segunda-feira, 27 de junho de 2016

Como Amamos?



            A famosa frase e recomendação bíblica “Ame o próximo como a si mesmo” é repetida incontáveis vezes por variadas pessoas. Parece se tratar de algo muito simples e fácil e que só requer uma pequena dose de força de vontade. Que engano! Viver verdadeiramente isso requer um nível de sutileza elaborado e todo um refinamento interno. Amar o outro como nos amamos demanda uma boa autoestima e infelizmente são poucos que possuem uma verdadeira autoestima.
            Talvez possamos pensar que, de forma geral, existem três maneiras que se é possível amar e cada maneira tem a ver com o desenvolvimento psíquico do indivíduo. O primeiro tipo de amor é o amor infantil que é por natureza extremamente carente e egoísta. Tal como visto em bebês e crianças pequenas, esse amor se caracteriza por exigir atenção desmedida de quem está ao seu redor. Psiquicamente uma criança pequena só pode existir chamando toda atenção para si mesma e de fato ela precisa de enormes cuidados senão corre risco de não sobreviver e nem aprender a se amar.
            O segundo modo de amar é o amor de troca. Para a mente do adolescente esse tipo de amor já é possível. Nele amamos quem nos ama, quem nos faz algo de bom e nos oferece alguma coisa de valor. Quando essa condição acontece o adolescente é capaz de amar de volta, em retribuição. É menos egoísta que o primeiro tipo de amor, mas mesmo assim é um amor limitado. Já a terceira forma de amar é a do amor desinteressado que não espera receber nada e ele não existe apenas porque uma dada condição foi atingida, existe por si só e se alimenta do próprio amor que é capaz de gerar. Só que desenvolver esse tipo de amor exige uma autoestima bem estabelecida, pois é um fato que quem não é capaz de se amar não tem como oferecer esse tipo de amor para fora de si mesmo, ou seja, fica incapacitado de amar verdadeiramente os outros.
            Quando a recompensa de se amar vem do próprio ato de amar estamos falando de um amor maduro e de uma pessoa que é capaz de “transbordar” para fora de si o amor que sente por si mesma. A capacidade e a maneira de amar é tão importante porque revela como anda o desenvolvimento psíquico de cada um. É egoísta, é de troca ou é desinteressado? Muitos param num dos dois primeiros tipos de amor e não conseguem seguir adiante em seu desenvolvimento. Compreensível já que real autoestima é difícil de conquistar, mas é uma pena já que sem ela ninguém vai poder de fato amar o próximo como a si mesmo. Vai ser sempre um amor parcial. 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Pergunta de Leitora - A Menina e a Mulher



Tenho 35 anos e já tive um bom emprego, era independente. Depois que me casei eu mudei para pior. Por não ter ninguém para cuidar do meu filho eu acabei abandonando o meu emprego e fiquei em casa. Virei dona de casa. Após um tempo percebi que desenvolvi síndrome do pânico e passei a ter medo de sair de casa sozinha. Sempre acho que algo de muito mau vai me acontecer. Só saio com meu marido e ele vem perdendo a paciência comigo ultimamente. Ele não entende como uma mulher como eu, que era tão independente, agora tem medo de sair e de ir a um supermercado. Ele fica bravo mas eu sinto que estou perdida e não consigo arrumar coragem. Já fui fazer alguns cursos para passar o tempo como pintura e artesanato, mas depois de um tempo parei porque achava que todo mundo conseguia fazer as coisas bem, menos eu. Acho todo mundo melhor que eu. Me sinto criança no meio de adultos. Não sei mais o que fazer.

            Você me fala que sente que está regredindo ao invés de estar progredindo. Seu marido também parece pensar assim e fica bravo. Quando regredimos emocionalmente voltamos à infância, porém o problema é nossas emoções ficarem infantis enquanto na realidade somos adultos. Em outras palavras, ficamos desconexos conosco mesmo e limitamos nossas potencialidades e capacidades. Hoje você se tira do tempo presente e se coloca num tempo onde seus recursos internos ainda não tinham sido desenvolvidos, fica identificada com a criança e desconhece a adulta.
            Quando temos emoções de criança enquanto crianças é tudo muito natural e maravilhoso, porém as emoções infantis num adulto é algo limitador e que demonstra que algo em sua mente está fora de controle, ou seja, algo te direciona, sem nenhum controle da sua parte, para viver fora do seu tempo e das suas possibilidades e te impede de retomar as emoções adultas que podem lhe ser favoráveis. Não é à toa que hoje você se sente mal e com muitos medos, afinal quem está sentindo é a criança e não a mulher.
            Uma criança não sabe se defender e nem se preservar necessitando da ajuda e cuidados de um adulto para ampará-la. É um terror para uma criança se ver sozinha na rua, enfrentando desconhecidos e tendo que dar conta do que pertence ao mundo adulto. Todas essas tarefas aparentemente simples podem geram um desprazer imenso em uma criança e enchê-la de terrores. Ora, isso é justamente o que vem lhe acontecendo. Agora a questão é entender o porquê você está se direcionando para trás em vez de ir adiante.
           Para descobrir o porquê é necessário uma investigação mais apurada que só um trabalho analítico poderá lhe proporcionar, já que é só à medida que você falar sobre o que lhe ocorre que algo poderá surgir significando os seus sintomas. Parece que quando você desistiu do seu emprego e da sua independência um lado seu te falou: Para que crescer? Volte a ser criança e seja cuidada. Fique em casa onde é seguro e não enfrente o mundo lá fora. E obedecendo a esse mandamento em sua mente você passou a tratar o seu marido não como marido, mas como pai e você não mais como uma mulher adulta e mãe, mas como uma pequena menina assustada e indefesa. 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Uma Boa Perspectiva



Como seres humanos nossa grandeza não está em sermos capazes de refazer o mundo, mas de refazer a nós mesmo. (Gandhi)

            Com essa simples frase Gandhi mostrou como essa capacidade de se refazer é sem dúvida uma das nossas maiores riquezas. Achamos, erroneamente, que precisamos consertar o mundo, fazer isso ou aquilo de maneira grandiosa, quando na verdade, o que mais se faz necessário, é que possamos nos refazer eficientemente. Todas as grandes mudanças são de dentro para fora, ou seja, não dá para querer mudar o mundo se dentro continua o mesmo cenário. Falta às pessoas compreender isso.
            Como psicoterapeuta recebo muitas pessoas em meu consultório que chegam em estado de grande sofrimento e apreensão. Sofrem por não conseguirem entender o que se passa consigo mesmas e ficam apreensivas por não saberem se seus males serão resolvidos a contento. Ficam com muita ansiedade por temerem que não venha ser possível se reestruturarem de uma forma mais favorável. Aliás, quando uma pessoa sofre psiquicamente é porque está precisando se reorganizar. Uma má organização interna pode levar a um viver a vida de maneira ineficiente, que é justamente o que causa o sofrimento psíquico.
            No entanto, por piores que sejam nossos sofrimentos e dores podemos fazer algo. Não quer dizer necessariamente que tudo acabará e a pessoa ficará nova em folha. Isso não existe e nem tem que ser assim. O que pode de fato ocorrer é que podemos nos refazer, por piores que sejam nossas angústias. Devemos cada vez mais nos atentar para a possibilidade que cada um carrega dentro de si, essa preciosidade sem preço, que é podermos nos refazer e corrigir o rumo. O pior problema não é pegar uma estrada errada e que não leve a lugar algum, mas permanecer nela quando se é possível tomar outro caminho. Para isso precisamos ser grandes. 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Pergunta de Leitora - Talento e Desejo



Tenho uma neta de nove anos que é um verdadeiro talento ao piano. Eu também fui e toco muito bem até hoje, mas devido ao casamento e algumas escolhas erradas nunca segui carreira como era a minha vontade. Minha neta faz aulas desde seus cinco anos e ela é muito boa mesmo. Tenho sonhos que ela se desenvolva cada vez mais, mas para a minha surpresa ela quer parar com o piano. Creio que isso aconteça porque meu genro não liga para artes e acha música uma bobagem. Não nos damos bem e acredito que ele queira me contrariar. Não vou permitir que isso aconteça e se tiver que brigar, brigarei. Minha neta não pode cometer os mesmos erros que cometi e lutarei para que ela seja uma pianista porque sei que tem talento. Para mim ela diz que simplesmente não quer mais. O incentivo ao talento é de suma importância. Acha que faço bem?

            O talento é coisa rara e deve sempre ser incentivado, porém incentivo não significa obrigação. Se tocar piano se tornar uma obrigação perderá toda a atração e correrá o risco de ser visto como uma experiência torturante. A obrigação afasta e assusta enquanto o incentivo cria possibilidades.
            O que você precisa responder é porque é tão imperioso assim que sua neta seja uma pianista. Esse tem que ser um desejo dela e não seu. É necessário diferenciar que a história dela não é a sua, senão você corre o risco de desejar por ela e afastá-la de você. Se você puxar de um lado e o pai dela de outro essa menina vai sofrer muito e ficará cada vez mais confusa. Ela precisa se conhecer para saber o que quer e isso leva tempo, ainda mais para uma menina de apenas nove anos.
            O fato de sua neta ter talento não significa que ela não possa escolher outra trilha. Se ela decidir seguir outro caminho não há nada que você possa fazer, a não ser aceitar. Na verdade você já sabe disso senão não teria me escrito com essa pergunta. Você mesma sabe que não faz bem quando força o que não lhe pertence. Talvez você quisesse que eu fosse seu cúmplice para ficar com a consciência apaziguada.
            Não sei quais foram seus erros e se foram realmente erros, mas você precisa lidar com sua vida e encontrar um meio de viver em paz que não implica em controlar os caminhos dos outros. No filme Gênio Indomável (1997) um talentoso e genial jovem é dirigido por seu professor para ser um grande matemático, só que esse jovem com capacidades excepcionais decide viver outras coisas e da maneira dele. Essa decisão contrariava seu professor e mentor, mas o jovem aprendeu que sua felicidade é mais importante que qualquer outra coisa. A única coisa que você pode fazer é mostrar que o piano está disponível. Agora, o que ela quer ou precisa na vida, depende apenas dela.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Psicanálise e Sociedade



            Já ouvi incontáveis críticas à psicanalise. Algumas são muito interessantes e fazem sentido, mas muitas são inúteis, pois têm como único objetivo serem destrutivas e baseadas em uma visão míope de como a psicanalise é na realidade. Uma delas diz que a psicanálise faz muito pouco ou quase nada de bom em termos sociais, que ela é muito individualista. Afirma que seu alcance é muito curto, que pouco atinge o coletivo, já que se trata frequentemente de sessões onde o analisando vai sozinho e fica só. Nada disso faz o menor sentido e refere-se muito mais ao preconceito e ignorância sobre a psicanalise do que de fato uma crítica válida.
            Quando uma pessoa cuida de sua mente ela cria novas maneiras de se relacionar com o mundo. É claro que não há garantias, mas uma pessoa que olha para si mesma, para sua mente, tem mais chances e mais recursos de construir relacionamentos mais sadios e frutíferos. Uma pessoa que sabe se cuidar não aceitará qualquer coisa e qualquer relação, porém desejará o melhor para si e entenderá também o quanto se faz importante respeitar o outro, pois é fato que se alguém se respeita sabe como respeitar o próximo. Vislumbrando essas caraterísticas dá para perceber o quanto a psicanálise pode desempenhar um papel importante que ultrapassa os limites do consultório e abrange toda a sociedade.
            Quem se cuida saberá cuidar melhor do que está fora de si. Isso não é um bem social? Não é algo que afeta de forma positiva as formas de se relacionar entre os indivíduos? Portanto, dizer que a psicanálise é de alcance curto é uma tremenda bobagem de quem não sabe o que fala. Acreditar que algo que acontece dentro de um pequeno consultório fica apenas lá, é desconhecer que podemos levar toda uma nova maneira de pensar e de digerir os acontecimentos em nossas mentes para onde quer que a gente vá. A psicanálise ultrapassa os consultórios.
            Outra crítica é que a psicanálise é meio que uma atividade supérflua e não uma real necessidade. Ora, nada poderia ser mais enganoso que isso. Cuidar da nossa própria mente, nosso bem mais precioso, pode ser considerado algo supérfluo? Muito pelo contrário. É algo de extrema importância e necessidade. Quem não aprende a desenvolver consigo meios mais eficientes de viver, desperdiça a vida e corre um risco bem maior de desperdiçar a vida dos outros também. A ignorância nunca é uma boa base para ser fonte de críticas. E hoje, mais do que nunca, a sociedade está necessitada do saber que a psicanálise pode proporcionar. 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Pergunta de Leitora - Tempos Arcaicos



Quis casar a qualquer preço. Casei jovem, aos 22 anos. Estava desesperada para casar porque acreditava que se eu não cassasse logo ninguém iria me querer e eu iria ficar sozinha. Ficar só sempre foi meu maior medo. Antes do nosso casamento, já marcado, meu noivo decidiu dar um tempo porque não sabia se gostava mesmo de mim. Enlouqueci e disse que estava grávida. Consegui convencê-lo de que era melhor ficar comigo. E corri para engravidar de verdade e deu certo. Casamos 7 meses depois, mas perdi a criança. Meu marido não parava de dizer que só havia casado por causa da criança e que não me amava, mas continuamos juntos. Hoje tenho 35 anos e vivo muito mal com ele. Não nos amamos, mas continuamos juntos, não sei até quando. Sempre me ameaço me matar caso ele queria oficializar nossa separação. Sei que ele tem outra já há algum tempo. Acho que estou gostando dele cada vez menos, estou começando a ter ódio por tudo o que ele me fez passar. Não sei mais o que fazer. Só queria ser uma mulher casada.

            Muitas são as pessoas cujo pior pesadelo é se ver só. Temem a solidão e tentam fazer do casamento a apólice de seguro para que a solidão jamais ocorra. Quando o casamento é vivido desta maneira, como se fosse um seguro, perde-se completamente o seu real sentido e o torna algo muito pesado. Afinal, quem disse que só por estar casado alguém não está só? Casamento não tira ninguém da solidão.
            Já se foi o tempo que o único destino da mulher era aceitar o casamento, seja ele qual fosse, ou ficar para titia. Há muitas maneiras de se realizar e de enfrentar a solidão. Antigamente, a mulher era apenas a costela de Adão, ou seja, era uma parte do homem, sem vida própria e sem exercer o desejo. Foram inúmeras as mulheres que as mães e avós ensinavam que o mais importante era encontrar um bom partido e que o resto a vida dava. Uma mulher que nunca se casou era vista como fracassada, alguém que falhou em encontrar um homem. Duros tempos.
            Nessa educação arcaica e preconceituosa muitas mulheres temiam ficar sozinhas e para que isso não ocorresse aceitavam fazer qualquer negócio. Casavam com qualquer um com certa urgência e entravam numa vida miserável.  Agora, os tempos são outros e oferecem às mulheres muitas e melhores maneiras de se realizarem. A questão que se faz pertinente é por que será que você só viu como único caminho possível o casamento, mesmo com alguém que claramente não queria ficar com você? Por que faz da sua vida um inferno apenas para estar casada? Responder às estas questões é importante para entender ao que você obedece quando mantém esse casamento infeliz.
            Você diz que ele te trai, mas você também o traiu. Não com outro homem, mas com mentiras e jogos cujo único resultado é produzir infelicidade. Não há só um traidor e um traído nessa história. Os dois traíram e foram traídos. E o que parece sustentar esse relacionamento não é amor, mas o ódio que um sente pelo outro. É fato que o ódio também aprisiona as pessoas entre si e não as permite viver a vida de forma saudável. Que tal se libertar desse ódio e começar a viver a vida? Um tempo considerável já foi perdido e não voltará mais. Tem certeza de que quer continuar assim? Procure ajuda profissional para que você possa entender ao que está presa inconscientemente e assim se libertar de fato. A vida é curta e tempo é mercadoria preciosa. 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Preparação para o Amor



            Inúmeras pessoas lamentam, principalmente próximo ao dia dos namorados, não ter um companheiro amoroso. Querem de todas as maneiras encontrar alguém que muitas vezes caçam parceiros desesperadamente, sem nem ao menos se darem conta do que estão fazendo. Evidentemente “caçadas” assim tendem a fracassar, o que por sua vez aumenta ainda mais o sentimento de solidão e urgência em se encontrar novos parceiros. Vira um círculo que só traz dor e arrependimentos.
            Um antigo provérbio hindu diz que quando o discípulo está pronto o mestre aparece. Isso é o que acontece no amor. Quando alguém está realmente preparado para viver o amor este pode acontecer. No entanto, ocorre que apesar de muitos se acharem preparados para vivê-lo estão na verdade se enganando porque esperam que o amor seja como o idealizam e não como pode ser na realidade.
            A verdade é que as pessoas não estão preparadas para viver o amor possível. O que há de príncipes e princesas encantados idealizados não dá para contar. Só que estes mesmo príncipes e princesas não existem e nem têm como existir. Espera-se do amor coisas que o amor não é. Isso tudo leva a uma grande frustração e ao sentimento de fracasso. Porém, se aprendermos a nos relacionar melhor com a realidade e deixarmos de lado as idealizações o amor pode ser uma esperança e alimento para a vida.
            Precisamos nos preparar para o amor e fazemos isso à medida que cuidamos de nós mesmos, procurando sempre nos tornar uma pessoa melhor. Melhor não no sentido de agradar o outro, mas no de desenvolver as nossas potencialidades e sermos de fato quem podemos ser. Quando nos abrimos à nossa própria vida nos tornamos pessoas melhores. Quando as experiências de vida são fonte de enriquecimento e não de amargura podemos revelar o que há de mais belo em nós e nos tornamos pessoas interessantes. Não existe pessoa mais atraente do que uma pessoa verdadeira. Não devemos correr atrás do amor, o que podemos fazer é nos preparar em sermos sempre melhor e com certeza o amor surgirá. Parodiando o provérbio hindu citado acima podemos dizer: quando a pessoa está pronta o amor aparece.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Pergunta de Leitora - O Real Valor



Tenho 40 anos e sempre fui uma pessoa estudada e academicamente sou importante. Tenho títulos e por algum tempo sempre tive reconhecimento de amigos e parentes, que sempre paravam para me escutar. Todos me levavam a sério. Hoje já não é mais assim. As pessoas se afastam de mim e não querem mais participar da minha vida. Ouço que falam de mim e que sou chata e percebo que até mesmo caçoam de mim. Isso vem me enfurecendo e ao mesmo tempo me deixando só. Só queria que gostassem de mim e que reconhecessem o meu valor, que vissem que sou uma pessoa com muitas conquistas. Estou cada vez mais ficando só e quando vejo algumas pessoas juntas e felizes fico mal. Não sei o que me acontece e menos ainda o que devo fazer.

            Por que será que as pessoas se afastam de você? Ou será que podemos mudar essa pergunta para será que você tem alguma responsabilidade em afastar as pessoas de você? A pergunta certa é fundamental para que possamos encontrar a resposta certa e assim deixarmos de nos enganar. Nada pior do que o autoengano e se perpetuar nele.
            Pelo o que escreve posso perceber que existe em você uma necessidade de ser reconhecida. Claro, isso existe em qualquer um e não tem nada de mais, mas dependendo do ponto essa necessidade pode passar dos limites e se tornar inconveniente. A necessidade de reconhecimento pode levar à exigência do reconhecimento e isso pode deixar tudo muito chato e tornar o relacionamento insuportável. Será que é isso que acontece?
            Se for este o caso você deve pensar porque depende tanto do reconhecimento das suas conquistas a ponto de insistir nisso. Provavelmente você não desenvolveu um auto olhar que lhe permita reconhecer você e seus valores pessoais e quando não recebe o que espera ou idealiza se enfurece prejudicando a maneira que vai se ligar consigo e com os outros. Talvez possamos até mesmo pensar que até agora você nunca aprendeu a se relacionar, mas apenas a ver o outro como plateia para suas conquistas.
            Ao usar os outros como audiência para os seus feitos impede que um relacionamento possa se desenvolver. Quando parar de desejar que os outros alimentem a imagem que você tem de si mesma abrirá espaço para uma nova imagem surgir e esta, sim, muito mais favorável. Quem sabe ser você mesma e não os seus títulos possam aproximar as pessoas de você, possam deixa-las interessadas na pessoa que você é?