segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Angústias de Fim de Ano



            Mais um ano aproxima-se do fim e mais um está prestes a começar. Essa mudança nos calendários gera toda uma overdose emocional que, como um tsunami, invade as mentes das pessoas trazendo muitas dores e sofrimentos que tornam essa época uma das mais complicadas. O que faz com que um tempo que, espera-se ser de felicidade, seja custoso e fonte de tantas aflições e pesares?
            A origem de tantas angústias nessa época encontra-se na própria mente e na forma que lidamos com ela. A grande maior parte dos nossos sofrimentos mentais não vem de fora e nem se trata de algo externo, como muitos acreditam, porém é derivado da maneira que nos relacionamos conosco mesmo.
            No fim do ano as famílias se reúnem, parentes que estavam afastados se juntam e amigos se reencontram. Isso pode ser torturante quando se há presente uma forte idealização de como as coisas têm que ser. Idealizamos que no fim do ano temos que estar muitos felizes, rindo à toa, que não tenhamos nenhum problema. Todavia para ninguém isso é possível. No entanto, entre ser aquilo que é possível e aquilo que idealizamos ficamos com o último e aí começam os sofrimentos desnecessários.
            Idealizamos nossas famílias, queremos que elas sejam perfeitas. Que nossos filhos sejam sempre os primeiros em tudo, que nossos cônjuges sejam espetaculares, que nossos pais nunca apresentem problemas e sejam o casal perfeito. Queremos viver o impossível, algo que não tem como existir da forma que imaginamos. Não aceitamos que nossos filhos têm dificuldades em algumas áreas, que nossos cônjuges nem sempre são tão parceiros assim e que nossos pais apresentam características que não nos agradam. O peso do fim do ano é quando há um confronto entre a família possível e a família idealizada.
            Não só em relação à família isso ocorre, mas também conosco próprios. Achamos que temos que chegar ao fim do ano milionários, sem doenças, sem preocupações e que só assim é sucesso e sinal de uma vida plena. Se não estivermos eufóricos e exuberantes parece que a vida se tornou um fracasso. Essa época convida a muitas comparações, que é uma das piores atitudes que podem existir. Nos comparamos com os amigos que aparentam um sucesso estrondoso, com os primos que aparentam um progresso extraordinário. Todos parecem estar bem melhores do que nós e isso nos põe para baixo de forma cruel.
            O maior problema no fim de ano é que fantasiamos que os outros estão gozando de uma felicidade sem limites que nós não temos. Fantasiamos que os outros são melhores, mais bem sucedidos, mais ricos, mais bonitos e mais felizes do que nós mesmos. Só que se a gente se compara com a fantasia que é a vida dos outros, sempre vamos perder feio e ficar na pior. Acreditar que precisamos ser de um jeito impossível de ser e que os outros vivem deste jeito é o que causa tanto mal estar nessa época.
            Com um olhar mais apurado vamos ver que nem tudo o que reluz é ouro. Todas as pessoas passam por adversidades, lutos, angústias e ninguém é tão feliz como num comercial de margarina. As famílias não são perfeitas apesar de muitas tentarem vender essa imagem. Se pudermos ver a realidade isso nos será favorável para olharmos para o que temos de bom ao invés de olhar somente para o que não temos. Essa é a época em que mais fazemos dívidas para nos preenchermos e não nos darmos contas de nossos limites. Só que nenhuma mercadoria do mundo vai preencher nossas angústias. Contudo não precisamos da idealização, mas do real. E o real, por mais difícil que seja, pode ter coisas que nos sejam muito boas e que devemos aprender a aproveitar. Entretanto, isso só pode acontecer se deixarmos de lado a fantasia da felicidade plena e ilimitada.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Pergunta de Leitora - Procura-se um Amor




Queria entender esses homens bombados. Já saí com vários caras da academia e fomos no motel. Só que lá na hora H eles transaram mas só ficaram se olhando no espelho. Como se estivessem se admirando. Toda hora ficavam flexionando os braços, vendo o peitoral, olhando as próprias costas e movimentos. Cansei. Nem por um segundo me admiravam ou me observavam. Começo achar que todos os homens são gays enrustidos porque isso é coisa de gay, não? Como posso fazer para que um homem me admire? Por que todos os homens são assim?

            Quando queremos remédio vamos à farmácia, pão, à padaria, frutas, à quitanda. Digo tudo isso porque você parece procurar nas pessoas erradas aquilo que diz que quer encontrar. O problema não é se são ou não malhados esse homens, mas você só “encontra” homens narcísicos, incapazes de se relacionar verdadeiramente.
            Ao ficar com homens cujo narcisismo seja muito intenso você só servirá mesmo de plateia. Fica brava e considera essa atitude coisa de gay, como se houvesse padrão gay. Enfim, o que será que você está procurando?
            Apesar de dizer que quer um homem que olhe para você tenho minhas dúvidas. Talvez você queira um homem que exista só na sua fantasia e não na realidade. Digo isso porque haveria muitos homens com vontade de se relacionar e que topariam sair com você, mas estes você nunca encontrou. Isso me faz pensar que na verdade você não está procurando um homem real, mas algum homem que se encaixe na sua fantasia e que a satisfaça.
            Qual é essa fantasia? Não faço a menor ideia e talvez nem mesma você faça. Para descobri-la vai precisar se escutar para compreender o que de fato te move e o que está por detrás das suas razões. Em outras palavras, o que necessita é o saber que pode adquirir caso você se coloque em análise e aprenda a compreender o que faz consigo mesma.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Relações Primitivas Básicas




            Os animais domésticos sempre fizeram parte da civilização. Hoje em dia, os animais de companhia fazem sucesso estrondoso. Os vídeos mais assistidos na internet são protagonizados por gatos e cachorros fofos, que fazem a alegria de seus donos. Não são só gatos e cachorros, é claro, mas estes são as estrelas incontestáveis. Por que será que atualmente, mais do que em qualquer outra época, os animais de companhia estão tão em voga? Talvez a psicanálise possa dar uma contribuição para entendermos o que toda essa relação pessoas-bichos possa significar.
            Esses animais de companhia estão, na verdade, ocupando um espaço que se encontra em falta nos relacionamentos humanos. Cada vez mais as pessoas não estão vivendo relações básicas emocionais. Em muitas famílias, por exemplo, não há tempo para trocas afetivas entre seus membros. Afinal, está todo o mundo correndo para lá e para cá, há tantos afazeres e demandas a serem cumpridas que não se sobra muito tempo, espaço e força para se viver e trocar experiências com o outro. Porém, a gente só se constrói através das experiências e sem elas ficamos empobrecidos.
            As redes sociais são ao mesmo tempo maravilhas e desgraças. Promovem, com muito mais eficiência trocas de informações, mas não abrem espaço para um relacionar-se verdadeiro. Muitos casais se relacionam vitualmente, mas não sabem viver o relacionamento cara a cara. Isso tudo nos empobrece já que são apenas com as trocas afetivas, de contato, que podemos aprender a nos relacionar conosco e com os outros. Quando nos relacionamos aprendemos sobre nós mesmos. E as trocas afetivas mais em falta são as mais básicas e primitivas. Refiro-me aqui ao cuidado com o outro, o apreço e o amor. O que está faltando entre as pessoas muita gente está encontrando com os animais.
            Para os cachorros e gatos não importa quem sejam os seus donos. Se são bonitos ou feios, ricos ou pobres, famosos ou não. Enfim, o que eles querem é receber e dar amor. Os animais sabem ser afetivos e ensinam para muita gente que essa troca é importante e ensinam também que gostar não precisa ser por um motivo ou outro, mas que a gente deve gostar simplesmente. O seu gato e seu cachorro gosta de você porque você simplesmente está ali. As relações primitivas emocionais mais básicas estão sendo esquecidas pelas pessoas. Podemos ver, então, que muitos animais além de serem companhias são também bons terapeutas e nos lembram o que precisamos desenvolver.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Pergunta de Leitora - O Amor requer Delicadeza



Sou amante de um homem casado há três anos. Vivo com ele uma paixão louca, algo que nunca vivi com ninguém mais na minha vida. O sexo é bom e ele também acha que somos muito bons juntos na cama. O problema é que ele não quer se separar. Ele disse que fica com a mulher por pena. Não acho que isso seja um bom motivo. Já venho falando há muito tempo que quero ser a mulher dele e não mais a amante, mas ele não quer ouvir falar do assunto. O que devo fazer? Contar tudo para a mulher dele? Gravar nós dois juntos na cama e mandar para a mulher dele? Quem sabe assim ele acorda e vê que me ama. Por que há homens que por sentimento de pena não tem a coragem de se separar?


            O problema do que você relatou no email é que você vive uma coisa enquanto o seu amante vive outra, ou seja, não há acordo entre vocês dois e seus desejos. Você acredita que o que tem com ele seja um relacionamento que pode progredir e ter futuro, enquanto ele vive apenas um momento prazeroso com você, sem maiores implicações.
            Enquanto você deseja o futuro e se imagina formando um casal, ele não vê dessa forma o que vocês vivem. E mais do que isso, ele já deixou claro qual a posição dele: vocês serão apenas amantes e companheiros de um sexo prazeroso. Você desejar além disso é por sua conta e risco.
            É muito difícil uma situação assim mudar e no seu caso, em particular, em que ele já botou todas as cartas na mesa do que espera, torna a mudança que você quer praticamente impossível. Insistir nisso é flertar com a infelicidade. A questão é menos sobre o que fazer com ele e com o casamento dele e muito mais sobre o porquê de você querer um homem que não pode ter. Quais as razões que fazem com que você se prenda a um homem que não deseja o mesmo que você? E por que você insiste em negar a realidade de que esse relacionamento não tem futuro?
            Se é por pena que ele não deixa a mulher não temos como saber. Isso é o que ele alega, mas pode ser que ele ame (sim, é possível) a mulher e obviamente não queira te dizer isso. Pode até ser que ele goste da situação triangular e não possa viver sem ela. Se fosse realmente do interesse dele se separar ele já teria feito isso, não é mesmo? Contudo, você persiste na cegueira e nega o óbvio. É claro que você pode contar à mulher dele sobre vocês dois, mas isso provavelmente o afastará de você e não o contrário. Pode até ser que você una os dois ainda mais, afinal nunca sabemos o que liga esse casal.
O amor não tem como ser vivido com violência, mas exige delicadeza. Nada no amor pode ser forçado e se for é porque não se trata de amor, mas de alguma outra coisa como o apego passional, por exemplo. Será que o que você vive com ele é amor? Creio que não, senão você não sofreria tanto.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Clima da Mente




            Quando pensamos em clima pensamos em algo instável que está sempre mudando e por mais que as previsões possam nos dar alguma ideia, ainda assim, o clima é imprevisível. Aquela viagem tão sonhada e tão investida para aquele paraíso pode ser estragada por um clima que em nada contribui para que possamos aproveitar. Muitas coisas que fazemos dependem do clima meteorológico e em relação ao clima físico não temos controle algum e só nos resta aceitar.
            Entretanto, quando falamos em clima nos referimos também ao estado de mente em que nos encontramos. Tanto que quando não nos encontramos em um estado de mente propício dizemos que “o clima está ruim”. Sentimos verdadeiras tempestades emocionais que podem ser bastante destrutivas e prejudiciais. Só que desse tempo, desse clima subjetivo, podemos nos preservar e até mesmo mudar.
            O que nos vem de fora e está além do nosso controle nada podemos fazer, mas o que vem de dentro tem outra natureza e se soubermos aprender como lidar com ela podemos fazer muito para que haja uma verdadeira transformação a nosso favor. Quanto mais uma pessoa fica submetida às tempestades emocionais mais ela se encontra numa posição que desconhece a si mesma: a posição da ignorância. Ser ignorante custa caro, pois nos deixa preso às intempéries internas e ficamos fadados a nos repetir e a seguir a parte mais primitiva que pode existir em nós. Isso nos deixa à mercê dos nossos impulsos que nunca são os melhores conselheiros.
            A melhor coisa de conhecermos nossos climas subjetivos é que com isso podemos criar ou desenvolver recursos que permita nos preservarmos do que sentimos. A nossa mente ao mesmo tempo que apresenta possibilidades de vida e enriquecimento maravilhosos também mostra um lado bem destrutivo. Precisamos aprender a criar mecanismos que nos protejam de nós mesmos, pois é fato que, dependendo do clima que nos domina, somos nosso pior inimigo. Ao mudar o clima interno deixamos a posição de passivo para a de sujeito da própria vida. Passamos a ser coautores de nosso clima e não meras vítimas que só sabem sofrer.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Pergunta de Leitor - O Peso da Âncora



Tenho 25 anos, namoro há um ano e sou virgem ainda. Venho tendo problemas com ereções frequentemente. Na minha vida sempre tive comigo essa "âncora" de as coisas sempre demorarem a acontecer e com isso criar muita ANSIEDADE. Enquanto eu via desde os tempos de escola os meus amigos namorando, saindo e fazendo seus programas, eu era só! Mas o que sempre quis e desejei está ligado a relacionamento de modo geral. Sempre quis namorar, beijar e transar. Eu acabava criando uma ANSIEDADE de querer logo ter aquilo. Pois bem meu primeiro beijo foi aos 22 beirando os 23. Depois disso a minha primeira tentativa de relação sexual foi aos 24 com uma moça, algo bem casual. Não consegui manter a ereção. Passaram-se mais ou menos 4 meses e conheci minha namorada. Com ela também não consegui, por mais que ela me deixasse tranquilo eu não consegui manter as ereções. Depois de umas 5 tentativas, por conta própria, resolvi tomar esses "viagras genéricos" e pra minha surpresa não surtiram nenhum efeito. Depois fui a um urologista e ele me disse "Com base no seu relato, isso é totalmente psicológico...a não ser que seja um problema orgânico." Me solicitou uns exames, recebi os resultados e estão em perfeita ordem. Passei por um clínico geral e ele ainda me questionou por que eu estava fazendo esses exames, se o meu estado de saúde está ótimo. Na hora de iniciar a relação eu sinto uma ansiedade muito grande. Sinto uma sensação de frieza e não consigo me "conectar" com o momento em si de prazer. Fico nervoso. Já tentei fazer um sexo oral mais prolongado ou quando não deu certo de início, tentei retornar e nada. E sempre acontece da mesma forma: Eu crio uma excitação muito grande, um desejo enorme, mas quando reparo, aos poucos vou perdendo a ereção. Não consigo nem por o preservativo.

            “Na minha vida sempre tive comigo essa "âncora" de as coisas sempre demorarem a acontecer e com isso criar muita ANSIEDADE”. Essa frase mostra que para você está já estabelecido que há uma âncora, um estado permanente de peso e de imobilidade. É assim que você sente e acredita. Não é à toa então que fica com tanta ansiedade que é reflexo de crer que nada para você vai ser diferente do que já é. Hoje você se encontra num beco sem saída.
            Para sair dessa posição será necessário investigar as razões de ter entrado nela. Essas respostas só poderão ser encontradas se você voltar-se para si mesmo, para o seu inconsciente. O grande pulo do gato de Freud, criador da psicanálise, foi mostrar que o inconsciente, essa instância psíquica que desconhecemos, é que governa nossa vida e dá origem às nossas dificuldades. Em outras palavras, desconhecemos o que se passa internamente e não somos tão donos assim de nossas atitudes.
            Atualmente você sabe que tem uma dificuldade e sabe também que ela não está no seu corpo orgânico, portanto, os medicamentos serão de pouca valia. O remédio que você precisa não é encontrado na farmácia e muito menos será algo genérico, mas terá que ser pessoal. Estou falando da análise. Num processo analítico poderá entender quais são os “bloqueios inconscientes” que você está preso para poder buscar liberdade.
            Ao falar livremente com alguém que saiba escutar adequadamente, o que está oculto poderá emergir, possibilitando compreender porque você hoje se contraria ao não se permitir realizar o desejo. A sua dificuldade é menos sobre manter a ereção e mais sobre como autorizar e manter o desejo em plena força. O desejo vem, mas vem também um bloqueio que retira força do desejo, como uma âncora que segura tudo. Se você imaginar levantar âncora e se permitir singrar os mares, o que será que desperta em você? Procure um analista que te ajude a ver isso tudo.