sempre existe a figura da madrasta que é sempre morta no final para depois haver um reencontro com a mãe. A madrasta nada mais é do que esse lado da mãe que todos nós gostaríamos de matar para ficar com aquela mãe que dá carinho e que se ama. Aceite que ser mãe é em certa medida ser a madrasta, ou seja, odiada, mas pode deixar claro a eles que mesmo estando bravos e com raiva, assim mesmo, terão que te obedecer. O tempo é o seu melhor aliado.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Curso



Curso de Extensão à Distância - UNIFESP
Coordenação Ronaldo Laranjeira
Colaboradoras: Luciane Ogata Perrenoud e Lígia Bonacim Duailibi

Mais informações:
www.uniad.org.br

segunda-feira, 5 de março de 2012

Pensamento



Dizem que para manter um elefante sempre preso no circo começa-se com ele ainda bem pequeno. Amarra-se ele a uma estaca fortemente cravada no chão com uma corda. Assim, ele tenta sair dessa posição, mas não tem êxito porque a corda é mais forte. Nos primeiros anos o jovem elefante faz várias tentativas de se soltar, mas já que nunca consegue, acaba por se acostumar. Chega-se um momento onde ele está adulto e com muito mais força e aquela corda não representaria mais nenhum empecilho para ele se libertar, porém ele acredita que aquela corda é muito mais forte que ele e não faz mais nenhuma tentativa rumo à liberdade.

            Que coisa mais triste perder fé em si mesmo. Essa é uma das piores coisas que podem nos acontecer: quando já não mais acreditamos na nossa potencialidade e nos acomodamos numa posição tão desvantajosa.
            É comum que no decorrer de nossa vida nos deparemos com situações que tiveram como resultado o fracasso. Fracassar é ruim, pois acaba com nossa autoestima e nos dá a sensação de que não há jeito das coisas se saírem bem. A experiência do fracasso, por pior que seja, faz parte da vida e não há como evitá-la, mas há como aprender com ela.
            Uma das mais importantes aprendizagens na vida é conseguir ver as experiências de fracasso como lições que nos permita evoluir. É não perder a fé em si mesmo e estar sempre a buscar meios de se realizar. Se acomodar numa posição de fracasso é permanecer numa prisão, tal como a do elefante acima, mas o que as vezes não é percebido é que muitos não se vêem com olhos mais realistas que os permitam enxergar que as coisas mudam e o que no passado parecia ser invencível, hoje pode ser facilmente vencido. As mudanças na vida podem trazer novas perspectivas e meios de se conseguir se libertar do que antes era sentido como uma barreira intransponível. Depende da posição que cada uma vai adotar para a sua própria vida.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Pergunta de leitor - O inconsciente é humano



Sou estudante de psicologia do segundo ano e acabei de conhecer seu blog. Gostei muito. Qual linha que vc segue (freudiano, kleiniano, lacaniano, etc.)? E como se dá o trabalho do psicoterapeuta? Como funciona uma sessão? Ainda não sei qual área vou querer para o meu futuro. Há muitas possibilidades e preciso entender mais para poder fazer uma boa escolha. É preciso o psicoterapeuta fazer sua terapia para poder atender?

            O trabalho clínico desperta muito interesse porque lida diretamente com a maneira que nós vivemos e enxergamos o mundo. Trabalho com a psicanálise, mas não me considero nem freudiano, nem kleiniano, nem lacaniano e nem preso a nenhuma outra escola. É que na minha opinião a gente deve conhecer os autores e aprender com eles, mas sempre sermos nós mesmos. Do contrário, ou seja, ficar apenas numa única linha é se limitar. É porque a psicanálise tem como objeto de estudo o inconsciente e ele não é freudiano, kleiniano, etc, o inconsciente é humano e não é rachado em distintas teorias.
            A sessão se dá quando há a escuta psicoterapêutica que é diferente da escuta que se tem no dia a dia.  Essa se guia pelos valores da sociedade e da cultura enquanto a escuta analítica se dá pela procura da verdade. O psicoterapeuta deve se esvaziar de seus preconceitos e suas opiniões morais para poder escutar verdadeiramente o outro e se abrir à suas inquietações sem desejar oferecer soluções ou respostas prontas. É que a conversa que se tem numa sessão não é racional feita de perguntas e respostas, mas de procura pela essência.
            Winnicott, psicanalista inglês, descrevia a sessão analítica como um momento sagrado. Não no sentido religioso é claro, mas na medida que busca revelar a verdade e essência de cada um. Uma terapia tem como objetivo libertar o sujeito de suas amarras, de suas fantasias limitadoras, para que ele possa viver mais plenamente todo o seu potencial.
            Talvez se você se colocar em análise descubra como isso funciona ao aprender a se escutar. Esse conhecimento, do funcionamento e no que consiste uma sessão, não se dá de forma teórica, mas apenas quando você vive o processo. Nada melhor do que a própria experiência.