sexta-feira, 31 de julho de 2015

Pergunta de Leitora - Prisão


Tenho 43 anos e vejo minha vida passando sem eu nada fazer. Não sei o que me acontece. Faço planos e mais planos e todos muitos interessantes, diga-se de passagem, mas nada executo. Sou boa em planejar e sonhar, mas péssima em executar. Protelo tudo, deixo tudo para depois ou quando o momento for propício, mas esse momento nunca chega. Não sei o que fazer para mudar isso. Me sinto presa sem correntes e nem barras de ferro. Tem como me ajudar?

            Podemos viver a vida de dois jeitos sendo um deles estéril e o outro bem mais produtivo e eficaz. Na maneira estéril escolhemos viver apenas através da imaginação enquanto no modo eficaz vivemos de fato, experimentando o que a vida pode nos trazer e com isso sempre aprendendo. Provavelmente você sabe qual caminho está pegando.
            É bem mais fácil e cômodo viver na imaginação. Imaginar não demanda esforço algum, é só se entregar aos devaneios. Porém, devaneios não significam realidade. Algo no fim sempre faltará que é a experiência. Possuir imaginação é bom, mas depende de como ela é usada. Se for para adiar a vida de nada serve e a imaginação passa a ser um empecilho.
            A questão importante é entender a razão de você protelar tudo. O que será que significa essa atitude? Como será que você chegou ao ponto de preferir a ilusão do que a realidade? Procurar responder essas perguntas pode te levar a uma compreensão de que atitudes e pensamentos você vem valorizando e alimentando. Você entendeu muito bem a sua prisão. Ela não é algo externo, mas interno e é justamente no seu mundo interno que você precisa se voltar para encontrar a liberdade.
            Freud foi um gênio quando construiu o conceito do inconsciente e sua influência na nossa vida. O inconsciente nunca deixa de influir sobre a maneira que vivemos e nos relacionamos. Aliás, quanto menos sabemos sobre ele mais ficamos presos à sua influência. Por isso que se conhecer é vital para quem quer se libertar. No Oráculo de Delfos na antiga Grécia existia uma frase poderosa. Conhece-te a ti mesmo. Procurar se conhecer é antigo, mas ao mesmo tempo é o que há de mais moderno e necessário. Aprenda sobre você mesma e quem sabe isso não te dará elementos para parar de protelar a vida e viver bem.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Assombrações


            Histórias e filmes de assombrações, com espíritos perturbados vagando por aí, fazem enorme sucesso. No enredo do filme de Anabelle, por exemplo, uma boneca tem ligação com o espírito de uma jovem insana e todos que possuem a boneca são mortos de maneiras misteriosas e violentas. Hoje a boneca (a história é alegada verdadeira) está num museu de horrores e gera lucro com direitos autorais para serem produzidos produtos sobre os acontecimentos que a envolvem. Enfim, por que será que temas assim são tão fascinantes para muita gente?
            As assombrações têm sucesso porque contam uma trama de perseguição e é justamente com essa trama que muitas pessoas se identificam. Intimamente, em nossas mentes, nos sentimos perseguidos por conteúdos que nos angustiam e nos assustam e que transformamos em fantasmas. Os conteúdos mentais que portamos e que nos trazem ansiedades são sempre nossos fantasmas pessoais. Em outras palavras, os fantasmas e espíritos atormentados são construções humanas.
            Agora, ocorre que é difícil aceitar que essas coisas que sentimos como horrendas são nossas, então usamos um mecanismo de defesa para projetar fora de nós o que nos perturba. O perigo, assim, fica fora e nos eximimos de qualquer responsabilidade. Viramos vítimas do perigo: dos fantasmas, dos monstros, dos demônios e outras criaturas de outro mundo. Preferimos acreditar que o que tememos está externo e não dentro de nós mesmos.
            Esses enredos de terror que tanto fascinam nos dão imensa satisfação aos transformarmos nossos medos e angústias em algo que sentimos estar alheio de nós. Momentaneamente vivemos uma psicose onde confundimos o alucinado com o real. Quem nunca se sentiu perseguido alguma vez na vida? Quem nunca achou que havia um monstro atrás de nós querendo nos devorar? Internamente há todo um mundo assim quando não trabalhamos com nossas mentes. Trabalhar a própria mente é tal qual exorcizar os próprios fantasmas. Podemos até nos divertir com essas histórias, mas o principal é saber que nossas vidas não precisam ser um filme de terror. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pergunta de Leitora - Canto da Sereia


Tenho 25 anos e estou passando por um mau momento na minha vida. Sou lésbica e conheci pela internet um mulher mais velha de 47 anos que me encantou com as palavras. Conversamos on line por quase quatro meses e decidimos que era hora de viver junto. Como éramos de cidades diferentes eu vendi todos os meus móveis, devolvi o apartamento que eu alugava, deixei meu emprego e fui atrás do amor. No começo foi tudo as mil maravilhas. Vivíamos num conto de fadas. Ela estava desempregada, mas parecia estar procurando um trabalho. Como ela não tinha dinheiro vivíamos com aquilo que eu havia vendido. O dinheiro acabou e o amor também. Eu pagava as contas dela e as minhas, mas não durou muito. O supermercado era eu que fazia e ela não contribuía com nada. Quando meu dinheiro acabou ela começou a me maltratar, a me xingar e a me desvalorizar. Me expulsou e agora moro de favor com uma amiga. No entanto, estou sem emprego, sem dinheiro, sem amor e sem nada. Me arrependo muito de minha insensatez, fui enganada por alguém que ainda amo. Como curar o mal que ela me fez?

            Quando caímos o jeito é levantar e continuar em frente com mais atenção e cuidado. As experiências dolorosas devem servir como lição para que nos tornemos mais sábios e experientes. A cura existe, mas ela não é mágica nem milagrosa, ela se dá quando você se permite entender o que aconteceu e a se preservar dos perigos.Em outras palavras, quando você aprende a cuidar de si mesma.
            A mulher com quem você se envolveu te encantou com as palavras e essa fala sua me fez lembrar das antigas lendas das sereias que atraíam os marinheiros com seus belos cantos e quando eles já estavam entregues eram afogados. Você se entregou a uma sereia, à sedução das palavras e ficou cega para o que de fato estava acontecendo. Ela te enganava e você se colocava disponível para ser afogada. O conto de fada virou tragédia.
            O que se faz interessante e importante agora é refletir sobre a sedução do canto da sereia em você. Será que foi falta de experiência de vida ou foi movida pela carência que lhe fez acreditar que uma mulher mais velha iria te preencher? É importante saber a resposta para que não caia mais nessa armadilha, para que não se repita. O que você procurou, de fato, quando vendeu tudo e abandonou tudo para ir atrás de alguém que você mal conhecia?
            Devemos viver a vida intensamente, mas com cuidado. Podemos pular de cabeça em certas experiências contanto que saibamos com mais propriedade onde estamos pulando. Quem pula apenas por pular, sem saber onde pode cair, tem uma chance enorme de se machucar. Ainda bem que por ser jovem pode se refazer e criar mecanismos de auto-preservação mais eficientes e que te permitam viver com mais sabedoria. É levantar e continuar em frente, agora mais calejada.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Análise de Filme - Whiplash Em Busca da Perfeição



            O filme Whiplash Em busca da perfeição (EUA, 2014) nos mostra como funciona uma relação sadomasoquista. Andrew é um jovem estudante numa prestigiada faculdade que sonha ser um dos melhores bateristas do mundo. Fletcher, um autoritário professor de música e regente de uma banda que busca um gênio para guiar até à perfeição. Juntando os dois prepara-se o enredo para uma relação perversa.
            A palavra whiplash é tanto o nome de uma música, tocada no filme, quanto também tem o significado de chicotada. Pois para Fletcher, o professor, ninguém se torna bom em algo sem levar chicotadas nos dois sentidos, literal e figurado. Já o jovem Andrew acredita nessa premissa de que a humilhação é que torna alguém digno e se entrega de corpo e alma ao sádico professor. A grande verdade é que todo sádico está sempre em busca de um masoquista e vive versa. Um não tem como existir sem o outro.
            Ninguém se torna bom em algo sem esforço e muito trabalho. Não basta talento na vida, mas se faz necessário labuta e altas doses de persistência, paciência e tolerância. Tornar-se um músico ou qualquer outra profissão que desejemos demanda muito estudo e técnica. Mas há uma diferença entre o esforço, as vezes sobre humano, requerido para um bom desempenho e a relação perversa.
            Fletcher alimenta a ambição de descobrir e ensinar um gênio da música, se desespera para encontrar alguém e apesar de realmente acreditar que faz isso pela arte o que vemos é que faz para si próprio, para seu narcisismo. Sua paixão é narcísica e desconhece os limites. Dentro de si não há amor pela música, mas paixão violenta que se transforma em sadismo. Andrew sofre de baixa autoestima e só consegue se sentir alguém quando vislumbra sua genialidade na bateria. Ele não consegue se ver como pessoa, mas como um indivíduo que precisa se sobressair para só assim se sentir digno de ser amado.
            A banda dirigida por Fletcher não era um lugar onde os participantes poderiam aprender de forma amorosa, mas era palco de frequentes humilhações e ataques. Não é a toa que muitos jovens dessa banda tinham fins trágicos, já que não sabiam se preservar da violência. Porém, ninguém fica numa posição dessa sem possuir uma dose de masoquismo. O amor pela música passava longe nesse grupo prevalecendo o narcisismo e a violência.
            Quem não desenvolveu suficiente autoestima troca esta pela vaidade. Andrew era movido pela vaidade tanto que só conseguia falar com a garota pelo qual estava interessado quando acreditava que era um bom músico, mas não uma boa pessoa. Sentia seu pai um fracasso por ser um mero professor desconhecido quando este era um dos poucos que realmente se preocupava com o seu bem estar. Sua mãe o havia abandonado ainda bebê e podemos aludir a hipótese de que seu amor próprio ficara tão ferido que só se fosse perfeito poderia de fato ser amado e se amar. Pessoas assim são presas fáceis para quem só tem dentro de si o prazer por humilhar.
            O amor não é condicional. Não amamos alguém porque essa pessoa é perfeita, mas simplesmente porque ela é quem é. Se alguém ama condicionalmente é pela razão de que este amor não é verdadeiro, mas uma compensação pela falta de algo real. Quando não nos possibilitamos amar pervertemos, ou seja, distorcemos as relações até que o que sobra é pura violência. 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Pergunta de Leitor - Capturados pela Sedução


Não entendo os jovens de hoje em dia que estão se juntando ao Estado Islâmico para cometerem atrocidades em nome de uma religião. Como esses jovens entram numa dessa? Eles colocam a própria vida em risco e matam milhares de inocentes em prol de uma ideia estapafúrdia. O que falta para esses jovens para abandonarem uma vida sensata, família e segurança para se tornarem terroristas? Fico assustado com tudo isso.

            As ideologias são extremamente perigosas porque são excludentes mesmo quando pregam o contrário, ou seja, a inclusão. É que os grupos sob alguma ideologia na verdade temem a diferença e por isso mesmo excluem e tornam inimigos todos àqueles que pensam e vivem diferente. Para esses grupos diferença é ameaça. Agora, o que torna esses grupos mais perigosos é que eles são intensamente sedutores, principalmente entre os mais jovens.
            Os jovens, com pouca experiência de vida, e muitas ideias de como as coisas deveriam ser acabam ficando vulneráveis a uma ideia altamente valorizada. É justamente isso que fazem os grupos ideológicos. Eles tornam uma ideia ou um pensamento grandemente idealizado como se fosse a resposta para todos os males existentes. A sedução é prejudicial porque engana e nos convida a sair da realidade. Trocamos o real pelo idealizado.
            Muitas vezes os jovens querem rapidamente dar logo um sentido à vida e nessa pressa aceitam fazer qualquer negócio. É que para não entrar em qualquer coisa é necessário pensar e isso leva tempo e demanda muito trabalho. Porém, entrar logo num grupo com ideias prontas sobre o mundo é mais fácil e oferece a oportunidade de partir só para a ação e não para refletir. Falta reflexão e sobra energia para as ações, mesmo que estas estejam direcionadas para a destruição. E se encontrar com a morte e destruição dá aos jovens a sensação de que estão valorizando a vida. Pois é, a mente é mesmo contraditória!
            Sejam movimentos islâmicos ou de qualquer religião, sejam movimentos comunistas, socialistas, neonazistas, fraternidade branca, ultraconservadores, anti isso ou anti aquilo, o que ocorre é a romantização de uma ideia já pronta e sedutora. Não vamos ajudar o mundo com apego às inúmeras ideologias, mas ao ato de pensar a vida sem se chegar a uma resposta universal. As respostas universais nos aliviam da dúvida, mas só há verdadeiro crescimento se houver espaço para dúvidas. Enquanto não tolerarmos as dúvidas os grupos de qualquer ideologia sempre serão sedutores e destrutivos.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O Valor a Pagar


            Foi retirado do ar, recentemente, um comercial de uma empresa de táxi que dizia que se alguém achasse o psicólogo caro que pegasse um táxi e conversasse com o taxista. Assim, matava-se dois coelhos com uma só cajadada, indo para algum lugar e falando sobre a própria vida como se estivesse em psicoterapia. Como era de se esperar os psicólogos brigaram até a campanha ser retirada do ar. Bom, até que foi engraçado!
            Foi engraçado para pensarmos qual o valor que damos para a nossa vida. A verdade mesmo é que muita gente resiste em fazer terapia ou análise e apesar da questão do preço ser mencionada como um dos motivos a realidade é outra. Tem a ver com o fato de se temer se comprometer realmente com a própria vida. Convenhamos, quando falamos com um taxista (sem ofensas taxistas!), não nos comprometemos com nossas vidas num nível mais profundo.
            Então ao invés de nos comprometermos preferimos nos enganar e achar que estamos nos comprometendo. Pois é, o ser humano gosta de se enganar. Falar com um conhecido, fazer isso ou aquilo pode muito bem ser terapêutico, mas não é o mesmo que estar em psicoterapia. Há enormes diferenças. Tem gente até que diz que porque são religiosas não precisam de psicoterapia. Uma coisa é ser religioso e viver a espiritualidade de maneira digna e tranquila, outra bem diferente é aprender a cuidar da própria mente de maneira eficiente. Não que todos precisem de psicoterapia, é claro, mas quando esta se faz necessária não adianta tentar botar outra coisa no lugar.
            Que valor damos para as nossas vidas? Quem se engana é porque não dá valor algum ou se dá é bem baixo. Fazer uma psicoterapia ou análise demanda um valor, mas que ultrapassa o valor monetário, porém é o valor do comprometimento consigo mesmo. O que as pessoas temem pagar é esse valor. Enfim, se acham que procurar se entender é caro, tente então não procurar se entender. Aí sim o preço final a se pagar vai ser altíssimo. O preço vai ser a própria qualidade de vida.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Pergunta de Leitor - As experiências de vida


Sou professor do ensino médio e uma coisa que venho observando é que desde o nascimento há crianças que são mais abertas e extrovertidas e há crianças que são bem fechadas e introvertidas. Bom, saber disso me faz pensar que a personalidade já está definida. Quem é tímido sempre será assim, pois sempre terá medo de experimentar e quem é mais aberto se dá melhor porque se entrega mais às ações. O ambiente então tem pouca influência. Não há nada que a gente possa fazer ou que a gente pode fazer é insignificante. Já está tudo determinado. O que acha disso?

            A vida das pessoas é algo tão complexo e com tantas variáveis que qualquer definição de como ela é ou como ela se dá é limitadora e até perigosa. Há uma tendência geral em encontrar respostas universais e que não tragam nenhuma dúvida. Queremos nos apegar a certeza pois não suportamos a incerteza, mas qualquer certeza será apenas um tapa-buraco e nunca uma resposta definitiva.
            Você está certo quando observa que as crianças nascem diferentes. Cada uma carrega consigo suas peculiaridades que a tornam única. Umas são mais atiradas enquanto outras são mais reservadas e é mais do que óbvio que essas características irão interferir no modo como vivem. Já há, inicialmente, uma diferença em como cada criança irá ver e reagir com o mundo. Porém, a complexidade é tanta que não dá para definir toda a vida com base em apenas uma variável.
            O ambiente, entretanto, tem muita influência sobre a vida. Somos resultado daquilo com que nascemos misturado com as experiências de vida. Estas últimas são modeladoras tanto para o bem como para o mal. O que conta mais, se é o ambiente ou aquilo que já carregamos nem importa porque para cada um a história será de determinada forma. Agora, por que será que você desconsiderou a importância do ambiente sobre a vida das pessoas?
            Geralmente quando não queremos olhar para a influência do ambiente é porque não suportamos saber que também nossas experiências são vitais e que temos uma responsabilidade muito grande em se pensar sobre o que vivemos. Quando crianças não temos recursos para se pensar muito sobre a vida e saber da nossa responsabilidade pelo nosso bem estar. Conforme vamos amadurecendo fica cada vez mais claro que somos responsáveis pela vida que vivemos e que devemos responder por muito de nossas ações ao invés de tão somente culpar algum outro fato. Aqueles que acreditam que tudo é pré-determinado biologicamente têm medo de se responsabilizar pela própria vida e experiências. Preferem jogar tudo para fora de si e assim se identificar com a posição da vítima. Afinal, tudo já foi pré-determinado, não é mesmo?

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Roubar


            Numa época que muitas pessoas de alto nível social e econômico estão sendo presas por corrupção, desvios de dinheiro e tantas falcatruas são inúmeros os que perguntam por que elas que já são ricas, têm a vida financeira bem constituída e estável roubam! Se já têm dinheiro roubam por qual razão? Bom, primeiro é preciso levar em consideração que não se rouba apenas por uma questão financeira, mas de poder.
            Acredita-se que o principal motivo que leva uma pessoa a roubar seja a carência, a falta de recursos ou até mesmo exclusão social. Claro que isso tudo existe, mas não é a principal razão que levam muitos a roubar, a corromper ou a quebrar leis. Na maior parte das vezes podemos observar que os roubos não tem relação com necessidades não atendidas em termos materiais, porém muito mais como uma questão mental. Roubar dá a sensação de poder e promove uma excitação irresistível para muitos.
            Não é a toa que vemos tantos milionários roubando. Eles encontram no ato de transgredir um prazer que os faz se sentir mais poderosos, mais importantes. Nesses casos roubar é um gozo. Só que gozo sádico e prejudicial. Não é só por que uma coisa causa prazer que é bom. Transgredir dá mostras de uma pessoa cuja mente nega os limites e as leis. Pessoas assim odeiam os limites e se creem acima das leis. Tornam-se vaidosas e narcisistas e veem as outras pessoas como objetos e não como seres que sofrem e sentem; são incapazes de se relacionarem de forma digna e respeitosa com quem quer que seja. Toda relação se torna um jogo de poder, de quem pode mais.
            Tanto os roubos de grande quantia de dinheiro ou pequenos furtos que acontecem diariamente nas ruas onde se levam carteiras, celulares, carros, etc. não são motivados por questões de necessidade. Não é uma questão de exclusão social, como muitos insistem em acreditar, mas de falta de uma educação sentimental. Esta nos ensina que os limites são necessários e permitem uma vida civilizada. O que se rouba nas grandes corrupções e nos assaltos diários é muito mais do que dinheiro e bens, mas a condição humana. E sem esta condição somos apenas selvagens perigosos.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Pergunta de Leitor - Labirinto de Ilusões


Quero ser cantor. Desde pequeno tenho esse sonho mas nunca tive meios de realiza-lo. Primeiro por uma questão financeira e depois por questões que fazem eu ter medo de errar. Tenho medo de um dia subir num palco e fazer algo errado que me trará muita vergonha. Esse medo me aprisiona e faz com que eu cante apenas quando estou sozinho e jamais mostro minhas habilidades para ninguém. Acho que sou extremamente tímido e não sei como vencer essa timidez e acho que nunca iria conseguir suportar ser criticado. Só quero elogios e congratulações. Vejo muita gente sem nenhum talento fazendo sucesso e quando penso que tenho muito mais talento que essas pessoas fico decepcionado por as pessoas não me reconhecerem. Será que há algo que posso fazer sobre a minha timidez?

            Antes mesmo de você começar a jogar você já se deprime, parte em retirada pela certeza do fracasso e se impede de viver experiências importantes. Assim você se preserva de qualquer sentimento de desprazer e frustração, mas também fica esvaziado e empobrecido. Nunca perde, mas também nunca ganha. Essa posição é de muita impotência.
            Você se imagina um grande cantor, um verdadeiro artista, mas a verdade é que você não sabe disso. Ate agora isso está apenas no plano da imaginação, mas nunca foi colocado em teste. Na sua imaginação você se vê tão maravilhoso e fica cheio de vaidade e é justamente perder essa vaidade que você teme. Só que ninguém consegue se realizar verdadeiramente através da vaidade.
            Quando você sente a sua vaidade atacada você se deprime e assim você passa do céu ao inferno. Vai de um extremo a outro. Antes era todo poderoso, mas depois se sente um zero a esquerda. O que lhe faz falta é realidade e sair desse labirinto de ilusões que você se colocou. Hoje você fica numa encruzilhada: Se testar suas habilidades poderá se decepcionar; Caso se sinta um nada não terá coragem para seguir em frente e melhorar.
            Todo o mundo gosta de elogios, mas não devemos depender deles. Senão você estará fazendo o que quer que seja pelos aplausos e não por se desenvolver e se expandir. Querer ter a certeza dos elogios te impede de aprender e de ousar vôos mais altos. Como você poderá ser um artista e ser criativo se o que te move são os aplausos certos? O artista precisa de liberdade para ser ele mesmo quando pratica seu trabalho, mesmo que ser ele mesmo não vá sempre trazer aplausos. Acima de tudo é você que tem que aplaudir o seu desempenho e não a plateia.