segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Análise de Filme - Intocáveis



            O filme francês Intocáveis (2012) é um retrato de como alguém pode ajudar um outro mesmo que as condições sejam, em princípio, quase impossíveis. Philippe é um homem extremamente rico e culto que devido a um acidente ficou tetraplégico. Driss um jovem que vive em condições precárias e que já cometeu atos que o levaram preso por seis meses. Duas pessoas de mundos diferentes, de educação diferentes, que se encontram e fazem desse encontro algo enriquecedor para a vida de ambos. Afinal, apesar de serem de mundos tão distintos são do mesmo gênero: humano.
            Driss é contratado por Philippe para ser seu assistente pessoal, cuidando de suas necessidades básicas e o ajudando em determinadas tarefas que são impossíveis para um tetraplégico. Apesar de inicialmente Driss nem estar interessado nesse trabalho e não ser nada indicado para cuidar de alguém com uma condição tão frágil, Philippe decide dar ao rapaz uma chance. Essa chance dada não foi porque ele viu um potencial no jovem ou por razões humanísticas, mas simplesmente porque Philippe estava cansado de ser tratado de forma “cuidadosa”, como se ele fosse quebrar a qualquer momento. Driss o tratava normalmente, falava com ele fazendo piadas e muitas vezes até esquecia a sua real condição física. Isso fazia com que Philippe se sentisse mais humano e mais vivo.
            Já Driss, com sua espontaneidade e, ás vezes, inocência, conquista seu empregador e outras pessoas da casa e com isso aprende a ter outros pontos de vista e ver a vida de uma outra forma. Antes ele se encontrava perdido e com muita freqüência metia os pés pelas mãos e se colocava em posição de risco. A partir da convivência com Philippe ele renasceu de outra maneira. Não se trata de um filme onde um salva o outro ou onde um ensina ao outro lições edificantes, mas fala do encontro de dois seres sofredores (e quem não é?) que aprendem um com o outro e que passam a se amar.
            As verdadeiras aprendizagens da vida não acontecem através dos estudos e da intelectualidade, a boa aprendizagem ocorre através da qualidade dos relacionamentos. Só se relacionando que alguém tem a chance de vir a se tornar humano. No filme esses dois homens estavam carentes e não de uma situação física melhor ou de condições financeiras melhores, mas carentes de um encontro real, onde um possa se construir a partir do que é vivido com o outro. São muitos os que se encontram carentes disso na vida, carentes da chance de estabelecer encontros humanos.
            A história desse filme não é ficcional, mas baseada em fatos verídicos. Até hoje esses dois mantêm contato porque o que começou como apenas uma ligação profissional se tornou maior e despertou nos dois afetos que se encontravam adormecidos. Eles tiveram a coragem de se entregar a esse encontro inusitado e que muitos jamais acreditaram ser possível. Da ousadia de experimentar um encontro os dois saíram transformados para melhor. Aliás, esse deveria ser objetivo de qualquer encontro: a transformação para melhor. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pergunta de Leitora - Vida Íntima Particular



Tenho 34 anos e estou casada há três. Meu marido tem 35 anos e temos uma vida sexual muito boa, pelo menos é o que eu acho. Não tenho do que reclamar. No entanto, um dia peguei meu marido vendo pornografia na internet. Ele ficou sem graça e não falou nada. Fiquei ofendida! Por que meu marido teria que ver pornografia? Não está satisfeito comigo? Me senti mal, um lixo. Será que isso é algo como “instinto masculino”? Porque eu não preciso ver pornografia para me excitar e fico me perguntando se eu não o excito mais. Será que ele tem uma amante? Acho essa estória de pornografia na internet algo nojento e não quero que ele veja. Como falar isso para ele?


            Você pegou seu marido vendo pornografia na internet e ficou chocada. Por que precisa considerar isso como um ato tão nojento? Ou rotular como “instinto masculino” ou sentenciar que ele não se excita mais com você? Só porque ele vê pornografia não significa em absoluto que ele não mais te deseje ou de que algo vai mal.
            Há pessoas que gostam de pornografia e se excitam a vendo, este deve ser o caso do seu marido. A vida sexual não precisa ser só aquela que se vive com o cônjuge, mas pode ser também aquela que se vive em fantasia. Mesmo que seu marido se satisfaça com a vida sexual entre vocês dois ele pode sentir prazer com pornografia também. Não há como você controlar o seu marido e nem precisa.
            Você mesma disse que sente que a vida sexual de vocês dois está boa e satisfatória, então por que sentir insegurança? Pelo que eu entendi ele não está te trocando pela pornografia. O casamento não implica que os cônjuges não possam ter uma vida íntima particular. Agora associar que ver pornografia é quase a mesma coisa que ter uma amante já é algo que vai longe demais e não tem ligação nenhuma com a realidade.
            O desejo sexual é móvel e jamais fixo. Está sempre em constante mudança e tem variadas maneiras de satisfação. Talvez seu marido assistir pornografia seja mais uma das maneiras dele de lidar com o próprio desejo sexual. Você não precisa transformar isso em algo condenável e nem tomar esse fato como se tratasse de algo pessoal. Se você não se interessa por pornografia não quer dizer que com ele tenha que acontecer a mesma coisa. Ao analisar melhor essa sua insegurança talvez você não mais verá isso como algo tão chocante.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A armadilha do ciúme



            Confundir o ciúme como manifestação de amor é um grande erro. O ciúme tem a ver com a possessividade, com o controle e nada com o verdadeiro amor que exclui a ilusão da posse do outro. Há em muitos relacionamentos a presença de um ciúme que transforma a vida das pessoas envolvidas num inferno, trazendo dor e, até mesmo, violência.
            Que o ciúme é algo inerente a nossa natureza está claro. O ciúme pode ser visto até mesmo em animais que, as vezes, impede que outros animais ou até pessoas cheguem perto de seus donos. O problema é quando o ciúme passa do limite e chega a ser algo que impede o bom conviver. Aliás, qualquer emoção quando descontrolada sempre causa angústia e empobrecimento para a vida. O ciúme que me refiro aqui trata-se daquele que já esta fora de controle.
            Muitas pessoas confundem amor com posse e acham que podem controlar aqueles com os quais se sentem ligados.  As populares frases como Mulher pra mim é na rédea curta ou No meu marido eu que mando são exemplos de como é tênue a linha que separa o amor da ilusão do controle. Querer controlar o outro não é amor, mas um ato de violência. É egoísmo e prepotência simplesmente. O ciumento é alguém que possui uma baixa autoestima, tem muito medo de ser abandonado e rejeitado. Quando então está num relacionamento, o ciumento sente que precisa controlar a pessoa com quem está e acredita que assim estará se protegendo de um futuro abandono. Só que ao agir assim, o ciumento começa a minar o relacionamento com desconfianças e acusações e isso pode gerar vários problemas para o casal.
            Os crimes passionais são os ciúmes levado à loucura. Matar alguém e dizer que foi em nome do amor é pura bobagem. O amor conclama à vida e não à morte, mas o ciumento está tão enlouquecido na sua ilusão de controle que acha que tem o direito até de tirar a vida de alguém e ainda falar em amor. O ciumento é um doente e por isso mesmo precisa se tratar, para melhorar a autoestima e se desapegar do controle, permitindo espaço e liberdade para o relacionamento.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Pergunta de Leitora - Reacionária



Dirijo uma empresa de pequeno porte. Sou gerente e comando uma equipe de 20 funcionários. Só que ultimamente venho ficado brava com muita facilidade com tudo na empresa. Sei que sou um pouco grosseira, as vezes, mas os funcionários também não colaboram com nada. Há funcionários que me ligam pela manhã e dizem que estão se sentindo mal e não poderão vir trabalhar. Pera aí. Ninguém fica doente da noite pro dia, então porque não avisaram no dia anterior? Acho isto uma falta de consideração e profissionalismo. Não suporto quando funcionário vem me pedir algo. Eu não fico pedindo nada pra eles. Já me chamaram de muito grosseira e mal educada, mas sou profissional. Não suporto preguiçosos. Já briguei com muita gente e as vezes fico sem vontade de ir trabalhar. Acho que não vale a pena. Descobri seu blog e resolvi perguntar o que acha? Se preciso de ajuda para me acalmar?

            Você mesma já sabe a resposta. Reconhece que perde as estribeiras no seu trabalho e possivelmente na sua vida pessoal também. Percebe também que isso está lhe prejudicando. Talvez esteja mais do que na hora de você examinar o que está te acontecendo para não ficar presa nessa situação que tanto aborrecimento lhe traz.
            Não é fácil suportar frustrações. Ninguém nasce sabendo isso, mas é fundamental que se aprenda, pois quem não aprende a tolerar as frustrações fica defensivo muito facilmente e se impede de se desenvolver e criar outros pontos de vista. Seja na vida profissional ou pessoal as frustrações sempre aparecem, fazendo com que seja necessário construir uma mente que possa pensá-las. Pensar sobre as frustrações é a melhor maneira que se tem para se ver livre delas. Quem não usa do pensamento simplesmente reage. Esse parece ser o seu caso.
            O problema é que as reações podem ser muito bruscas e criar muitos problemas. Muitas coisas, que não deveriam ser ditas, são faladas e podem trazer futuros arrependimentos. Para não ficar nesse estado é preciso então aprender a reagir de forma diferente e não impulsiva. Ser gerente é uma posição de responsabilidade e isso significa ter que lidar com muitas frustrações diariamente. Será que você aceita essa posição na qual é exigido muito de você? Pode ser que internamente você relute em ser a gerente de fato.
            É claro que um funcionário pode adoecer da noite para o dia. Todos corremos este risco, mas você nega esse fato já que lhe traz tantas frustrações. Obvio que os funcionários vão fazer pedidos para você, você á a gerente. Porém quando lhe pedem, isso exige de você um posicionamento e você se frustra e reage defensivamente. Gostaria que todos caminhassem sem você, mas aí não haveria necessidade de uma gerente. O melhor investimento que você pode fazer agora é se conhecer melhor para agir de outra forma que não apenas a reacionária.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Vida que vale a pena



            O que é viver uma vida que vale a pena? É ser rico e famoso? É ganhar um prêmio Nobel ou ser pai ou mãe? É receber uma medalha olímpica ou salvar uma vida? Enfim, há muitas respostas para essa pergunta e o importante é que cada um, individualmente, consiga respondê-la de modo verdadeiro. O problema é quando imaginamos que para ter uma vida de sucesso precisamos ser algo que no fundo nunca vai nos trazer realização.
            Há tantas pessoas que se enganam e colocam como meta para a felicidade coisas que jamais trarão significados em suas vidas. Alguém pode pensar que para ser feliz precisa ser rico e as vezes na procura pela riqueza se esquece de viver e aproveitar as oportunidades que aparecem. Outros crêem que precisam ser famosos e ao fazerem de tudo para alcançar a fama se machucam e machucam outros. É muito fácil se equivocar e seguir um caminho que não leva a lugar algum.
            Uma vida que vale a pena é uma vida que tenha significado. Seja ele qual for. Para alguém pode ser se tornar uma dona de casa, para outro pode ser se tornar um empresário de sucesso. É importante sempre procurar responder o que é que traz significado para a sua vida e não o que se acha que é bom. Sabendo o que se realmente quer é preciso se entregar de corpo e alma. É necessário dar o coração. Só indo atrás do que realmente nos significa é que podemos estar em paz.
            No entanto, o que mais se vê são pessoas correndo atrás daquilo que na verdade não traz significado nenhum para elas. Gastam tanta energia perseguindo algo que depois de alcançado não significa nada. Quem se engana perde tempo na vida e de vida. Melhor do que se enganar é sempre se conhecer e com isso ir atrás do que vale a pena. Assim não se perde tempo, mas ganha-se vida.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Suspense



Sinto que minha vida é um filme de suspense. Nunca sei como será o meu amanhã. Acontece tanta coisa: perder emprego, meu cachorro fugir, brigar com o namorado. É tudo muito instável. Não tenho nenhuma segurança e ultimamente venho percebendo um sentimento estranho que não sei o que é. Só sei que esse sentimento vem, apesar de não saber o que seja, e me deixa me sentindo mal. Acho que algo está para acontecer, mas não sei o que é. Estou com medo desse sentimento. Um medo como nunca tive em toda a minha vida. Ao mesmo tempo que quero saber do que se trata também tenho medo. Não entendo mais nada e isso me deixa assustada. Queria um remédio para deixar de sentir as coisas e o medo. O que você me diz?


            A vida como um filme de suspense! Alfred Hitchcock, mestre na direção de filmes, foi quem melhor traduziu para as telas o sentimento de suspense das pessoas. Sem efeitos especiais de alta tecnologia e sem pirotecnias em cena ele conseguia deixar os espectadores em suspense usando algo bem simples: deixar as coisas incógnitas, ou seja, desconhecidas, até o seu desfecho. Tanto que ele dizia que não existia nada mais assustador do que não saber o que há por detrás de uma porta fechada.
            Não saber o que é esse sentimento que você menciona é justamente isso que o cineasta falava. Algo desconhecido por detrás de uma porta que se encontra fechada. Tudo o que desconhecemos nos assusta e muitas vezes nos faz perguntar se queremos de fato abrir essa porta e descobrir o que há escondido. Imaginamos que um monstro pode estar lá oculto, monstro que tememos não dar conta e que venha nos devorar.
            Quanto a vida ser instável, bem, posso lhe dizer que não é só a sua. É impossível alguém ter certeza de tudo. Desejar isso é desejar o impossível e isto nunca leva a lugar algum. Talvez seja muito mais proveitoso você investigar porque você não encara a instabilidade normal da vida como algo natural, mas vê isso como se fosse uma nuvem negra que decide se alojar por cima de você.
            Ser humano não é mesmo fácil. É preciso aprender a lidar com as instabilidades e tirar o melhor proveito que a vida oferece. É se recriar internamente inúmeras vezes para que cada vez mais, em cada nova recriação, possamos melhor aproveitar a vida. Para isso acontecer é necessário que, com bastante freqüência, tenhamos coragem de abrir muitas portas que estão fechadas para descobrir o que escondem. Não entre nessa de querer um remédio para não sentir. Isso só te afasta de você mesma e faz com que fique assustada e deixe de encontrar muitos tesouros. Escreva o fim desse suspense de forma que lhe seja mais favorável. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Saber Escolher



            Conversando com uma amiga ela me disse como era difícil fazer determinadas escolhas, mas que depois de fazê-las se sentia bem melhor e em paz. Pude dizer que não era difícil só para ela, mas para todos nós. Fazer uma escolha é sempre algo que nunca é fácil e demanda pensamentos da nossa mente.
            É que quando temos que tomar uma decisão implica sempre em assumir uma perda. Toda escolha significa abrir mão de uma outra coisa e como não gostamos de saber que estamos perdendo algo a gente se impede, muitas vezes, de pensar em qual seria a melhor decisão para nós.
            Algumas decisões são fáceis pois os prós e contras se apresentam muito claro e sem sombra de dúvidas. Porém, quando para se tomar uma decisão as coisas não ficam tão claras, as coisas complicam e nos traz ansiedade. Nesses momentos não queremos perder nada e qualquer caminho que se escolha parece que vai trazer aquele insuportável sentimento de perda. No entanto, a vida madura implica em fazer escolhas, o que torna então a capacidade de pensar bastante importante.
            Pensar verdadeiramente é aliar razão com emoções. É manter um equilíbrio entre esses dois para que se chegue mais perto de um pensamento que faça sentido para aquela pessoa. Para ser maduro demanda que aceitemos os limites da vida e possamos tolerar algumas perdas para que consigamos nos dedicar de coração àquele caminho que escolhemos. Quando assim ocorre seguimos em paz e tranqüilos. Caso não nos preocupemos em fazer uma escolha, a vida pode fazer uma por nós, mas o preço disso pode ser muito alto e desagradável. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pergunta de Leitora - De perder a cabeça



Oi, pergunta breve! Oi Sylvio. Queria (preciso) te fazer umas perguntas porque estou realmente perdida.
Ser livre é lutar contra impulsos fortes que nos prejudicam, mesmo que visem o prazer à curto prazo?
Nós não somos nossos impulsos/desejos? Onde fica localizada nossa identidade? Está naquilo que a razão nos manda ser? Por exemplo, se temos em nós o desejo de morte... fica difícil pensar à longo
prazo, certo? As coisas se complicam em nossa mente e começamos a pensar como obesos ou drogados.
Isso é ruim, então o que falta para pessoas assim resolverem ir pelo caminho certo? Como ignorar o bem à curto prazo que alguma cosias ruins nos proporcionam? Se puder responder eu agradeço muito mesmo. Acabei trancando a faculdade no último ano por tudo isso. Essa luta entre razão e emoção, vida e morte, essa problemática da identidade.

            O titulo do seu email foi Oi, pergunta breve!  que está totalmente contraditório com o conteúdo que não tem nada de breve. Li e reli sua mensagem e confesso que fiquei sem entender qual a sua questão de fato e como você gostaria que eu a ajudasse. Acho que até mesmo a forma como você escreveu reflete a confusão que se encontra aí dentro de você.
            Parece-me que você se encontra em conflito. Agora sobre a natureza desse conflito não faço idéia. Arrisco a dizer que estar em conflito para você, nesse momento, é intolerável de aceitar. A impressão que fica é que o conflito está intenso e que você quer se livrar dele o mais rápido possível. Realmente estar em conflito não é agradável, mas ninguém se livra dele. Ele serve para ser elaborado.
            Ao nos dar conta dos nossos conflitos precisamos desenvolver uma mente que possa pensá-los. Esse pensar é tal qual um processo digestivo onde algo é digerido até poder servir de alguma forma. Em outras palavras, o pensar é transformar os seus pensamentos e na transformação haver o desenvolvimento. No decorrer desse processo você se modifica e tem a chance de entender coisas que antes estavam te perturbando.
            Não posso ser mais específico pois você foi vaga em falar de seus conflitos. Acredito, no entanto, que o que você quer é estar em análise e ter alguém a seu lado para lhe ajudar a dissipar muito da sua confusão. Já pensou em procurar um profissional que te escute? Você não precisa ficar perdida, basta escolher o caminho do autoconhecimento e se entregar a essa jornada. Assim, poderá saber mais da sua identidade.