segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Escuta e Transformação



            O trabalho do psicoterapeuta passa pela escuta e pela transformação que essa escuta pode proporcionar. A escuta precisa ser clara e límpida, livre de quaisquer julgamentos e preconceitos. O psicoterapeuta não deve partir jamais de que já sabe ou de que tem total conhecimento do que vai ouvir de seu paciente. Isso o impediria de realmente se abrir à escuta, o psicoterapeuta apenas escolheria o que quer escutar e não o que o paciente está realmente dizendo.
            No entanto, escutar não é fácil. Parece, mas não é. Para um psicoterapeuta ser capaz de escutar precisa primeiro ser capaz de escutar a si mesmo e se permitir se transformar com o que aprende de si. Sem essa condição não há análise que aconteça. Para se viver um processo psicoterápico não basta apenas conhecimentos intelectuais e inteligência. É preciso mais, é necessário vivência. O que mais ajuda um psicoterapeuta em seu trabalho são suas experiências de vida. Aquilo que ele se dispõe a viver e aprender.
            É bastante frequente os pacientes usarem a sessão como um momento de evacuação mental. Na evacuação nos livramos daquilo que não tem serventia e que se permanecer por muito tempo no corpo pode vir a envenená-lo. Na mente também é parecido. Quando carregamos ideias de auto-ataques, de grande identificação com o que nos faz mal, ficamos pesados e nos sentindo contaminados. É um fato que pensamentos ruins podem contaminar nossas mentes. Nesses momentos queremos nos livrar rapidamente de tudo aquilo que nos causa desconforto, daí que vem a evacuação mental. O problema dessa atitude é que não resolve nada. Ela apenas joga fora, mas dentro não houve nenhuma transformação.
            Numa sessão de psicoterapia quando há a evacuação mental o psicoterapeuta pode ajudar seu paciente a pensar sobre isso, a suportar a dor e o desprazer daquele desconforto e ver o que o paciente pode aprender sobre si mesmo. Ocorrendo isso pode haver a transformação. Num exemplo grosseiro podemos até dizer que o psicoterapeuta acolhe o que o paciente diz de si, desintoxica e devolve de uma forma que possa ser usada pelo seu paciente. A escuta verdadeira favorece a fala transformadora. Como o instrumento de trabalho do psicoterapeuta é a sua própria mente dá para se imaginar como é importante que a mente do psicoterapeuta esteja cuidada. Caso não esteja elementos contaminantes irão interferir no processo e trazer prejuízos a ambos. O que poderia ser um encontro fértil e revelador se torna sem vida e embotado. Curar a si mesmo sempre, ou seja, cuidar de sua própria mente é vital para qualquer um, principalmente para os psicoterapeutas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário