Porque as
pessoas tem tanta curiosidade pra saber do futuro, acreditando até mesmo em
tarot e afins, mas ao mesmo tempo tem tanto medo de saber sobre?
A
condição humana é a do não saber. Essa condição é extremamente dolorosa e
assustadora porque nos deixa vulneráveis. Não sabemos muitas coisas sobre a
vida e nem temos controle sobre ela. Aceitar o estado de não saber é desconfortável
e fere nosso narcisismo que insiste em nos fazer acreditar que temos, sim,
controle sobre a vida. Acolher a condição humana cria uma ferida.
Essa
curiosidade de se saber o futuro através de tarô ou outros meios é uma forma
de negarmos a realidade da nossa condição. Assim, “prever” o futuro mitiga um
pouco a nossa angústia nos fazendo acreditar que há formas de sair de uma
posição vulnerável para uma posição de quem passa a saber. Nos sentimos mais
potentes, mesmo que essa potência seja falsa e ilusória. Quando nos agarramos
fortemente em ilusões é porque não suportamos ser humanos.
Além
de se sentirem mais seguras as pessoas querem saber do futuro como se pudessem
evitar o trabalho de ter que viver a própria vida. Elas querem a certeza da
felicidade e que esta lhe será dada sem que elas tenham que realizar muito
esforço. Ao mesmo tempo temem que exista um destino, algo imutável, que as
prendam sempre numa situação de infelicidade. A coisa fica assim: desejam
saber, mas apenas se for satisfatório. Em outras palavras, elas ficam mais vulneráveis
que nunca.
Quando
alguém quer saber do seu destino se afasta da posição humana de se construir. A
psicanálise chama o destino de inconsciente que é justamente aquela instância psíquica
que influencia consideravelmente nossas vidas, moldando nossas escolhas, nossos
relacionamentos e a maneira que nos ligamos à experiência de estar vivo. Para a
psicanálise só há desenvolvimento quando a pessoa vai tornando, dentro do possível,
o seu inconsciente em consciente. Assim, o sujeito passa a ser responsável pelo
o que vai fazer de si mesmo. Quem conhece a si próprio escolhe melhor o que
quer, se relaciona com os outros de forma mais saudável e por isso mesmo vive
melhor. Só que isso só vem com um preço: o autoconhecimento.
Quem
vai atrás de cartomantes ou videntes busca se iludir com uma alucinação gostosa
e agradável. Mais difícil, porém mais verdadeiro, é buscar se conhecer e
construir o próprio futuro. Não é fácil se desapegar das ilusões e aceitar
viver a condição humana de nunca saber, mas de só ir sabendo à medida que se vai
vivendo.
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