sexta-feira, 28 de junho de 2019

Pergunta de Leitora - A dor de um grito sufocado




Seus posts são muito generosos, já te disse isso. Raramente um psicanalista se dispõe a fazer comentários como numa clínica aberta com o intuito de ajudar as pessoas (e ajuda muito). Há situações em que até dentro do consultório me vi como ainda me vejo, sujeita a arranjar recursos para suportar a dor como se não pudesse nunca supera-la... A medicação ser ajustada parece a única atitude a tomar, no mais " não liga, não”, “fale nada”, "não confronte" e eu vou me entristecendo sem coragem para fazer um café, carregando a vida como um fardo mesmo. Ora, para que psicanalista?  eu me pergunto. Ter essa escuta semanal, ok, ajuda, mas estou adoecendo psicossomaticamente, se existir essa expressão. Desculpe o desabafo mas não resisti. Um abraço.


            Viver sem coragem para fazer um café não é viver, mas apenas subsistir. Você equivale a sua vida a uma mera subsistência e assim vai levando. Porém, dentro de você há um grito contido, inibido e a ser dado. Foi esse grito que te fez me escrever. Na verdade, você não está me escrevendo, mas está me gritando por ajuda. Você pede que alguém te escute de verdade.
            O seu psicanalista, pelo o que você fala, não tem essa capacidade. Ele parece não te escutar. Ficou como uma relação burocrática, vocês cumprem os papeis, mas não é um encontro promotor de vida. Não há confrontos nem falas mais espontâneas. Parece que há um acordo não verbal entre vocês dois. Um acordo de ninguém trazer trabalho a ninguém. Você não fala sobre a angústia que sente, ele não se depara com isso, não se incomoda e nem te devolve esse incômodo com outro significado. No máximo, ajustam a medicação. Não é à toa que gosta dos meus textos e posts, pois vê que me incomodo e não procuro caminho fácil.
            Tenho, também, sérias dúvidas sobre o mesmo psicanalista que atende em análise, medicar. Não acredito nisso. Um analista deve estar com seu analisando em outros termos e não deve usar a medicação. Isso pode prejudicar a relação analítica, já que facilmente se encontra na química saídas rápidas e falsas ao invés de se viver as angústias que precisam de palavras. Você deve ter uma analista e também um médico que acompanhe sua evolução nos medicamentos.
            O grito você já deu, o desabafo já foi feito. Contudo, só desabafar não será proveitoso, pois é preciso também que mude, se transforme. Se o café, no momento, não dá para fazer, será que não dá para encontrar um psicanalista que te escute e que te escutando te ajude a você escutar e a entender o grito que te sufoca? Se está incomodada só resta mesmo sair dessa posição e procurar outra. Nunca tenha medo do incômodo, mas tenha medo de se acomodar no incômodo.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Os perigos de se idealizar os corpos




            A relação que muitas pessoas desenvolvem com seu próprio corpo é bastante cruel. O corpo virou um espetáculo, um objeto para exposição. Isso é tão intenso que as vezes parece como se os corpos fossem desabitados e se tornassem peças de exibição. Não é à toa que a cirurgia plástica encontrou uma vasta oportunidade hoje em dia. Não há problema nenhum em intervenções cirúrgicas e a ciência deve mesmo estar a nosso serviço, mas quando o corpo se desumaniza isso passa a ser um problema.
            Dietas malucas, exercícios exagerados, exposições de corpos na mídia trazem a idéia de que quem não tem um corpo espetaculoso é uma pessoa descuidada e relaxada, alguém que é um fracassado. Como se sucesso fosse ter um corpo esculpido. Pouca atenção se dá aos atributos da pessoa que vive dentro do corpo. Aquilo que é interno está oculto e portanto não pode ser visto e nem exibido. Mas não custa lembrar de que somos mais do que apenas corpos.
            Claro que devemos cuidar do corpo e aliás devemos cuidar muito bem, afinal o nosso corpo é também uma realidade de nossa identidade. A questão preocupa quando o corpo passa a ser a única marca. Nesses casos o corpo deixa de ser um corpo e passa a ser uma vitrine. Tratar o corpo dessa maneira acarreta em vários problemas. Um deles muito grave é o esvaziamento da sexualidade. Com “corpos objetos” o ato sexual não é mais um encontro, uma descoberta e uma união, mas passa a ser algo vazio onde o que importa apenas é a procura por outros corpos perfeitos. A sexualidade deixa de ser algo emocional para se tornar apenas mecânico. Esse tipo de relação sexual até oferece um certo prazer momentâneo, porém percebe-se vazio e sem significado. O corpo se torna fonte de excitação, mas não de encantamento.
            O ideal de um corpo perfeito é um grande malefício, pois coloca as pessoas numa posição de insatisfação consigo próprias. Anorexia, bulimia, compulsões e uso de substâncias prejudiciais à saúde são coisas cada vez mais encontradas nos consultórios psicanalíticos e médicos. Reverter essa situação significa humanizar o corpo em vez de esvaziá-lo, ter para com o corpo uma relação saudável onde o que deve ser valorizado é a saúde e o bem estar e não uma imagem idealizada. O nosso bem estar deve ser sempre nossa prioridade.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Pergunta de Leitor - Repetição é Sofrimento




Estou com sérios problemas. Sempre fui um adolescente normal, namorei, noivei e hoje sou casado. Amo minha mulher, mas não consigo mais transar com ela. Só consigo me excitar com pornografia. Assisto umas duas ou três vezes por dia e me masturbo. Com tudo isso não tenho mais pique para fazer nada com ela. Quero fazer na real, mas tem um bloqueio que me impede e me faz ficar só na pornografia. Ouvi dizer que existe vício por pornografia e queria saber se é o meu caso e o que tenho que fazer a respeito. Ah, tenho 34 anos e não tenho problema de saúde algum. Há amigos meu que também veem pornografia mas conseguem se relacionar com suas esposas normalmente.


            Há amigos que veem pornografia, mas seguem normalmente com a vida e não ficam dependentes dos vídeos para se excitar. Porém, você percebe que não é assim para você e se dá conta que está perdendo algo importante com sua esposa. Em outras palavras, você tem consciência que algo não vai como você gostaria e parece que vem causando certo grau de sofrimento.
            A questão é menos a pornografia em si e mais o que você vem fazendo com ela. Que uso será que você dando para o ato de assistir pornografia? Nem sempre foi assim, mas por alguma razão hoje esse ato se transformou em algo repetitivo e aprisionador. Tanto que você se sente preso e dependente como se não pudesse existir vida fora desses estímulos. Hoje você se repete, ou seja, sofre uma compulsão.
            Uma compulsão não nasce à toa, do nada. Ela tem um significado, só que este não é manifesto, mas precisa ser investigado. Essa investigação é sobre si próprio, sobre o que se passa na sua mente e que sentidos você está dando para os objetos da sua vida. A sexualidade, que é geradora de vida e prazer, virou para você promotora de sofrimento. O que será, que sem você saber, transformou algo bom em algo tão empobrecido?
            O saber que você necessita pode ser desenvolvido se você se colocar em análise. Quando aprender a se ouvir poderá compreender o que você está de fato repetindo e mudar isso. Quem não sabe de si próprio está fadado a se repetir no sofrimento. Apenas quando deixamos de ser ignorantes de nós mesmos é que podemos trilhar outros caminhos que nos permitam viver de maneira mais favorável e proveitosa. Não perca tempo e procure se ajudar.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Sem adicionar mais problemas




            Um homem vivia à beira da estrada e vendia cachorros-quentes. Não possuía rádio e por problemas de visão não podia ler jornais. Em compensação, vendia bons cachorros-quentes. Colocou um cartaz na beira da estrada, anunciando a mercadoria, e ficou por ali gritando quando alguém passava: “Olha o cachorro-quente especial!” E as pessoas compravam. Com isso, aumentaram os pedidos de pão e salsicha, e acabou construindo uma mercearia. Então, ao telefonar para o filho, que morava na capital, e contar as novidades, o filho lhe disse:
            - Pai, o senhor não tem ouvido as notícias? Há uma crise muito séria e a situação do país e internacional é perigosíssima.
            Diante disso o pai pensou: “Meu filho mora na capital, estuda em universidade, vê notícias, portanto deve saber o que está dizendo!” E reduziu os pedidos de pão e salsicha, tirou o cartaz da beira da estrada e não ficou por ali apregoando o seu produto. As vendas caíram enormemente. Então, disse ao filho: “Você tinha razão, filho, a crise é muito séria!
            Fico imaginando o quanto nós mesmos não impedimos nossas experiências e vivências de se desenvolver. Ás vezes, está tudo se encaminhando, seja no nosso romance, nos nossos planos, nos nossos sonhos e por algum motivo que pensamos ser muito real paramos com tudo. Estagnamos e não acreditamos que possa ser diferente. Com muita facilidade abandonamos o que nos é caro.
            Penso que temos medo de ser feliz de fato. Parece contraditório, afinal quem não quer ser feliz? Mas nos sentimos culpados, mesmo que culpa não há. Tememos dar certo em muitas coisas em nossas vidas. Achamos que o normal, o natural é dar tudo errado e que o certo é um mero acidente. Quantas vezes não paramos porque parece estranho seguir em frente com tudo indo?
            Damos mais valor à percepção geral do senso comum de que tudo tem que ser muito difícil que não acreditamos quando algo vai bem. Não estamos destinados a sofrer à toa. A vida já nos traz sofrimentos suficientes, mas não precisamos acrescentar mais.


sexta-feira, 14 de junho de 2019

Pergunta de Leitor - Só devemos arriscar o que toleramos perder



Sou casado há um tempo e sou feliz, amo a minha esposa e não tenho nenhuma vontade de ser traído por ela. No entanto adoro imaginar minha esposa sendo possuída por outro cara. Eu gosto de imaginar ela sendo penetrada enquanto faz sexo oral em mim. Já falei isso com ela e nós gostamos de ficar na cama falando sobre isso, fantasiando, mas nunca chegamos a discutir a realização dessa fantasia. Na verdade eu não sei se isso me excita apenas pelo fato de ser uma fantasia. Como posso saber? Você acredita que eu devo introduzir o assunto com ela?


            Você me pergunta se eu acredito se você deve introduzir o assunto com sua esposa, mas esse assunto já não foi trazido à tona? Tanto que vocês dois fantasiam com o ménage masculino. Então se não foi isso o que será que você me perguntou de fato?
            Levanto a hipótese que você tenha me perguntado se eu apoio que você realize essa fantasia. Pedindo a minha confirmação e a certeza de que tudo acabará bem. Agora, por que será que você pensa que eu tenha essa resposta? Certamente porque você está em dúvida e quer que alguém se responsabilize pelo o que cabe a você decidir. Se você propuser e ela aceitar você teme arcar com as consequências. Já se ela recusar ela poderá virar uma estraga prazer.  Você se coloca numa posição impossível de ser satisfeito.
            Não há problema algum em viver a fantasia do ménage se for o que os dois quiserem. Contudo há consequências que podem ser agradáveis ou desagradáveis. Não há como uma experiência dessa ser vivenciada sem haver consequências.  A gente só arrisca, ou pelo menos deveria ser assim, quando suportamos que pode haver perda. Sem essa tolerância o melhor é não arriscar.                                                                                    A fantasia com ela você já vive de certa forma, mas a prática não. Por que será que você precisa colocar em prática algo que pode te levar à uma perda que você não sabe se pode suportar? Talvez o ideal agora fosse suspender a fantasia para procurar uma análise e tentar compreender o que você faz consigo e em que posições você se coloca. Se descobrir que é o que quer, mesmo considerado os riscos, e ela aceitar, vá em frente ser feliz. Se descobrir que no fundo não é o que deseja pode, então, aprender a se preservar de você mesmo. Boa sorte.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

O Perfume do Amor




            Recebi a seguinte história e aqui a reproduzo sem saber quem a escreveu.
            Era uma vez um homem que tinha uma floricultura, e alguém que vivia no meio das flores, entendia muito sobre o amor. Era dia dos namorados e um rapaz entrou apressado e disse-lhe: “Me providencie, por favor, um buquê de flores”. “E que tipo de flor deseja?” “Qualquer uma. Só quero algo que seja vistoso, pode ser a mais cara que tiver”. “Está certo. Tome o cartãozinho para você escrever a mensagem”. “Não há necessidade, é para minha namorada. Como hoje é dia dos namorados, ela saberá que é meu”. “Você que sabe, mas no seu lugar, escreveria”. “Não posso, estou com imensa pressa. Tenho muitas coisas a resolver”.
            Depois que o rapaz se foi, o senhor ficou ali a pensar como alguém poderia enviar flores sem as escolher, sem escrever um cartão com uma bela dedicatória... mas, enfim, preparou um bonito buquê e mandou para o endereço pensando: “Coitada dessa moça!”
            Algumas horas depois, outro rapaz entrou: “Senhor, por favor, quero mandar uma flor para alguém e é alguém muito especial, mas não tenho dinheiro suficiente para um buquê. Terá que ser somente uma rosa, mas faço questão que seja uma muito linda”. “Pois bem, você quer escolhe-la?” “Sim, mas aceito a sua sugestão”. “Será um prazer, ela é sua namorada?” “Não. Ainda não, mas isso não importa agora. O que importa é que eu gosto dela e acho hoje um bom dia para dizer isso a ela”. “Muito bem. Concordo com você”. “Talvez eu devesse dar um botão de rosa, não acha? Afinal, nosso amor ainda não floresceu”. “Bem pensado”.
            Naquele instante, o senhor percebeu que o rapaz já estava vivendo um doce amor. “Faça o mais bonito invólucro que o senhor puder enquanto escrevo o cartão”. E ele escreveu: Meu amor, estou lhe mandando esse botão de rosa juntamente com meu carinho. A mim não me importa que você não me ame, porque apesar do meu amor ser solitário, ele é verdadeiro e, sendo verdadeiro confio que um dia poderá viver acompanhado do seu. Não tenho pressa. Amor de verdade não tem pressa, amor de verdade não escraviza nem exige, apenas se importa em doar. Um feliz dia dos namorados ao lado de quem você amar.
            O senhor viu que o cartão não havia sido assinado e disse isso ao rapaz. “Não esqueci de assinar, por enquanto só quero que ela sinta quem sou eu”.
            Passaram alguns meses e o primeiro rapaz retornou à floricultura. “Lembra-se de mim, senhor?” “Certamente. Como vai o namoro?” “Nem imagina! Depois daquele dia dos namorados ela terminou comigo e nunca entendi a razão. Agora já parti para outra”. “Ela não deu nenhuma explicação?” “Deu uma sim. Ela disse que eu a estava perdendo por causa de um botão de rosa. Bobagens. Vai entender!"

            Não adianta um casal apenas sorrir juntos; eles precisam sorrir das mesmas coisas. Não adianta apenas caminharem juntos; tem que ser na mesma direção. Não adianta somente mandar flores; é crucial que elas venham com o perfume do amor. O amor é muito mais do que apenas seguir protocolos e regras. Vamos aprender mais sobre o amor? Vamos aprender a amar?

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Pergunta de Leitora - Quando as resistências levam à um encruzilhada




 Não entendo o que se passa comigo. Já comecei algum tempo atrás a fazer psicoterapia e percebi que estava sendo muito bom e me fazendo bem. Mas do nada, sem razão alguma, eu parei. Não sei explicar porque tomei essa decisão, mas sei que algo me impeliu a parar. Sinto falta, pois minha vida está uma bagunça, mas sinto medo de voltar a fazer psicoterapia. Só de pensar em retornar me vem à mente tantas desculpas que já desisto. O que será que é isso?


            A grande descoberta de Freud, fundador da psicanálise, foi estudar a influência do inconsciente sobre nossas vidas. Antigamente, e ainda atualmente, acreditava-se que somos seres conscientes e que nada fora dessa esfera consciente interferia em nossas atitudes e decisões. Mas se olharmos de perto veremos que somos contraditórios e muitas vezes fazemos aquilo que não queríamos fazer em princípio. É disso que você está se dando conta em você mesma.
            Você mesma (o seu inconsciente) lhe fez parar a psicoterapia que você estava gostando. Quais as razões disso? Não temos como saber a não ser que você investigue o que se passa consigo, que você dê palavras para o seu inconsciente. E isso será alcançado se voltar para sua psicoterapia. Do contrário, sempre ficará sem saber o que está te mobilizando a parar o que gosta e muitas outras coisas que, possivelmente, interfere em sua vida.
            Uma ideia que tenho é que as resistências falaram mais alto e fizeram você arrumar desculpas e justificativas para deixar de continuar esse trabalho. Provavelmente, se trata de resistência às mudanças. Quando nos conhecemos mais acabamos mudando muitas coisas que vivíamos e isso sempre gera certo desconforto. É como se tornássemos pessoas novas e desconhecidas e isso é assustador. Então você parou o processo achando assim que poderia evitar as mudanças.
            Só que as resistências não trouxeram satisfação e realização, pois você continua insatisfeita consigo e com a vida. Está numa encruzilhada: se continuar na mesma ficará insatisfeita, se ousar mudar terá que enfrentar seus medos. Só resta mesmo reunir coragem para enfrentar o medo das mudanças que poderão ocorrer caso você retorne para esse trabalho de vir aprender a se conhecer. Quem sabe se você se permitir se desapegar da pessoa que você acha que tem que ser não abre espaço para se tornar quem você pode realmente ser? Será que vale tentar?
           

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Os Perigos da Saúde Imaginária




            A doença imaginária é extremamente nociva. Aquelas pessoas que imaginam as piores doenças para si limitam muito a própria vida e vivem sempre numa ansiedade extrema. Todos sabem disso e a hipocondria é bem estudada nas literaturas médicas e psicanalíticas há anos. Porém, o que ninguém presta muita atenção é que a saúde também pode ser imaginária e ela, também, pode ser nociva à vida.
            A saúde imaginária é quando a pessoa nega seus males, sejam eles orgânicos ou psicológicos, e prefere “desconhecer” o que se passa consigo para assim não ter que se cuidar ou se responsabilizar pelas ações a tomar frente à sua condição. A ignorância é comumente mais cômoda, mas é infinitamente mais prejudicial. Lidar com a doença ou saúde imaginárias implica em se responsabilizar pela própria vida interna mental, o que sempre dá trabalho.
            Ninguém nasceu sabendo cuidar de si, porém é algo que se aprende se for aberta essa possibilidade. Ficar apenas naquilo que é imaginado é uma maneira de evitar as aprendizagens da vida e de permitir que a vida e os outros decidam o desenvolvimento dos acontecimentos. Uma pessoa constantemente levada de cá para lá como um barquinho numa onda insana não tem como ser feliz.
            Imaginar saúde quando ela não existe impede lidar com as realidades, muitas vezes duras, e de aprender sobre a condição humana que sempre requer cuidado e atenção. Quem imagina saúde assim se engana e se sente onipotente. Inúmeras pessoas através de suas defesas onipotentes negam os cuidados necessários que precisariam buscar para dar uma qualidade e dignidade melhor à vida. Quantas pessoas não negam a vacina ou tratamentos essenciais porque “acreditam” que têm tudo sob controle? Quantos se esquivam de procurar psicoterapia porque têm como certo que o que vivem não é nada demais e que é só questão de tempo para passar ou de que não precisam se conscientizar do que fazem consigo mesmo? O resultado é sempre cair do pedestal e pagar um preço mais amargo.