segunda-feira, 20 de julho de 2015

Análise de Filme - Whiplash Em Busca da Perfeição



            O filme Whiplash Em busca da perfeição (EUA, 2014) nos mostra como funciona uma relação sadomasoquista. Andrew é um jovem estudante numa prestigiada faculdade que sonha ser um dos melhores bateristas do mundo. Fletcher, um autoritário professor de música e regente de uma banda que busca um gênio para guiar até à perfeição. Juntando os dois prepara-se o enredo para uma relação perversa.
            A palavra whiplash é tanto o nome de uma música, tocada no filme, quanto também tem o significado de chicotada. Pois para Fletcher, o professor, ninguém se torna bom em algo sem levar chicotadas nos dois sentidos, literal e figurado. Já o jovem Andrew acredita nessa premissa de que a humilhação é que torna alguém digno e se entrega de corpo e alma ao sádico professor. A grande verdade é que todo sádico está sempre em busca de um masoquista e vive versa. Um não tem como existir sem o outro.
            Ninguém se torna bom em algo sem esforço e muito trabalho. Não basta talento na vida, mas se faz necessário labuta e altas doses de persistência, paciência e tolerância. Tornar-se um músico ou qualquer outra profissão que desejemos demanda muito estudo e técnica. Mas há uma diferença entre o esforço, as vezes sobre humano, requerido para um bom desempenho e a relação perversa.
            Fletcher alimenta a ambição de descobrir e ensinar um gênio da música, se desespera para encontrar alguém e apesar de realmente acreditar que faz isso pela arte o que vemos é que faz para si próprio, para seu narcisismo. Sua paixão é narcísica e desconhece os limites. Dentro de si não há amor pela música, mas paixão violenta que se transforma em sadismo. Andrew sofre de baixa autoestima e só consegue se sentir alguém quando vislumbra sua genialidade na bateria. Ele não consegue se ver como pessoa, mas como um indivíduo que precisa se sobressair para só assim se sentir digno de ser amado.
            A banda dirigida por Fletcher não era um lugar onde os participantes poderiam aprender de forma amorosa, mas era palco de frequentes humilhações e ataques. Não é a toa que muitos jovens dessa banda tinham fins trágicos, já que não sabiam se preservar da violência. Porém, ninguém fica numa posição dessa sem possuir uma dose de masoquismo. O amor pela música passava longe nesse grupo prevalecendo o narcisismo e a violência.
            Quem não desenvolveu suficiente autoestima troca esta pela vaidade. Andrew era movido pela vaidade tanto que só conseguia falar com a garota pelo qual estava interessado quando acreditava que era um bom músico, mas não uma boa pessoa. Sentia seu pai um fracasso por ser um mero professor desconhecido quando este era um dos poucos que realmente se preocupava com o seu bem estar. Sua mãe o havia abandonado ainda bebê e podemos aludir a hipótese de que seu amor próprio ficara tão ferido que só se fosse perfeito poderia de fato ser amado e se amar. Pessoas assim são presas fáceis para quem só tem dentro de si o prazer por humilhar.
            O amor não é condicional. Não amamos alguém porque essa pessoa é perfeita, mas simplesmente porque ela é quem é. Se alguém ama condicionalmente é pela razão de que este amor não é verdadeiro, mas uma compensação pela falta de algo real. Quando não nos possibilitamos amar pervertemos, ou seja, distorcemos as relações até que o que sobra é pura violência. 

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