sexta-feira, 10 de junho de 2016

Pergunta de Leitora - Tempos Arcaicos



Quis casar a qualquer preço. Casei jovem, aos 22 anos. Estava desesperada para casar porque acreditava que se eu não cassasse logo ninguém iria me querer e eu iria ficar sozinha. Ficar só sempre foi meu maior medo. Antes do nosso casamento, já marcado, meu noivo decidiu dar um tempo porque não sabia se gostava mesmo de mim. Enlouqueci e disse que estava grávida. Consegui convencê-lo de que era melhor ficar comigo. E corri para engravidar de verdade e deu certo. Casamos 7 meses depois, mas perdi a criança. Meu marido não parava de dizer que só havia casado por causa da criança e que não me amava, mas continuamos juntos. Hoje tenho 35 anos e vivo muito mal com ele. Não nos amamos, mas continuamos juntos, não sei até quando. Sempre me ameaço me matar caso ele queria oficializar nossa separação. Sei que ele tem outra já há algum tempo. Acho que estou gostando dele cada vez menos, estou começando a ter ódio por tudo o que ele me fez passar. Não sei mais o que fazer. Só queria ser uma mulher casada.

            Muitas são as pessoas cujo pior pesadelo é se ver só. Temem a solidão e tentam fazer do casamento a apólice de seguro para que a solidão jamais ocorra. Quando o casamento é vivido desta maneira, como se fosse um seguro, perde-se completamente o seu real sentido e o torna algo muito pesado. Afinal, quem disse que só por estar casado alguém não está só? Casamento não tira ninguém da solidão.
            Já se foi o tempo que o único destino da mulher era aceitar o casamento, seja ele qual fosse, ou ficar para titia. Há muitas maneiras de se realizar e de enfrentar a solidão. Antigamente, a mulher era apenas a costela de Adão, ou seja, era uma parte do homem, sem vida própria e sem exercer o desejo. Foram inúmeras as mulheres que as mães e avós ensinavam que o mais importante era encontrar um bom partido e que o resto a vida dava. Uma mulher que nunca se casou era vista como fracassada, alguém que falhou em encontrar um homem. Duros tempos.
            Nessa educação arcaica e preconceituosa muitas mulheres temiam ficar sozinhas e para que isso não ocorresse aceitavam fazer qualquer negócio. Casavam com qualquer um com certa urgência e entravam numa vida miserável.  Agora, os tempos são outros e oferecem às mulheres muitas e melhores maneiras de se realizarem. A questão que se faz pertinente é por que será que você só viu como único caminho possível o casamento, mesmo com alguém que claramente não queria ficar com você? Por que faz da sua vida um inferno apenas para estar casada? Responder às estas questões é importante para entender ao que você obedece quando mantém esse casamento infeliz.
            Você diz que ele te trai, mas você também o traiu. Não com outro homem, mas com mentiras e jogos cujo único resultado é produzir infelicidade. Não há só um traidor e um traído nessa história. Os dois traíram e foram traídos. E o que parece sustentar esse relacionamento não é amor, mas o ódio que um sente pelo outro. É fato que o ódio também aprisiona as pessoas entre si e não as permite viver a vida de forma saudável. Que tal se libertar desse ódio e começar a viver a vida? Um tempo considerável já foi perdido e não voltará mais. Tem certeza de que quer continuar assim? Procure ajuda profissional para que você possa entender ao que está presa inconscientemente e assim se libertar de fato. A vida é curta e tempo é mercadoria preciosa. 

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