segunda-feira, 30 de maio de 2016

A Natureza do Estupro



            Traçar a natureza de um estuprador não é tarefa fácil. Primeiro porque não existe apenas um único tipo de estuprador, sendo que as pessoas são várias e portanto há vários tipos de estupradores. Segundo, porque o que leva alguém a cometer tal ato bárbaro pode ter vários motivos (nenhum justificável) e não um apenas. Entretanto, podemos dizer que o estupro é de uma selvageria só e a demonstração de como dentro das pessoas jaz um monstro que ameaça a humanidade.
            Para a cultura e/ou civilização existir é necessário que todos nós aprendamos a conter os nossos impulsos de violência. Sem essa contenção o mundo estaria sempre submetido à lei física do mais forte e atos monstruosos seriam corriqueiros e frequentes tornando a vida civilizada impossível. Na civilização nem tudo se pode e há limites que não podem ser ultrapassados, pois transgredi-los impediria que nos organizássemos de maneira eficiente que pudesse permitir construir uma sociedade, uma ciência, leis e uma condição a qual nos propiciasse a chance de virar humano de fato. Ninguém nasce humano, mas a gente se torna humano através dos relacionamentos de qualidade.
            Conter os próprios impulsos é desagradável, pois implica em suportar certa dose de frustração. Quando nossos impulsos encontram resistências ficamos mesmos frustrados, já que os impulsos só querem ser satisfeitos. A questão é que não são todos os impulsos que podem ser gratificados porque muitos deles são destrutivos e danosos. Quem aqui nunca ficou com uma raiva danada de alguém que nos fez algo ou nos prejudicou e a gente até pensou que queria matar ou esganar? Todos. Porém a contenção em nós evita que gratifiquemos quaisquer impulsos, mas que pensemos e avaliemos melhor. Agora, essa contenção só é possível se tivermos uma mente minimamente desenvolvida. Sem mente não há educação que nos guie.
            Esses 33 homens que participaram de um estupro coletivo a uma jovem dopada não são seres humanos. São bestas monstruosas que só vivem de acordo com os impulsos mais básicos e primitivos. Não há mente porque se houvesse teriam vergonha de si e se colocariam no lugar da jovem submetida ao estupro. Quem tem mente tem consciência. A falta da consciência escancara a falta da mente. Tiveram vontade e oportunidade de estuprar. “Ora, por que não?” Devem ter pensado. “Se eu posso e é o que o meu desejo manda.” A falta da mente faz com que fiquemos presos aos desejos, sejam eles quais forem.
            Todo estuprador é um impotente sexual. Sim, eles são capazes de ereção, mas são incapazes de se relacionar com alguém. Essa é a verdadeira impotência. Homens assim temem as mulheres, pois elas são intensamente desejadas, mas como não são objetos elas independem do desejo deles. Para um homem estar próximo e envolvido com uma mulher se faz necessário conquista-la, despertar nela o desejo, ou em outras palavras, se relacionar com ela. Por possuir desejo próprio a mulher pode aceitar ou recusar e homens impotentes, que não desenvolveram uma mente para se relacionar humanamente, temem a recusa e usam do terror para tomar violentamente o que querem.
            O estupro é isso: um homem impotente, enraivecido pela sua condição interna precária, cheio de desejo e que decide usar da força bruta e da violência para fazer o que quer e obter prazer a qualquer custo. São tão pobres esses homens que só possuem desejos primitivos. Não têm cultura porque a cultura passa por um processo civilizatório. Só para terminar um alerta: 33 homens contra uma moça dopada nos envia um sinal que estamos falhando seriamente em lidar com nossa natureza e em nos transformarmos verdadeiramente em humanos. 

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Pergunta de Leitora - O Próximo Passo



Estou casada há quase três anos e tenho 34 anos. Esse já é o meu terceiro casamento. Meu primeiro eu era muito nova e não sabia das coisas e assim me apaixonei por um outro homem que depois foi meu segundo marido. Depois ele se tornou alguém muito chato e me apaixonei pelo meu chefe e me casei com ele. Agora meu marido e eu brigamos muito, tal como aconteceu com meus outros ex-maridos e já estou com vontade de procurar outro homem. Sei que sou previsível e que isso está se repetindo, mas sei que já estou no caminho para trair meu marido, assim como fiz com todos. Muitos falam que as mulheres procuram um homem parecido com o pai, mas no meu caso não é assim. Quando era pequena foi meu pai que abandonou minha mãe, então se fosse para procurar alguém parecido com meu pai seria um cara que me abandonasse, mas é justamente o contrário, eu que abandono os homens e não sou nada como minha mãe que ficou chorando por anos. Só que eu sei que não tenho mais idade para ficar brincando e já estou estranhando, que neste momento, já queira de novo trair meu marido e ir em busca do próximo.

            O padrão de repetição você já reconhece, já fez essa associação e por isso quer agora entender o motivo desta repetição. Está se estranhando e percebendo que não mais tem tempo para brincadeiras, afinal a vida não é eterna e não dá para ficar se repetindo sem fim. Porém, mesmo sabendo desta sua compulsão à repetição ainda não consegue se livrar dela e teme ficar sempre na mesma.
            Essa compulsão só poderá ser resolvida à medida que você entender mais detalhadamente o que ela lhe significa. Uma das suas associações em seu email foi com a figura dos seus pais. Seu pai traiu sua mãe e abandonou você. Ao menos é assim que você sente. Também sente sua mãe como uma figura fraca, que não sabia se defender e se preservar e que ficou chorando por anos. Provavelmente você preferiu se identificar mais com seu pai do que com sua mãe. Não é que você procure homens como seu pai, mas talvez você tenha muito medo de ser como sua mãe.
            Preferindo o modelo do seu pai, que é visto por você como mais forte, você faz a mesma coisa. Só que agora é você quem está na posição de abandonar e trair. Essa compulsão à repetição deve lhe proporcionar uma dose de prazer por lhe permitir realizar uma vingança. Todos os homens, representantes da figura do seu pai, são agora traídos, humilhados e descartados, possivelmente como você mesma sentiu que seu pai fez com você e com sua mãe. Enquanto o prazer ficar retido nessa encenação de vingança fica difícil abrir mão da repetição.
            Agora, isso tudo são apenas hipóteses e nada mais além disso. Elas precisariam ser verificadas e trabalhadas mais a fundo. Para isso você precisa de uma análise. Só no encontro com um analista você poderá relembrar o seu passado e reconstruir a sua história. Que tal não mais brincar com a vida e usar seu tempo para saber mais acerca de si? Você já está pronta para parar de se repetir, senão não teria me escrito. Falta, agora, dar o próximo passo. 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Escolher uma Profissão: Vaidade ou Realização



            Na hora de se escolher uma profissão é aquele sufoco e apreensão. Primeiro, porque é preciso passar no vestibular, o que é trabalhoso, e depois porque escolher uma profissão é processo bastante complexo e que demanda uma boa dose de autoconhecimento para não haver arrependimentos futuros. Entretanto, uma das coisas que mais vejo que vem acontecendo com muitos jovens que decidem por uma determinada profissão é que a base de suas escolhas não está sendo o que cada profissão permite e exige, mas sim o quanto de status e poder uma determinada profissão oferece. Em vez de se buscar a realização busca-se a vaidade.
            Quantos são os que nem levam em conta profissões desafiadoras e necessárias porque optam por outra que não trará nenhuma recompensa pessoal, porém trará um alimento para a vaidade? Quem se deixa guiar pela vaidade é cego a si mesmo e tem grande chance de ser infeliz.  A auto realização deve estar sempre em primeiro plano, pois viver contrariado é uma das maiores causas de adoecimento psíquico. Por mais que a vaidade seja alimentada ela não traz verdade e psiquismo só pode se alimentar da verdade e cada um tem a sua.
            Antes mesmo de existir o profissional existe a pessoa. Fazer-se satisfeito consigo mesmo é coisa séria e exige que nosso compromisso com alguma atividade seja algo significativo. Escolher mal uma profissão é tal qual escolher mal um parceiro para a vida amorosa. A vida, nesses casos, pode se tornar insustentável e desagradável demais. Hoje em dia quando um relacionamento perde sentido há o divórcio que permite que cada um siga seu caminho de maneira separada e que consigam ser mais sábios em suas futuras escolhas. Isso também pode ocorrer quando alguém escolheu erroneamente sua profissão, é sempre possível mudar, porém quando a vaidade está presente, mudar e pegar outro caminho se faz bem mais difícil ou para alguns até mesmo impossível.
            A vaidade é uma pulsão existente em cada um de nós e bastante danosa. Para ela o que importa é o destaque sobre os outros. É o se sobressair em comparação com os demais pares para se achar melhor. A vaidade promove a desigualdade e os sentimentos de preconceito. Ao escolher uma profissão precisamos de verdade e não de vaidade. A profissão, seja ela qual for, deve estar sempre a serviço do desenvolvimento das potencialidades humanas e jamais ser fonte de desigualdades e comparações inúteis. Pena que isso não seja valorizado. São poucos os profissionais que realmente estão comprometidos com suas profissões de forma sincera. Quem sabe isso não pode começar a mudar?

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Pergunta de leitor - A Mente no Dinheiro



Muitas pessoas dizem que dinheiro não é tão importante assim na vida e para se ter felicidade. Mas por que então as pessoas querem tanto o dinheiro? Por que o dinheiro é que define as pessoas? Porque os piores problemas do mundo têm dinheiro ou a falta dele envolvidos? Penso que minha vida seria bem melhor com dinheiro ou se eu fosse herdeiro de uma grande fortuna e não precisasse ter que trabalhar. O que você pode me dizer da nossa relação com o dinheiro?

            O dinheiro é uma realidade da vida e de nada adianta subestimá-lo. Ele nos proporciona uma série de comodidades, confortos e segurança e ninguém pode viver sem dinheiro ou sem algo que se pareça com ele, pois até mesmo as comunidades que vivem do escambo dão um valor simbólico para as suas transações, que é justamente o que o dinheiro faz. Precisamos ser honestos e dizer que o dinheiro é necessário.
            Entretanto, a relação com o dinheiro é que se apresenta problemática. Isso ocorre porque o dinheiro representa uma realidade da vida e lidar com a realidade é sempre algo complicado e que facilmente fica deturpado. As pessoas lidam tão mal com o dinheiro usando-o como instrumento de poder, de destaque, de felicidade, porque no fundo não sabem como lidar com a realidade de suas próprias vidas, ou seja, se projeta intensamente no dinheiro o que se passa na mente das pessoas.
            A economia financeira do mundo é um reflexo da nossa própria economia mental. Portanto, uma breve olhada nos jornais financeiros dá para se ter uma ideia de como anda mal o mundo psíquico. Os valores acabam ficando distorcidos e perdem o sentido. Troca-se valores reais(subjetivos) por valores monetários. Afinal, é bem mais fácil ter que lidar com algo concreto como o dinheiro e nele depositar todas as nossas expectativas e frustrações do que lidar com o subjetivo e imaterial de nossas mentes.
            Agora, quando você diz que sua vida seria bem melhor se você contasse com uma bela quantia para que assim não precisasse trabalhar, você dá a ideia de que trabalhar é custoso e de que gostaria de se esquivar dessa tarefa. Trabalhar, aqui, não significa um trabalho formal tipo emprego, mas tem uma implicância em se ter que trabalhar o que se passa na mente. Em outras palavras, trabalhar é lidar com a realidade interna e isto é um exercício sempre oneroso. Tem-se a falsa ideia de que se alguém tiver dinheiro não precisa mais trabalhar, que a vida vai estar resolvida. Pode até ser que possa se desfazer de seu emprego, mas nunca poderá deixar de trabalhar com sua própria mente e vida. É preciso enfrentar a realidade e lidar com as coisas como elas são.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Seguir em Frente




            Uma lenda budista diz que num lago viviam um grupo de larvas muito felizes, exceto pelo fato de que de tempos em tempos uma larva decidia subir pela vegetação acima do nível da água para ver o que havia ali e de lá nunca mais voltava. Todas acreditavam que ela tinha sido morta e se entristeciam. Um dia uma larva sentiu uma irresistível vontade de subir pela vegetação, mas antes decidiu que seu futuro ia ser diferente e prometeu para si mesma que iria retornar. Quando subiu descobriu o agradável calor do sol e dormiu profundamente. Durante esse sono uma transformação ocorreu e quando por fim despertou já não era uma larva, mas uma libélula. Seu destino era voar e conhecer todo um mundo novo. Então as larvas não morriam, pensou, mas transformavam-se. Quis contar as outras companheiras para não mais ficarem tristes e nem temerem, mas não tinha como entrar embaixo da água. Entretanto, entendeu que cada uma, no seu devido tempo, iria descobrir por si mesma o que agora ela sabia e com isso voou feliz e livre para a sua vida.
            Só existe vida quando nos transformamos, quando em cada momento, em cada fase, nos permitimos viver o que precisamos e nos transformamos no que podemos ser. Cada um a seu tempo, assimilando e digerindo as experiências necessárias. E toda vez que nos transformamos não há mais volta, não podemos jamais ser o que já fomos, mas só podemos seguir adiante.
            Um indivíduo que passa por um processo analítico acaba se transformando. A razão de uma análise não é para que a pessoa seja “normal”, seja lá o que isso for. O motivo de se fazer uma análise é criar recursos para se transformar naquilo que a gente tem de forma embrionária dentro de nós. A análise torna você você mesmo!
            Parece pouco, mas alguém tornar-se quem pode vir a ser de fato é uma das maiores riquezas nessa vida. Esse tesouro não pode ser roubado e nem tem como perder valor, pois pertence a dimensão do ser e não do ter. Essa transformação é uma experiência única, individual e intransferível, muito difícil de ser colocada em palavras e de ser entendida por aqueles que resistem às transformações e que as temem. Contudo, cada um, ao seu tempo, vai sentir uma vontade irresistível de se transformar e saberá que com isso só poderão seguir em frente. Sempre. 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Pergunta de Leitora - A Fonte da Juventude



Tenho 20 anos e sou estudante universitária do curso de letras. Comecei há pouco tempo fazer terapia, mas fico muito incomodada na sessão porque as vezes não sei o que falar, apesar de sentir que há todo um mundo dentro de mim. Já quis escrever uma carta e entregar para meu psicólogo ler e me entender, mas será que posso fazer isso? Tenho medo de ele achar que isso é algo infantil, mas me dou muito melhor com as palavras do que com a fala. O que o senhor acha?


            Escrever é uma arte e a escrita das epístolas (cartas) serviram como meio de comunicação entre várias pessoas pelo mundo afora. Freud, criador da psicanálise, por exemplo, mantinha correspondência com muitos conhecidos e desconhecidos e essa atitude lhe foi muito proveitosa. Outro exemplo, no novo testamento, as epístolas são partes importantes da formação de novas ideias das comunidades que se criavam.
            Se para você o recurso da palavra escrita lhe é possível e agradável, por que não fazer uso dele? Se a melhor maneira que você tem para se comunicar é escrevendo isso tem que ser levado em consideração. Ao escrever o escritor se reinventa e organiza o caos que está dentro de si. Há pessoas que escrevem porque a escrita já é uma terapia.
            Desapegue-se da ideia que você tem do que seja uma sessão de psicoterapia. Talvez você acredite que precise falar verbalmente e que se assim não ocorrer não haverá terapia. Para a psicanálise não importa a palavra em si, mas o sentido que a palavra carrega. É nas entrelinhas das palavras que a sessão ocorre e independe se essa palavra seja verbal, escrita ou até gestual.
            Não sei como é seu psicólogo, mas é importante que ele te “leia” e que nesse sarau o encontro analítico ocorra. Encontro que está sempre em busca de uma compreensão e aceitação, com o analista te ajudando você mesma se ler e se aceitar. A gente não deve nunca desperdiçar os nossos dons, já que estes são as verdadeiras riquezas que existe no mundo. Para o escritor escrever não é luxo, mas necessidade e quando ele escreve descobre a fonte da juventude.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Derrota é diferente de Fracasso



            Há uma grande diferença entre a derrota e o fracasso. Apesar de, erroneamente, essas duas palavras serem usadas como sinônimos elas têm uma enorme diferença. Enquanto a derrota está ligada a não ter vencido uma batalha, em não ter conseguido o que se queria, o fracasso está ligado a desistência ou em nem mesmo se tentar algo por medo de não dar certo. A derrota implica uma posição ativa e o fracasso uma passividade.
            A derrota faz parte da vida e não há ninguém que não a tenha tido por companhia em um dado momento quando não havia conquistado o que tanto desejava. Quando a gente se permite viver, a derrota é um risco pois sempre tem possibilidades de ocorrer. Quem se coloca disponível para viver um relacionamento, por exemplo, sabe que algo pode não ir muito bem e esse relacionamento não dar certo ou trazer dor. A pessoa foi derrotada, mas pode usar dessa experiência para se tornar mais sábia e mais forte. Numa próxima vez estará mais preparada e poderá fazer bom uso da antiga derrota. Não só nas coisas do amor isso vale, porém em tudo o mais onde a derrota pode ser algo usado para nos impulsionar. Vivendo e aprendendo.
            Já o fracasso tem a ver com a atitude passiva de nada fazer para não correr o risco de sofrer uma derrota. É o medo paralisante que impede a pessoa aprender com as próprias experiências de vida. O fracasso é nem mesmo ter tentado. É uma atitude nociva porque impõe medo das lutas que fazem parte da vida. No fracasso nada pode ser aprendido, afinal a pessoa nem vive a experiência. O comodismo de jamais ter perdido nada é uma das piores coisas que alguém pode se agarrar. Fica-se a sensação de se estar protegido enquanto na verdade a pessoa está morta para a vida apesar de continuar andando, comendo e falando.
            Não devemos temer as derrotas, pois são as cicatrizes das batalhas que nos permitem entender que nossa história é real e que da nossa história podemos tirar grande aprendizagens. A derrota foi feita para ser acolhida e nos preparar para o futuro que ainda temos. Quem não admite a derrota não tem futuro e se esconde da vida. Assumir a derrota não significa não ter medo, mas apenas não se deixar imobilizar por ele. O pior fracasso na vida é jamais ter se permitido lutar. Estes indivíduos jamais perderam, porém nem mesmo viveram.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Pergunta de Leitor - Infidelidade



Sou casado há cinco anos com uma mulher maravilhosa e que realmente amo. O problema é que não sou fiel e não consigo ser fiel. Prometi no altar ser fiel o resto da minha vida, mas não consigo cumprir. Quando outra mulher me dá bola eu acabo saindo com ela. É muito difícil resistir. Fico louco com isso. Só que amo minha mulher. Sinto-me sujo depois que dou minhas escapadas e tenho medo de que minha mulher descubra e eu a perca. Não gostaria que isso acontecesse já que sinto muitas coisas por ela. O que será que me acontece?

            A fidelidade implica ter sentimentos estáveis para com alguém e cumprir com a palavra dada. Sentimentos estáveis você é capaz de ter e por isso mesmo diz que a ama e teme perdê-la. Porém, não é capaz de cumprir com palavra dada talvez porque prometeu o que não podia cumprir. A fidelidade sexual parece que não está ao seu alcance nesse momento da sua vida.
            É difícil manter a fidelidade sexual porque o desejo está sempre em movimento e não se fixa nunca. Ou seja, podemos até mesmo arriscar dizer que ser fiel sexualmente é vencer o desejo que se sente por quem é de fora.
Só que você se sente culpado e sujo após ceder ao desejo e gostaria de ser fiel à sua esposa. Precisa descobrir o que lhe impede de cumprir o que gostaria e descobrir o que lhe compele à infidelidade. Sem saber isso será impossível entender o que te acontece.
            A infidelidade sempre nos ronda tal como um tubarão faminto e entender o que você faz consigo quando não resiste a uma mulher que “te dá bola” é importante para entender porque cai sempre na tentação. O amor que você almeja é o da exclusividade que implica resistir às tentações. Não precisa se martirizar porque não alcançou o que tanto quer. Isso só levará a um exercício de autotortura. Melhor que isso é aprender a se conhecer e entender porque se repete através da infidelidade. Talvez assim possa parar de se repetir e viver o amor com sua esposa. Quando parar de se sentir sujo e decidir limpar como você realmente se vê, as coisas poderão mudar. 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Pais e Filhos



Antes do nascimento e muitas vezes antes mesmo da gestação, é bastante comum que inúmeras expectativas sobre o filho surjam e se fixem tanto no pai quanto na mãe. Essas expectativas são formadas por sonhos e desejos que fazem parte da história de vida de cada um e que pode influenciar sutil ou violentamente o futuro dos filhos.  Por isso mesmo é importante que os pais se façam conscientes sobre o que de fato desejam para o filho.
            Passando pela escolha do nome, ao tipo de roupa que vai usar, qual escola vai frequentar, para que time vai torcer, enfim, todos esses detalhes estão ligados ao que os pais esperam de seus rebentos. Geralmente, os pais quererem que os filhos sejam de um jeito ou outro é para compensar o que sentem que foram fracassos em suas vidas e dirigi-los para um sucesso que eles próprios não alcançaram.
            Quando os pais buscam triunfar através dos filhos terminam por desejar que estes se tornem grandes personalidades, mais do que meras pessoas, e tentam influenciar desde a profissão que os filhos vão exercer a até mesmo em seus relacionamentos amorosos. Há pais que selecionam um dos filhos para investir maciçamente enquanto os demais são relegados como coadjuvantes. Essas atitudes causam marcas profundas e difíceis de serem superadas.
            Pais que desejam que seus filhos sejam o médico que eles nunca conseguiram ser, o advogado de renome, o artista famoso e popular são histórias que ocorrem em muitas famílias mundo afora. O filho é um objeto que vinga o fracasso real ou imaginário. Como as crianças são dependentes dos pais e querem mais do que tudo agradá-los ficam numa posição complicada não conseguindo enfrentar os desejos paternos. Agir assim com os filhos limita que estes descubram quem de fato são. Os filhos, nesses casos, sabem o que se espera deles, mas eles mesmos não fazem sequer a menor ideia do que podem de fato vir a ser. Os pais precisam trocar suas expectativas irreais por uma sadia curiosidade em acompanhar os filhos nessa jornada de autodescoberta. Assim, inúteis tensões e crises futuras poderão ser evitadas.