O filme As
aventuras de Pi (Life of Pi – 2012) conta a história de um garoto cujo
apelido é Pi e de sua família, donos de animais de um zoológico, que resolvem se mudar da Índia para o Canadá
em busca de uma vida melhor. No meio da jornada, no oceano pacífico, o navio
afunda devido a uma forte tempestade fazendo com que o garoto tenha que
sobreviver num barco pequeno com a presença de um feroz tigre de bengala. A
presença de um tigre coloca o garoto em perigo inúmeras vezes, bem como o
garoto também coloca a sobrevivência do tigre em risco. Os dois precisam
entrar num acordo caso queiram sobreviver, um acordo que permita um espaço
para a coexistência de ambos.
Esse filme é baseado no premiado livro do autor canadense
Yann Martel e não precisa ser entendido literalmente, mas requer outro tipo de
compreensão que seja alegórica e mais subjetiva. Apesar da estrutura central da
história se deter nas conseqüências trágicas do naufrágio e na sobrevivência do
garoto e do tigre, há outra história por detrás dessa que tem a ver com o
estabelecer um acordo, conosco mesmo, para podermos sobreviver ao mundo e às
suas vicissitudes.
Entendendo simbolicamente, o tigre representa um lado do
menino, lado esse que é selvagem, que se apega à vida com garras fortes e que
quer viver a todo custo. Um lado primitivo que na realidade existe em todos nós
e que nos permite enfrentar determinadas dificuldades inerentes à vida de forma
a não sermos dominados pelo desânimo e desesperança. Já o garoto representa o
lado racional, intelectual, que é capaz de avaliar a vida e criar formas de
sobrevivência dependentes da racionalização. Tanto o tigre como o menino podem
ser entendidos como se tratando de diferentes lados de uma só pessoa.
Já o barco, em que os dois se encontram, é a
representação do ser único e integrado que contem esses dois lados distintos e,
as vezes, tão contraditórios. Portanto o significado subjetivo do filme diz que
se qualquer pessoa quiser viver ela precisa entrar num acordo com seus dois
lados para fazer a vida funcionar. Caso um dos lados morra a vida não é
possível, pois uma parte nossa morreu. A vida só pode existir através do acordo
entre nossas partes contraditórias.
O ser humano é feito de contradições. Não é realista nos
imaginar seres exclusivamente coerentes e quando fazemos isso é porque estamos
tentando trazer uma visão mecanicista sobre nós mesmos. Qualquer visão
mecanicista é limitadora da vida porque nega tudo aquilo que contradiz um
pensamento linear. Ao insistir na linearidade da vida o ser humano se
desumaniza. Entretanto, o ser humano não precisa ser só emoção e lado
primitivo, porque aí viraria uma besta perigosa.
O que se faz necessário, então, para a vida acontecer, é
entrar em acordo com os dois lados: entre razão e emoção. Só o acordo permite
um equilíbrio entre esses dois lados que sustentam a vida. É claro que haverá
desentendimentos entre esses dois lados durante uma jornada, mas não tem nada
demais, contanto que o acordo sempre se faça presente e possível. Esse filme
trata da vida de cada um e da necessidade de cada um aprender a fazer acordos
consigo mesmo caso queira viver. As aventuras de Pi nada mais é do que as
nossas próprias aventuras.
Concordo, mas como é difícil estabelecer um acordo com a razão e a emoção.
ResponderExcluirGostaria de acrescentar um ponto crucial e que dá início a toda essa trajetória: é o questionamento de Deus. Onde entra essa questão no seu ponto de vista crítico?
ResponderExcluirOlá, gostei muito da iniciativa e até postei as interpretações em três níveis , perfeitamente elucidado no filme.
ResponderExcluirAnna Paula, o processo religioso, penso eu é o motivo principal do filme, talvez o diretor para mostrar que o processo criativo e fantasioso na religião das mais diversas culturas são utilizadas como elemento de convencimento e as pessoas gostam mais destas fantasias do que a historia contada a seco. Pensa bem como seria chata a historia se contasse de forma sem fantasias... Um grande abraços e estamos construindo um texto para demonstrar como são possíveis as interpretações.
vejahttp://interpretacaoemtresniveis.blogspot.com.br/2013/06/interpretacao-em-tres-niveis-de.html
Tenho dúvidas até hoje... pq o final do relatório afirmava que ele havia convivido todo o naufrágio com um Tigre Bengala adulto? Até os japoneses preferiram a primeira história?
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