O trabalho do psicoterapeuta passa pela escuta e
pela transformação que essa escuta pode proporcionar. A escuta precisa ser
clara e límpida, livre de quaisquer julgamentos e preconceitos. O
psicoterapeuta não deve partir jamais de que já sabe ou de que tem total
conhecimento do que vai ouvir de seu paciente. Isso o impediria de realmente se
abrir à escuta, o psicoterapeuta apenas escolheria o que quer escutar e não o
que o paciente está realmente dizendo.
No entanto, escutar não é fácil. Parece, mas não é. Para
um psicoterapeuta ser capaz de escutar precisa primeiro ser capaz de escutar a
si mesmo e se permitir se transformar com o que aprende de si. Sem essa
condição não há análise que aconteça. Para se viver um processo psicoterápico
não basta apenas conhecimentos intelectuais e inteligência. É preciso mais, é
necessário vivência. O que mais ajuda um psicoterapeuta em seu trabalho são
suas experiências de vida. Aquilo que ele se dispõe a viver e aprender.
É bastante frequente os pacientes usarem a sessão como um
momento de evacuação mental. Na evacuação nos livramos daquilo que não tem
serventia e que se permanecer por muito tempo no corpo pode vir a envenená-lo.
Na mente também é parecido. Quando carregamos ideias de auto-ataques, de grande
identificação com o que nos faz mal, ficamos pesados e nos sentindo
contaminados. É um fato que pensamentos ruins podem contaminar nossas mentes.
Nesses momentos queremos nos livrar rapidamente de tudo aquilo que nos causa
desconforto, daí que vem a evacuação mental. O problema dessa atitude é que não
resolve nada. Ela apenas joga fora, mas dentro não houve nenhuma transformação.
Numa sessão de psicoterapia quando há a evacuação mental
o psicoterapeuta pode ajudar seu paciente a pensar sobre isso, a suportar a dor
e o desprazer daquele desconforto e ver o que o paciente pode aprender sobre si
mesmo. Ocorrendo isso pode haver a transformação. Num exemplo grosseiro podemos
até dizer que o psicoterapeuta acolhe o que o paciente diz de si, desintoxica e
devolve de uma forma que possa ser usada pelo seu paciente. A escuta verdadeira
favorece a fala transformadora. Como o instrumento de trabalho do
psicoterapeuta é a sua própria mente dá para se imaginar como é importante que
a mente do psicoterapeuta esteja cuidada. Caso não esteja elementos
contaminantes irão interferir no processo e trazer prejuízos a ambos. O que
poderia ser um encontro fértil e revelador se torna sem vida e embotado. Curar
a si mesmo sempre, ou seja, cuidar de sua própria mente é vital para qualquer
um, principalmente para os psicoterapeutas.