segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pergunta de internauta

Tenho 24 anos e sou homossexual. Ainda moro com meus pais e nem eles e nem meus amigos sabem da minha orientação sexual. Estou desempregado e cansado da vida. Queria ter um relacionamento amoroso, mas todos os homens com quem me envolvo só querem saber de sexo e nada mais. Acho que deveria ir embora de Londrina. Aqui não tem homens sérios e nem perspectiva de trabalho. Na verdade nem sei o que fazer da vida. O que você acha de tudo isso?


            Muito desânimo para alguém tão jovem! Sua desesperança vem do fato de você não se permitir ser quem você é. Quer um relacionamento amoroso, mas está realmente aberto a isso? Como poderia assumir um namorado se afinal nem seus pais e seus amigos sabem de sua orientação sexual e muito provavelmente você não se sente confortável e seguro em se assumir. Poderia começar se questionando se você aceita a sua homossexualidade.
            O problema não é Londrina e nem os homens daqui, mas como você se vê impossibilitado de se realizar aqui. Homens que só querem sexo e desemprego existem em qualquer lugar. Se você acredita que pode ser feliz em outro lugar então vá, mas faça isso só se for realmente o seu desejo e não apenas para evitar enfrentar essas questões, pois estas irão com você em qualquer lugar até você elaborá-las.
            O que você não deve é perder tempo. O tempo é precioso demais e você tem o direito de viver sua vida plenamente. Não gaste energia se lastimando e procurando culpados, mas sim se descobrindo e se permitindo trilhar o seu caminho.
            Você me diz que nem sabe o que fazer da vida. Na verdade está me dizendo que não reconhece o seu desejo. Por isso é vital você se conhecer. Não tenha medo de se descobrir e use toda essa descoberta para lhe ajudar a batalhar por aquilo que deseja. Só se conhecendo e sendo quem você realmente é você vai encontrar um sentido na vida.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pergunta de internauta

Sou uma mulher amargurada. Tenho 40 anos e sou separada de um relacionamento de 10 anos com um homem que nunca me deu valor e me traía sempre. Mesmo assim estou arrependida de ter me separado, já que agora estou completamente sozinha. Não tenho filhos e nem vida pessoal. É sempre casa – trabalho – casa. Estou velha agora para ser amada por outro homem e isso me dá um sentimento de nulidade. Nem sei por que estou viva. Há alguma coisa que eu possa fazer?



            Você está enganada em acreditar que o amor só existe para os jovens. Ele existe para qualquer idade, mas me parece que você não bota fé nisso. Você mostra a necessidade da existência de um outro para se sentir com algum valor. Arrepende-se de ter se separado mesmo se tratando de um relacionamento que lhe deixava mal. Vamos pensar. Será que valeria a pena sustentar uma relação insatisfatória e até humilhante e se privar de sua liberdade e auto-valorização?

            Ter quarenta anos não é o fim da vida. Há ainda muito a ser vivido e experimentado se você se permitir. Seria muito bom você se analisar e descobrir porque se sente tão na dependência dos outros e dos homens em particular. E na análise experenciar um novo nascimento que lhe possibilite gozar da vida estando só ou acompanhada.

            Nascer não é somente um ato físico, mas é um processo que se dá todos os dias em nossas vidas. E em cada novo nascimento uma descoberta de como melhor aproveitar nossos talentos e desejos se apresenta. Busque ajuda para se olhar com amor e jogue a sua crença de que está destinada à infelicidade no lixo.

O Valor do Humano

São muitas as pessoas que deixaram a humanização de lado e isso vem contribuindo imensamente para o empobrecimento das relações humanas. O homem nasce animal, mas se faz humano através dos relacionamentos. Por isso as relações humanas de qualidade são um imperativo para o crescimento de toda a sociedade. No entanto, ultimamente o que mais se vê são pessoas se desumanizando e se tratando como objetos.
            Tudo isso pode ser visto nos programas de televisão, nos comerciais e até nas empresas em que trabalhamos. São muitas as situações em que o homem passa de sujeito a objeto, pervertendo as relações. Assim, já que o homem se fez um objeto pode então ser usado, é mais uma mercadoria. Nos programas de reality show as mercadorias ficam estampadas na tela da TV para o nosso prazer, principalmente quando são exibidas cenas de humilhações constrangedoras. Nos comerciais são muitos os exemplos de desvirtuação de valores onde o que realmente importa é o ter e não o ser. Nas empresas suga-se até a medula dos funcionários e quando estes podem ser substituídos por outros mais baratos são descartados rapidamente.
            Essa desvalorização do humano acontece também nas famílias. Muitas vezes o diálogo e a compreensão encontram-se escasso e impera relacionamentos nos quais um usa o outro para atingir seus objetivos narcísicos. Vive-se um momento onde o outro está desprovido de valor e o que vale é o lucro que pode-se ganhar. A era do lucro e da “esperteza” nos impõe tirar vantagem de tudo, inclusive do próximo.
            Como foi dito acima é através dos relacionamentos que aprendemos a ser humanos. Gratidão, reparação, amor e paciência não nascem conosco, mas são coisas aprendidas quando há relações que priorizem essas atitudes e pensamentos. Ou seja, um trabalho de reeducação dos nossos valores se faz necessário. E é um trabalho de todos.
            Conhecer e analisar a nossa história de vida é um possível meio de sair dessa posição de objeto e passarmos a de sujeito. Pois isto implica a reflexão sobre o que fizeram conosco e o que nós fazemos conosco e com os outros e daí mudar o que precisa ser mudado. Começar a dizer não a situações perversas e criar novas posições onde o humano possa realmente nascer. Só conhecendo as origens de nossas atitudes podemos criar recursos para nos inovar. Uma só pessoa mudando suas atitudes pode ser o começo de uma grande mudança no mundo. Há um ditado que diz “uma andorinha só não faz verão”, mas eu prefiro uma frase de Gandhi muito mais verdadeira e poderosa: “Tudo o que fizeres de bem no mundo será pouco, mas mesmo assim é importante que você o faça”.

Sofrimento Mental e Crescimento



            Ultimamente tenho visto o quanto o sofrimento mental vem sendo mal compreendido. É interessante notar que todas as tecnologias criadas que melhoraram tanto nossas vidas, deixando-as mais fáceis e confortáveis, não diminuiu em nada a questão do sofrimento mental. Até mesmo os remédios psiquiátricos de última geração vieram apenas como paliativos, mas não são uma solução definitiva. Na era em que vivemos, na qual tudo é para ontem e as soluções se apresentam prontas, o sofrimento psicológico parece ser um paradoxo. Passa a ser incansavelmente combatido, mas não pensado. Tentam exterminá-lo, mas não o compreendem. Mas será que o sofrimento mental é um vilão tão mau assim?
            Penso que não. A vida está repleta de sofrimentos sejam psicológicos ou físicos: envelhecemos, adoecemos, nos apaixonamos e nos decepcionamos, temos ódio, inveja... Em qualquer dimensão da vida humana há existência do sofrimento. Aqueles sofrimentos que podem ser “curados” pelos medicamentos e cirurgias ou por qualquer outro meio externo tudo fica bem. Mas o que fazer com aquilo que é despertado em nossas mentes e nos angustia? Como lidar com isso?
            Quando o sofrimento é psicológico não temos como nos livrar dele facilmente. Está em nós. Podemos fugir para o Ceilão, mas nossa mente e tudo o que está nela vai conosco. Não há escapatória e nem cirurgia que extirpe o sofrimento mental.
            A única saída possível é aceitar esse sofrimento para poder pensá-lo, elaborá-lo e transformá-lo em matéria prima para o nosso crescimento. Como já dizia um ditado antigo “A privação é mãe da criação” e o sofrimento psicológico é uma privação da mente. É quando não podemos contar com recursos internos para lidar com nossas angústias de uma forma mais eficaz. É quando ficamos presos a um determinado tipo de atitude e visão de mundo que nos causa dissabor e desesperança. É quando nos sentimos fracos e impotentes para enfrentar viver nossa vida. Mas todas essas privações podem ser justamente aquilo que nos impele para frente, para a criação e transformação. Quando passamos a ficar incomodados com o que nosso presente nos apresenta e procuramos nos transformar e melhorar. Enfim, quando nos desacomodamos para seguir em frente em busca de uma vida que tenha significado.
As pessoas mais experientes são aquelas que passaram por muitas provações e em vez de sucumbirem e se entregarem à derrota e lamentação, usaram da própria experiência de sofrimento para se transformarem em pessoas mais fortes e preparadas para a vida.
            E como fazer isso? Não há uma receita milagrosa. Esse processo de transformação se dá na medida em que a pessoa se permite viver a vida com todo o sofrimento que ela traz. Alguns poucos conseguem fazer isso sozinhos. Tiveram uma boa base e têm recursos que os ajudam nessa empreitada. Muitos outros precisam de ajuda. A psicoterapia psicanalítica é uma dessas possíveis ajudas. Ela permite que uma pessoa tome esse caminho de acolher as próprias dores sem recorrer a mecanismos de fuga e de respostas prontas. Permite que a pessoa reconstrua sua vida através de outras perspectivas e encontre as suas respostas. É difícil e laborioso esse caminho, mas usar do nosso próprio sofrimento como instrumento de enriquecimento pessoal é o único que possibilita uma vida digna e mais prazerosa.