Em várias pesquisas feitas no Brasil e em outros países
foi visto que, mais ou menos, dois terços de todos os jovens infratores e
delinquentes não tinham a figura paterna presente. Dois terço é um número
expressivo e que mostra que sem a função paterna muitas coisas podem desandar
no decorrer do desenvolvimento das pessoas. Mas o que significa essa função
paterna?
Em primeiro lugar o que importa não é o pai em si apenas,
mas a função paterna. Esta pode ser exercida por outros homens ou até por
mulheres. A mesma coisa é válida para a função materna. Não é a mãe, pessoa
concreta tão somente que tem valor, mas a função materna. Pai e mãe, pessoas,
são extremamente importantes, apenas enquanto exercem a função parental. Não ter
pai ou mãe presentes implica, então, não ter a função presente.
Para a psicanálise a função paterna é aquela que quebra
alguns enganos que vão se criando e tido como verdades ao longo do crescimento,
bem como ajuda a estabelecer a internalização da lei. Sem a função paterna uma
pessoa fica sem lei dentro de si e possuidor de uma ideia equivocada de si
mesmo e de como o mundo funciona.
Bem no início da vida o bebê é o centro de todas as
atenções. Todos os olhares convergem para ele, para as suas gracinhas, para
suas manhas e movimentos. Nem poderia ser diferente. Sem toda essa atenção o
bebê teria seu desenvolvimento comprometido porque não receberia investimentos
afetivos e nem seria estimulado apropriadamente. Nos primeiros anos de vida a
criança pequena é tida como um pequeno rei, cujas vontades e necessidades são
prontamente atendidas. Não é surpreendente que o pequeno adora essa posição e
não quererá perde-la jamais. Contudo, a criança vai crescendo e ficar nessa
posição de imperador não dá. Afinal a vida também apresenta, e muitas,
frustrações e limitações aos nossos desejos. Entretanto, a criança só vai
aprender a aceitar isso se houver contato com a função paterna.
Neste momento o pai, ou alguém que exerça essa função introduzirá um corte nas ilusões da criança de que é um pequeno rei. A função
paterna mostra que o mundo é vasto e tem outras pessoas que também têm direitos
e que vão muito além da criança. Mostra também que nem todos os desejos podem
ou devem ser atendidos e que alguns deles é melhor, para si mesmo e para o
mundo, refrear. É nestes instantes que se forma a noção de lei e lei aqui não é
no sentido jurídico, mas no sentido de que nem tudo nessa vida se pode só
porque assim queremos e que na vida sempre há um preço a se pagar.
Essa função quando bem internalizada e vivida, com
firmeza, amor e delicadeza, ajuda a criança a ser um ser humano. Ela entenderá
que há limites os quais não há como ultrapassar sob o risco de colocar muitas
coisas em perigo e desenvolverá um sentido de respeito aos outros e a si mesmo.
A lei se tornará interna e promotora de vida. O oposto, quando não há uma
experiência de função paterna satisfatória deixará o sujeito entregue aos
próprios impulsos e estes são primitivos e de natureza tirânica, que exigem ser
atendidos prontamente, qualquer que seja o custo. Daí que se começa a
delinquência. Todo delinquente não tem dentro de si a função paterna, não tem
lei e apesar de não ser mais um bebê vive como se fosse um, cheio de vontades.
Para eles todo ato e desejo é sentido como lícito. Sem a função paterna a
civilização corre risco.
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