segunda-feira, 15 de abril de 2013

Vivendo Fardos



Há uma parábola budista que conta sobre um monge e seu discípulo que viajavam até se depararem com um rio que precisariam atravessar. Na beira do rio viram uma prostituta que precisava chegar a outra margem, mas que tinha medo de atravessar o rio, pois não sabia nadar e era pequena e frágil e receava que a correnteza a levasse. Ela pediu para o mestre ajudá-la e o mestre aceitou colocando-a sentada em seus ombros para o horror do jovem discípulo. Chegando na outra margem o mestre se despede da mulher que continua seu caminho. No entanto, por mais que tentasse o jovem discípulo não conseguia tolerar o horror pelo fato do seu mestre ter encostado numa mulher tão impura, mas por educação não fala nada. Depois de uma semana o mestre percebendo que algo ia mal com seu pupilo o incentiva a falar sobre o que o perturbava. O discípulo resolveu falar:
- Mestre, não entendo e não aceito como um homem tão sábio e sagrado como o senhor se permitiu carregar uma mulher tão impura.
O mestre caiu na gargalhada e respondeu: - Eu a carreguei só durante a travessia do rio e você a está carregando até agora!

            Essa parábola me faz pensar como muitas vezes desperdiçamos energias que seriam bem melhor usadas de outra forma, devido à nossa tendência em não mudar nosso ponto de vista. É importante saber pensar sobre algo que incomoda e pensar não significa ficar revivendo o que nos incomoda num círculo vicioso, porém significa encontrar meios de se elaborar aquilo que perturba.
            Carregamos com bastante freqüência fardos emocionais que não precisaríamos. Isso se dá porque existe nas pessoas uma tendência a evitar tudo aquilo que traz incômodo e exige um trabalho para mudar, que é o pensar. Não só tentamos evitar o pensar como também ficamos facilmente presos aos nossos preconceitos e idéias inflexíveis. Mudar como olhamos o mundo sempre origina um mal estar em boa parte das pessoas.
            Transformar nossas perspectivas é algo custoso e demorado, por isso mesmo olhamos para os fatos com o mesmo tipo de olhar do passado, preconceituoso e inapropriado, mas que agora pede uma nova revisão. Nem todas as maneiras que aprendemos a ver o mundo são benéficas, o que torna então as mudanças vitais. Se desfazer de visões antigas e preconceituosas é um trabalho de todos na sua vida particular e com essas pequenas mudanças individuais podemos criar uma grande mudança na sociedade como um todo.
            Nas filosofias orientais, antigas e sábias, o monge só pode possuir e carregar consigo seu manto, sua cumbuca de comida e um rosário. Podemos entender isso não só como um desapego das coisas materiais, mas principalmente como um desapego de todas as idéias erradas que carregava antes e que impedia de ter uma visão mais real e justa do mundo. Esse é o verdadeiro desapego que todos somos convidados a praticar: o despego daquilo que nos impede de nos tornarmos um verdadeiro ser humano. 

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