Uma matéria no programa da Ana Maria Braga foi ao ar
recentemente e causou toda uma série de diferentes opiniões da audiência. O
assunto era sobre como se comportar na praça de alimentação dos shoppings e o
profissional encarregado de apresentar a matéria passou dicas para uma melhor
convivência nesse espaço. O que mais me chamou atenção é que muitas pessoas se
sentiram ofendidas e reagiram com comentários bastante arrogantes sobre alguns
pontos levantados porque acreditam que tudo podem fazer, o que mostra a
dificuldade geral de se pensar no outro.
A praça de alimentação de um shopping é um espaço onde se
convive várias pessoas. Não há garçons para atender as mesas, só há faxineiros
para manter a limpeza do local, mas em teoria todos são responsáveis pelo bom
uso do local bem como de sua organização. No entanto não é isso o que vemos. Há
pessoas que se portam como se tivessem o direito de fazer o que bem quisessem e
que o próximo que se vire. Desde deixar mesas emporcalhadas e bandejas nas
mesas o que encontramos é que o espaço alheio e público não é respeitado. Em
certa medida isso nos mostra o quanto o outro não é considerado e isso é um
assunto sério.
Não estou falando aqui, como foi o objetivo do programa,
sobre etiqueta no shopping, mas me refiro a um exercício de observação de como
nos tratamos, como nos relacionamos. Não existe apenas eu no mundo, existem
também muitas outras pessoas. Respeitar o outro leva a respeitar o espaço
alheio seja no shopping ou em qualquer outro lugar. Nossas ruas estão cada vez
mais hostis cheias de violência e de perigos. Não respeitamos leis e nem o
espaço que compartilhamos. O outro e seus direitos passam a ser negados. A
pobreza nos nossos relacionamentos está nítida.
Relacionamentos pobres demonstram mentes pouco
desenvolvidas. O desenvolvimento que falo aqui não é o da racionalidade ou
intelectual, mas o sentimental. Não sentimos ou não nos permitimos sentir o
outro e negamos a sua existência. Sentir o outro implica uma mente que se
coloque no lugar do outro e que entenda que não deve fazer com o outro aquilo
que não gostaria que fosse feito consigo próprio. Em outras palavras isso é
compaixão e é esta que torna o mundo suportável e encantador. Não nascemos
humanos, mas nos tornamos humanos através dos relacionamentos. Quanto menor é o
número de relacionamentos bons que vivemos, menor é o desenvolvimento da mente
e consequentemente menos humanos somos.