segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Luxo é saber viver bem




            Quando pensamos em luxo logo imaginamos mansões, carros potentes, viagens de primeira classe, acúmulos de objetos caros e muitas outras exclusividades. Evidentemente certas regalias são ótimas e facilitam nossas vidas. Outras regalias, entretanto, servem apenas para alimentar nossa vaidade e nos dar a falsa ideia de que não somos seres humanos como qualquer outro, como se fossemos especiais.
            Por mais que alguém viva rodeado de luxos esse alguém ainda assim será um humano. E como tal terá que lidar com frustrações, dores e inúmeros outros conflitos que a vida sempre fornece a qualquer um. Nenhum objeto externo por mais luxuoso que seja tem o poder de mudar a natureza humana e os problemas dela. No entanto, o maior luxo que existe e que todos devemos almejar é viver bem. Nada é mais luxuoso e valioso do que saber viver bem.
            Por viver bem me refiro a lidar com a vida de maneira eficiente, sem tantos pesos e sofrimentos desnecessários. Várias pessoas pagam um preço alto demais por determinados luxos que no fim não trazem satisfação verdadeira e se esquecem de dar valor às coisas simples da vida que são as que mais importam. Muitos relacionamentos entre cônjuges, pais e filhos, amigos ficam pobres debaixo de tantos luxos ou de tanta insistência por luxos que o mais vital, a presença franca e o ombro solidário, ficam de lado deixando todos infelizes. As pessoas ainda não compreenderam o que é riqueza de fato e trocam valores internos por objetos comprados no mercado.
            Já aquele que se permite valorizar o que realmente importa e se desapegar dos objetos externos vistos como boias salvadoras pode abrir espaço para experiências de vida que enriquecem e desenvolvem o que há de melhor dentro de si. Até porque luxo de verdade não está na dimensão do ter, mas na dimensão do ser. O mundo seria bem diferente se procurássemos esse tipo de vida luxuosa. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Pergunta de Leitor - Não Tão Óbvio Assim




Todo mundo sabe que deve-se respeitar o próximo, ser ético, prezar por bons valores. Isso tudo é muito óbvio, mas mesmo assim essas coisas são facilmente esquecidas até por aqueles que tanto pregam essas obviedades. Já vi até psicólogos que falam de paciência e tolerância, porém em suas vidas pessoais não são nada pacientes e nem tolerantes. Uma conhecida minha que é psicóloga é assim. Será que as pessoas não pensam que agem diferente daquilo que falam? Não entendo por que a grande maioria das pessoas nunca fazem aquilo que tanto repetem.

            O ser humano tem uma condição complexa e frequentemente contraditória. Achamos, erroneamente, que somos seres muito racionais e que a vida segue uma linha reta sem nenhuma curva ou desvios. Mas essa pretensa linearidade não existe de fato. Não faz parte da nossa natureza bruta. Isso pode ser observado quando prestamos atenção que há um abismo entre o discurso e as atitudes de uma dada pessoa. Falar é fácil e não exige esforço algum enquanto agir conforme se fala demanda muito e é muito mais difícil. Daí haver tanto desencontro entre o que se diz e o que se faz.
            As obviedades podem até parecer lugar comum, mas apenas se levarmos as coisas superficialmente. Aquilo que deveria ser óbvio quando se trata da maneira de viver é difícil porque implica viver com consciência. Desenvolver uma consciência, ao contrário do que muita gente imagina, não é somente saber sobre determinada coisa, mas saber e sentir dentro de si de forma que gere uma transformação. Sem transformação será apenas um saber vazio e ineficaz.
            Quando temos sede precisamos de água que é composta por átomos de hidrogênio e oxigênio, contudo ter esses átomos separados em mãos não mitigará a sede porque eles não se transformaram em água. Só quando eles se juntam e passam por uma metamorfose é que haverá água. Consciência é assim também. É mais do que apenas saber ou sentir, mas é quando esses dois se unem formando um novo sentido, mudando a forma como vemos e nos relacionamos conosco e com o mundo. A água é muito mais do que átomos de hidrogênio e oxigênio. É algo novo!
            As pessoas, infelizmente, se fixam muito nas obviedades e não se permitem transformar em algo novo. Vão acumulando conhecimentos e saberes que são óbvios, mas eles estão mortos por dentro, nada modificou, nada gerou sentido. Um psicólogo que não passa por sua própria análise pessoal acumula um monte de obviedades, mas não terá se transformado. A análise é tal qual um processo alquímico que transforma elementos separados e inativos em algo vivo e eficiente. Quem se permite esse processo não mais ficará num abismo entre o que fala e o que faz.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Casamento e Ilusões




            Com a notícia da separação de William Bonner e Fátima Bernardes e de Brad Pitt e Angelina Jolie a internet veio abaixo com incontáveis comentários. Chegou a ser o assunto mais comentado nas redes sociais. Afinal, por que essas separações mobilizam tanta gente se há inúmeros outros casais, ao nosso lado, que estão se separando sem gerar tanta curiosidade e agitação?   O que será que o fim desses relacionamentos causam?
            Penso que nesses casais celebridades acabamos depositando muitas ilusões e fantasias e quando um desses casamentos terminam é justamente nossas ilusões que sofrem um golpe. Abrir mão de uma fantasia é sempre doloroso. O problema está quando não encaramos o casamento sob uma ótica real, mas obrigamos que ele seja algo perfeito e digno de qualquer conto de fada. Se alguém não vive esse casamento idealizado (ninguém vive) tende a fantasiar sobre o casamento dessas celebridades que parecem ser perfeitos. Quando estes terminam nossas ilusões ficam feridas e tememos nunca vivenciarmos a perfeição que insistimos em acreditar.
            É mais do que natural casamentos terminarem. Frequentemente o que uniu um casal perde sentido ao longo da vida porque as pessoas mudam e as expectativas de cada um se transformam. Ninguém precisa e deveria permanecer casado se não há sentido nessa relação. Não há como forçar a barra, senão o custo pode ser uma vida infeliz. E viver infeliz não é um preço válido a pagar.
            Muitos são os que se mantêm casados mesmo quando um já está odiando o outro. Esperam que vai melhorar no futuro e com isso vão se destruindo e geralmente levam os filhos juntos nesse abismo. Os filhos necessitam de pais que estejam bem e não necessariamente que estejam casados. Exigimos que os casamentos sejam perfeitos e que as pessoas não mudem. Todavia aceitar que a separação pode em determinados casos ser um bom negócio é importante.
            Entretanto, é difícil se separar porque toda separação implica em realizar um trabalho de luto. Isso demanda maturidade para que a elaboração do fim de um relacionamento seja digna e não caia em mais feridas e falta de respeito. Quando aceitamos abrir mão das ilusões podemos tolerar que a perfeição não existe e aí sim viver de verdade um casamento possível. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Pergunta de Leitora - Don Juan de Saias




Não sei o que acontece comigo. Me apaixono por um cara, faço de tudo para que ele fique caído por mim e quando eu consigo eu perco todo o interesse que tinha por ele. Seduzo mesmo, só para ver ele aos meus joelhos e implorando pela minha atenção e depois eu o descarto como se fosse lixo. Odeio quando um cara resiste a mim. Quero os homens aos meus pés, mas eu não fico satisfeita com nenhum. Quando penso que encontrei enfim o homem da minha vida eu vejo que me enganei e ele não era ninguém para mim. Será que eu tenho problemas? Estou angustiada e não sei como ser diferente.


            Don Juan era um sedutor serial, ou seja, ele seduzia as suas vítimas para deixá-las irresistivelmente atraídas por ele e quando conseguia o que queria (o sexo) as descartavam logo em seguida. Neste romance espanhol de Tirso de Molina o personagem Don Juan destruiu várias mulheres e vidas. Apesar de Don Juan ser uma obra de ficção, existem muitos Dons Juans por aí de carne e osso. Inclusive mulheres!
            O desejo que move Don Juan é o desejo do perverso. Para ele o que importa é a sedução pura e simples. Não existe enamoramento e encantamento, apenas sedução. Quem fica preso ao ato de seduzir e precisa disso para se sentir poderoso é uma pessoa com muita baixa autoestima, que usa do poder da sedução para compensar o que sente que falta em si. Ao enganar, mentir, burlar e perverter dá ao perverso uma sensação de poder, de que ele tudo pode e que para ele não há limites. O perverso é incapaz de manter um relacionamento verdadeiro com quem quer que seja.
            Agora, a questão que fica é porque você está dando uma de Don Juan de saias? O que será que na sua relação com os homens faz com que você se sinta por baixo e precise então derrubá-los? Há, certamente, um prazer nesse seu movimento de seduzir e depois descartar os homens, só que é um prazer perverso que não te enriquece e só te empobrece e te deixa numa posição muito vazia. Enquanto você não repensar o porquê está repetindo essa atitude nada mudará.
            O fato de você ter me escrito com dúvidas sobre como vem vivendo é um bom sinal e implica que você percebe que há algo que te impede de viver como poderia. Angustiar-se e ter dúvidas é sempre sinal (de saúde mental) de que podemos e devemos repensar o que estamos fazendo conosco. É importante tolerar a angústia que sentimos porque assim algo novo poderá surgir. Quem sabe não seja isso o que te está acontecendo?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Guerra entre os Sexos




            Apesar do amor entre um homem e uma mulher ser algo cantado como uma das coisas mais belas e nobres que existe, o que vemos na vida cotidiana é uma verdadeira guerra entre os gêneros. E nessa guerra o amor acaba sofrendo baixas terríveis e tristes. Parece até que esse amor lírico é algo que não existe, porque no dia a dia muitos homens e mulheres tomam trincheiras opostas e partem para o ataque. É muito comum ouvir um gênero depreciando o outro, dizendo coisas desabonadoras e que só trazem humilhação. Atualmente essa guerra é mais visível, antes era tudo muito mais oculto, porém sempre existiu.
            Antigamente, o homem dotado de força física maior que as mulheres pôde construir toda uma cultura que lhe dava permissão para a sua dominação e violência. Às mulheres sobrava apenas a subserviência e uma posição de nada desejar. Parecia que havia paz, mas se tratava de uma paz artificial. Os rancores e mágoas eram muito mais escondidos e não se formava um embate nítido já que um lado se encontrava rendido e sem meios de lutar.
            As armas femininas que foram criadas nessa guerra não declarada era a frigidez. É como se as mulheres dissessem: "já que me submeteu, quebrou o meu orgulho eu o condeno a viver com uma mulher fria, uma mulher que tem o corpo presente, mas cujo espirito jamais será alcançado. Você pensa que me tem, mas na verdade nunca me terá". Essa reação feminina atingia fundo em muitos homens que não entendiam bem o que estava acontecendo. E tudo isso aumentou mais ainda o fosso do abismo entre os gêneros.
            O movimento feminista trouxe um fim, pelo menos em grande parte dos lugares, à subserviência feminina e criou a igualdade de direitos. Um feito notável e de grande importância à humanidade. No entanto, não trouxe um fim à guerra dos sexos, infelizmente. O que era oculto tornou-se visto claramente, porém a belicosidade continua a existir e a estragar o que poderia ser bonito. Aliás, de uma coisa podemos estar certo. Quando essa guerra puder ser terminada o mundo será mais justo como um todo. Vai poder, assim, haver realmente paz. Quando o ser humano aprender a acolher e aceitar as diferenças entre os gêneros, com todas as suas características, e compreender que um não é melhor que o outro, mas que são complementares, o mundo terá muito a ganhar, bem como nossos espíritos. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Pergunta de Leitora - A Distância do Passado



Quero muito melhorar minha vida, me tornar mais ativa e estar bem comigo mesma. Saí da casa dos meus pais já faz um ano e eles são pessoas muito para baixo, depressivos mesmo. Não quero isso para mim e resolvi mudar para longe deles onde eu possa ser eu mesma. Só que apesar de gostar de morar longe deles eu ainda sinto que falta muito em minha vida. Não sei dizer o que, mas parece que ainda fico presa ao modelo dos meus pais de ser negativa em tudo. Me dá medo de que tudo que eu faça vai dar errado, assim como deram para os meus pais. E mudar isso está difícil e demorado. Não queria que levasse tanto tempo assim. E percebo que com isso eu fico meio desmotivada com a vida. Preciso sair disso, mas não sei como.

            Pelo o que entendo você identifica em você um movimento destrutivo. Algo que lhe deixa para baixo e pessimista, sem acreditar que possa ser capaz de viver uma vida mais rica. O problema é que você acreditou que isso iria se resolver apenas com a distância física. Não se trata disso. Você pode até mesmo ir morar numa estação espacial orbital, mas se não mudar dentro nada irá acontecer.
            A distância que você precisa não é a física, mas criar a distância interna de um funcionamento destrutivo. Você quer se livrar dos seus pais enquanto na verdade precisa se livrar é desses pais imaginados aí dentro de você. A figura de pais que você deve ter construído é depressiva e cheia de impedimentos ao crescimento. Agora, você não deve confundir esses pais imaginados e construídos internamente com seus pais reais.
            Nem sempre lidamos apenas com a realidade externa. Muitas vezes lidamos com aquilo que está na nossa mente, que é sim verdadeiro, mas devido ao que sentimos e não à realidade de fato. Em outras palavras, cuidar daquilo que sentimos é de fundamental importância para podermos abandonar nossos empecilhos que nos evitam ser quem na verdade podemos ser. Hoje você não sabe de você, você sabe apenas da sua história, mas nunca pôde ter realmente pensado nela para se ver livre do passado. Quando ficamos presos ao passado e desconhecemos o presente não tem mesmo como vivermos bem.
            Já quanto ao tempo de ir se reconstruindo de outra maneira é longo mesmo. Afinal, aquelas mudanças que valem a pena não têm como ser rápidas. Qualquer mudança do nosso mundo interno é mesmo demorada porque não se trata de trocar uma coisa pela outra, mas de trocar a forma que se funciona e se relaciona com a vida. Esse trabalho pessoal tem muito mais as características de um trabalho artesanal do que industrial, ou seja, demanda tempo e paciência. Porém, o tempo não importa já que o que é importante é trilhar o caminho que te leve a você mesma. Seja o tempo que for, mas jamais podemos deixar de caminhar e ir aprendendo com as experiências na nossa vida. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Qual Casamento com a Vida você tem?




            Uma antiga história conta sobre um discípulo que foi até o mestre e disse que ia parar com seus estudos porque quando voltava para casa seus irmãos e irmãs nunca o deixavam em paz e por isso não havia condições para se concentrar e se aprimorar. O mestre escutou atentamente e depois de pensar um pouco decidiu levar o discípulo para fora onde havia um sol forte. “Olhe para cima” disse “O que vê?” “O sol, mestre.” “Pois bem, agora coloque sua mão acima da cabeça e tente tampar o sol.” O discípulo assim fez. “Consegue ver o sol agora?” “Não mais, mestre.” “ Sua mão perto do sol é insignificante, mas mesmo assim ela pôde impedi-lo de ver o sol. A mediocridade é nociva ao progresso. Não culpe os outros pela sua incompetência.”
            Quantas vezes na vida não culpamos os outros ou qualquer outra coisa por não termos a vida que queremos? Temos uma ideia errônea e prejudicial de que a vida deve ser como a desejamos sem que nenhum esforço seja desprendido. Muitos acreditam que basta desejar que tudo o mais se realiza e que as condições têm sempre que se apresentar perfeitas. Já ouvi muitas e muitas pessoas dizerem que não podem isso ou aquilo porque as condições não são perfeitas.
            Claro que há determinadas condições que trazem alguns impedimentos, no entanto, na grande maior parte das vezes as condições, por piores e desagradáveis que sejam, não são proibitivas, porém nós é que arranjamos qualquer desculpa para impedir algo de acontecer. E o que mais impedimos é de crescermos e nos realizarmos. É um paradoxo. Tudo o que mais queremos é crescer, mas também temos medo disso a ponto de nos agarrarmos à justificativas medíocres. A questão que fica é por que temos tanto medo de progredir na vida?
            Uma pessoa quer estudar, mas muitas vezes se desanima precocemente com as dificuldades que surgirão. Outra quer fazer academia para melhorar o condicionamento físico, mas sempre tem uma bela desculpa para não começar ou desistir logo em seguida. Outra quer meditar, mas desiste logo culpando fatores externos que no fundo não a impediriam de se organizar e fazer o que deseja. O desejo até existe, mas junto com ele há também toda uma série de justificativas e desculpas. Por que nos impedimos tanto?
            Depende de cada pessoa as razões de suas desculpas, mas podemos pensar que há um medo de ser feliz. Estamos tão habituados a ser infeliz e reclamar da vida que não vislumbramos a possibilidade de viver de outro jeito. A gente se acostuma com tudo na vida, inclusive com aquilo que não nos faz bem. Há milhões de pessoas casadas com a infelicidade ao redor do mundo e que nem se dão conta disso.
            Outro fator importante a ser levado em consideração é que quando se vive infeliz e cheio de desculpas por longo tempo, mudar isso pode trazer medo. O medo aqui é do desconhecido. Mesmo que se espere uma vida melhor ela ainda é desconhecida e tudo aquilo que não conhecemos é gerador de angústias e por isso muitos preferem ficar com as angústias já conhecidas do que enfrentar angústias inéditas, mas que podem levar a algo novo.
         É triste constatar que há tanta gente viciada na infelicidade e com medo de se desfazer dessa situação tão empobrecedora. Quem casa com a infelicidade sempre evitará a felicidade, que é um outro tipo de vida. Que tal começarmos o ano refletindo sobre qual casamento que vivenciamos com a vida?  Se for um mau relacionamento é porque está na hora de se divorciar. Só assim estaremos livres para viver um relacionamento mais saudável e prazeroso.