domingo, 31 de julho de 2011

Pergunta de Leitora - Ser mãe ou não ser mãe?


Tenho 34 anos e sou casada há três. Vivo muito bem com meu marido. Curtimos a vida e somos felizes em nossos trabalhos, mas ultimamente algo vem me preocupando. Não sei se quero filhos e nem meu marido. Mas nossas famílias dizem que devemos ter filhos logo. Que se eu não tive-los eu irei me arrepender. Dizem que uma mulher só é completa se for mãe. Me sinto mal por não ter esse desejo intenso de ter filho e tenho medo de que isso revele que sou insensível. Por que tantas mulheres desejam tanto um filho e eu não? Será que sou egoísta? Dizem que um filho é a luz da vida, mas sinto que a luz da minha vida sou eu e meu marido.

            Há mulheres que desejam filhos e outras que não. O que não pode haver é generalização dizendo que todas as mulheres são iguais e só se realizam de fato quando cumprem o papel materno. Pensar desta forma é ignorância e mesquinho com seu desejo.
            As únicas pessoas que podem decidir se querem ou não um filho é você e seu marido. Afinal, seriam vocês que teriam que se responsabilizar pela criação dessa criança. Portanto, só mesmo vocês podem saber o que desejam para suas vidas. Ser mãe implica muito mais do que apenas engravidar, parir e jogar o filho no mundo. A maternidade passa pelo desejo. E pelo que você me disse, ao menos neste momento, não é o que você quer. Então não caia no engodo de que a mulher tem um papel a cumprir e que só se satisfaz ao se tornar mãe.
            Você ainda é jovem e tem alguns anos para realmente saber o que você e seu marido querem. Use mais seu tempo para conhecer seu desejo e não ficar se colocando em dúvida baseada no que os outros esperam de você. Se você decidir algum dia ser mãe, faça isso pelo seu desejo de ter um filho e não para seguir convenções. A vida é sua. Quem paga o preço por ela é você, por isso é importante você decidir bem o que quer fazer dela.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pergunta de Leitor - Separação


Estou muito infeliz no meu casamento, mas acho que não posso me separar. Tenho dois filhos pequenos e se eu me separar da minha mulher eles vão sofrer muito. Pelo menos é isso o que dizem: que filhos de casais separados têm traumas e sofrem mais na vida. Acontece que tanto eu como minha mulher saímos com outras pessoas e não nos suportamos. Nem mesmo mais respeito temos um pelo outro. Já até nos batemos uma vez. Queria que ela tomasse vergonha na cara e pedisse logo o divórcio para podermos viver em paz. Quando nossos filhos forem maiores eu me separo, mas como agüentar até lá?

            Em sua opinião crianças de pais separados carregam traumas e sofrem mais. E crianças que vêem os pais se baterem por acaso sofrem menos? Mesmo que seus filhos não tenham visto vocês partirem para a agressão física pode ter a certeza de que eles sentem de que algo vai muito ruim entre vocês e essa tensão deve ser muito mais difícil de carregar.
            Precisamos ser realistas e encarar o fato de que relacionamentos acabam e muitas vezes cada um seguir com sua vida é a coisa certa a se fazer. Os divórcios existem para isso. No entanto, você se apega a um relacionamento que está acabado. Agora cabe você se perguntar o porque disso.
            Seria interessante você também se questionar porque você espera sua mulher tomar a atitude de pedir o divórcio e não você. Será que ao agir assim você não está deixando de assumir responsabilidades por sua vida e jogando tudo nas costas dela? Será que desse jeito você se sente menos culpado? São questões que valem a pena você encarar de perto para quem sabe poder se livrar delas e começar a viver melhor.
            Você e ela viverem bem é o que de melhor vocês podem oferecer para seus filhos. Eles precisam de pais felizes e sãos e não de pais que se odeiam e por isso mesmo pregam uma visão de mundo miserável. Procure ajuda para conseguir se separar e tocar para frente sua vida. Você estar bem é seu direito e estando bem possibilitará você cuidar melhor dos seus filhos.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

APRENDAMOS A “COZINHAR” OS PROBLEMAS

“Reza uma lenda que um monge, próximo de se aposentar precisava encontrar um sucessor. Entre seus discípulos, dois já haviam dado mostras de que eram os mais aptos, mas apenas um poderia sucedê-lo.
Para sanar as dúvidas, o mestre lançou um desafio para colocar a sabedoria dos dois à prova. Ambos receberam alguns grãos de feijão que deveriam colocar dentro dos sapatos, para então empreenderem a subida de uma grande montanha.
Dia e hora marcados, começa a prova. Nos primeiros quilômetros, um dos discípulos começou a mancar. No meio da subida, parou e tirou os sapatos. As bolhas em seus pés já sangravam, causando imensa dor. Ficou para trás, observando seu oponente sumir de vista. Prova encerrada, todos voltam ao pé da montanha para ouvirem do monge o óbvio anúncio.
Após o festejo, o derrotado aproxima-se e pergunta ao seu oponente como é que ele havia conseguido subir e descer com os feijões nos sapatos:
- Antes de colocá-los no sapato, eu os cozinhei - foi a resposta.”

            As estórias populares podem carregar uma verdade muito importante para compreendermos melhor a nossa natureza. Com essa estória dá para perceber como temos uma grande responsabilidade pela qualidade de nossa vida. Muitas vezes as pessoas se eximem dessa responsabilidade e projetam sua felicidade ou infelicidade nos acontecimentos do mundo externo e se esquecem de dar valor ao modo como vivem. Como sempre digo problemas todos nós temos, mas é preciso que possamos lidar com eles de uma forma mais sábia a fim de não ficarmos machucados e nem presos num eterno ciclo de sofrimento.
            Vejo muitas pessoas que chegam a dizer que o problema é ter problemas. Querem de todas as formas se livrar deles o quanto antes. Querer se livrar dos problemas é humano e compreensível. Infelizmente as coisas não funcionam desse jeito. Não se livra de um problema, mas há a chance de conseguir “cozinhá-los.” Ou seja, pensar sobre eles e refletir como elaborá-los e dar a eles um fim mais realista. Isso é assumir a responsabilidade pela própria vida e se tornar mais forte que os problemas. Assim, você poderá pisar sobre os problemas sem se machucar.
            Por isso cultivar a mente é uma das melhores formas de ficarmos sempre mais fortes e preparados perante os percalços que a vida nos dá. Aliás, a cura na psicanálise tem a ver com isso. O verbo curar vem do latim curare que quer dizer cuidar, dar atenção. Então a cura se realiza quando damos atenção a algo e passamos a cuidar desse algo. A cura não é milagrosa. Não vem do nada de repente, mas é um processo que se toma ao passar a olhar com mais atenção aquilo que nos preocupa e procurar uma alternativa. Tal como um curador de um museu. Ele é um cuidador das obras de artes. Se a gente olhar para nossa mente como um grande bem a ser cuidado podemos então a passar a ser curadores de nossos recursos internos.
Que possamos todos aprender a cuidar de nossos problemas com mais acolhimento e discernimento sem sentir a necessidade de jogá-los longe o mais depressa possível. O mais importante é aprender a lidar com eles para que eles fiquem “amaciados” e não mais nos incomodem. Realizando esse processo nos tornamos maduros emocionalmente e sempre estaremos mais preparados para vivenciar a vida com muito mais qualidade e prazer. Carregando feijões ou problemas, há sempre um jeito mais fácil de levar a vida. Problemas são inevitáveis. Já a duração do sofrimento é você quem determina.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Pensamento


“Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador.”

Confúcio


            Uma frase milenar como essa ainda continua propícia para nos fazer ver como temos uma grande responsabilidade por nossas vidas. Infelizmente muitas pessoas se entregam a uma preguiça interna e não trabalham a própria mente, deixando talentos e tantas outras coisas boas serem sufocados por atitudes e pensamentos que só formam pessoas que sobrevivem e não vivem.
            Para viver bem uma pessoa tem que se trabalhar. Ninguém nasce sabendo trabalhar sua mente, mas isso é algo que se aprende ao longo do percurso da vida, se nos permitimos. Que não sejamos negligentes em trabalhar “nossos campos” e com isso podermos colher frutos que nos permitam viver com mais sabor.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Pergunta de Leitora -Inseguranças


Sou mão de uma moça e de um rapaz. Meus filhos já trabalham e ganham a vida e sinto que eles gostam muito de mim. Na verdade eles não precisam mais de mim. Só que eu tenho muito medo que algo aconteça com eles. Eles saem de noite e sabemos como é tudo perigoso e eu fico pensando que algo muito ruim pode acontecer a eles. Na verdade me vem cenas na cabeça de que eles estão sendo assaltados, violentados e que eu preciso ficar alerta para cuidar deles quando eles precisarem. Queria ser mais tranqüila em relação aos meus filhos, mas eles são tudo o que eu tenho na vida e ficaria arrasada se algo os tirasse de mim.  Será que é normal me preocupar tanto?

            Os filhos crescem e vão cuidar de suas vidas. É um processo natural que acontece ou que deveria acontecer. Será que você não está se ressentindo pelo fato de seus filhos estarem cada vez mais independentes de você e isso lhe faz se sentir com menos valor?
            Digo isto porque em seu email você diz que eles são tudo o que tem na vida e ficaria arrasada caso algo acontecesse a eles. É como se você estivesse com muito medo de se ver sem eles e sente que isso já está acontecendo. É esperado que você sinta uma perda nessa fase de sua vida. Antes o relacionamento com seus filhos era um e agora as coisas mudaram, mas não significa em absoluto de que os perdeu para sempre. É uma questão de dar tempo para que você possa se sentir mais confortável e segura nesse novo relacionamento com filhos adultos.
            Agora é importante você ter seus afazeres e interesses e não se ver apenas como mãe. Afinal você é mais do que uma mãe. Tem sua vida e personalidade e deve investir em coisas que lhe dão satisfação. É uma fase que você pode usar para vir a se conhecer mais e com isso expandir seus horizontes. Passando mais tempo investindo em você mesma pode lhe ajudar a não ficar tão somente focada nos seus filhos e deixá-los seguir a vida tranquilamente sabendo que você está bem.
            E se coisas boas ficaram no relacionamento entre vocês não há razão para temer que eles venham a esquecê-la. Nesse caso os vínculos são fortes e seus filhos sempre terão em mente a boa mãe que você é e vão sempre se fazer presentes, mesmo que de outra maneira. O que você não pode é desejar que eles sejam dependentes, como crianças, para sempre.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pensamento


"Nada é permanente nesse mundo. Nem mesmo os nossos problemas.”

Charles Chaplin


            Por isso não devemos nos identificar demasiadamente com nossos problemas. Eles existem e isto é um fato, mas não quer dizer que devemos nos apegar a eles. Somos muitos maiores que nossos problemas e devemos ter isso sempre em mente.
            Não acreditar nisso é a mesma coisa que dar mais forças para os problemas e se enfraquecer. Tudo na vida passa e se soubermos como tirar aprendizagens das experiências, mesmos as ruins, a gente se enriquece cada vez mais e expande os horizontes internos.

sábado, 9 de julho de 2011

Pergunta de Leitor - Dançando


Sempre quis ter uma carreira ligada à dança. Meu pai é médico e ele não admite que eu seja outra coisa a não ser médico. Mas é que nunca me senti atraído por medicina. Não quero isso pra minha vida. Me sinto muito mais feliz quando eu danço. No entanto, meu pai disse que se eu quiser fazer dança ele vai esquecer que tem um filho e não vai me ajudar em nada, pessoal e financeiramente. Ele diz que não vai sustentar filho viado e eu não sou homossexual, só gosto de dança. Sou filho único e não queria desapontar meus pais, mas também não quero me desapontar.

            Vejo que você está numa situação que popularmente se diz que está no mato sem cachorro. Tem um desejo para sua vida que não está de acordo com o desejo que seu pai tem para você e ele parece bastante intransigente em mudar de opinião. Você vai ter que aprender a “dançar”, ou seja, vai ter que aprender a encontrar a maneira certa para conseguir mostrar ao seu pai o quanto a dança é parte da sua vida e que ficar sem ela vai lhe fazer infeliz.
            Sei que o que eu lhe digo é difícil de fazer e não sei como você vai conseguir isso, mas sei que deve tentar se seu amor pela dança for tão grande assim como diz. Você não será feliz se não seguir aquilo que mais te encanta.
            Dançar não tem nada a ver com ser homossexual e talvez este seja um ponto muito importante você mostrar ao seu pai. É claro que existem dançarinos homossexuais, bem como médicos homossexuais, mas não é a profissão que define e dita a orientação sexual.
            O preconceito impera na visão do seu pai e vai exigir que você seja bem cuidadoso ao tentar lidar com isso. No filme Billy Elliot (Inglaterra, 2000) conta a estória de um menino de 11 anos que quer trocar o boxe por aulas de balé. Seu pai opõe uma resistência férrea, mas no fim, depois de muitas dores e brigas ele consegue fazer com que seu pai o apóie e alguns anos mais tarde quando Billy estréia um espetáculo o pai vai assisti-lo e se emociona fortemente. Se você decidir que sua vida depende da dança vá em frente e quebre os tabus. Boa sorte.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Afinidades

A afinidade não é forçada. Ela nasce espontânea e para sempre espontânea permanece. Nela as impossibilidades de comunicação não existem já que ela não requer palavras ou lógica para explicá-la. Ela só necessita de sentimentos de aceitação e acolhimento do outro, seja entre casais ou amigos. Não há julgamentos e nem acusações. Simplesmente ela é. 
Aqui vai trecho de um texto bastante inspirador.


AFINIDADES(Ercília Pollice)

Afinidade é um dos poucos sentimentos
que resistem ao tempo e ao depois.
Não importam as impossibilidades,
os adiamentos, a distância, a ausência
Qualquer reencontro retoma a relação,
E num passe de mágica
o diálogo, a conversa, e o afeto,
retomam tudo no exato ponto em que foi interrompido.
Sinto como se a afinidade fosse a vitória
do subjetivo sobre o objetivo,
das coisas permanentes sobre as passageiras,
do essencial sobre o superficial. 

sábado, 2 de julho de 2011

Pergunta de Leitor - Egoísmo


Tenho 36 anos, sou casado e com um filho de 4 anos. Gosto da minha mulher, mas não a amo. Meu trabalho também não é importante. Ganho pouco e estou cada vez mais desinteressado da vida. Queria gostar de viver. Vejo tantas pessoas que gostam de viver e aproveitam a vida e eu nada. A verdade mesmo é que venho pensando muito em me matar. Afinal o que tenho na vida? Creio que até minha família ficaria melhor sem mim. Como ter gosto pela vida?

“Afinal o que tenho na minha vida?” Você reparou que nessa pergunta você parece esquecer que tem um filho de quatro anos? Será que ele não merece um pai? Ou você acredita que se matando vai deixá-lo feliz? Na verdade falando assim você acaba sendo um egoísta. Egoísta porque não leva em conta o bem estar do seu filho que é pequeno e dependente de você para começar a vida e egoísta com você mesmo ao ser tão ingrato com a sua condição de estar vivo.
            Ao que parece você está desanimado com a vida porque ela não saiu como você desejava. Bem, nesses casos é preciso então investigar o que você pode fazer para melhorá-la. Não tenha vergonha e nem medo para pedir ajuda para lidar com suas angústias. Você fala como se as coisas não pudessem mudar, como se fossem imutáveis. Viver assim é realmente desesperador.
            Agora mudança nenhuma na sua vida vai acontecer do nada. Muito vai depender do que você vai fazer ao responder à suas questões. Sei que é difícil passar por dificuldades, no entanto, ficar apegado ao sofrimento não vai melhorar nada. Se precisar mudar coisas na sua vida para sentir mais prazer nela então faça. Mas primeiro você precisa saber o que realmente quer. E não se esqueça de pensar na herança que vai deixar para o seu filho. Quer deixar a imagem de um pai que, mesmo com angústia, procura pela vida ou a imagem de um pai egoísta que abraça a loucura?