Há
algum tempo ouvi um importante e famoso psicoterapeuta brasileiro afirmar que
não havia mais demanda por análise longa e que os pacientes queriam coisas
rápidas e que não exigiam tempo e trabalho. Isso não poderia ser mais diferente
da realidade. Infelizmente, muitos terapeutas nada entendem deste trabalho e
causam prejudiciais estragos. O que me parece, sobre a afirmação acima, é que
esse profissional não tem condições de entender do que se trata a relação
psicoterapêutica.
Obviamente
que existem pessoas que não querem trabalhar seriamente consigo próprias. Isso
sempre existiu e sempre existirá. Entretanto, há também um bom número de
pessoas que querem muito trabalhar e desenvolver a si mesmas. Agora, não se
pode esperar que um paciente saiba conscientemente ou explicitamente a sua
demanda por este tipo de trabalho. Ninguém chega nos consultórios dizendo: “Olha, preciso de um trabalho analítico e não
vejo a hora de me aprofundar”. As pessoas chegam sofrendo e querendo se
livrar de seus sintomas o mais rápido possível. E é aqui que entra o verdadeiro
trabalho psicoterapêutico que não se importa apenas em ajudar o paciente com
seus sintomas, mas a levá-lo a refletir sobre o que ele faz consigo e
com a própria vida.
De nada adianta querer se livrar do que se
sente. Isso não é real e não tem como acontecer. É preciso suportar, tolerar o
que se sente para que algo que está interno possa ser compreendido e se
transformar. Não basta então se livrar de um sintoma, mas compreender como
alguém está vivendo e se relacionando consigo e com o mundo, para que esta dada
pessoa pare de se repetir e passe a encontrar maneiras mais eficientes e
prazerosas de viver. Enfim, é um processo de transformação. Quando os pacientes
conseguem ver isso, ou seja, veem os benefícios que se autoconhecer lhe
proporcionam o que eles mais querem é um trabalho verdadeiro.
O
problema está se o psicoterapeuta consegue tolerar a relação com seu paciente.
Estar com um paciente que sofre e que muitas vezes se encontra num estado de
intenso desespero não é fácil. Um psicoterapeuta que não tenha tido sua própria
análise pessoal não tem a menor condição para realizar esse tipo de trabalho
porque não saberá se preservar da dor e das confusões que serão despertadas
quando estiver com seu paciente. A tendência humana mais básica é fugir da dor
e como o psicoterapeuta também é humano vai se assustar diante da dor, de si
mesmo e do outro, se não tiver uma mente desenvolvida e que suporte lidar com
as ansiedades para poder transformá-las.
Já
cansei de ouvir relatos que contam de terapeutas que atendem telefonemas ou
mandam mensagens pessoais durante as sessões com seus pacientes, rezam com os
pacientes, dizem que os problemas dos pacientes não são sérios ou graves,
comparam seus pacientes com outros e por aí vai. São profissionais, se é que
poderiam ser chamados assim, que não suportam a relação psicoterapêutica e
enlouquecem. Um psicoterapeuta que não tem condições psíquicas de cuidar de si
mesmo vai certamente fugir da relação com seus pacientes não reconhecendo a
demanda do trabalho duro que se faz presente. Não vai querer, realmente, realizar um trabalho que dure o quanto for necessário para ajudar seu paciente. Um psicoterapeuta que não se
cuida pira da pior maneira possível.