Sou nova, tenho 28 anos e estou casada há dez
anos. Casei porque queria fugir de casa, meus pais são pessoas que não amo e
não confio. Minha mãe é uma típica Amelia, cheia de princípios morais. Meu pai
é um homem arcaico, cheio de regras e proibições. Achei que poderia ser feliz
com meu marido, mas ele não é o homem que amo. Estudei, me formei, sou inteligente,
mas não tenho meu ganha pão, de modo que sou dependente dele financeiramente.
Quando falei em me separar para os meus pais eles disseram que posso esquecer
deles, pois eles não me ajudarão em nada e que nem posso voltar para a casa
deles. Meu marido sabe que eu não o amo, e sabe que dependo dele. Não sei qual
pode ser a saída para mim. Já até pensei em mata-lo, cometer um crime para me
ver livre dele. Assim eu me sentiria livre para fazer o que quisesse. Vivo
enterrada na tristeza e decepção.
Será que você se leva a sério?
Provavelmente não. Porque se levasse não falaria tantas besteiras. Você se
coloca num cenário teatral e como uma atriz crê que precisa desempenhar um
papel, mesmo que seja o de vítima que é levada ao crime por circunstâncias
difíceis. Enquanto não sair do palco que encena viver será impossível.
Seus pais não são as pessoas que você
esperava e nunca demonstraram, ao que parece, amor e cuidado. Tanto que você
sente que precisou fugir e esta fuga foi o casamento. Inicialmente acreditou que o
casamento seria a solução e o passaporte para a liberdade. Assim não ficaria
presa aos preceitos rígidos paterno e a submissão da mãe-Amélia. Mas o plano
mostrou-se uma furada e o passaporte não teve validade.
Interessante falar da passividade da
sua mãe quando você mesma, sem perceber, vive assim. Estudou, se formou e é
inteligente, mas faz o que com tudo isso? Alguém te proibiu de trabalhar e
ganhar o seu sustento? Ou isso foi você mesma que decretou, sem nem mesmo se
dar conta? Quer se separar do marido que não ama, mas não almeja a
independência, pois quer a volta para a casa dos pais, que já foi negada.
Parece-me que você acredita que alguém tem que cuidar de você.
Quem quer ser livre deve trilhar esse
caminho e pagar o preço por ele. A liberdade não é dada, mas fruto de uma
conquista. Matar seu marido não é se libertar, mas amarrar-se por toda a vida a
ele mesmo que seu corpo não mais exista. O crime e ele sempre existirão tal
qual fantasmas e viver assombrada não é ter uma vida livre. Está precisando aprender
a viver de fato.
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