sexta-feira, 24 de junho de 2016

Pergunta de Leitora - A Menina e a Mulher



Tenho 35 anos e já tive um bom emprego, era independente. Depois que me casei eu mudei para pior. Por não ter ninguém para cuidar do meu filho eu acabei abandonando o meu emprego e fiquei em casa. Virei dona de casa. Após um tempo percebi que desenvolvi síndrome do pânico e passei a ter medo de sair de casa sozinha. Sempre acho que algo de muito mau vai me acontecer. Só saio com meu marido e ele vem perdendo a paciência comigo ultimamente. Ele não entende como uma mulher como eu, que era tão independente, agora tem medo de sair e de ir a um supermercado. Ele fica bravo mas eu sinto que estou perdida e não consigo arrumar coragem. Já fui fazer alguns cursos para passar o tempo como pintura e artesanato, mas depois de um tempo parei porque achava que todo mundo conseguia fazer as coisas bem, menos eu. Acho todo mundo melhor que eu. Me sinto criança no meio de adultos. Não sei mais o que fazer.

            Você me fala que sente que está regredindo ao invés de estar progredindo. Seu marido também parece pensar assim e fica bravo. Quando regredimos emocionalmente voltamos à infância, porém o problema é nossas emoções ficarem infantis enquanto na realidade somos adultos. Em outras palavras, ficamos desconexos conosco mesmo e limitamos nossas potencialidades e capacidades. Hoje você se tira do tempo presente e se coloca num tempo onde seus recursos internos ainda não tinham sido desenvolvidos, fica identificada com a criança e desconhece a adulta.
            Quando temos emoções de criança enquanto crianças é tudo muito natural e maravilhoso, porém as emoções infantis num adulto é algo limitador e que demonstra que algo em sua mente está fora de controle, ou seja, algo te direciona, sem nenhum controle da sua parte, para viver fora do seu tempo e das suas possibilidades e te impede de retomar as emoções adultas que podem lhe ser favoráveis. Não é à toa que hoje você se sente mal e com muitos medos, afinal quem está sentindo é a criança e não a mulher.
            Uma criança não sabe se defender e nem se preservar necessitando da ajuda e cuidados de um adulto para ampará-la. É um terror para uma criança se ver sozinha na rua, enfrentando desconhecidos e tendo que dar conta do que pertence ao mundo adulto. Todas essas tarefas aparentemente simples podem geram um desprazer imenso em uma criança e enchê-la de terrores. Ora, isso é justamente o que vem lhe acontecendo. Agora a questão é entender o porquê você está se direcionando para trás em vez de ir adiante.
           Para descobrir o porquê é necessário uma investigação mais apurada que só um trabalho analítico poderá lhe proporcionar, já que é só à medida que você falar sobre o que lhe ocorre que algo poderá surgir significando os seus sintomas. Parece que quando você desistiu do seu emprego e da sua independência um lado seu te falou: Para que crescer? Volte a ser criança e seja cuidada. Fique em casa onde é seguro e não enfrente o mundo lá fora. E obedecendo a esse mandamento em sua mente você passou a tratar o seu marido não como marido, mas como pai e você não mais como uma mulher adulta e mãe, mas como uma pequena menina assustada e indefesa. 

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