segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Felicidade Idealizada




            Uma antiga lenda budista conta sobre um artesão de pedras, muito infeliz, que cansado da vida estafante que levava se imagina sendo um comerciante rico com uma vida, aparentemente, mais fácil. Por mágica ele se transforma nesse comerciante e passa a gozar de todas as regalias que antes estava privado. Depois de um tempo, já acostumado àquela vida ele volta a ser infeliz e vê passar em frente a sua enorme casa um ministro do governo todo poderoso. Todos lhe prestavam reverência e então ele crê que ser esse ministro o faria mais feliz. Ele deseja e vira um. Assim ele vai levando a vida, mas devido à sua posição tem que vestir roupas formais e pesadas que lhe causam um insuportável calor e infelicidade. Ele olha para cima e vê o sol, alheio a tudo isso e passa a desejar ser o sol para assim não ser infeliz. Vira o astro rei e acha que é o mais feliz dos seres quando percebe que algo bloqueia sua luz. Percebe que é a nuvem e decide que a nuvem é mais forte e quer ser ela. Ao virar a nuvem e se achando a mais forte das criaturas nota que há algo que o leva de cá para lá sem o seu consentimento. É o vento. Ele pensa que o vento é então mais feliz e forte e quer ser o vento. Quando vira o vento e está ventando por aí vê que algo o impede de seguir adiante. É uma grande pedra que não o deixa prosseguir. Ele então vê que essa pedra é mais forte que o vento e que deve ser mais feliz. Vira a pedra até que sente que alguém está tirando pedaços dele. Quem seria esse ser mais poderoso que ele agora transformado em pedra? Ele olha e vê que era um artesão de pedra.
            Desejamos, frequentemente, aquilo que não temos, mas que fica idealizado e como um objeto mágico. Acreditamos que quando tal ou qual condição ocorrer a felicidade vai acontecer por si só. O erro, enorme, é crer que a felicidade é algo que vem de fora sob condições próprias. Para a felicidade de nada adianta ter isso ou ser aquilo porque se trata do mundo interno e não externo.
            Quem bota toda a felicidade fora de si mesmo fica fadado sempre a ser infeliz. Para ser feliz é preciso aprender a lidar com a realidade, com o presente e ir trabalhando e elaborando o que não se tem ou não se é e mesmo assim tirar o que é melhor dadas as condições. Um filósofo oriental disse a felicidade é mais agradecer pelo o que se tem e menos olhar e valorizar o que não se tem. Sábias palavras.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Pergunta de Leitora - Sobre o Leite Derramado




Tenho 33 anos e um casamento muito morno, sem emoção alguma. Éramos namorados e resolvemos casar um dia, mas não sei se era apaixonada pelo meu marido de verdade, só aceitei o pedido dele. Sei hoje que ele já saiu com outras mulheres o que serviu para nos distanciar. Estamos juntos, com ele prometendo que futuras traições jamais acontecerão, mas isso não fez com que eu tivesse confiança. A casa vizinha tem um casal que tem um filho de 17 anos que é lindo demais. Tem o corpo todo torneado e como sou uma mulher bonita ele sempre teve olhos compridos para mim. De tanto ficar me admirando fomos conversando e acabamos transando. Foi ótimo, uma experiência incrível. Mas ele quer continuar a relação. Agora está me chantageando em contar tudo para o meu marido se eu não transar mais com ele. Estou perdida e não sei o que fazer. Estou arrependida de ter ficado com ele, mas o que posso fazer agora?


            Sobre o leite derramado nada podemos fazer. É fato consumado. No entanto, se não podemos mudar o que já aconteceu podemos aprender com o acontecido para que não se repita no futuro. Isso é de grande valia. O que será que está se repetindo na sua vida que ainda não foi compreendido adequadamente?
            Veja bem, você não estava apaixonada por seu namorado na época e mesmo assim aceitou casar. Por que será que aceitou o casamento quando não sentia tanta segurança assim? O marido te traiu e hoje você vive, nas suas palavras, uma relação morna. Ao estar carente de emoções foi buscar no olhar admirado do adolescente vizinho o que sentia que lhe faltava. Só que também entrou numa barca furada. A tórrida transa, que você buscava, ocorreu, mas também agora vem as chantagens e cobranças. Por que será que você não percebeu que isso poderia acontecer?
            A impressão que fica é que você vai entrando em situações que se provam verdadeiras enrascadas. Porém, você entra nelas. Isso serve para refletir sobe qual a sua responsabilidade nesses eventos. Há uma responsabilidade sua em juntar-se com um homem que não lhe inspirava confiança e paixão como também em se envolver com um garoto vizinho e imaturo. Você deixa muito da sua vida nas mãos dos outros. Seu marido te pediu em casamento e você aceitou e seu vizinho te admirava e você caiu na sedução.
            É importante que você busque compreender o que você faz consigo quando “cai” nesses engodos para que assim isso não se repita mais. Vai precisar olhar para a sua história de vida e entender ao que você responde quando não se responsabiliza pelas suas decisões. Uma análise pode te ajudar a encontrar essa compreensão tão necessária para que você deixe de se repetir e passe a escolher melhor o que vai viver. 

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Potencialidade




            Muita gente imagina, erroneamente, que a mente é algo com que todos nós nascemos. Isso é um engano. Na verdade, todos viemos ao mundo com a potencialidade de uma mente. Há uma mente em potencial dentro de nós, mas se vai mesmo se transformar, se desenvolver e expandir é outra história. É preciso também levar em consideração que quando me refiro a mente aqui nada tem a ver com o órgão chamado cérebro.
            O cérebro é um órgão que todos dependemos para exercer bem as funções neurológicas. Todavia, a mente é outra coisa e de natureza distinta. A mente não nos é dada biologicamente. Não basta nos alimentarmos bem, viver saudavelmente sem grandes males, ter higiene, etc. Isso tudo ajuda em construir um corpo com todos os seus sistemas funcionando apropriada e satisfatoriamente. Contudo, todo esse cuidado biológico e orgânico, extremamente importante, não é o que constrói uma mente.
            Podemos pensar na mente como um espaço interno simbólico que nos permita pensar e elaborar o que nos acontece no decorrer da vida. Sem esse espaço metafórico tudo ficará a cargo das reações instintivas e pulsionais. Assim, quando algo nos ocorre vamos responder rápida e instintivamente. O problema disso é que nos deixa bestiais e não verdadeiramente humanos. Viver tão somente através das reações é uma forma de vida primitiva e limitada. Os instintos e pulsões nos vêm gratuitamente, sem a necessidade do menor esforço da nossa parte, mas com a mente não é assim.
            Construir uma mente implica em usar o pensamento. Entendam aqui que pensamento não é apenas aquilo que nos permite fazer uma conta matemática ou responder testes de lógica, mas é aquilo que nos humaniza de maneira a responder saudavelmente aos eventos que nos acontecem. Ao invés de se entregar a uma reação instintiva podemos pensar como vamos responder a determinada situação. Quando criamos um espaço para pensar as experiências de vida podemos abrir mão das reações e criar respostas. A mente responde à vida e não tão somente reage. Porém, para construir uma mente requer-se paciência, pois não se dá de uma hora para outra, mas através de muitas experiências que vão criando referências e tolerância às frustrações. Quem quer viver bem necessita desenvolver uma mente e quem quer desenvolvê-la precisa aceitar que a potencialidade de mente com que nasceu necessita ser cultivada.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Pergunta de Leitora - Na vida ninguém está a passeio




Acho viver tão difícil. Quando era mais jovem foi difícil fazer a faculdade quando minha família não tinha recursos. Depois foi também difícil começar a vida profissional que até agora não vai muito bem porque não está estabilizada quanto eu gostaria. Tive vários empregos, mas era complicado saber me relacionar com os colegas que queriam um puxar o tapete do outro. Nunca fui de fazer conchavos e ser duas caras. Casei e estar em um casamento é também muito difícil e muitas vezes penso que seria melhor não ter casado e agora tenho um filho de 4 anos e está muito difícil cuidar dele, levar para escola. Não vá pensar que eu não ame meu filho mas é que a vida é muito difícil e vejo tanta gente vivendo como se não fosse. Acho que elas são inconscientes das dificuldades que têm que enfrentar e se fingem de felizes. Não consigo fingir, sou autêntica. Mas fico me perguntando como viver com menos dificuldade.

            Você diz que a vida é difícil, mas quem lhe disse que a vida teria que ser fácil? De onde tirou a ideia de que as coisas iam ser um mar de rosas plácido e sem nenhuma tormenta para abalar? Talvez o que você espere da vida seja algo irreal e inexistente e por isso mesmo sofre.
            A verdade é que ninguém veio para a vida a passeio. Viver demanda toda a nossa criatividade e forças e não temos como jamais parar de desenvolver recursos para nos ajudar a lidar com as adversidades que certamente surgirão. A condição humana é de muito trabalho e aceitar isso facilita.
            Quando não aceitamos bem a nossa condição achamos que somos vítimas da vida e cair nisso é um tremendo perigo porque nos leva a lamentar ao invés de aprendermos a viver. Parece que é isso o que você faz a si própria. Você quis entrar numa faculdade, então é claro que haveria dificuldades. Quis arrumar um emprego, então iria mesmo se deparar com todos os tipos de gente. Quando decidiu casar teria que saber que relacionamentos não são como nos contos de fada, mas bem mais complicados. E por fim ao ser mãe deveria saber que filho não é como brincar de boneca que quando fica cansada pode guardar a boneca no armário. O que será que você esperava?
            Todos têm dificuldades com a vida e não apenas você. Todos estamos no mesmo barco, remando e tentando fazer o melhor. Pelo menos para grande parte das pessoas. Por que você acha que para você deveria ser diferente? Ao se lamentar fica apenas o ódio que você sente pela vida e não sobra espaço nenhum para mais nada. Hoje você odeia a vida porque esta demanda muito trabalho. Entretanto, ninguém passa pela vida sem se deparar com umas poucas e boas. A vida não vai mudar, mas o que pode mudar é como você lida com ela.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Simplesmente Humanos




            Na nossa vida diária que demanda tanta correria prestamos muita atenção nos problemas do dia a dia e que são concretos: o aluguel, a fatura do cartão, a lista do supermercado, os que os vizinhos estão dizendo da gente, o bar que abriu na esquina, mas nada disso tem importância quando nos encontramos, por exemplo, no nosso leito de morte. Quem está no fim da vida jamais dirá coisas como “Sempre economizei muito para ter uma bela poupança”, “Todos me admiraram porque comprei meu apartamento”, “Estou feliz porque comprei aquela TV tela plana”. Não, o que as pessoas que estão para morrer indagam é sobre como viveram a vida.
            Os problemas e adversidades concretos são reais e devemos, sim, tentar resolvê-los da melhor maneira possível, mas não são essas questões que nos dão o tom da vida. Pelo menos não deveria ser e se assim é, é porque não estamos dando importância para o que realmente importa.
            No fim da vida são basicamente três coisas que são consideradas pela grande maior parte das pessoas. A primeira é se se fez uma diferença na vida. Isso não implica em ganhar o prêmio Nobel ou ter sido um grande artista de renome internacional. Fazer diferença é muito mais simples do que imaginamos. É encantar alguém, brincar com alguém, amar e se permitir ser amado. Cuidar e ser cuidado. Dar bom dia para um porteiro mal humorado e deixar de lado questões que no fundo são irrelevantes. Isso é fazer diferença na vida. Parece pouco, mas é inestimável a importância de se viver assim.
            A segunda coisa que ronda a cabeça de quem está para morrer é ver se se permitiu viver o que tinha que ser vivido. É imenso o número de gente que deixa de viver relações e situações reais e importantes porque achavam que ganhar a vida era o mais importante. Pais que não aproveitam os seus filhos, filhos que não aproveitam seus pais, amigos que não olham e cuidam de suas amizades e amantes que não se voltam para o amor estão por aí se desperdiçando. As relações que podemos viver não podem jamais ficar para amanhã. Já a terceira indagação tem a ver com não ser esquecido. Mas só não vai ser esquecido quem se permitiu viver de verdade. Ninguém vai dizer “Aquele sujeito sempre foi tão pontual com o pagamento de seu cartão de crédito! Que saudades dele!” Será lembrado aquele que ousou ser verdadeiro e até mesmo inoportuno em alguns momentos.
            Obviamente que não estou dizendo aqui que não devemos pagar nossas contas e respeitar nossos compromissos, mas a vida é muito mais que isso e o que levamos dessa para melhor não são nossos bens ou o prestígio social que angariamos, porém são as atitudes que propiciaram a vida acontecer. As prioridades que nos tornam humanos não podem jamais ser esquecidas e relegadas à segundo plano. Afinal, viemos aqui para sermos humanos. Simplesmente humanos.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Pergunta de Leitora - Sobre o Egoísmo




Tenho uma tia muito egoísta. Ela está sempre sozinha porque ninguém suporta ficar perto dela devido ao seu intenso egoísmo. Ela só quer saber dela e nunca pensa em ninguém. Já passou pessoas para trás porque queria lucro. Muitos familiares tentaram já falar com ela, fazê-la entender o quão mal ela fazia para si e para os outros e nada. Ela xinga todo mundo e não quer saber. Ultimamente ninguém mais a convida para nada. Passou o natal e páscoa sozinha e ela continua cada vez mais egoísta e pior. Os empregados de sua loja têm nojo dela e saem rápido do emprego. Ninguém fica muito tempo. Não entendo como alguém pode ser tão egoísta e não perceber que está prejudicando a própria vida.  O que você pode me dizer do egoísmo?

            O ser humano nasce animal e como tal a sua primeira e mais importante preocupação é com a própria sobrevivência. Todos os animais são assim. Afinal, quem não cuida de si próprio vira presa de algum predador muito rapidamente ou fica para trás na corrida da vida. O bebê, por exemplo, nasce com muito medo sobre se vai conseguir sobreviver e precisa se voltar para si intensamente e para o atendimento de suas necessidades. Todos os bebês nascem egoístas e mantêm esse egoísmo durante muito tempo no decorrer de sua infância.
            Esse egoísmo é mais do que natural e é até benéfico. Sem ele não haveria vida. O problema ocorre quando algo no desenvolvimento faz com que o indivíduo não consiga sair desse estágio e viver outro que inclua a existência dos outros à sua volta. Ás vezes por um excesso de gula, voracidade, inveja e medo a pessoa não se expande permanecendo agarrada apenas ao que já é conhecido: a própria sobrevivência. Fica-se num estado muito primitivo onde a sobrevivência é a única coisa que importa. Se isso acontece o egoísmo primário, que nos é essencial e natural, não é transformado em algo maior e mais humano, mas fica água parada, ou seja, fica apodrecida e estéril, incapaz de gerar vida. 
           Uma pessoa assim não se permite se humanizar e fica como uma vampira mortal. Sabe sugar e demandar dos outros e teme dar o que quer que seja pois tem medo de estar perdendo sempre. Resultado: a pessoa não se torna humana, mas apenas puro instinto de sobrevivência e espera que todos e tudo funcione apenas para lhe satisfazer. Sente-se uma estrela cujo planetas em volta devem girar ao seu redor. O humano precisa aprender a viver e não apenas ficar agarrado à sobrevivência. Quando a preocupação é apenas sobre a sobrevivência a vida se torna pobre demais.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Mais do que os Ingredientes




            Em muitos momentos da vida a gente se encontra em situações difíceis e com gosto amargo. Não gostamos de viver o desprazer e nossa tendência é se livrar dele o mais rápido possível. Contudo, isso nem sempre é viável e aprender a lidar com aquilo que nos causa desprazer é essencial para quem quer viver bem.
            Não temos o poder de escolher não sofrer nessa vida. Isso está além das nossas possibilidades. Os sofrimentos são partes da vida e vêm sem pedir licença. Já que não podemos nos livrar das adversidades e dores que sempre surgem o único recurso que temos ao nosso dispor é aprender a responder àquilo que nos gera desprazer de uma forma eficiente. Essa resposta só pode ser construída à medida que nos voltamos para a nossa mente.
            É como vamos responder ao que nos acontece que importa e não, necessariamente, o que acontece. Pena que muitos esquecem ou desconhecem isso. Ficam tão identificados e imobilizados pelos acontecimentos que desejam mudá-los, como se isso fosse possível. É muito comum ouvir pessoas dizendo que não queriam ou queriam que tal ou qual coisa tivesse ou não acontecido. O sofrimento, quando respondido assim, torna-se pior do que é. Como então responder de uma maneira mais favorável?
            Vamos pensar no modelo que um bolo pode nos proporcionar. Para se fazer um bolo é necessário ingredientes e uma receita. Se você pegar individualmente farinha e comê-la, por exemplo, vai ser algo ruim e que em nada lembrará um bolo. O mesmo ocorre se você pegar cada um dos ingredientes e ingeri-los individualmente: fermento, ovos, açúcar, etc. O bolo é mais do que a soma dos ingredientes, mas é o resultado do que fazemos com os ingredientes. Assim, nesse modelo culinário, também podemos pensar a vida. Dependendo de como vamos utilizar o que nos acontece, nossas dificuldades e adversidades serão ingredientes que poderão nos ajudar a criar algo melhor. Portanto, nossas dores são matérias primas da nossa força e crescimento. Aprender a lidar com aquilo que nos acontece é que vai nos possibilitar fazer da vida algo bom. O que mais necessitamos é aprender a fazer uso de nossas mentes. Ela é o recurso mais precioso que temos em mãos. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Pergunta de Leitora - Cor à Vida




Não consigo mais viver da forma que vivo. O pensamento suicida é constante. Meu mundo está preto e branco. Me sinto fora da realidade. Nada mais faz sentido. O mundo não tem mais cor. A vida deixou de existir. Tudo é muito confuso, sem saída... tudo parece estar perdido, é o fim. Deixarei meus bens às pessoas que faz parte da minha vida. Farei um vídeo colocando um ponto final nessa vida onde está preto no branco. É um desabafo. Talvez um pedido de socorro.

            O tom de suas palavras é dramático, sombrio e impactante. Visa a causar algo em quem lê ou escuta o que você tem a dizer. É um desabafo e um pedido de socorro, como você mesma disse, talvez clamando por um olhar diferente e com mais cor. Se a tela da mente está só em preto e branco é necessário investigar o que está lhe impedindo de derramar cores e com isso viver mais prazerosamente.
            Percebo também, além do seu sofrimento, que você está brava com a vida. Há a presença de um ódio muito intenso e destrutivo. Como se você esperasse que a vida tivesse que lhe fornecer as cores que você tanto anseia e que você sente que estão lhe sendo negadas. Por não receber aquilo que tanto deseja da vida o ódio desperta um sentimento destrutivo que torna você de mal com a vida, querendo romper com ela. Como se se matar fosse uma vingança com a vida. O vídeo que você deseja fazer é como se fosse o registro desse ódio que te leva a se vingar de forma tão desesperada.
             Quem quer se matar na verdade quer matar a dor que sente e não a si próprio. Só que fica tão identificado, tão grudado ao sofrimento que vivencia que se confunde e mata a si mesmo com o objetivo de se livrar da dor. Não esqueça, entretanto, que o que você sente é apenas parte de você e é transitório. Agora pode estar assim, mas amanhã pode estar diferente. Quando ficamos tão colados ao que sentimos perdemos a perspectiva de que não somos o que sentimos.
            A vida não tem que nos dar nada, nós é que precisamos aprender como a lidar com ela. Precisamos aprender a como colorir o que está tão sem cor. Para aprender isso vai precisar de ajuda profissional. Numa análise poderá descobrir como usar melhor a sua mente para criar vida e também a criar recursos para se preservar do ódio destrutivo. Hoje você está entregue ao intenso ódio que sente, mas saiba que há meios de desenvolver ferramentas internas que te leve a lidar com o que sente de forma mais eficiente. É um caminho longo e trabalhoso, mas extremamente enriquecedor. Há também esperanças em você, não só ódio, porque você pediu socorro. Nem tudo está perdido e tão sombrio assim. Que tal agora buscar ajuda com alguém que possa te ouvir e caminhe com você para sair dessa situação? 

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Afeiçoar e Aperfeiçoar




            Devemos desconfiar das pessoas que querem consertar o mundo. Pessoas que têm a resposta para todos os problemas que existem, sejam eles de ordem política, econômica, social, familiar, pessoal, etc. É também de desconfiar aquelas pessoas que se engajam com tanta intensidade em movimentos ortodoxos que visam aperfeiçoar as instituições e movimentos em todos os lugares. O que é de se desconfiar não é que elas sejam más ou tenham segundas intenções, mas que são infantis e que desejam lidar com o mundo de maneira muito simplista.
            A vida, o mundo, as sociedades não são perfeitos e nem apresentam as melhores condições, muito pelo contrário, trazem dor e sofrimento enormes. Estar vivo é doloroso e é constantemente entrar em contato com o sofrimento. Não é mesmo fácil e é assustador. Ficamos como crianças aterrorizadas diante de tantas injustiças e dores que nós e muitos outros temos que enfrentar cotidianamente. No entanto, uma das grandes lições a que somos chamados a aprender é aceitar a vida como ela é.
            Isso não quer dizer, obviamente, que não devemos lutar por melhorias e se levantar contra as injustiças. Claro que devemos sempre procurar pelo melhor. Contudo, o que vemos são pessoas promovendo lutas tão grandiosas e eloquentes, enquanto não mudam nada em si mesmas. Querem resolver a dor fora e não dentro, seja de si mesmo ou da sociedade. Buscam, ás vezes cegamente, a justiça externa, sem jamais serem jutos com o que vêm fazendo e vivendo. Desejam tanto consertar o mundo que esquecem que isso é impossível, já que o que é possível é consertar a si mesmo. Ninguém pode e nem precisa consertar o mundo e a vida, mas apenas a si próprio.
            As verdadeiras mudanças que vêm para melhorar a vida não vieram porque alguém quis aperfeiçoar o mundo, mas vieram de alguém que teve que enfrentar a dor interna e encontrou meios de lidar com ela de uma forma eficiente que acabou transformando outras pessoas ao redor. Até porque quando houve pessoas querendo consertar o mundo apenas, o que mais conseguiram foram trazer mais dor e destruição. Quando isso acontece é devido haver somente o desejo de consertar o que está fora, sem nem vislumbrar o que se passa dentro.
            Você quer um mundo mais justo e mais humano? Comece com você mesmo. Com a maneira que você lida consigo, com suas escolhas e o jeito que trata o seu vizinho. Se perceber que está aquém do que você pode oferecer comece corrigindo por aí. Com certeza essa atitude será como uma chama que vai se espalhando cada vez mais até virar algo maior e que transforme o mundo. Até mesmo a palavra “aperfeiçoar” tem afeição no meio. Trata-se de um afeiçoar a si mesmo para que possamos nos afeiçoar ao mundo. Essa é que é a luta que devemos empreender.