A famosa frase e recomendação bíblica “Ame o próximo como a si mesmo” é
repetida incontáveis vezes por variadas pessoas. Parece se tratar de algo muito
simples e fácil e que só requer uma pequena dose de força de vontade. Que
engano! Viver verdadeiramente isso requer um nível de sutileza elaborado e todo
um refinamento interno. Amar o outro como nos amamos demanda uma boa autoestima
e infelizmente são poucos que possuem uma verdadeira autoestima.
Talvez possamos pensar que, de forma
geral, existem três maneiras que se é possível amar e cada maneira tem a ver
com o desenvolvimento psíquico do indivíduo. O primeiro tipo de amor é o amor
infantil que é por natureza extremamente carente e egoísta. Tal como visto em
bebês e crianças pequenas, esse amor se caracteriza por exigir atenção desmedida
de quem está ao seu redor. Psiquicamente uma criança pequena só pode existir
chamando toda atenção para si mesma e de fato ela precisa de enormes cuidados
senão corre risco de não sobreviver e nem aprender a se amar.
O segundo modo de amar é o amor de
troca. Para a mente do adolescente esse tipo de amor já é possível. Nele amamos
quem nos ama, quem nos faz algo de bom e nos oferece alguma coisa de valor.
Quando essa condição acontece o adolescente é capaz de amar de volta, em
retribuição. É menos egoísta que o primeiro tipo de amor, mas mesmo assim é um
amor limitado. Já a terceira forma de amar é a do amor desinteressado que não
espera receber nada e ele não existe apenas porque uma dada condição foi
atingida, existe por si só e se alimenta do próprio amor que é capaz de gerar.
Só que desenvolver esse tipo de amor exige uma autoestima bem estabelecida,
pois é um fato que quem não é capaz de se amar não tem como oferecer esse tipo
de amor para fora de si mesmo, ou seja, fica incapacitado de amar
verdadeiramente os outros.
Quando a recompensa de se amar vem
do próprio ato de amar estamos falando de um amor maduro e de uma pessoa que é
capaz de “transbordar” para fora de si o amor que sente por si mesma. A
capacidade e a maneira de amar é tão importante porque revela como anda o
desenvolvimento psíquico de cada um. É egoísta, é de troca ou é desinteressado?
Muitos param num dos dois primeiros tipos de amor e não conseguem seguir
adiante em seu desenvolvimento. Compreensível já que real autoestima é difícil
de conquistar, mas é uma pena já que sem ela ninguém vai poder de fato amar o
próximo como a si mesmo. Vai ser sempre um amor parcial.
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