segunda-feira, 29 de junho de 2020

As máscaras caem


        Aqui em Londrina os casos de infectados por Covid-19 e a letalidade consequente estão cada vez maiores. Em parte, isso ocorre devido ao próprio desenvolvimento da infecção e, em grande parte, devido ao relaxamento de muitas pessoas com cuidados pessoais. Com esse aumento vemos dois tipos de reação: algumas pessoas redobram seus cuidados e tomam todas as atitudes necessárias para se preservarem enquanto outras negam ainda mais os perigos que correm. São dois comportamentos opostos e muitos vêm se perguntando por que isso ocorre.
          As pessoas que se cuidam têm uma consciência maior de sua própria humanidade. Entendem que por serem humanas estão submetidas às leis naturais e que são vulneráveis a toda uma série de riscos. Por compreenderem isso aprendem então a se cuidar de maneira eficiente. Essas pessoas também são mais sensíveis e percebem que cada vez mais pessoas próximas, da família ou não, adoecem e, por conseguinte, procuram se proteger o máximo possível para não virarem mais uma estatística.
          Já as pessoas que não têm muita, ou nenhuma, consciência de sua humanidade não conseguem "ver" o perigo. Acham-se sobre-humanas e negam qualquer sentimento de medo que possam vir a sentir. Sentir medo acabaria com suas fantasias de invulnerabilidade, as tornariam humanas e pessoas assim temem intensamente lidar com a condição fragilidade da condição humana. Elas se perigam para provar sua força e obrigam os outros a se perigar. Sim, porque quando alguém se periga coloca os outros em perigo também. Parece até que há pessoas por aí que gostariam de estar arrancado as máscaras protetivas que aqueles mais cuidadosos usam. Já perceberam isso? Se pudessem o fariam.
          Sabia que há pessoas infectadas com HIV, por exemplo, que têm prazer em sair espalhando o vírus entre os demais? Elas até sabem que o HIV é uma doença que traz consequências severas na vida de alguém. Que vai influenciar para o resto da vida muitas coisas, mas, mesmo assim, insistem em negar isso e vivem como se não tivessem nenhuma responsabilidade. Pois é, não é só com a Covid-19 que esse descaso acontece, nem só com doenças orgânicas, mas com muitas outras coisas que permeiam as relações entre as pessoas.
          Há também aquelas pessoas que no começo negavam e duvidavam dos perigos dessa pandemia, não se cuidando apropriadamente, mas que, ao verem pessoas próximas se contaminando, acabaram se cuidando. Para elas foi necessário se dar conta de algo que estava acontecendo perto. Sim, porque muita gente só se dá conta quando acontece algo logo ali ao lado, não conseguindo enxergar mais longe, naquilo que está fora de seu campo visual. Pelo menos estas passaram a ser mais cuidadosas e mudaram para melhor a maneira como se tratam e tratam os demais.
          Nesse momento tão difícil que todos vivemos e no qual devemos usar máscaras faciais para nos precaver, muitas outras “máscaras” caem. Usamos máscaras físicas, mas as máscaras que as pessoas usavam no seu dia a dia para se esconder dos outros agora caem e revelam nitidamente como cada pessoa se porta, realmente, consigo mesma e com o mundo. Vemos com muito mais clareza quem se acha onipotente e quem se cuida com mais amor. Distinguimos quem tem para consigo um relacionamento mais sadio e quem tem sérios problemas com a própria vida.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

E se a vida tivesse apenas 24 horas?


      É interessante observar como as pessoas lidam com suas vidas. É até triste, porque o que mais vemos é como elas desperdiçam suas vidas e como gastam tempo e energia com coisas que, na verdade, não têm valor algum e nem engrandecem. No fundo a vida é bem curta e quem não sabe tirar o melhor proveito dela acaba perdendo sempre. Apesar de isso ser amplamente conhecido racionalmente pela maior parte das pessoas, são poucas as que realmente procuram viver bem.
     Imagine que a vida inteira coubesse num único dia. Fica mais fácil visualizar o que quero dizer dentro de um dia de 24 horas. Nesse dia temos tarefas a serem cumpridas, relacionamentos a serem vividos, situações a serem enfrentadas, etc. A questão passa a ser, então, como vivemos este dia. Podemos vivê-lo bem, fazendo tudo o que precisamos, e podemos, da melhor forma possível, aproveitar tudo o que estiver ao nosso alcance de maneira digna e alegre. Temos uma grande responsabilidade em como vamos viver esse dia.
      Uns resolvem brigar com tudo e todos. Tiram o dia para implicar sobre tudo e assim, o estragam. Pode até haver um belo dia ensolarado, mas a pessoa nem vai poder aproveitar já que, por dentro, o tempo está completamente fechado. É só reclamação atrás de reclamação. Todos estão errados, tudo está uma porcaria e nada presta. Uma pessoa que escolha viver o dia assim certamente vai odiar e, quando ele acabar, porque sempre acaba, o dia foi vivido pessimamente. Não foi um bom dia, mas uma tortura.
     Outros resolvem viver apenas tendo prazer atrás de prazer, sem nenhuma consideração consigo mesmos. Logo no início do dia tomam todas as bebidas e comem todas as comidas e logo caem, sem conseguir aproveitar o resto do dia. Ficam sem condições de continuar a usufruir o que têm pela frente. Não têm nenhum cuidado consigo próprios e terminam o dia antes da hora e de maneira indigna.
      Há aqueles que tiram o dia para prejudicar os outros. Querem passar a perna em todos, roubar tudo o que puderem, se apropriarem de tudo sem a menor consideração e, quem ousar atrapalhar, pode até ser morto porque ficou na frente. O dia chega ao fim e essas pessoas que fizeram tanto mal não ficam mais ricas nem melhores que ninguém. Para elas o dia acaba como para todas as outras pessoas. Suas puxadas de tapetes nos outros não as tornam mais poderosas.
     Também há pessoas que não fazem nada durante esse dia. Não saem para aproveitar nem para conversar com ninguém. Algumas nem levantam de suas camas e ficam esperando o dia acabar. Acordam no começo do dia e o terminam deitados e prostrados, vivendo um enorme sentimento de tédio. A vida passa e essas pessoas nem percebem, nem se dão conta.
     Há muitas outras maneiras de se viver mal o dia/vida. Felizmente, temos, na maior parte das vezes, chances de escolher como vamos viver, como vamos encarar o dia/vida à nossa frente. Podemos aproveitar bem ou podemos gastá-lo com coisas improdutivas. Fica a critério de cada um decidir como vai viver esse dia. Você vai vivê-lo ou desperdiçá-lo?

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Não queremos mudar



      Hoje, o assunto que mais se fala nas mídias, e com razão, é sobre o novo Coronavírus. Afinal, a pandemia quebrou nossa rotina, nos deixou numa posição de extrema incerteza, derrete negócios e empregos e nos dá um medo de como as coisas serão daqui para a frente. Não há mesmo como isso não ser notícia. Acredita-se que com tudo o que estamos vivendo poderemos mudar e aprender a viver melhor. 
    Creio mesmo que algumas pessoas não serão mais as mesmas e aprenderão coisas importantes nesse período tão difícil, mas vejo também que outras pessoas negam qualquer necessidade de mudança que precisamos encarar, o que é um fato muito triste. Enquanto todas as notícias se voltam para os horrores da pandemia, deixamos de ver ou prestar atenção no fato de que nunca se desmatou tanto a Amazônia quanto agora. Pela falta de fiscalização e pelos interesses voltados a outras questões no momento, os madeireiros estão fazendo a festa e já desmataram áreas do tamanho de cidades de grande porte. 
     Como se vê, queremos que as coisas melhorem, mas não queremos mudar. Desejamos que tudo se torne melhor, mas sem que tenhamos que transformar a forma como nos relacionamos com o mundo à nossa volta. Isso é muito comum, infelizmente. 
     Há inúmeras pessoas que reclamam que suas vidas não estão nada boas, que as coisas estão ruins, mas elas mesmas resistem em mudar. Querem que as coisas mudem, que os outros mudem, mas negam ver que muito do que vem acontecendo é devido a elas próprias terem determinadas atitudes e posicionamentos na vida que levam àquele resultado desapontador.
     Quando alguém está insatisfeito com a própria vida precisa mudar, necessita buscar uma transformação. Não adianta querer que as coisas lá fora, externamente, mudem. Desejar isso é ficar numa posição bem cômoda, mesmo que traga sofrimento. Ficar apenas esperando que tudo mude é algo que só leva à infelicidade. Chega um momento em que nós temos que mudar, procurar outros caminhos e aprender a lidar com a vida de outras formas. Aí mudamos e, com isso, nossa vida pode mudar também.
     Se insistirmos que o mundo tem que mudar para se adequar ao que desejamos ficamos mesmo em maus lençóis. Parece que é bem assim que as pessoas têm se portado e terminam por reclamar que as consequências são sempre as mesmas catástrofes. Continuamos, em muitas áreas da vida (ambiental, financeira, política e, principalmente, pessoal), fazendo as mesmas coisas, incorrendo nos mesmos equívocos e depois nos surpreendemos e reclamamos quando os resultados são sempre os mesmos. 
    Algumas pessoas se recusam a mudar. Enquanto não há mudança interna, nada lá fora muda. É muito simples, apesar de extremamente custoso e trabalhoso viver isso de fato. Geralmente as coisas mais simples são as que demandam mais trabalho. Se eu me relaciono comigo e com os outros da mesma forma, não haverá mudança. Se um povo se relaciona com sua política, sua economia, seu meio ambiente, suas relações sociais da mesma forma, como pode haver uma mudança?
   Como já disse Gandhi “A única revolução possível é dentro de nós.” Pena que muitos repitam essa frase, mas poucos se prontifiquem a vivê-la.


segunda-feira, 8 de junho de 2020

O que é liberdade?


     Quando perguntadas sobre as coisas que tornam a vida feliz, a maior parte das pessoas fala, logo de cara, que é ser livre. Liberdade é altamente valorizada, mas poucos realmente entendem o que ela é. Quando procuramos algo que não entendemos a chance de tomar caminhos errados é grande, o que acaba trazendo muitas decepções e perdas de tempo. 
     ​Acredita-se, erroneamente, que liberdade é fazer o que quiser, o que vier à cabeça, no momento que desejar. Isso não é a verdadeira liberdade, mas um estereótipo muito prejudicial. Se fazemos tudo o que queremos, estamos, na verdade, presos. A pessoa verdadeiramente livre não sai fazendo tudo o que deseja, até porque, entende que fazer isso pode levar ao perigo. A pessoa livre escolhe o que quer e o que pode fazer.
     ​Fazer tudo o que se deseja é ficar submetido aos caprichos da mente, ser mandado por ela, então não tem como uma pessoa assim ser realmente livre. A mente pode nos tiranizar violentamente e nos obrigar a ser escravos de suas vontades e desejos. Como isso seria liberdade?
    ​Liberdade implica dirigir a própria vida, tomar as rédeas de si mesmo e saber escolher. Quem sabe escolher vai escolher, sempre, o melhor. Não vai se colocar em risco e saberá valorizar o que importa. Veja uma pessoa que sai com bastante frequência e bebe muito, a um ponto que isso começa, com o passar do tempo, a prejudicar muitas áreas de sua vida. Ela pode até achar que é livre para fazer o que bem entende, mas na verdade ela se engana. Ela não é livre, e sim, escrava de atitudes e de funcionamentos internos de sua mente que a deixam aprisionada numa repetição que limita a vida. Ela começa a estragar suas possibilidades, seus relacionamentos, seu trabalho, etc. Uma pessoa assim é livre?
    ​Há muitas outras pessoas que usam drogas e se sentem livres ao fazer isso, alardeiam em alto e bom som o quanto são livres, mas, mais uma vez, vemos que elas estão escravizadas por alguma coisa interna que “toma a direção” de suas vidas e elas se tornam apenas fantoches que necessitam seguir um roteiro pré-estabelecido. Isso se dá em muitas dimensões de nossas vidas. Até na vida sexual, por exemplo, isso ocorre. Há aqueles que saem a torto e a direito com qualquer um para relações rápidas achando que são livres, enquanto estão presos a uma busca desenfreada por prazer físico a qualquer custo. 
  ​Já uma pessoa livre tem mente para poder pensar a vida. Ela desenvolveu sua capacidade de pensar a ponto de permitir escolher o que realmente lhe convém. A pessoa livre não entra em qualquer barca furada, não faz qualquer coisa apenas por fazer e não aceita qualquer convite. Ela escolhe, ou melhor, seleciona no que vai se envolver. 
   ​A verdadeira liberdade não é se jogar num barco e deixar que a maré e os ventos decidam sozinhos, mas ajustar as velas para chegar onde se precisa estar de fato para poder crescer. Liberdade é poder pilotar o próprio barco da melhor maneira possível, sem esquecer de se cuidar de forma eficiente.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

O que é ser homem ou ser mulher?


     Em entrevista para uma revista, uma personalidade conhecida na mídia brasileira e até internacional falou coisas que me fizeram refletir bastante sobre a confusão de grande parte das pessoas sobre o que é ser homem e mulher. Esta "celebridade" se submeteu a várias cirurgias plásticas para ficar com barriga tanquinho, deixar os braços com aparência musculosa e muitas outras intervenções para se tornar um homem idealizado. Com tantos procedimentos cirúrgicos até teve sérios problemas de saúde, mas mesmo assim, não encontrando satisfação, decidiu que agora quer ser mulher. Nas palavras dele próprio, ele sente que falhou como homem, então agora, acredita que tem que ser mulher. Para isso já fez várias cirurgias e ainda fará mais. Tirou costelas para ter uma cintura fina, injetou gordura no quadril para alargá-lo e colocará silicone para formar seios. E pretende ainda se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo.
     Obviamente há pessoas transexuais que desde uma idade muito precoce se sentem desconfortáveis com o próprio corpo e necessitam passar por procedimentos que modifiquem o sexo. Há muito sofrimento envolvido nesses casos e estas pessoas necessitam de toda uma equipe multidisciplinar para conseguir passar e “digerir” tantas transformações. É um trabalho sério e que requer muito cuidado e respeito com o/a paciente. Agora, uma coisa bem diferente é a pessoa acima, que está presa às idealizações e nem se dá conta do que faz consigo própria.
     O que é ser um homem? O que é ser uma mulher? Na verdade, isso é muito mais que uma questão física. Para a celebridade que citei ser homem parecia que era ter barriga tanquinho, músculos visíveis e avantajados, etc. Mas isso não faz um homem realmente. Ser homem é uma questão interna, uma questão de identidade que vai se formando. Não é um corpo, por mais masculino que ele seja, que torna alguém homem. Passa pela mente, pelo interno e não pelo corpo. Ter todos os atributos físicos que relacionamos com a virilidade não fez com que ele se tornasse homem e, ao se dar conta disso, ele chegou à conclusão, então, que só poderia ser mulher. Porém, há outro terrível engano aí também. Porque ele acredita que agora, com um corpo portando atributos associados à feminilidade, vai se tornar mulher. Vemos aí como a falta de uma mente pode colocar alguém em risco e a se perpetuar em atuações que levam sempre a ações e não a reflexões.
     Seios, quadril largo, cintura fina não formam uma mulher. Uma mulher é muito mais que seu corpo, é também um estado de mente que vai se formando ao longo da vida e das muitas experiências que vão sendo processadas. Quando esta pessoa chegar a ter o corpo feminino que deseja também encontrará um vazio e insatisfação. Esta celebridade está procurando fora, no corpo externo, uma identidade que só pode ser construída internamente. Quando procuramos nos lugares errados o que de fato precisamos na vida mais vazios e desesperados ficamos. Mais nos enganamos e riscos desnecessários corremos. Ser homem ou mulher não se resolve lá fora, mas acima de tudo, na construção de uma identidade interna.