sexta-feira, 29 de julho de 2016

Pergunta de Leitor - Rótulos e Etiquetas




Sou homossexual e convivo com amigos meus que também são gays. Tem um em particular que me tira do sério. Ele adora se exibir e criar constrangimento em todo o mundo. Ele é tipo gay boneca. Grita, faz escândalo, manda beijo teatrais na rua, enfim, faz tudo aquilo que eu não curto e acho que é um exagero. Depois os gays reclamam que são apelidados de maneira pejorativa: bichinha, purpurina, louca, etc. Tenho medo do rótulo e tento viver o mais discreto possível. Só queria dar esse depoimento, que nem todo gay precisa ser exagerado, mas que pode ser digno.

            Nem todo gay é exagerado você diz, mas os gays não são todos iguais. Assim como os heterossexuais que também têm suas diferenças. Aliás, antes de ser homo ou heterossexual se é humano e ser humano é possuir uma variedade de diferenças. Os homossexuais também rotulam outros homossexuais e isso acontece porque rotular é humano, apesar desse ato ser prejudicial.
            Você tem todo o direito por ser discreto. Cada um só pode ser o que de fato é. O que não se pode, no entanto, é rotular o outro ou definir regras gerais. O ato de rotular é uma maneira de nos mantermos distante daquele que julgamos como diferente e errado. É uma forma de negar as diferenças como se só alguns poucos caminhos fossem o correto. O rótulo serve como etiqueta para dizer que aquele lá está errado e não faço parte disso.
            Enquanto o rótulo é amplamente usado isso impede que valores importantes possam ser construídos. Valores como aceitar e acolher as diferenças que só enriquecem a experiência humana. O rótulo é prejudicial porque é causa da exclusão. Seja exclusão por orientação sexual, por pertencer à determinada camada social, por religião, por cultura, etc. A exclusão cega a sensibilidade das pessoas para aquilo que é diferente e desconhecido, criando até mesmo violência.
            Homossexuais que fazem questão de se declararem homossexuais de forma exagerada como você mencionou fazem isso porque sentem, inconscientemente ou não, que não têm o direito de ser homossexuais. Isso não acontece com os heterossexuais que não precisam declarar a sua heterossexualidade, pois sentem que têm garantido o seu direito. Já o heterossexual que precisa declarar a sua orientação exageradamente é porque teme a bissexualidade que existe nele. Porém, qualquer que seja o caso o que mais se faz importante é não haver rótulos. Somos complexos e variados demais para pequenos rótulos ineficientes. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Natureza Interna




            O filme americano Na natureza selvagem (Into the wild, 2007) baseado no livro homônimo conta a história verídica de um jovem inteligente e recém formado que decide abandonar tudo para ir ao Alaska, longe de todos e de toda a civilização, para entrar em comunhão com a natureza. Conforme ele vai viajando até o Alaska conhece muitas pessoas e lugares e muitas dessas pessoas gostariam de ter com ele um relacionamento mais duradouro e rico, mas ele foge disso tudo e acredita que no meio da natureza selvagem do Alaska vai encontrar o que tanto precisa. Nem ele sabe bem o que procurava, mas podemos entender que procurava ele mesmo.
            Essa história fez e faz muito sucesso. Não são poucos os que se identificam com esse jovem. Isso acontece porque no fundo precisamos ter contato com nossa natureza e que estamos sempre à procura de nós mesmos. Esse jovem teve um final triste e trágico e isso mostra que quando a gente desconhece a própria natureza a chance de nos sairmos mal é muito grande. Essa natureza, que nada mais é do que nossa própria mente, precisa ser trabalhada para que possamos viver melhor.
            Com muita frequência nossa natureza nos assusta. Ter um contato verdadeiro consigo mesmo não é pouca coisa e nem fácil. A tendência é a gente fugir, querer deixar para lá o trabalho que devemos ter para conosco. O problema é que seja para onde for que fujamos sempre levamos nossa mente conosco. Então não tem jeito de fugir de si mesmo. O jovem da história tentava fugir de si mesmo acreditando que ao estar na natureza iria encontrar a paz que tanto desejava. O maior erro dele e que lhe custou caro foi achar que a paz que ele tanto queria ia ser encontrada fora dele e não dentro. A sua vida mental lhe era cheia de impulsos dos quais não conseguia dar conta e o que ele mais queria era fugir do que sentia.
            Aquilo que sentimos pode ser muito confuso e não gostamos de tomar consciência dessa confusão porque esta nos causa um desprazer. Ás vezes o que sentimos nos é intolerável. Porém, não há o que se fazer com o que sentimos a não ser acolher e aprender a tolerar para que isso tudo possa ser transformado. Fugir do que sentimos não leva a nada e é inútil. E mais, ninguém poderá dar conta por nós do que sentimos. Esse é um trabalho individual, afinal ninguém pode sentir por nós. Nossa natureza (mente) pode ser muito selvagem e cheia de perigos e armadilhas e então entendê-la se faz mais do que necessário. É imperativo aceitarmos nossa natureza para que possamos trabalhar com ela e viver com ela. O mais importante, contudo, é sabermos que essa natureza está dentro de nós e que de nada adianta procurarmos por respostas fora de nós.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Pergunta de Leitor - Tiro




Meu filho não gosta mais de mim e não me deixa ver meu neto que tanto amo. Tenho 64 anos e uns 15 anos atrás meu filho descobriu que eu tinha uma segunda família. Casei amando minha ex-mulher, a mãe dele, mas depois de um tempo vi que não era um amor de verdade. Fui covarde e não quis me separar e assim acabei arranjando uma outra mulher que me deu também um filho maravilhoso. Quando meu filho do meu casamento descobriu ele rompeu comigo e não aceita mais nenhum contato comigo. Minha ex-mulher aceitou que nosso relacionamento não tinha sentido e nos separamos e hoje vivo com a minha segunda mulher que é na verdade aquela que eu amo. Meu filho não entende isso e nem me deixa ver meu neto. Ele vai crescer e eu vou perder muito dessa fase tão importante. Não sei o que fazer.

            O seu filho prioriza a aparência e não o amor. Se não fosse assim ele aceitaria o fato de você amar outra mulher e ter com ela outra família. Ele não é capaz de aceitar o amor vivo que faz com que os relacionamentos se modifiquem no decorrer da vida. Se intromete numa decisão que não pertence a ele, mas que é apenas sua, da sua atual esposa e da sua ex.
            A consequência é ele ter rompido os laços com você e assim você perdeu o contato com o filho e o neto. Esse filho te castiga, te pune, pois na cabeça dele você merece punição e merece também não ser levado a sério pela decisão de ter escolhido o amor. Como se alguém pudesse se desfazer do amor e da auto-realização apenas para manter uma situação que não dava mais. O casamento só existe se houver sentido nele. Caso o casamento persista, mesmo sem sentido, trata-se apenas de aparência. Basear-se tão somente na aparência é fonte de infelicidade.
            O convite do seu filho é pela sua infelicidade e não pela sua felicidade. Para ele a mudança não é bem vinda e ele parece valorizar a estagnação, mesmo esta custando caro. Só que estagnação não é vida, é sentença de morte ou prisão perpétua. Você decidiu satisfazer seu desejo pela vida, que é válido, e não o desejo do seu filho que adoece a si mesmo e aos outros. O preço que você paga é alto já que está perdendo o crescimento do neto, mas não tinha como ser diferente já que de outro modo, se não tivesse escolhido o amor, pagaria com a própria felicidade, ou seja, com a própria vida. Quem mais perde com toda essa história é seu filho que não aprende a valorizar o amor do pai e nem a promover o amor do próprio filho. Pune a ambos e a si mesmo. É um tiro no próprio pé e nos pés de quem deveria cuidar. 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Perceber os Sinais




            Há inúmeras pessoas que reclamam que suas vidas sofrem muitos e variados reveses. Sentem-se azaradas e utilizam o sofrimento com certo gozo masoquista. Lamentam que as coisas nunca são como gostariam que fossem e que os resultados de muitos projetos nunca são plenamente satisfatórios. Muitas se sentem enganadas por pessoas que em princípio julgavam confiáveis e depois lhe passaram a perna, outras faziam tantos planos em cima de alguma determinada ideia e quando esta não se prova boa desmorona-se parte da autoconfiança. Enfim, a vida conta mesmo com muitas adversidades.
            Claro que é plenamente possível alguém se enganar sobre uma outra pessoa ou sobre alguma ideia ou plano e ficar frustrada com isso. Afinal, não temos bola de cristal e muitas vezes o que parecia estar indo tão bem se mostra um fracasso ou engano. Faz parte do jogo da vida se enganar e aprender com os enganos. No entanto, há muitos enganos que poderiam ser evitados se as pessoas tivessem percebido ou levado em consideração os sinais que estavam disponíveis, mas que foram inadvertidamente ignorados.
            Essas pessoas que poderiam ter previsto e evitado alguns de seus reveses não o fizeram porque ficaram tão apegadas naquilo que queriam que deixaram de tomar consciência da realidade. Quando rejeitamos e negamos a realidade a chance de algo dar errado é grande. Para se viver bem é preciso levar em consideração os sinais que a realidade fornece e não se apegar apenas à ilusão do que queremos. Viver em ilusão é evitar crescer enquanto que se tornar sensível aos sinais favorece o amadurecimento emocional.
            Termino com uma anedota que mostra bem o quanto deveríamos nos sensibilizar para os sinais que recebemos para evitarmos muitos aborrecimentos: Uma pessoa fica presa numa enchente que circunda sua casa e diz para si mesma “Se deus existe, ele me salvará” Nesse momento um bombeiro vai até a sua casa e pede que a pessoa deixe o local, mas esta responde “Se deus existe, ele me salvará”. O nível de água sobe mais e uma equipe de salvamento aproxima-se com um bote para o resgate, mas a pessoa diz “Se deus existe, ele me salvará”. Finalmente a água obriga a pessoa se refugiar em cima do telhado de sua casa e um helicóptero aparece para ajudar e concluir o resgate, mas a pessoa recusa a ajuda e diz “Se deus existe, ele me salvará”. Com isso a pessoa cai na água e morre afogada. Vai para o outro mundo e encontra-se com deus. Fica furiosa e pergunta petulante por que deus não a havia salvado. Deus responde “Como assim não te salvei? Eu mandei aviso pelo bombeiro, por uma equipe de resgaste e até por um helicóptero, mas você que não quis me ouvir”.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Pergunta de leitor - Palco Narcísico




Tenho 37 anos, sou casado há 17 anos e tenho uma linda amante de 25 anos que é casada. Ela é uma das melhores amigas da minha esposa, é loira, magra, alta e linda. Estou mantendo um caso com ela há aproximadamente um mês. Já nos encontramos para transar mais de dez vezes neste período e ao contrário da minha esposa, ela gosta muito de sexo e faz de tudo sem frescuras. É uma mulher simplesmente maravilhosa, mas odeia camisinha e me falou que sexo de verdade para ela é sem camisinha. Ela me diz que não preciso me preocupar, porque ela é sadia, limpinha e toma pílulas para evitar gravidez. Eu e ela estamos nos gostando tanto, que ambos estamos até pensando em nos separarmos de nossos cônjuges para casarmos futuramente um com o outro. Gostaria muito de saber a sua opinião.

           
            Por que será que você quer minha opinião? O que será, melhor perguntando, que você espera que eu diga? Que eu aprove ou desaprove? Que eu diga para ir em frente? Ou que eu tente te segurar? Parece-me mais que você está se exibindo do que realmente fazendo uma pergunta.
            Li seu email e a impressão que fica é que você está adorando toda essa situação de maneira perversa. Talvez seja uma forma de satisfazer suas pulsões exibicionistas e narcísicas. O que te une à sua amante e ela à você é justamente o prazer pelo prazer apenas, sem limites algum, ou seja, a perversão.
            Melhor amiga da sua mulher ela não pode ser, não é mesmo? Pois quem é amigo não trai dessa forma. O que será que você entende que seja uma amizade? Provavelmente você não saiba e também não tenha bem formado internamente alguns conceitos elementares do que é um relacionamento.  Por isso mesmo é também provável que você não tenha ideia alguma do que seja um casamento.
            Você acredita mesmo que com apenas um mês de caso seja suficiente para você fazer planos? O fato de sua amante ser loira, alta, magra, bonita e sedenta por sexo selvagem e sem cuidado algum alimenta sua vaidade. E, é claro, ela perceber que você fica de quatro por ela alimenta, por sua vez, a vaidade dela. Você crê que isso se sustenta? Como não sou voyeurista, ou seja, não me gratifico com a fantasia do prazer perverso alheio, deverá encontrar outro lugar para nutrir seu narcisismo. Boa sorte.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Quando o Amor se Deturpa




            O amor devotado de uma mãe ao seu filho é de grande importância para o bom desenvolvimento deste. Aliás, sem esse amor materno fica impossibilitado a criança internalizar funções que propiciem um crescer tranquilo e seguro. A mãe é então vital. Entretanto, esse mesmo amor que se faz tão necessário pode se tornar algo perigoso e que ao invés de favorecer o amadurecimento corre o risco de trazer sérios prejuízos.
            Esse perigo se encontra quando a mãe se acredita na posse de seu filho e com isso não abre espaço para que ele encontre e faça os próprios caminhos. A mãe precisa aprender a abrir mão quando é chegado o momento, senão prende o filho, o que pode tornar o relacionamento intolerável. A mãe que não consegue compreender que seu filho não lhe pertence é narcísica, pois só reconhece a si mesma e os seus medos, sem perceber que seu filho é um ser independente.
            Quando uma mulher está em período de gestação o feto que dentro dela se desenvolve é parte de seu corpo. O cordão umbilical é a prova de que o feto é algo pertencente à sua mãe. O feto é totalmente dependente e a mãe se sente incumbida de fornecer total cuidado e passa a gostar disso. Após o parto há um bebê separado de sua mãe, porém mesmo assim continua na dependência dos cuidados maternos e a mãe o sente como parte de si mesma, afinal é algo saído de seu corpo. Nem poderia sentir diferente e é justamente esse sentimento de posse que permite que muitas mães deem aos seus bebês o cuidado e carinho que tanto precisam. Só que com o tempo esse filho tão dependente vai crescendo e tendo desejos próprios e o direito de ir em busca do que quer para si. Nada mais natural. O problema começa quando a mãe se ressente da independência de seu filho.
            No momento que a mãe sente-se mal com a liberdade do filho não se trata mais de um amor verdadeiro, mas de um amor deturpado que visa apenas o controle e a posse. Quando o filho, crescido e independente, é sentido como um filho ingrato o amor já perdeu espaço e o que domina é o ressentimento. Isso pode fazer com que muitos filhos se sintam culpados pelo próprio desenvolvimento e muitos até mesmo abdicam de si próprios para não contrariar a mãe que amam. Não é fácil ser filho, assim como não é fácil ser mãe. Os relacionamentos sejam de qual natureza for são complexos e necessitam de muita delicadeza e reflexão. A mãe, para estar bem, precisa aprender a aceitar que seu filho, que já lhe pertenceu por um tempo, tem vida própria. Fez o melhor que pôde o seu papel e se este foi desempenhado a contento o filho pôde ter crescido de maneira favorável e que já não mais precisa dela. Não precisar dela não implica o fim do relacionamento, mas apenas uma transformação. Onde antes havia uma ligação de dependência passa a existir uma ligação de independência. Deixar o filho seguir adiante é difícil, mas extremamente necessário.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Pergunta de Leitor - Paixão pelo Controle



Tenho 46 anos e sou muito bem de vida. Nunca casei e sempre tive mulheres a vontade e ao meu dispor. O que acontece é que sempre só saio com mulheres muito mais jovens do que eu e sempre foi assim na minha vida. Quando tinha 17 anos a menina com quem saía tinha 15, quando eu tinha 23 anos a menina tinha 18. Hoje saio com uma menina de 21 anos. Não consigo me relacionar com ninguém mais velha. Não quero parecer superficial e machista, mas até acho algumas mulheres mais velhas interessantes, mas é mais fácil ficar com as meninas mais novas. Estou te escrevendo porque não consigo pensar sobre o que isso seja, apesar de desconfiar da psicologia. Acho que cada um deve cuidar de si mesmo e que a psicologia é uma perda de tempo, afinal ela não tem como resolver o meu problema. Mas acho que preciso lhe perguntar o que você acha de mim.

            Você considera a psicologia uma perda de tempo, mas precisa perguntar e pedir pelas palavras de um psicólogo. O que será que isso quer dizer? Provavelmente que você não desconsidera a psicologia tanto assim, mas que teme se relacionar com alguma pessoa fora do seu controle. Por isso prefere se relacionar com quem você tem algum tipo de domínio.
            Relacionar-se com alguém mais jovem que você te dá mais controle sobre o relacionamento. Te dá mais poder e segurança. Aliás, não é bem mulheres mais jovens com quem você se relaciona, não é a idade que realmente é o ponto principal aqui, mas a ingenuidade. O que você procura nas meninas não é a tenra idade, mas o quanto elas são despreparadas nos relacionamentos e por isso mesmo facilmente manipuladas. Você sofre de paixão pelo controle.
            Alguém que tenha mais experiência parece te assustar. Você foge de mulheres que estejam num nível de experiência mais elevado, apesar de achar algumas até interessantes, porque com estas você seria muito mais exigido num eventual relacionamento. E mais ainda, você também, com estas mulheres, não teria o controle absoluto. Não que você tenha o controle de fato com as mais jovens, mas é muito mais provável que você assim sinta e quando as mais ingênuas vão aprendendo as coisas é bem capaz do seu relacionamento terminar e você ir atrás de outra menina ingênua. Isso vira uma repetição sem fim e sem resultado algum.
            Assim como você ousou a se “abrir” com um psicólogo talvez possa aprender a se abrir mais em sua vida e procurar superar os medos que te impedem viver um relacionamento mais verdadeiro. A grande verdade é que se relacionar não é mesmo fácil e é fonte de inúmeras angústias. O medo de que a gente vá sair machucado é grande e até mesmo real. Por outro lado, se imobilizar pelos medos nos faz perder experiências importantes na vida, que jamais deveríamos abrir mão. Está na hora de você decidir do que quer abrir mão: dos medos que sente ou de uma vida plena que pode viver?

segunda-feira, 4 de julho de 2016

A Cura Gay e o Autoritarismo



            A psicanálise teve e tem um papel importante na compreensão da sexualidade humana. Antes dela a sexualidade era exclusiva do campo da biologia e de suas determinações. Em 1905 Freud publicou um texto que abalou tudo o que se pensava até então. O artigo Três ensaios sobre a teoria da sexualidade mostra que a sexualidade é tão variada e complexa que tentar explica-la apenas sob uma ótica biológica seria ingênuo. Neste mesmo texto Freud também separa a sexualidade da reprodução, ou seja, a sexualidade não mais está vinculada apenas para fins reprodutivos, mas é algo que faz parte de nossa identidade.
            Já que a sexualidade não tem fins estritamente reprodutivos não dá mais para dizer que a homossexualidade não é natural. A sexualidade ultrapassa o corpo e está inscrita na fantasia, que pode ser várias. A forma que cada um vive sua vida sexual é de foro íntimo e diz respeito ao que é possível para cada um. Talvez possamos dizer que o ser humano não é heterossexual, homossexual ou bissexual. O ser humano é simplesmente sexual.
            Para aqueles que temem que a homossexualidade vá corromper todo mundo e que não mais haverá casais heterossexuais, bem, no mínimo podemos dizer que essa afirmação é ridícula. Na história sempre houve homossexuais e teve até mesmo povos que a consideravam um destaque social, como os antigos gregos. Nem por isso a Grécia deixou de existir. Agora, podemos entender que quando o direito de alguém viver sua sexualidade passa a ser questionado é porque o autoritarismo ronda e isso é um péssimo sinal de como andam as coisas.
             A cura gay é projeto autoritário pois define o que é ou não ser normal, como se conceito de normalidade existisse. Em psicanálise diz-se que é cura quando há o cuidado consigo próprio e não quando alguém atinge esse ou aquele ideal. Desejar pelo outro deveria ser considerado crime já que priva o indivíduo de sua liberdade de se construir como realmente pode. Nenhuma figura autoritária reconhece a diferença e tem por ela ódio. Tem tanto medo do que não é capaz de entender que ultrapassa limites e decide o que pode ou não. Nenhuma autoridade pode decidir como cada um tem a possibilidade de vir a ser.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Pergunta de Leitora - Ou Um ou Outro



Tenho um filho que é homossexual. Quando eu soube fiquei muito arrasada. O problema é que sou muito religiosa e de acordo com as leis homossexualidade é um terrível erro. Não quero que meu filho se perca e se torne uma pessoa que estrague a própria vida. Não nos entendemos mais, não conversamos mais como antigamente. Estamos distantes um do doutro. Mas é difícil para mim mudar de opinião quanto à homossexualidade. Sempre tive a certeza de que essas coisas só aconteciam quando os pais eram desajustados ou não tinham uma família consistente. Está certo que minha família não é perfeita, mas penso que também não é das piores. Então por que isso foi acontecer? Logo com meu filho?

            É um engano acreditar que a homossexualidade só aparece em famílias desajustadas. Como se ser homossexual fosse uma consequência de um problema familiar ou da falta de firmeza dos pais. Quando o deputado/pastor Feliciano disse que jamais teria um filho homossexual, pois ele saberia criar bem os filhos, é um tolo que não sabe o que diz, ou melhor, é um arrogante que pensa que entende algo que não tem a menor capacidade de entender. Esse engano, de achar que homossexualidade se trata de um desajuste, é fruto do preconceito e da ignorância que advém da arrogância.
            Nas suas palavras, segundo as leis a homossexualidade é um erro. Que leis? Está se referindo as leis da sua igreja? Ou se refere a interpretação que algum religioso que se propõe a falar sobre o que não entende? A vida e variedade de se viver é complexa demais para ser limitada por algumas poucas visões. Ninguém precisa engolir tudo o que é dito em tom de autoridade. Você pode ser religiosa, mas não precisa levar tudo a ferro e a fogo.
            Entender as coisas literalmente e de forma rígida é que é um terrível erro, porque isso torna a pessoa cega e sem capacidade para pensar. Para muitos religiosos a sexualidade tem fins apenas reprodutivos. Ora essa! Que besteira! Freud, em seu famoso texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, de 1905, apresentou que a sexualidade vai além da reprodução e que é uma forma de se ligar à vida. Sendo assim, a homossexualidade é mais uma forma de amar e ser amado, já que amar é se ligar a algo. Está na hora de usarmos nossas mentes para se pensar sobre a vida e parar de agarrar ideias pré-concebidas que só carregam nas tintas da ignorância.
            Mudar de opinião é sinal de maturidade e de desenvolvimento. Só não muda de opinião as pessoas mais fracas e mais doentes. Que tipo de pessoa é você? Está na hora de decidir. Você já percebeu isso tanto é que ousou escrever para mim e se expor. Hoje você precisa escolher se vai perder o filho ou a ideia preconceituosa. Os dois juntos não poderá ter. Boa sorte para ser sábia e fazer a melhor escolha para você.