segunda-feira, 28 de março de 2016

Amizade versus Cumplicidade



            É muito frequente haver confusão entre os conceitos de cumplicidade e amizade, como se fossem a mesma coisa. No entanto, não se tratam de sinônimos, mas de coisas completamente diferentes. Até mesmo nos dicionários essas duas palavras podem ter significados similares, porém é sempre bom saber que pode haver entre as duas um abismo enorme. Então, o que é amizade e a cumplicidade?
            Cumplicidade é conivência, ou seja, aceitação e participação nos atos de outra pessoa, mesmo que estes mesmos atos sejam ilegais ou imorais. A cumplicidade visa sempre a um interesse e jamais é despretensiosa. Portanto, todo cúmplice é interesseiro e o que une ao outro só vive enquanto o objeto de interesse continuar a existir. Este último cessando a cumplicidade não perdura e a relação que unia os seus integrantes se desmancha facilmente. Vejamos as delações premiadas, tão em voga ultimamente, nessas searas politicas, e saberemos do que a cumplicidade se trata.
            Enquanto a cumplicidade necessita do lucro para subsistir, seja este qual for, a amizade funciona de outra forma. Há também o lucro na verdadeira amizade, mas este se volta aos valores subjetivos e morais. A amizade independe do interesse e o amigo não é interesseiro em suas ligações. O que une os amigos é a relação de confiança e respeito que só ocorre quando a atitude do cuidado e do desapego se faz presente. O amigo cuida do outro de maneira gratuita sem esperar algo em troca. Infelizmente, a dimensão da amizade não é para todos.
            Alcançar a verdadeira amizade é para bem poucos porque demanda uma ética pouco conhecida. Essa ética implica em se abrir mão, de maneira prazerosa, do narcisismo próprio para estar com o outro. É triste, mas a cumplicidade que se baseia na perversão e interesse é mais conhecida do que a amizade. O amigo não justifica que gosta do outro por tal ou qual razão, mas compreende que a amizade, assim como o amor, tem seus mistérios dos quais não nos cabe querer entender, mas apenas acolher da forma mais preciosa que pudermos. O amigo aceita que o outro é simplesmente ele mesmo. 

sexta-feira, 25 de março de 2016

Pergunta de Leitora - Pensando Juntos



Namoro já faz três anos e meu namorado e eu sempre nos demos muito bem. Hoje em dia noto algo diferente na nossa vida sexual e que me deixa triste. Ele não gosta nada quando sou eu quem tomo a iniciativa. Ele prefere tomar a iniciativa e quando eu faço um movimento nesse sentido ele diz que não se sente a vontade e que não fica excitado. Antes quando eu tomava a iniciativa ele gostava e se divertia, mas desde que decidimos morar juntos isso tudo se perdeu. Que tipo de mulher ele espera que eu seja? Não sei o que aconteceu e ele se recusa a conversar sobre isso. Será que devo ser mais recatada e passiva? Será que os homens se ofendem quando encontram uma mulher mais liberal?

            Algo aconteceu, você percebe, e a dúvida leva você a se questionar e a perguntar que tipo de mulher você deve ser para agradar ao parceiro. Pergunta-se também se deveria ser mais recatada e passiva, como se fosse apenas uma questão de ser de um jeito ou de outro. Não é, pois ninguém pode se forçar a ser o que não é. Você deve ficar atenta para não correr risco de se enredar.
            Você faz, não sei se você percebeu, uma associação entre o fato de terem ido morar juntos com a mudança no sexo/relacionamento. O que será que mudou quando vocês decidiram dividir o mesmo teto? Como foi essa decisão? Foi tomada em conjunto ou foi unilateral? Talvez responder a essas perguntas possa trazer uma luz para o que vem acontecendo.
            Não há como conjecturar sobre seu companheiro. Não sei que palavras ele tem para isso tudo ou até mesmo que falta de palavras. Em suma, falta informação para sabermos o que de fato ocorre. Imaginar o que pode ser o que se passa na cabeça dele não leva a lugar algum. Enfim, só podemos lidar com o que temos em mãos. E é bom também ter em mente que não se trata só do sexo, mas provavelmente do convívio de vocês dois que não anda bem.
            Agora o que quer que seja que esteja atrapalhando o encontro de vocês de nada adianta você trazer a culpa para si mesma e já se colocar pronta para ser de uma maneira ou outra. Antes de presumir que o problema esteja com você apenas se faz necessário descobrir o que se passa com o casal. Sei que vai dizer que ele se esquiva em conversar, mas não sei se você não desistiu muito facilmente ou não tenha ainda encontrado a maneira que faça vocês dois conversarem. Afinal, morar juntos implica também em pensar juntos, não é mesmo? 

segunda-feira, 21 de março de 2016

Terapia ou Tortura?



            No dia 20 de fevereiro foi lançado no YouTube um documentário chamado Bichas que mostra seis jovens homossexuais contando como foi assumir a homossexualidade, dos seus medos e dificuldades, bem como dos preconceitos sofridos. Há algumas histórias mais tranquilas e outras nem tanto em que os jovens tiveram que sofrer muito quando poderia ser diferente se existisse aceitação e mais entendimento. Um desses jovens diz que foi levado a fazer psicoterapia por seus pais e a psicóloga, se é que se pode chamar assim alguém desse quilate, o torturou mais do que o ajudou e fez do espaço psicoterapêutico uma câmara de horrores.
            O jovem em questão foi forçado na psicoterapia a se comportar como homem, coisa que aliás ele era, mas não era o que pais e profissional tinham em mente quando pensavam num modelo masculino. Ser homem não implica em caber em determinados padrões. Um homossexual do sexo masculino é um homem como qualquer outro. Homem e orientação heterossexual não é uma coisa só.
            Um dos objetivos de uma psicoterapia é a pessoa se autoconhecer e com isso fazer um melhor uso de si mesmo e de suas potencialidades. Não é objetivo da psicoterapia obrigar alguém a ser de um jeito ou outro. Isso é violência. Nas sessões desse jovem ele era desvalorizado quando comparado desfavoravelmente com o comportamento de seu irmão que ao que tudo indica é heterossexual e que se encaixava nos padrões do que acredita-se ser a normalidade. Era tratado indignamente ganhando pontos quando fazia o que desejavam dele e repreensões quando não atingia o padrão pretendido.
            Quando profissionais da psicologia e psiquiatria não entendem melhor a natureza humana ficam apegados à paixão pela ignorância. Esta paixão é danosa e destrutiva, pois a ignorância leva à arrogância onde quem a sente crê que tem razão e justifica suas atitudes com moralismos e preconceitos. A psicoterapia está a serviço da vida seja ela como for e não de uma perigosa normatização. Deve ser, acima de tudo, um espaço de descobertas e não uma tortura ocultada por um falso profissionalismo.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Pergunta de Leitora - Castelos no Ar



Tenho um filho de 4 anos e ele começou a mentir muito. Quando ele faz algo de errado, por exemplo, nunca assume a própria culpa e diz que foi outra pessoa que fez. Ele diz que falou com várias pessoas como as professoras da escolinha ou coleguinhas que na verdade não encontrou. Quando digo tudo isso para ele, que é mentira, ele nega e diz que é verdade. Tenho medo que meu filho se torne um mentiroso, alguém que manipule os outros. Tenho que ensinar o que é certo e errado para que depois ele não sofra. Mas cada vez que eu tento incutir a verdade mais ele mente. O que fazer? Estou desesperada?

            De onde vem tanto desespero? Você poderia começar se perguntando por aí. Poderia, também, se perguntar por que teme que seu filho venha a ser um mentiroso e manipulador. O que será que essa ansiedade diz de você? O que será que, inconscientemente, você está respondendo quando se entrega ao desespero? As questões são internas e suas e não externas, ou seja, não é com a atitude do seu filho que você está angustiada, mas com as suas fantasias.
            Uma criança pequena de apenas quatro anos não tem mesmo condições de saber o que é certo ou errado. E muito menos de poder diferenciar entre o que é mentira e imaginação. Todas as crianças têm imaginação fértil e são capazes de inventar estórias mirabolantes. Entretanto, isso não significa que ela se tornará uma manipuladora e nem que esteja mentindo de fato. Para os pequenos o que se passa na imaginação é real.
            Aliás, é altamente positivo que uma criança possa exercer sua imaginação que nada mais é do que a construção de seu mundo interno. É através do exercício imaginativo que alguém é capaz de criar um mundo interno rico. Uma criança sem imaginação não teria meios de formar um mundo interno consistente e saudável, que seria futuramente usado para pensar as questões de sua vida. No início imaginação e realidade se confundem e conforme a criança vai crescendo ela vai se dando conta de que não são a mesma coisa. Ela, no processo de amadurecimento, vai conseguir diferenciar entre o que se passa dentro da própria cabeça e o que se passa lá fora. Aí, sim, ela saberá o que é mentir.
            Agora, quanto mais você tentar tirar a imaginação de seu filho, mais ele vai se assustar e sentirá que precisa se proteger. Que tal aprender a ouvi-lo e tratar o que ele fala como uma estória onde ele está criando um mundo seu? Tirar a capacidade dele de imaginar pode ser sentido como uma violência desnecessária. Ele está apenas descobrindo que o que sente nem sempre é real e essa tarefa é demorada e custosa. Sem desespero você pode mostrar e conversar com ele sem exigir que ele entenda tudo de uma só vez. Sua paciência e amor podem ajuda-lo a encarar a realidade para distinguir entre seus castelos no ar e a realidade factual.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Análise de Filme - Spotlight: Segredos Revelados


            Há momentos que devido aos inúmeros absurdos e atos de violência que testemunhamos mundo afora perdemos a esperança na humanidade. Não é mesmo fácil e confortável se deparar com tanta intolerância e injustiças que permeiam nossa vida diária, mas se olharmos bem vemos que há também histórias que mostram que algumas mudanças positivas e favoráveis vêm acontecendo e que ao invés de perdermos completamente as esperanças devemos renová-las sempre.
            O enredo do filme Spotlight: Segredos Revelados se baseia na história real de um jornal que investigou e foi fundo sobre a igreja católica acobertar os escândalos de sacerdotes flagrados abusando sexualmente crianças. Esse grupo de jornalistas teve que enfrentar várias resistências, inclusive dentro do próprio jornal em que trabalhava e dos membros da cidade em que vivia, para poder revelar esses fatos revoltantes. Abuso sexual de crianças é assunto sério e é uma obrigação dos adultos cuidarem disso com toda atenção que merece, jornalistas ou não.
            Há alguns anos atrás seria impensável a igreja católica ser colocada numa situação dessas. Indo mais ao passado ainda, lá pela Idade Média, a igreja tinha poder absoluto e era ela que “julgava” e condenava e nunca o contrário. Isso mudou e muitos atribuem isso ao fato da igreja ter perdido poder. No entanto não é bem assim e seria muito melhor colocado que são as pessoas que mudaram, que houve certa evolução, que permitiram as pessoas questionar o que antes era inquestionável. Em algum grau está havendo mudanças evolutivas na forma de se relacionar da sociedade. Esse é o ponto principal do filme.
            Ainda há muito que mudar e fazer, mas perceber que algumas coisas estão mudando para melhor é animador e um sopro de esperanças para a vida. Essas transformações vêm da mente interna de pessoas que não aceitam ficar numa posição de não pensar, porém buscam novos sentidos para fazer algo mais humano. Não é só a sociedade que causa mudanças na mente, mas também a mente que causa mudanças na sociedade e na maneira que vemos o mundo.
            O filme me faz pensar (ou sonhar) que se realmente investigássemos mais a fundo nossas mentes e começássemos a questionar como vivemos e nos relacionamos conosco e com o mundo, o planeta poderia ser outro, a sociedade poderia ser mais compassiva e as pessoas se aproximariam mais do que pode ser felicidade e respeito ao próximo. Mas para isso não podemos nem nos acomodar e nem perder as esperanças.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Pergunta de Leitora - Ser Mulher



Sempre fui uma jovem independente e casamento nunca esteve nos meus planos. Sempre quis viajar e aproveitar a vida. Muitas pessoas próximas a mim não aceitam o meu estilo de vida e acham que logo vou me arrepender por não ter me casado ou até por não ter tido filhos. Mas só de pensar em filhos me dá arrepios. Nunca desejei ser mãe, mas todos fazem isso parecer um terrível pecado. Como se eu não fosse uma boa mulher só pelo fato de não querer filhos. Mas não os quero e não me vejo como mãe. Adoro crianças, mas a dos outros e não quero ter as minhas. É tão errado assim uma mulher não querer filhos? Toda mulher tem mesmo esse desejo por filhos e se não os tiver posso me arrepender? Tenho 39 anos.

            Ideias estereotipadas são bastante perigosas e inúteis. Elas estabelecem falsas verdades do tipo: toda mulher quer ser mãe ou o casamento é uma maravilha para todo mundo. Só que o mundo real e o mundo ideal não andam juntos e haja doses de decepções.
            Nem toda mulher deseja a maternidade. Aliás, nem toda mulher deveria ser mãe. É um erro e algo arcaico acreditar que todas as mulheres são iguais e que a maternidade é uma obrigação. Ser mãe não deveria jamais ser uma obrigação. Quando a mulher ou o homem se veem obrigados a algo a felicidade não tem como existir.
            Você não deseja filhos e por isso mesmo não precisa tê-los. O corpo e a vida são seus e você deve usá-los como melhor lhe parecer. Se você vai se arrepender não sabemos. O que sabemos é que hoje você não anseia pela maternidade e isso basta para não ter filhos. Caso se arrependa, lidará com isso no futuro. Filho não deve ser concebido como um seguro para não haver arrependimento no futuro.
            Assim como filho casamento também não é para todo o mundo. Há os que desejam e podem viver um casamento, porém há outros que ficariam miseráveis caso se encontrassem numa relação marital. Os caminhos para trilhar a vida são variados e não adianta “modelos” de como tem que ser. Cabe a cada um saber de si para melhor entender qual trilha deve tomar. Quem segue a própria trilha não tem arrependimentos ou se tem sabe lidar com eles com mais eficiência. 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Brasil vive uma esquizofrenia



            O ambiente político atual no Brasil está uma loucura solta. O que mais há são justificativas que parecem ser reais ou até racionais, mas são puras alucinações. Uma das características da loucura é se achar dono da verdade ou acreditar piamente em verdades absolutas, o que sempre leva ao fanatismo. O fanatismo é uma ideia intensamente valorizada que se torna um dogma, ou seja, algo inquestionável e que por ser considerado a única verdade que existe é defendido de qualquer forma, custe o que custar.
            Hoje vemos pessoas que se julgam de esquerda e de direita brigando da pior forma possível. Criam-se ídolos intocáveis de ambos os lados. Deuses que não podem responder por seus atos, personalidades que não são devidamente investigadas, gente que não admite ser tratada como cidadão comum, mas como se pertencesse a uma categoria especial de seres. Estamos num circo, mas não aqueles divertidos, que trazem alegria, mas num circo de horrores ou melhor dizendo estamos em pleno hospício aberto.
            Pessoas fanáticas são perigosas porque para elas a violência é justificada. Por se sentirem possuidoras de uma verdade que não existe acreditam que podem defender suas ideias da pior maneira possível e o outro de fora é sempre o inimigo. Vivemos uma paranoia coletiva onde todos se dividem entre aliados ou inimigos. E para o inimigo só resta mesmo a violência verbal e até física. Um esquizofrênico está em constante luta consigo mesmo, entre aquilo que é alucinado e a realidade. Para alguém que padece deste distúrbio a mente encontra-se dividida e as coisas são idealizadas. Há apego por aquilo que é endeusado e uma forte rejeição àquilo que é visto como mau. Na esquizofrenia não se vive a realidade, mas vive-se as alucinações e há constantes ataques à percepção da realidade. Ora, não é isso que vem acontecendo na sociedade?
            Ninguém mais consegue pensar já que para isso se faz necessário abandonar as idealizações, encarar a realidade e enfrentar os fatos desapaixonadamente. Já o fanatismo é paixão pela ignorância. O apaixonado sempre idealiza seu objeto ou sua ideia e não admite ser contrariado. Se para isso é necessário negar a realidade não há problema nenhum em se desfazer dela e ainda por cima jogar tudo o que é ruim naqueles ou naquilo que se julga que é contrário à sua paixão. Para quem vive a dimensão da paixão o pensamento não existe; por isso a paixão é louca e perigosa e se nela não há possibilidade de pensamento o que fica no lugar é apenas reações.
            Vivermos através das reações sem que estas tenham passado por uma mente que possa elaborar ou digerir é extremamente danoso porque reações são impulsos nus e crus. O perigo disso é que os impulsos só buscam satisfações e nunca contato com a realidade e se um dado impulso exige determinado ato e não há mente para conter, o ato será certamente realizado mesmo que se trate até de um assassinato. Enfim, a coisa é séria.
            Mais triste e perigoso ainda é constatar que há gente que tem ou teve cargo de destaque conclamando o povo à violência tornando o que já está ruim em algo pior. Mais do que nunca se faz necessário pessoas que possam pensar e não atuar seus impulsos. Antes vivíamos numa sociedade neurótica, cheia de recalques onde nada se podia, porém agora vivemos numa sociedade esquizofrênica onde não mais se há lei. O que você vai fazer, agora, com sua mente no meio de todo esse turbilhão?

sexta-feira, 4 de março de 2016

Pergunta de Leitor - Cicatrizes




Tenho uma mágoa muito grande em relação a um ex-amigo. Éramos muito próximos e nos dávamos super bem, mas ele me enganou num negócio em que éramos sócios e acabei bastante prejudicado. Nunca pensei que isso iria acontecer e me pegou desprevenido. Nunca mais nos falamos e não consigo perdoá-lo. Ele já pediu desculpas e até já tentou me ressarcir, mas eu recuso sempre. Acontece que mesmo não mais falando com ele eu sempre lembro dele e da raiva que sinto. A raiva é muito poderosa e me pego pensando em ele sofrendo ou tendo uma doença terminal só como castigo. Me sinto baixo com tudo isso, mas por que não consigo me livrar desses pensamentos? Não sei mais como mudar. Será que posso perdoá-lo?

            Você está apegado ao sentimento de ódio e não vê como abrir mão dele. Provavelmente é esse sentimento que alimenta suas fantasias de vingança e justiça. Só que isso não acontece e o único resultado é você acabar envenenado com a raiva que carrega e se impossibilitar de viver sua vida. O maior prejudicado pelo seu ódio, como você bem o sabe e sente, não é seu ex-amigo, mas você mesmo.
            Pelo o que você conta ele te traiu e isso não é mesmo uma boa coisa. A confiança foi estragada pelo ato de traição. É possível compreender o ódio que você sentiu, mas ficar preso ao ódio até agora lhe é destrutivo e só mostra que você hiper valoriza essa atitude dele e pouco a sua possibilidade de poder não se identificar com aquilo que te fez tanto mal. Sentir ódio é natural, mas ficar preso a ele é opção e paixão.
            O perdão pode ser aprendido e é bom que assim seja, pois ele mais faz bem para quem perdoa do que para quem é perdoado. Mas lembre-se que perdoar não significa absolver, ou seja, não implica voltar a ter com ele a amizade antiga, se assim você não desejar. O perdão verdadeiro nem mesmo impõe que você tenha que falar a ele que o perdoa, mas é conseguir perdoá-lo dentro de você. Em outras palavras, significa não permitir que o ato dele destrua a sua paz de espírito e sua vida.
            Saber perdoar implica em abrir mão da paixão pelo ódio. Perdoar é ato sábio já que quem perdoa demonstra para si mesmo um lado amoroso e saudável. Hoje você bebe do veneno do ódio que sente para que seu conhecido morra, mas quem toma o veneno é que se intoxica, ou seja, é você mesmo que impede de se curar das feridas já acontecidas. Feridas precisam cicatrizar e na vida carregamos cicatrizes para nos lembrar das nossas batalhas, não para continuarmos nelas.