segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Agradecimento e Aviso de Férias



         Agradeço a todos que participaram do Blog Mundo Vivo: lendo, comentando, sugerindo e perguntando. Quando alguém escreve, geralmente, é para si mesmo, mas depois a escrita se torna algo maior e diferente, pois ao ser lida e ser objeto de reflexão  de outros, é “digerida” e processada e vira um novo ser. Eu sei o que eu escrevi, porém é impossível dimensionar o que essa escrita vai se tornando à medida que é lida por variadas pessoas. Nesse encontro, entre escritor, leitores e participantes, surge sempre um mundo vivo e rico. Só tenho a agradecer.
         Aviso que com esse texto de hoje, 21 de dezembro de 2015, entro em férias e retorno dia 08 de janeiro de 2016. A todos um bom final de ano e um começo de ano melhor, cheio de novas possibilidades favoráveis. Até...

Reflexões de Fim de Ano



            Ao término de um ano geralmente temos o hábito de fazer reflexões. Muitas pessoas usam essas reflexões de maneira cruel: sentem-se mal e fracassadas em relação à própria vida e desanimadas sobre o que acontece na sociedade. Utilizam-se das experiências de vida para se ressentirem. Só que isso é puro impulso destrutivo. Devemos ser realistas, e não destrutivos, quando fazemos nossas reflexões.
            Este ano tivemos muita violência mundo afora e muita corrupção nesse nosso país. Corrupção que pode ser tão ou até mais destrutiva que muitos ataques terroristas. Desastres ecológicos de enormes proporções destruíram muitas famílias e o ambiente. Fora as noticias de assaltos, estupros e violência gratuita que nem contabilizamos mais. Tudo isso é motivo para nos desanimarmos e perdermos a esperança de que algo bom posso advir desse bicho chamado homo sapiens ou desse mundo.
            Entretanto, tivemos casos, nesse mar de más estatísticas, de pessoas honestas e comprometidas com um mundo melhor. Gente solidária que correndo riscos ajudam outros a crescerem. No Oriente Médio há pessoas lutando para que meninas possam estudar e não só os meninos. Há vizinhos que salvaram vidas com seu bom coração em todo o lugar do Brasil. Pessoas lutando por uma vida melhor e por menos roubalheira e pouco caso. Há os que também tornam a vida dos animais mais digna, protegendo-os dos maus tratos. Há boas notícias, mas nos esquecemos delas.
            Isso, de nos esquecermos do que é bom, ocorre porque damos muito mais valor ao que é ruim. Nossos valores estão deturpados. Nos perdermos em trocas de acusações, cada um, cada grupo se achando donos da verdade, que não mais sabemos conversar, respeitar e cuidar. Digo sempre que não é a política que precisa mudar apenas, nem as relações sociais, nem as religiões, mas a maneira que nos relacionamos conosco e com os outros. O resto é consequência. Nada adianta promover revoluções sociais se a mente é a mesma e tudo se repete. Precisamos da revolução da mente e esta não requer violência, mas a capacidade para pensarmos sobre como vivemos. Precisamos aprender a pensar sobre o que fazemos com nossas vidas.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Pergunta de Leitora - Sob a Espada


Eu tenho 27 anos e estou passando por um momento delicado da minha vida. Sempre fui alegre e descontraída, mas hoje parece que tudo deu errado. Abandonei meu trabalho para montar algo para mim mesma, sinto-me feliz, mas não me sinto completa e ultimamente tenho vontade de sumir, ir para outro país, para outro lugar. Sinto que não sou amada, estou enorme de gorda, não sou atraente, namoro com uma pessoa já tem 2 anos, mas eu enjoo facilmente, e dessa vez resolvi ficar mais tempo por teimosia, por que na verdade já não gosto dele. Será que é depressão? O que devo fazer, estou sem forças e me sinto fraca.

         Você saiu do emprego que tinha, estava feliz, resolveu montar o próprio negócio e percebe que agora não está mais bem. Será que há alguma associação aí entre liberdade e responsabilidade? Talvez fosse bom investigar.
         Se a sua intenção era se sentir completa na vida precisa entender o que de fato quer dizer com ser completa. Afinal, na vida nunca ficamos completos já que a vida implica a gente sempre ter que lidar com uma falta. Desejar o impossível traz infelicidade porque nunca poderá ser alcançado.
         Talvez o que você deseje seja inatingível e para isso se faz necessário aprender a desejar o possível. Você está acima do peso, você diz, e isso me faz pensar que você tem uma grande fome pela vida, mas vem substituindo o calor das experiências de vida pelas calorias. A comida é fácil de ser alcançada, mas viver exige mais. Parece que você não conseguiu ver que a sua felicidade está na sua responsabilidade de poder começar a fazer escolhas que realmente te realize. Você quer que algo te preencha, daí a comida, mas não percebeu ainda que o que necessita está na dimensão subjetiva e não concreta.
         Depressão significa uma recusa em fazer investimentos afetivos, é um fechar-se em si mesma, é um cortar as ligações com a vida. Isso é fácil. Difícil é aprender a lidar com o que você sente sem precisar ficar no fio da espada. Portanto é compreensível quando diz querer sair do país e se mudar, mas você encara isso literalmente, quando na verdade está dizendo que você quer e precisa mudar. Numa análise poderá se ouvir e entender o que faz consigo mesma. Aprenderá a escutar o seu inconsciente e não mais precisará repetir aquilo que só te deixa mal. Entre o saber do divã e o corte da espada, creio que você compreende qual vai te ajudar. 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

É uma Doença


            O vício, por drogas e álcool, é sempre algo que causa incômodo e muitas vezes é tratado como se fosse sem vergonhice ou falta de caráter. É preciso aceitar o vício como ele realmente é: uma doença. Uma doença emocional, mas infelizmente doenças emocionais são para um grande numero de pessoas considerada uma doença menor. Enquanto essa visão não for modificada ficará longe o dia em que algo realmente será mudado nessa área.
            Vício ou compulsão se trata de um distúrbio emocional, pois afeta a mente, a maneira que a pessoa lida com a própria vida. Alguém fica viciado porque não constrói, internamente, nada melhor para colocar no lugar. É uma pessoa, em termos mentais, empobrecida e se prende a algo no intuito de aplacar uma falta. Mas faltas internas a gente não tampa com qualquer coisa senão corre-se o risco de colocar no lugar uma ilusão, algo que só vai dar uma falsa sensação de completude.
            Todo viciado quer uma experiência, algo até como uma experiência espiritual, que lhe dê segurança e forneça um sentido. O viciado procura por uma verdade interna significativa, mas a quer encontrar rápido e facilmente e a droga ou bebida fornece uma falsa sensação de completude. Por não ser uma construção interna verdadeira fica-se dependente do que se recebe de fora e cria-se então o comportamento compulsivo, que nada mais é do que ficar preso a uma repetição. Repetir-se é doença emocional.
            A verdadeira solução para o problema das drogas e do vício não está em proibir a droga ou legalizar o seu uso, não está na política ou na economia da sociedade, se bem que esses fatores também devem ser considerados, pois têm lá sua influência. Mas a resposta para esse problema só poderá ser efetivamente solucionado a medida que houver uma revolução, mas não de armas, mas de mente. É a medida que a mente for cada vez mais entendida e trabalhada já que esta tem parte fundamental nas origens de nossas atitudes. Quem assume a existência e a importância da mente assume a responsabilidade por seus atos. Nada adianta apenas atacar o material (as drogas e a bebida) enquanto a mente continuar presa e não for refinada. Cada vez mais acordar para a nossa vida interna se faz vital.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Pergunta de Leitor - Desatar os Nós


Tenho um relacionamento gay, mas sou casado com uma mulher, mas eu gosto mais do meu parceiro, mas não tenho coragem de assumir, eu quero e tento mas não consigo, pois fico pensando na sociedade, na minha família, o que dirão. Tem o que dizer para me ajudar?

         Assim como você muitos homens vivem essa mesma situação, que traz muitas dúvidas e sofrimento. O conflito aí está entre o ideal e o que se pode viver de fato. Quando alguém fica entre esses dois a angústia se instala.
         O ideal que você tem e alimenta é o ideal da família tradicional: casal formado por um homem e uma mulher. Esse ideal é aceito mais facilmente e simplifica bastante muitas coisas relativas ao dia a dia na sociedade, trabalho e no convívio familiar. Você preza esse ideal, senão não seria difícil abrir mão dele.
         Entretanto, mesmo sob esse ideal você vive uma vida secreta: tem um amante que ama. Porém, esse relacionamento é oculto e cheio de limites que uma vida secreta impõe. Fica insatisfeito porque não vive como deseja já que deseja um ideal que lhe é impossível. Está aí a raiz do conflito.
         O que vai precisar é entender o por que se colocou nessa situação de conflito. Pois a sua posição atual não lhe é satisfatória. Tem que ver se é capaz de abrir mão de algo, seja do ideal ou do relacionamento que possui, sem pagar um preço alto demais. Talvez agora você nada possa fazer a respeito disso pois precisa tanto do casamento tradicional quanto da relação secreta com o amante. O melhor, então, é esperar até saber que caminho pode pegar. Para isso se faz necessário a análise onde você aprenderá a se auto escutar e saber mais de si. O que lhe falta é o autoconhecimento que te permitirá entender onde você se coloca. Só assim saímos de nossos conflitos e desatamos os nós que amarramos ao longo da vida. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Visão mais ampla


            A psicologia é ampla, sendo o seu objeto de estudo o próprio ser humano. O problema é quando a psicologia fica recortada em variadas partes que causam mais confusão do que esclarecimento. A sexologia, por exemplo, é um desses recortes que mais atrapalham do que ajudam, trazendo muito mais mal-entendidos do que uma verdadeira compreensão das nossas características. É que olhar as coisas através de recortes dá uma visão limitada e empobrecida, ou seja, o entendimento fia muito reduzido.
            Problemas sexuais de base psicológica, obviamente, são comuns e precisam ser tratados, mas o que é tratado não é o problema sexual em si, o sintoma, porém a pessoa que desenvolveu determinado problema. Procurar entender somente o sintoma é reduzir muito o humano e leva a uma ignorância sobre uma compreensão mais abrangente do que de fato acontece.
            Quando alguém desenvolve um determinado sintoma, seja de ordem sexual ou qualquer outra natureza, é o individuo que adoeceu e não apenas uma parte. Um sintoma psicológico é resultado de uma mente que não anda funcionando de forma eficaz. Ser eficiente psicologicamente é viver de maneira prazerosa, sem muitos “custos” internos. Portanto, quando alguém está enfrentando dificuldades em algumas áreas não adianta olhar através de recortes limitadores, mas através de um entendimento mais amplo. É preciso procurar significados para o que se ocorre.
            A sexologia propõe uma visão reduzida dos problemas, como se todas as dificuldades sexuais pudessem ser tratadas com repetição de exercícios e algumas compreensões muito mal elaboradas. Quem está mal no plano da sexualidade está mal na maneira como vive, o problema é mais interno e só pode ser verdadeiramente compreendido e resolvido a medida que se lida nesse dimensão mais interna. Psicoterapia é uma forma eficaz de se lidar com problemas de natureza psicológica. Não adianta, como se diz no ditado popular, Tapar o sol com a peneira, isso é só enganar e evitar enfrentar o real problema que se tem. Com as dificuldades humanas é preciso desenvolver uma visão mais ampla. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Pergunta de Leitora - Vítima Desnecessária


Queria ter acompanhamento médico, mas não tenho condições ainda. No momento estou em um casamento em que meu marido não me deixa fazer nada. Eu gosto dele, ele me dá o cartão de crédito, mas sou eu que pago. De certa forma eu estou acomodada a ele, mas ele me bate, as vezes ele chega nervoso e me bate. Quebrou nossa pia, a minha cristaleira, ele também não deixa eu visitar minha família, ele não gosta de ninguém e não tem amigos, eu me sinto mal por que eu gosto dele, e as vezes ele é muito carinhoso, mas eu vivo roxa de tanto apanhar dele, o que eu faço? Tem como ele mudar?


         Você vive uma relação abusiva e violenta. Paga as contas, se priva da liberdade e da própria autoestima. Tem suas coisas quebradas e apanha, tanto que vive roxa. Mesmo assim você diz que ainda gosta dele. O que será que isso significa?
         Provavelmente, significa que você não entenda o que seja amor. O que você vive com esse marido não tem nada a ver com o amor. O conceito do amor lhe está distorcido, ou seja, você encara como amor o que é violência, desprezo e barbárie. Talvez, inconscientemente, é o que você acredita que mereça. O que te faz suportar tanto abuso é uma imensa baixa autoestima, pois quem se quer bem não fica num relacionamento desses.
         Você se vale do pouco carinho que ele te dá, mas se pensar bem nada tem a ver com carinho, mas como forma de ele te controlar, porque ele sabe que você leva isso em consideração. Ele te mantém onde ele quer e você, sem perceber, autoriza e reafirma esse comportamento. Afinal, você deve pensar, se largá-lo quem poderá te querer? Por medo de abandonar o que já é conhecido você aceita qualquer negócio, mesmo que lhe seja prejudicial.
         Em vez de perguntar se ele tem como mudar, seria muito mais proveitoso se perguntar se você pode mudar. Na vida precisamos aprender a desejar o possível senão corremos o risco da infelicidade. Desejar que ele não seja assim não lhe cabe, pois não temos como desejar pelo outro. O que está ao seu alcance é desejar por si mesma. Deve aprender a gostar de si, já que quem gosta de si próprio não aceita qualquer condição de vida. Enquanto você não mudar continuará sendo vítima do que não precisa.