segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Distância entre os Corações





            Um dia um mestre perguntou a seus discípulos:
            - Por que as pessoas gritam, umas com as outras, quando estão aborrecidas?
            - Gritamos porque perdemos a calma – retrucou um deles.
            - Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? – questionou o mestre.
            - Gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça – respondeu outro discípulo.
            O mestre voltou a questionar: - Então, se eu falar baixo não seria ouvido por quem está ao meu lado?
            Outras respostas surgiram, mas nenhuma satisfez o mestre. Ele, então, esclareceu:
            - O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir essa distância, precisam gritar para poderem se escutarem. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.
            - Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão próximos. A distância entre eles é pequena. Ás vezes, seus corações estão tão perto que nem falam, somente sussurram.
            - E quando o amor é mais intenso ainda não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem.

            Que nessa época de festas nossos corações possam se aproximar. Devemos, sempre, cuidar dessa distância entre os corações porque senão corremos o risco de nos distanciarmos tanto das pessoas que nos importam que leva a um ponto sem volta, sem possibilidade alguma de ouvir e ser ouvido. Isso acontece. Olhemos com mais atenção.
            Boas festas e até ano que vem!!!!!!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Como Celebrar o Ano Novo




            O ano de 2018 está se acabando e mais um ano novo está prestes a despontar. Essas mudanças são apenas modos artificiais de se contar a passagem do tempo para assim nos organizarmos melhor e planejar melhor nossas vidas. Quando 31 de dezembro acaba e 1 de janeiro começa nada demais está realmente acontecendo, porém algo pode acontecer de muito importante, mas no mundo interno.
            Damos tanta atenção às festas de réveillon, às queimas de fogos, às comemorações ao redor do mundo que, muitas vezes, nos esquecemos de observar como anda nosso mundo interno nessa época. Aliás, são poucas as pessoas que realmente prestam atenção em suas mentes de forma geral. Vivemos, infelizmente, como se não tivéssemos que cuidar de um mundo interno e por isso mesmo dá para entender porque tão pouca gente vive com qualidade. Sem se voltar para si mesmo ninguém tem a menor chance de viver bem.
            Nas festas de passagem de ano esperamos que uma mágica ocorra. Que quando os ponteiros dos relógios e os marcadores dos calendários trocarem de posição algo milagroso vá acontecer e nossas vidas se transformar. Deixaremos o passado e seus problemas para trás e o futuro se abrirá cheio de maravilhas. Deste modo ficamos na expectativa de que algo ocorra fora de nós, no mundo externo, sem que tenhamos qualquer coisa a ver com isso. Fazemos desejos e esperamos que o que desejamos nos seja dado, se possível, rapidamente. Nos excluímos de nossas vidas à espera de que algo fora venha a se realizar.
            Claro que viver assim só leva mesmo à frustração. Não teria como ser diferente. Precisamos aprender a viver o ano novo dentro de nós e não apenas celebrá-lo fora. Que muito do que vamos viver são desdobramentos de nossas escolhas, de nossas atitudes. Tendemos a acreditar que quase tudo na vida é acaso ou destino, mas somos muito mais autores do que pensamos. O problema é que vamos escrevendo nossas vidas de maneira inconsciente, sem prestar atenção ao que escolhemos de fato.
            Muitos querem um relacionamento amoroso, mas será que se preparam em ser pessoas melhores, que vai favorecer o surgimento de bons relacionamentos? Querem fazer tal viagem, mas se organizam para isso? Vão atrás do que é necessário para realizar a viagem dos sonhos e se disponibilizam para os sacrifícios necessários? Desejam viver com mais saúde, mas fazem o que têm que fazer para que a saúde se instale em suas vidas? Enfim, sem mudanças em nossa atitude, sem espírito diligente e sem estado de mente paciente, nada de bom pode ocorrer de fato.
            Não precisamos que o calendário mude de um ano para o outro para essa mudança. Ela pode e deve acontecer todos os dias de nossas vidas. Cada dia é sempre uma possibilidade para fazermos escolhas que nos favoreçam e nos enriqueçam. Algumas escolhas já foram feitas no passado com consequências ruins, mas e agora em diante? Como vamos escolher daqui para a frente? Isso que nos possibilita viver e celebrar mais do que um ano novo, mas dias novos. Isso nos coloca no papel principal na história de nossas vidas e não como meros espectadores. Esse é meu desejo para todos nós: Que fiquemos mais conscientes.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Pergunta de Leitora - Sacrifício sem Mérito




Não consigo viver bem sabendo de tantas desgraças no mundo. Como posso comer sossegadamente se há tanta gente sem nada para comer? Me sinto mal e culpada por ter oportunidades que outros não têm. Não consigo tirar férias porque como vou me permitir gastar dinheiro quando tantas pessoas nada possuem? Não compro nada que seja mais caro e de marca, só os produtos mais baratos e intragáveis no supermercado porque não posso gastar enquanto outros nada podem. Me enraivece que muitas pessoas não sintam isso e gastam comprando tudo do bom e melhor como se não se sentissem culpados. O mundo e as pessoas são muito egoístas e eu não quero compactuar com isso. Só que eu sofro com o egoísmo desse mundo. Já me disseram que sou delicada demais para esse mundo, que sofro nesse plano de existência porque sou boa demais.

            Ao contrário do que você imagina não penso que você seja boa, mas acredito que seja egoísta. Egoísta consigo própria. O seu sofrimento vem justamente desse egoísmo ao qual você se apega. Não estou dizendo, que fique claro, que você seja má pessoa. Claro que você deve ter suas boas e louváveis características, mas se engana e torna a sua vida intolerável.
            Realmente há muitas pessoas necessitadas nesse mundo afora, mas o que você está fazendo sobre isto? Deixar de viver não vai melhorar a vida de ninguém e você nem vai ganhar mérito por isso. Portanto, o seu sofrimento é estéril e de nada adianta. Não se permitir viver com mais naturalidade, tranquilidade e prazer não a torna uma pessoa boa, mas a torna uma pessoa boba. Boba porque deixa de aproveitar o que muitos não têm a chance.
            Se sua abdicação ainda resolvesse algo, vá lá...mas parece que você se abnega de sentir prazer e cuidar da sua vida e joga toda a culpa no mundo. Se você pode fazer algo para mitigar tanto sofrimento no mundo, mesmo que seja apenas uma pequena gota, ótimo, faça! No entanto, não espere que o mundo seja perfeito para só assim você começar a viver. Por isso eu disse que você é egoísta, já que o seu egoísmo não a permite viver, mas apenas sobreviver.
            Outra coisa que deve te atrapalhar muito é querer ser boa. Isso faz com que você construa o papel da mulher boa e se dedique a cumprir este papel, e não a viver de fato. Ser boa, no seu caso, parece estar muito ligado a uma questão narcísica, ou seja, algo da dimensão da vaidade, e não da verdade. Hoje você se esmera e se sacrifica, mas isso não a deixa feliz e satisfeita, sendo o oposto: você está amarga pela raiva de não se permitir viver. Será que não está na hora de rever como vem se relacionando consigo e com o mundo?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Reclamar da escuridão ou aprender a acender a Luz




            Reclamar da escuridão é a coisa mais fácil que tem. Todos sabem sobre os sofrimentos, as dificuldades e os percalços da vida e não há ninguém que uma hora ou outra não reclame ou lamente sobre tudo isso. Tudo aquilo que é ruim ou nos traz dor é tido como uma área bastante obscura em nossas vidas e queremos nos livrar dela o mais rápido possível. Quem nunca ouviu pessoas reclamando dos relacionamentos insatisfatórios que vivem, das frustrações que teimam em aparecer e das dificuldades que precisam enfrentar? Aliás, você mesmo caro leitor ou leitora, já deve ter reclamado ou até está reclamando agora. Lamentar a escuridão, contudo, de nada adianta. Ela só existe porque falta luz.
            Quando entramos num quarto escuro sem poder ver nada vamos ficar assustados ou irritados e vamos maldizer aquela escuridão que tanto bloqueia nossa visão nos deixando cegos. Porém, enfurecer-se contra a escuridão é inútil. Por mais que manifestamos nosso desagrado frente a ela, por mais que a xinguemos ou gritemos, ela continuará lá, imóvel, zombando de nosso desagrado. Não há ação direta sobre a escuridão, ou seja, nada que você faça contra a escuridão terá alguma eficácia. Isso ocorre porque ela é uma ausência e não algo em si, ela apenas significa ausência de luz. Tenha luz e a escuridão naturalmente não terá mais lugar e nem como existir.
            Com tudo isso quero chamar atenção para o fato de que grande parte do nosso sofrimento mental ao longo da vida tem a ver com essa “falta de luz” internamente que, ás vezes, nós mesmos escolhemos e alimentamos. Obviamente que há sofrimentos que não escolhemos, que a própria vida trata de nos proporcionar, mas há muitos outros que, até mesmo sem perceber, nós mesmo criamos e vamos carregando com grande custo ao longo da vida. Entrar em relacionamentos doentios, por exemplo, é uma escolha que podemos evitar. Desejar o impossível também é algo que só nos faz mal e que temos a chance de aprender a escolher diferente. Quando caímos sempre nas mesmas angústias repetidas vezes pode ser algo que também não estamos vendo, mas que poderíamos aprender a ver para não mais repetir. Todos esses sofrimentos são como escuridão em nossas vidas.
            Todavia de nada adiantar apenas reclamar do que nos acontece. Precisamos entender que “escuridão” é essa e daí acender a luz, ou seja, criar consciência. Quando nos abrimos à possibilidade de compreender o que estamos fazendo conosco nós acendemos uma luz e podemos ver mais claramente. Diante da presença da luz nenhuma escuridão pode existir. Ela simplesmente desaparece. A psicanálise vem nos ensinando que quanto mais consciência temos de nossos atos e razões que nos dirigem mais claro as coisas ficam e mais saudavelmente podemos escolher como vamos viver. Não só a psicanálise fala isso, mas muitos pensamentos orientais já afirmaram a importância da “iluminação” como vital para a vida. Sabendo disso fica a questão: vamos reclamar da escuridão ou vamos aprender como acender a luz?