sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Pergunta de Leitora - Inconsciente da Armadilha


Namoro há 2 anos e sempre pensei que ele seria o homem da minha vida e que acabaria me casando. Acontece que desde algum tempo venho sentindo atração pelo irmão do meu namorado. De repente ele ficou irresistível e quando tenho relação com meu namorado penso no irmão. Agora não sei mais o que fazer, não sei mais se meu namorado é o homem da minha vida. Tudo muito confuso. Pior é que essa história já aconteceu antes. Eu tive um namorado e depois me apaixonei pelo primo dele e no final não fiquei com ninguém. Será que invisto no irmão dele? Não sei o que fazer.

            Talvez o problema que você enfrenta seja não saber bem o que quer e nesse não saber vai colocando qualquer coisa no lugar sem pensar verdadeiramente. Tal como uma criança que quer sempre o brinquedo que não possui. Só que em vez de brinquedos há pessoas envolvidas nessa história.
            Você mesma consegue ter consciência que isso tudo é uma repetição. Esse enredo já foi atuado antes e assim mesmo você não aprendeu. Está presa a um drama que se não for repensado irá se repetir indefinidamente. Hoje você se encontra empacada na sua história e deve, o quanto antes, sair desse impasse para poder viver favoravelmente. O drama a que você está presa se encontra no seu inconsciente e este se faz necessário decifrar.
            Freud, criador do conceito do inconsciente, foi um inovador ao revelar que muitas das nossas atitudes são definidas por uma parte de nossa mente sem nos darmos conta disso. Essa parte, o inconsciente, nos dirige e influencia a maneira como vivemos. Quem não decifra o próprio inconsciente fica ignorante de si mesmo e escravo da repetição. Tal como a esfinge da mitologia que pede por decifração senão devora o seu interlocutor, nosso inconsciente também pode nos devorar se nos mantivermos alheios a ele.
            O risco que você corre é o de ser devorada pela repetição e ficar ignorante do que realmente quer e pode ter. Para mudar essa situação é preciso aprender a ouvir o inconsciente e que armadilhas ele te coloca. Saber de si mesma permite não mais cair nas armadilhas de sua mente. Passa da posição de escrava do inconsciente para a de pensante da própria vida. Quem sabe esse não seja o melhor momento para iniciar uma análise e aprender com suas experiências?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A boa espera


“Se um homem conseguir realizar metade dos seus
desejos já teria o dobro de problemas"(Benjamin Franklin)
            As pessoas se perguntam e se angustiam sobre quando vão encontrar seu príncipe ou princesa encantados e se esse encontro tão esperado não ocorre muitos até desacreditam do amor. O problema é saber com certeza quem é esse príncipe ou princesa. Frequentemente nossa visão fica turvada com nossa pressa por encontrar alguém e deixamos de ver e perceber coisas importantes que futuramente serão causas de muitos problemas. Ao contrário dos contos de fadas, o príncipe tão almejado pode virar um sapo horrível e difícil de ser engolido.
            Isso acontece porque muitas pessoas não sabem o que devem de fato valorizar num companheiro ou companheira. A idealização é sempre inimiga nesses momentos. Muitos reclamam que queriam um parceiro(a) lindo(a) e deslumbrante, mas depois de um tempo aquela beleza toda vai por água abaixo porque internamente aquele(a) que é belo(a) se revela feio(a). Há valores mais vitais para um relacionamento do que tão somente beleza, riqueza, fama, etc.
            Antes de atender rapidamente o desejo por estar junto de alguém devemos mesmo nos perguntar quem seria essa pessoa que queremos. E é preciso ser realista. Caso tenhamos pressa corremos o risco de nos enganar e de nos arrepender. Não só precisamos reconhecer que qualidades queremos desse futuro companheiro como também precisamos ser pacientes para descobrir se tal ou qual pessoa é realmente quem desejamos. Os valores internos não são reconhecidos prontamente e demandam tempo para que as coisas possam clarear.
             A boa espera não serve só para os relacionamentos, mas para tudo na vida. Desde escolher uma carreira com mais segurança até a forma que vamos viver. Saber esperar é uma virtude que pode ser bastante enriquecedora e evitar inúmeros problemas. A sábia frase do ex presidente americano que encabeçou esse texto diz que ter todos os desejos realizados pode ser muito perigoso. Melhor é conseguir esperar e saber realmente se desejamos se algo realmente se realize. 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Pergunta de Leitora - Encarando a Verdade


Meu namorado está passando por momentos delicados e difíceis. Está desempregado e se sentindo por baixo. Seus irmãos estão bem de vida e ele está sentindo que está ficando para trás. Sua autoestima está péssima e nada do que eu falo ajuda. Ele está bebendo muito, demais, e isso vem prejudicando-o. Os pais deles já se ofereceram para ajudá-lo da forma que for. Eles até falaram em pagar uma terapia para ele, coisa que ele se recusa. Ele acha que terapia nada adianta e é só para quem não tem nada o que fazer. É frescura, nas palavras dele. Não sei mais como ajudá-lo, só sei que não dá para ficar nesta situação, que me deixa muito mal, penso seriamente em desistir. Como posso fazer com que ele veja que precisa se tratar? Como posso levar ele ao tratamento? Estou perdida, torço para que você responda a minha pergunta.

            Entrar em psicoterapia nunca é um processo fácil, pois costuma levantar muitas resistências. Todo analisando chega à sua terapia resistente, pois teme o que pode encontrar e descobrir sobre si mesmo.  O desconhecido desperta angústias. Entretanto, quando há reconhecimento de que a vida fica prejudicada demais as resistências são mais facilmente enfrentadas e trabalhadas. Seu namorado deve estar negando os prejuízos que está experimentando e com isso decide por não se tratar.
            A situação dele só vai se alterar quando ele mudar seu ponto de vista sobre o que lhe acontece. Hoje, provavelmente, ele se sente vítima das circunstâncias e de que não tem nenhuma responsabilidade sobre a vida que vive. Encontra compensações no alcoolismo que nada mais é do que fugir ter que pensar sobre sua condição. A possibilidade de uma psicoterapia é ameaçadora para ele, pois ameaça a posição de passividade em que se encontra e se agarra.
            Comumente muitas pessoas que necessitam de psicoterapia jamais farão uso dela, pois sempre viverão usando de mecanismos de defesas como a negação para fabricarem uma fábula de que não precisam nada mudar em suas vidas. Viver através de mecanismos de defesas é altamente empobrecedor porque quem vive assim, ou seja, com resistências, se impede de tomar consciência sobre as responsabilidades que tem perante a própria vida.
            O desejo pela mudança tem que partir dele e não há como você desejar por ele. Ninguém tem o poder de desejar pelo outro. O único recurso que você tem a disposição é a verdade. Falar com ele sobre como se sente diante disso tudo poderá, talvez, plantar uma semente nele, mas lembre-se de que você só pode plantar uma semente, porém cultivar o terreno é da responsabilidade dele. Seu namorado se esquiva da verdade, portanto, você não deve entrar nesse jogo e satisfazê-lo. A verdade nesse caso pode até ser que o relacionamento de vocês fique ameaçado caso algo não mude. Se ele não se propõe a mudar de fato, resta apenas você mesma mudar. 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Estado de Espírito


            Ser provocado nunca é algo agradável, mas por que algumas pessoas reagem à provocações de forma a nem a levarem em consideração e outras reagem de uma maneira bastante intensa e até mesmo violenta? O que acarreta, quando a provocação é a mesma, respostas tão diferentes? O que muda, nesses casos, é o estado de espírito de quem recebe a provocação.
            Um bom estado de espírito é quando nos encontramos bem, quando há presente o sentimento de segurança e uma boa auto-estima. Quando essa condição ocorre é difícil que algo venha a nos tirar do sério. A provocação pode ser entendida como tal e como um ato de pequenez do outro e só vai suscitar um dar de ombros. Quem está bem pode até rir quando provocado e não leva isso para o lado pessoal. Não vai carregar injúrias e nem se sentir humilhado. Um bom estado de espírito não entra no jogo da provocação, pois quem está bem consegue pensar e ao fazer uso dos pensamentos se torna bem mais forte.
            Agora, um mau estado de espírito tem a ver com não estar bem consigo próprio. Uma pessoa possuidora de uma baixa auto-estima é alguém insegura e que ao ser provocada vai tomar isso num nível pessoal e por consequência se sentirá humilhada. Nestas condições fica fácil sair do sério, perder as estribeiras e nem perceber que está entrando num jogo bastante prejudicial. Levar as atitudes dos outros, principalmente as provocações, tão a sério e pessoalmente só abre espaço para sentimentos de menos valia. Dá para entender que desenvolver um bom estado de espírito é essencial para se viver bem.
            Não significa, entretanto, que algumas determinadas provocações não mereçam uma resposta à altura, porém o problema passa a ser quando na resposta só há violência. Responder à altura significa pensar no que se vai fazer e não simplesmente reagir. É difícil de conseguir, pois a primeira coisa que queremos fazer quando provocados é reagir, mas se portar deste jeito nunca traz resultados positivos. Para não cairmos em provocações é preciso obter um bom estado de espírito e este é conquistado através do auto-conhecimento. Um bom estado de espírito não vem gratuitamente, mas apenas à medida que criamos condições propícias para ele. É um trabalho individual e que exige muita maturidade, mas que é vital para aprendermos a viver com qualidade.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Pergunta de Leitora - Permanecendo na solidão


Preciso fazer uma pergunta. Sou casada há mais de um ano e tenho a sensação de que estou sempre sozinha. Meu marido é atencioso, está sempre comigo, mas mesmo assim me sinto solitária. Não sei por que isso acontece. Achei que casando essa minha sensação, que já sentia antes, fosse embora, mas não foi. Parece que nada me satisfaz a ponto de não mais me sentir solitária. Meu marido fica assustado comigo e não sabe o que fazer para me ajudar a me sentir diferente. Não quero que ele se sinta mal ou culpado, mas eu mesma não sei o que acontece e o que fazer. Tem alguma coisa que o senhor possa me dizer?

            Há vários tipos de sentimento de solidão. Nem todos são iguais. No seu caso você fala do sentimento de solidão que vive no seu relacionamento com seu marido e percebe que não era para se sentir assim, já que ele se faz presente na sua vida e se preocupa com seu bem estar. Esse sentimento não é algo real externo, mas encontra-se no real interno, ou seja, só vai entendê-lo ao procurar dentro de si mesma.
            Antes mesmo do casamento você se sentia solitária, porém não deu suficiente atenção a esse sentimento, considerando-o que era pelo fato de não estar casada e que assim que casasse este mesmo sentimento iria embora. Entretanto, não foi assim que funcionou e esse sentimento permaneceu mesmo não havendo razão para tal. Quem crê que o casamento vai mudar todo o nosso mundo interno se frustra, pois o casamento não serve para isso. Por um tempo pode até mascarar o que sentimos mais internamente, mas depois o que é nosso sempre retorna.
            Fica difícil falar da natureza do seu sentimento de solidão sem maiores informações, mesmo assim arrisco a hipótese de que esse sentimento nasce da expectativa que você cria no relacionamento que vive. Será que você espera que o relacionamento com seu marido venha a lhe trazer satisfação total? Que irá suprir todas as faltas que existe em você? Como isso não acontece, aliás em nenhum relacionamento isso ocorre, você se sente sozinha, meio que abandonada, dando-lhe a sensação de que está só.
            Estar bem consigo significa desejar o possível. Quem deseja o impossível acaba sempre na frustração. Provavelmente você deseja uma união impossível, uma união que venha a ser totalmente satisfatória, algo que só pode existir na imaginação. Se for este o caso você só ficará bem quando abandonar o desejo impossível e aceitar os limites da vida humana. Uma análise lhe seria proveitosa neste momento, pois falar da sua situação pode iluminar o porque se encontra desejando o impossível e se impedindo de viver plenamente. Uma boa análise poderá significar o seu sentimento e isso pode te levar a reescrever a forma que você se relaciona consigo e com os outros. Que tal usar a sua angústia para se autoconhecer?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Barbárie


            Em 1930 Freud escreveu o texto Mal estar na civilização onde expressava sua profunda desilusão com a humanidade em fazer frente aos seus impulsos violentos. Segundo ele os homens foram tão longe em dominar muitas das forças da natureza, mas no que concerne a dominar a barbárie fracassaram. A civilização e o respeito à vida são muito vulneráveis e toda essa violência desmedida que vemos por aí serve como gratificação para os impulsos agressivos que a civilização tentar manter sob controle, porém sem êxito. A violência é inerente à mente humana e todos nós a carregamos. A psicanálise tem muito a contribuir para o entendimento da violência e quem sabe assim algumas soluções possam ser pensadas.
            Não são apenas os psicanalistas que tentam compreender a barbárie. Picasso quando pintou Guernica, por exemplo, mostrava um lado da humanidade muito destrutivo onde todas as imagens ficavam em pedaços revelando o primitivo psiquismo de quem se entrega à violência e de quem a sofre. Aliás, guerras, revoluções armadas, linchamentos públicos, demostram uma realidade mental coletiva que podemos encontrar individualmente. A violência não é só de fora para dentro, mas faz o caminho inverso e nos revela que sua existência se deve a uma mente que não foi desenvolvida e que por isso mesmo fica presa a condutas anti-sociais e perversas.
            A violência subtrai a humanidade que poderia ser desenvolvida em um individuo, já que é pautada apenas por reações emocionais explosivas e jamais por pensamentos e reflexões. Quando não há uma mente desenvolvida não existe um continente mental, ou seja, um lugar onde as experiências vividas possam ser pensadas e elaboradas. Nesse caso tudo aquilo que é sentido na mente como a própria violência interna inerente a cada um, só tem como destino a atuação. No modelo da atuação a única coisa que importa é a descarga emocional e se então o que está sendo vivido é agressividade pura, vai ser descarregada violência nos relacionamentos, contribuindo ainda mais para a fragilidade da civilização.
            Agora, o que permitiria ao ser humano elaborar de maneira eficaz a sua própria agressividade? O remédio para a violência encontra-se nas relações humanas de qualidade, o que, infelizmente, está se tornando coisa rara. É nos relacionamentos saudáveis que aprendemos a controlar nossos impulsos agressivos, pois vemos que se assim não fizermos machucamos a nós mesmos e a quem amamos. Quando há relacionamentos de qualidade aprendemos que nem tudo podemos e que para preservar aquilo que nos é valioso e precioso precisamos conter a agressividade que possuímos para que esta não venha, como na pintura de Picasso, deixar tudo em pedaços.
            Quando as experiências humanas vividas, principalmente nos primeiros anos de vida, não foram boas e estavam repletas de violência não temos como criar internamente uma mente que possa pensar sobre os nossos impulsos agressivos. Não temos como dar conta da violência que sentimos e só podemos atuar o que há de pior em nós. A violência é então uma maneira desastrada e ineficiente de se resolver o que sentimos em nossas mentes usando do autoritarismo para conseguir as coisas. Quando o psiquismo de alguém está organizado nessa dinâmica primitiva e pobre essa pessoa fica enfraquecida e fragmentada. Não tem como tornar-se uma pessoa por inteiro, mas fica a projetar em seu mundo externo as dores e tormentos que sente em seu interior. A barbárie antes de ser externa é interna e demonstra o quanto estamos falhando seriamente na nossa educação sentimental. 

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Pergunta de Leitor - Marcas do horror


Sofri abuso sexual do meu próprio pai dos 8 até os 11 anos. Antes do abuso eu era um menino alegre, curioso com a vida e aprontava as minhas molecagens. Depois tudo mudou, o mundo ficou perigoso e eu ficava cada vez mais quieto e recluso. Não conseguia fazer mais amigos, não confiava em ninguém. Minha mãe não acreditou em mim quando falei o que estava acontecendo, meu pai, depois dos 11 anos parou de abusar, mas as marcas ficaram. Hoje tenho 22 anos e não moro com eles, mas com minha avó materna que prefere não acreditar no que passei, mas que me dá um lar e condições para eu terminar minha faculdade. A questão é que hoje eu não me relaciono com ninguém e tenho medo do sexo. Aliás, nem sei se sou hetero ou homossexual. As vezes quando penso em sexo sempre fantasio que estou sendo estuprado por um outro homem ou até por uma mulher, mas depois que fantasio isso me sinto sujo e errado. não consigo ter outra fantasia que não seja um estupro. Será que um dia vou poder ser normal? Deixar tudo isso para trás?

            O abuso sexual em crianças é uma violência física e psicológica das mais devastadoras que existe e quando essa violência é praticada por aqueles que deveriam zelar pelo bem estar da criança, como os próprios pais, a experiência se torna mais marcante ainda. Hoje você está marcado por essas experiências dolorosas e impensáveis entre pessoas verdadeiramente civilizadas. Você viveu e ainda vive o horror.
            Você não só sofreu o horror de ter seu pai como algoz e sua mãe indiferente como também sofreu com a sexualidade despertada muito cedo e de forma desastrosa. Uma criança abusada sexualmente tem a sexualidade despertada, mas de maneira violenta. O sexo ganha contornos de agressão e por isso não é à toa que em suas fantasias sempre há o estupro. Hoje a sua sexualidade está marcada pela agressão tornando-a impossível de ser vivida.
            Seu desenvolvimento psicosexual ficou, obviamente, comprometido. Tanto que você não sabe se é heterossexual ou homossexual até porque a única referência sexual que você possui é a da violência. Nunca houve relacionamentos afetivos bons o suficiente para que tivessem criado pontos de referência saudáveis. Se relacionar ficou improvável, afinal, o horror está sempre presente na sua mente como um fantasma.
            Marcas a gente não tem como apagar, mas tem como superá-las com muito trabalho interno. Você não tem como esquecer o que te aconteceu, mas pode aprender a fazer com que esse passado não venha contaminar a sua vida presente. Precisa se recriar de outra maneira e vai necessitar de ajuda para isso. Uma análise com um profissional que saiba te ouvir e que te ajude a repensar e sair do horror é fundamental. Não perca mais tempo revivendo o horror, mas use o tempo para buscar uma luz e uma saída. Esse seu email foi o primeiro passo, que tal dar os seguintes?