segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Quanto mais alto o pedestal, maior a queda




            Colocar alguém no alto do pedestal é sempre um mau negócio. Seja na nossa vida pessoal e íntima ou na vida pública, quando alguém é colocado lá em cima é porque na verdade está havendo uma intensa idealização. Idealizar alguém é sair da realidade, deixar de ver fatos e elementos em prol das qualidades e características que se deseja ver. Toda pessoa idealizada está imbuída dos desejos e anseios de quem idealiza. A consequência, nesses casos, é sempre decepcionante. Uma hora a realidade se impõe e o ser idealizado cai rapidamente - e sempre custando muito.
            Quando alguém fica apaixonado por outra pessoa acreditando que jamais conseguiria viver sem o objeto amado está, na verdade, idealizando. É uma paixão doentia e não uma paixão que traz vida. Uma paixão sadia convida a se abrir à vida, a se encantar e se tornar uma pessoa cada vez melhor. A outra paixão tem a ver com o desespero da idealização que faz do outro um ser mítico, quase possuidor de propriedades mágicas.
            Na vida política atual está se passando por isso. Tem havido muita paixão, mas a paixão da idealização. Com a mesma rapidez com que essa paixão é despertada ela é também descartada. Aquilo que parecia ser a solução passa a ser um problema ainda maior. E o pior de tudo é que cair do pedestal é sempre um processo doloroso para todos. Há desdobramentos nocivos quando acordamos depois de um frenesi idealizado. A euforia sempre leva a uma depressão e quanto mais alta for a euforia, maior será a depressão em seguida.
            Para abrir mão da paixão doentia é necessário encarar a realidade, não acreditar em salvadores. Deixar de ser criança. Crianças não têm noção do perigo e não estamos tendo noção do que estamos criando em nossa vida pública. Isso não vale só para os fãs de um candidato em particular, mas para todos os fãs de qualquer candidato, de qualquer partido. Torcida fanática não deveria ter lugar na política. Estamos correndo o risco de ver muitas conquistas que levamos tempo e sofrimento para obter serem regredidas. 
            Infelizmente essas conquistas foram superficiais e não se inscreveram internamente nas pessoas. São superficiais porque, se fossem internas de verdade, jamais arriscaríamos o que não podemos perder. É que crianças não sabem o valor das coisas e brincam com aquilo que, muitas vezes, pode vir a fazer mal.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Pergunta de Leitor - Encontrando um Caminho




Tenho 34 anos e sou casado. Amo muito minha mulher e vivo bem com ela. No entanto, algo está acontecendo comigo e não sei o que é. Eu sou viciado em sexo. Procuro umas 4 vezes por semana prostitutas, apesar de fazer sexo com minha mulher. Procuro também na internet mulheres que queiram sexo. Vivo para isso. Quando estava com a grana curta pra uma garota e não achei ninguém na internet já cheguei até sair com outro cara para ele fazer oral em mim. Mas não sou gay. Meu trabalho está perdendo o prumo, minha vida está de ponta cabeça. Se eu me seguro e não transo eu acabo usando maconha exageradamente. Já procurei um psiquiatra que me receitou remédios que amenizaram, mas não resolveram. O que me acontece?


            Apesar de tanta dor e sofrimento que você vem enfrentando algo positivo está ocorrendo e que merece ser levado em consideração. Você percebe, ou seja, tem consciência de que algo em você o está levando a viver de uma maneira que não quer. Parece insignificante, mas não é, porque ao saber isso você pode começar a investigar o que se passa na sua mente ao invés de esperar apenas por respostas externas. O que lhe faz falta, hoje, é compreender o que você faz consigo mesmo.
            Você reconhece uma compulsão à repetição nas suas ações. Seja o sexo ou o uso das drogas. Os impulsos por gratificação imediata são intensos e te fazem prisioneiro deles. O que podemos constatar é que você não vive por si mesmo, mas apenas para satisfazer esses impulsos. Eles é que dão o tom da sua vida.
            A razão de você estar nessa situação eu não sei, porque precisa ser investigada no lugar onde tudo isso se originou: a sua mente. É na mente que é moldada a forma que vamos viver, nos relacionar e fazer escolhas. Alguém ignorante de si mesmo fica fadado a se repetir num ciclo sem fim, bem como fica a mercê dos próprios impulsos.
            Hoje você não consegue pensar sobre os seus impulsos e se relacionar com eles de uma forma tranquila. É o contrário, eles, que como animais selvagens e xucros, é que te arrastam para onde você não quer ir. Para mudar isso precisa compreender o que te acontece. Perguntar aqui foi um passo, mas é necessários outros passos que te levem a buscar ajuda de um profissional que te escute e te ensine a se escutar. Quem se escuta não se submete a qualquer impulso e se livra da repetição. Em outras palavras, encontra um caminho.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Por Detrás das Brigas




                Recebi um pedido de uma amiga para escrever sobre casais que estão brigando feio por causa da política, principalmente nesta época em que o assunto é pura pólvora. Segundo essa amiga, ela e seu noivo têm visões políticas diferentes e excludentes e isso vem causando desgaste quando o tema sobre quem é o melhor candidato para gerir o país vem à tona. Sim, é verdade que muitos relacionamentos entre familiares e amigos vêm sofrendo muito com todo esse desentendimento dentro do tema política, mas não é só ela - a política - que devemos culpar. Há mais coisas aí que não estamos vendo.
            Quando um casal se desentende é geralmente sobre um tema: filhos, parentes, dinheiro, trabalhos domésticos, etc. Porém, quando a briga é intensa demais por motivos externos, na verdade os dois estão usando este tema para brigar e projetar suas raivas. Não acredito que cozinhar o macarrão dessa ou daquela forma seja de fato um motivo tão decisivo para uma briga homérica entre um casal, apenas usa-se o macarrão como pretexto para algo que já vem acontecendo entre eles. Esse algo já estava presente, ainda que eles não tivessem percebido de maneira mais direta.
            Muitas dessas brigas que estamos presenciando ultimamente sobre política não são sobre política de fato, têm outros motivos muito mais sutis e desconhecidos. Só que adoramos nos agarrar a um pretexto e tiramos juros e correção monetária de qualquer pretexto que nos sirva para colocar para fora nossa raiva, fúria, rancor e mágoa. Na verdade, estamos vendo o quanto as pessoas estão rancorosas, com dificuldades de aceitar o outro, aquilo que é o "não-eu". Mas como isso é mais complicado de ser percebido e aceito fica a ideia de que defender uma ideia política - ou outra qualquer - é muito mais nobre e muito mais consistente. Em outras palavras: fazendo-se uso de um dado pretexto justifica-se qualquer combate.
            Muitas pessoas estão perdendo e contaminando relações importantes e justificam isso através da posição política, mas vale a pena ver mais profundamente, entender como anda o relacionamento e quais emoções estão presentes e ativadas, assim tratará do problema verdadeiro que permeia a relação e não mais precisará de falsos pretextos externos para justificar o desentendimento. Precisamos, falando francamente, crescer.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Pergunta de Leitor - Sentir Inveja




Queria aprender a lidar melhor com um sentimento muito feio: a inveja. Não me considero uma pessoa invejosa todo o tempo, mas em questões profissionais sim. Quando vejo que algum colega conquistou algo que eu também almejava ela me invade. Me sinto pior, derrotado, mesmo sabendo que não sou um mau profissional. Queria conquistar grandes coisas, ter destaque nacional na minha área como alguns colegas. É um sentimento ruim, pois não depende só de mim...


            A inveja é um sentimento incontrolável e que todos experimentamos uma hora ou outra. Por isso não precisamos defini-lo como feio ou com qualquer outra condenação. Condenar é uma maneira de não se pensar sobre o que se sente e um convite para reprimir tudo aquilo que destoa do que consideramos que deveria ser um ser humano. Os próprios bebês, por exemplo, para assombro de muitos, sentem inveja.
            A psicanalista Melanie Klein estudou muito sobre inveja e as crianças e notou que bebês pequenos sentem inveja de suas mães. Isso se inicia quando eles percebem que são impotentes quando se trata de eles mesmo se cuidarem, dependendo de suas mães para obter gratificações como alimento, carinho, segurança. A mãe ou o seu cuidador tem tudo aquilo que um bebê mais deseja e ele vive uma inveja primitiva. Queria ter todo esse “poder” de se satisfazer e não mais depender. É uma situação que causa no bebê uma frustração muito grande.
            Ás vezes a frustração gera um sentimento de ódio sobre aquilo que causa inveja. É uma forma de acreditar que o objeto da inveja não precisa ser mais invejado. O bebê fica dividido entre o amor que sente pela mãe e o ódio que também é despertado através da inveja. Pois é, desde uma idade muito precoce temos que lidar com questões mentais difíceis e conforme crescemos mais questões ainda se apresentam.
            Alguns colegas seus terão mesmo mais destaque, mais reconhecimento. Isso faz parte da vida. Sempre haverá alguém mais bonito, mais inteligente, mais bem posicionado. O que importa, no entanto, é o que você faz consigo, com suas oportunidades. Será que você aproveita bem o que tem? Permite-se usufruir das suas condições? Não se trata de você ser melhor que os outros, mas de você se desenvolver fazendo o melhor possível em todos os seus momentos. Aprender a aceitar que algumas coisas jamais serão possíveis enquanto outras você poderá vir a desenvolver. Todos, seja quem for, uma hora ou outra têm que lidar com a inveja. Contudo, o remédio contra a inveja é a gratidão que é aproveitar bem e sabiamente o que se tem e ir desenvolvendo cada vez mais. Difícil nossa condição humana, mas podemos ser criativos e como já diz o ditado antigo fazer do limão uma limonada.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Relações Básicas




           Hoje em dia fala-se muito em animais de apoio emocional, que são animais aceitos nos aviões, nos hotéis e lugares públicos que, tradicionalmente, não costumavam receber animais. Companhias aéreas estão acolhendo em seus voos cães, gatos, patos, porquinhos da índia e até porcos para viajarem lado a lado com seus donos e outros passageiros. Há todo um movimento de profissionais afirmando que algumas pessoas quando estão com seus animais presentes sentem-se mais seguras e confiantes. Em contrapartida, menos ansiosas ou com outros sintomas desconfortáveis.
Já se fazia uso de alguns animais, como cavalos e cães treinados, para a terapia, mas agora o movimento ganhou muito mais adeptos. Primeiro de tudo é preciso diferenciar pessoas que realmente fazem uso de animais para suporte emocional e outras que aproveitam a deixa para exagerar e causar, simplesmente. Há quem só queira fazer cena e render selfies. 
Mas há quem realmente acaba fazendo uso desses animais por recomendações profissionais e isso tudo vem mostrando o quanto faltam relações de qualidade entre as pessoas. O mercado dos pets vem crescendo intensamente não só porque os bichinhos estão na moda e são fofinhos, mas porque estão ocupando um lugar muito importante que revela uma falta em nossas vidas.
            O relacionamento com os animais está suprindo a falta de relações básicas entre as pessoas. Falta contato verdadeiro. Nós crescemos e aprendemos sobre nós e o mundo através de relações com outros seres. O ser humano é gregário, ou seja, necessita de contatos que o ensine a viver, a saber de si e a se relacionar com o mundo. Nossas relações, entretanto, estão empobrecidas de significado. Não basta apenas haver duas pessoas juntas para haver conexão. Isso pode ser muito vazio. Aliás, há um mundaréu de gente por aí rodeada por pessoas cujas relações são vazias. Para haver conexão de fato é necessário existir sentido.
            O sentido se faz através dos olhares, das trocas, da atenção, da curiosidade e do cuidado. Entre pessoas isso tudo pode ficar prejudicado porque os relacionamentos são estragados pelas expectativas que um alimenta sobre o outro, pelo julgamento e condenação. Essas coisas cortam a espontaneidade sem a qual nenhum relacionamento tem como se desenvolver. Em outras palavras, as pessoas estão com muito medo umas das outras e os relacionamento ficam engessados e sem vida. Obviamente isso cria uma falta muito grande. E é justamente nessa falta que entram os animais.
Como não prestar atenção num animalzinho engraçadinho que está ali chamando atenção e aprontando? Como não se derreter quando esse animalzinho nos ama independentemente de quem somos? Podemos ser quem somos que os bichos não ficarão decepcionados. Isso é que está faltando nas relações entre as pessoas.
            Pais esperam que seus filhos sejam um sucesso, cônjuges exigem que seus pares sejam perfeitos, chefes demandam que seus funcionários sejam extremamente produtivos. Estão todos esperando, exigindo e demandando do outro. Ficamos com medo de não sermos aceitos e não ser aceito é fonte de uma angústia terrível. Os animais aceitam com muito mais empatia quem somos, sem julgamentos. Não é à toa que eles estejam sendo cada vez mais requisitados.
            Relações humanas estão em falta e são mercadoria rara, mas só aprendemos a ser humanos de fato quando desenvolvemos relações de qualidade. Só seremos verdadeiramente humanos quando nos relacionarmos com humanos. Os animais podem nos ajudar até um certo ponto, mas ainda precisamos aprender mais.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sobre a Intolerância




            Que as pessoas sempre foram intolerantes já era sabido. Em qualquer lugar do mundo e em qualquer período da História a intolerância esteve presente causando muitos prejuízos e impedindo muitas ideias novas e necessárias de vingarem. Muito de nosso atraso seja na ciência, na forma que lidamos com os outros e na maneira que a sociedade funciona tem como base a intolerância. E a má notícia é que ela está em alta nos últimos dias.
            Intransigência com relação às opiniões, atitudes, crenças e modo de ser dos outros pode ser muito perigoso. A intolerância pode levar à violência ou, no mínimo, incitar agressividade. Por meio da coação ou pela força de ideias valorizadas e tidas como certas reprime qualquer coisa que se apresenta como diferente. Para o intolerante nunca há dúvida sobre nada. Ele já possui todas as respostas e tudo aquilo que divergir será uma ameaça que deve ser exterminada sem a menor consideração.
            Um grande sultão na antiguidade ao invadir a cidade egípcia de Alexandria que tinha uma famosa biblioteca mandou queimar todos os livros. Segundo ele todos os livros que fossem contra o alcorão, seu livro religioso, eram perigosos e mereciam a destruição e os livros que eram a favor do alcorão eram inúteis, pois não acrescentavam nada de novo e não precisavam então existir. Para esse sultão de enorme poder político e militar não havia dúvidas: queimar tudo era a solução. O intolerante é incapaz de pensar e ver outros tons que lhe são desconhecidos. Ele só sabe realizar ações e estas são muitas vezes apenas violência pura e simples.
            Estamos vendo ao vivo e em cores no mundo todo o quanto a intolerância está aumentando. No Brasil a escalada da intolerância não é pouca coisa e traz inúmeras ameaças. A atitude humana é sempre correr para os extremos. Quando nos sentimos ameaçados de um lado vamos com muita intensidade para o outro e isso na verdade não proporciona equilíbrio algum, mas só faz com que o desequilíbrio aumente e os ânimos se intensifiquem. Ainda não aprendemos a nos equilibrar. Ficamos nos jogando de um lado para o outro como se assim fossemos encontrar uma solução.
            O que vivemos na política atual é bem isso. Não estamos arrumando nada, não há nenhuma mudança verdadeira em curso. Os dois partidos e candidatos que se enfrentam agora no segundo turno são as diferentes faces da mesma moeda. É o mesmo jogo, o mesmo falso valor vestido de virtudes. É a mesma intolerância de ambos os lados e cada qual se jogando com tanta intensidade para o seu lado que o barco corre sério risco de virar e muita gente se afogar. Temos muito o que aprender sobre vir a ser humanos, porém a intolerância atrasa muito esta aprendizagem.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Pergunta de Leitora - Casamento ou Brincar de Casinha?




Meu marido vê muita pornografia no computador. Acho isso uma atitude péssima. Somos cristãos e devemos viver como cristãos e dar o exemplo. Não sei como falar com ele sobre esse assunto tão desagradável. Já contei para o pastor da nossa igreja e ele vive repetindo nos sermões que pornografia é pecado, mas mesmo assim meu marido não se manca. Hoje me arrependo de ter me casado com um homem tão pouco comprometido com o casamento e a religião. Sou uma esposa exemplar, faço tudo em casa, não deixo nenhuma tarefa doméstica para ele portanto ele não tem do que reclamar.

            O que é ver muita pornografia no computador? É algo que vem atrapalhando o relacionamento de vocês e a vida sexual ou é um julgamento? Não fica claro se ele está vendo pornografia compulsivamente ou se é algo esporádico. Você até pode achar que isso não importa e que pornografia é imoral e ponto. Mas creio que o buraco seja mais embaixo e a pornografia não é de fato a questão aqui.
            A questão é como anda o relacionamento de vocês. Vocês vivem bem? Relacionam-se prazerosamente? Transam? Ou é um relacionamento burocrático para cumprir os requisitos? Você disse que cumpre o papel da “boa esposa”, mas o que será que quer dizer isso? Ser esposa é só cuidar das tarefas domésticas? E o que será que é na sua ideia um bom marido comprometido com o casamento?
            Como vê há muitas perguntas que pedem por uma reflexão mais apurada. Parece que o que falta é vocês entenderem o que é verdadeiramente um casamento. Casar não é apenas uma questão de morar sob o mesmo teto ou ter assinado um papel ou ter sido abençoado por um sacerdote, mas é uma relação que é diariamente construída. Ser um casal é mais do que cuidar da casa. Isso pode ser apenas brincar de casinha.
            Imagino que você deve conversar muito pouco com ele sobre coisas que importam na vida de vocês. Digo isso porque você espera que o pastor resolva por você algo que você evita falar com ele. Como assim é desagradável a esposa conversar com o marido sobre sexo? Não é o pastor, nem Deus e nem ninguém que vai resolver o que é da alçada de vocês dois. É preciso crescer e lidar com a vida adulta de uma maneira mais madura e favorável. Porque é justamente isso o que parece lhe faltar no momento.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Apego ao Absurdo




            Nos dicionários a definição da palavra absurdo diz que é aquilo que é destituído de sentido ou racionalidade, que não se enquadra em regras e condições estabelecidas. Pois bem, esse adjetivo é ótimo para qualificar como os seres humanos funcionam. Os humanos atuam de maneira absurda perpetuando cada vez mais equívocos e sofrimentos desnecessários.
            Um desses absurdos é quando as pessoas agem no mundo externo esperando que isso venha a mudar o mundo interno. Na verdade só o contrário é possível. O interno é que pode vir a mudar o externo, mas nunca o oposto. As mudanças, como já é de conhecimento de todos, só podem vir de dentro, mas o que mais existe são pessoas agindo externamente no mundo tentando deixa-lo mais justo e bonito enquanto internamente essas mesmas pessoas estão enfraquecidas e empobrecidas. Alimenta-se muito a imagem, mas pouco valor se dá para o conteúdo.
            Não é à toa que nossa política está desse jeito tão caótico e prejudicial. Mudam-se, ás vezes, os candidatos, mas as práticas permanecem as mesmas, os discursos são praticamente repetições de outros anteriores e o resultado acaba sempre sendo o atraso. É absurdo falar em políticas melhores se não há uma verdadeira mudança que começa, sobretudo, nos próprios eleitores. Os eleitores são muito bons em reclamar, mas nada bons em assumir as responsabilidades de votar de uma maneira que priorize a mudança. Os votantes elegem os mesmos tipos de candidatos porque na verdade eles mesmos não mudam e votam naquilo em que se identificam.
            É duro constatar isso, mas o problema é muito mais interno, da mente individual de cada um que ao se juntar com outras mentes individuais formam uma sociedade que termina por não funcionar adequadamente. O que vivemos é fruto do quanto dentro de cada cidadão existe um ser que quer estar por cima sempre, tirando vantagens indevidas e se sentir melhor e superior. Por isso que só produzimos esses candidatos com essas mesmas características. Sim, os candidatos que temos somos nós que produzimos seja de qual partido for. Eles não surgem do nada, porém vêm e se alimentam do que há dentro de nós.
            Se não repensarmos como vamos lidar com o mundo, sobre o que de fato queremos ficaremos sempre nas mesmas condições precárias. É absurdo esperar que a sociedade, política, violência se resolvam independente da maneira como escolhemos viver o nosso dia a dia. Não tem o menor sentido. Falta uma verdadeira revolução, mas não de armas e de troca de personagens como muitos imaginam e sonham, mas a verdadeira revolução que faz falta é a da mente, de como podemos escolher com mais consciência. Infelizmente o apego dos humanos ao absurdo é muito forte.