sexta-feira, 30 de maio de 2014

Pergunta de Leitora - No Mundo da Lua


Sempre fui uma pessoa ligada ao misticismo. Leio tudo nessa área sempre com a esperança de encontrar uma revelação. No entanto eu acho que fico patinando no mesmo lugar e que nada muda. Pratico exercícios de yoga, medito, tenho pensamentos positivos, mas não sei o que acontece que nada me faz sair do lugar. Pensei que ao praticar yoga e meditar fosse trazer uma grande paz espiritual, pensei que fosse ficar mudada só que minha vida continua a mesma. Estou desesperada por uma revelação, por uma coisa que mostre que estou evoluindo. Não sei se fazer terapia me ajudaria. Acho que os orientais são mais sábios, mas quem eu procuro?

            O grande problema que você enfrenta é que você procura e procura, mas nada encontra. Procura tanto que o resultado é você ficar mais perdida do que quando começou a procurar. O que você precisa se perguntar é o porquê você procura de forma tão errada e com isso termina por trazer mais inquietações do que tranquilidade.
            Alguém procurar é algo muito bom, porém se faz necessário saber o que se procura. Pelo que entendi do seu email você procura por uma grande revelação ou algo mágico e que venha acarretar uma grande mudança na sua vida, ou seja, ambas as coisas que você procura estão externas a você. Você quer encontrar um sentido fora de você e não interno. Quando saímos de nós mesmos o resultado é nos encontrarmos perdidos. O que você procura só pode ser encontrado interiormente, na sua própria mente. Falta-lhe essa compreensão.
            E o que você procura? Muito provavelmente é você mesma. Busca um contato mais verdadeiro consigo própria, pois ninguém consegue viver bem sem esse contato. Você pode mudar assim que entender que a mudança vem a partir da sua auto compreensão e não como uma resposta mágica às suas indagações. Quando abrir mão da posição infantil de que algo vai lhe mudar e te transformar vai poder percorrer outro caminho, onde você seja sujeito da sua própria vida e das suas mudanças. Vai aprender que você precisa se responsabilizar por suas transformações e que elas não vêm como brindes porque você pratica tal ou qual coisa.
         Apesar de achar que a terapia é limitada você escreveu justamente para um psicoterapeuta. Seu email terminou em tom de desespero e está mais do que na hora de mudar isso. Talvez você teme a psicoterapia porque ela não vai trazer nenhuma revelação mística, mas vai te colocar no caminho de ter que se responsabilizar por si própria. O que você evita é o trabalho verdadeiro consigo mesma. Você espera pela magia e ilusão e recusa a realidade. Só que a ilusão não alimenta ninguém. Quando você aceitar isso vai começar a sair do lugar.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Violência com Palavras


            Há variadas maneiras de se praticar a violência. Seja através de atos de tortura, de estupros, de preconceito, etc., porém se faz necessário também se atentar para um tipo de violência que é praticada com bastante freqüência e que pode ser demolidora: a violência com palavras. As palavras podem ser instrumentos daquilo que é construtivo e benéfico, mas têm um outro lado obscuro que está a serviço da destruição.
            A violência praticada com palavras pode ser algo altamente contaminador. É algo que sai das palavras e penetra no psiquismo das pessoas deixando-as cegas e surdas para a realidade de fato e faz com que fiquem presas  naquilo que tem o poder de desvalorizar e rebaixar. Há provérbios que dizem que se manter em silencio em determinados momentos é o melhor a se fazer. Dizem isso porque uma palavra ruim, na hora errada, pode ser catastrófica.
            Por muito tempo a violência realizada através das palavras ficou caracterizada como arma feminina. Os homens tinham a força física e a permissão da sociedade para realizarem outros tipos de violência e às mulheres a única coisa que restou foi fazer uso das palavras. Na literatura universal há mulheres que exercem esse tipo de violência com grande maestria como Lady Macbeth de Shakespeare. Mas independente de quem a realize atacar com palavras pode ser algo fatal.
            As violências de ordem física podem deixar marcas e sérias seqüelas. Só que a violência com palavras também pode deixar marcas dolorosas no psiquismo e trazer toda uma vida de infelicidades. Todos, em maior ou menor grau, somo suscetíveis às palavras e é através delas que nos construímos como pessoas, tanto para o bem como para o mal. Para a psicanálise a palavra tem primordial importância no bom desenvolvimento do individuo ou na instalação de um sofrimento. Ao falar de si o analisando recupera as palavras e com isso constrói sua identidade e quando percebe que há dentro de si palavras desabonadoras pode substituí-las por outras que estejam a serviço de seu crescimento. Viver com boas palavras é fundamental para se viver com qualidade e prazer.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Pergunta de Leitora - O Lugar do Filho


Quero muito um filho, mas por problemas do meu corpo não posso engravidar. Soube disso ano passado e fiquei muito frustrada. No começo queria morrer de desgosto. Agora venho pensando em adoção. Sei que é um processo demorado e difícil. Meu medo é sobre a criança que posso vir adotar. Será que vou sentir essa criança como meu filho mesmo? Essa criança não vai ser parecida comigo e nem com meu marido e se ela dar algum problema? Ao mesmo tempo que quero um filho também tenho medo das coisas derem errado com uma criança que não é do meu sangue. Como se desenvolvem as crianças adotadas?

            Provavelmente você ainda continua muito frustrada pelo fato de não poder gerar um filho e está em dúvida sobre a adoção. O mais importante é você ter certeza se quer mesmo adotar. Para isso é preciso entender porque quer um filho, qual o significado desse filho para você.
            Se for para ter laços sanguíneos com você é melhor optar por não adotar. Se o que você valoriza ao pensar num filho for ele carregar seus genes, uma criança adotada não vai lhe servir, pois esta carregará genes de outros. Por isso que se faz tão importante você entender qual o lugar para o filho em sua vida e que tipo de filho. Afinal, a adoção precisa ser uma escolha e não uma necessidade.
            Agora, mais do que laços sanguíneos a família é feita de relacionamentos. Quem adota precisa aceitar que os genes pouco importam e o que vale é o relacionamento que pode ser estabelecido com a criança. A criança adotada já chega numa posição de vulnerabilidade pelo fato dos seus pais biológicos não terem querido ficar com ela ou não terem podido ficar com ela, portanto quando ela é adotada precisa encontrar pais acolhedores que a desejem e queiram ser sua família. Você se sente no desejo de acolher uma criança e se fazer mãe dela?
            Quando você fala que a criança adotada não seria parecida com você e nem com o seu marido será que não existe um narcisismo aí? Por que o filho teria que ser parecido? Se o desejo por um filho seja para alimentar uma vontade narcísica é melhor não ter filho nenhum, nem biológico e nem adotado, porque o filho não serve para fins narcísicos. Isso seria egoísmo com a criança. E quanto a criança adotada dar problemas no futuro, bem, quem disse que seu filho biológico não daria problemas? É importante você investigar mais ao fundo quais razões inconscientes te fazem desejar um filho e avaliar se essas razoes são motivos bons o suficiente para te levar ao caminho da adoção. Se autoconhecer é sempre o melhor negócio. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Progresso e Rigidez


            A ciência só pôde se desenvolver à medida que deixava de lado a certeza e passava a acolher a dúvida. Aliás, a dúvida é a melhor amiga para o progresso da ciência. Sem ela não há questionamentos que podem incentivar uma compreensão mais aprofundada das coisas que mobiliza o progresso. Na Idade Média, por exemplo, quando a religião dominava o mundo do saber com mãos de ferro e queimava qualquer um que ousasse contrariar e questionar, o conhecimento ficou comprometido e houve pouquíssimos progressos. A rigidez do pensamento não permite o desenvolvimento do progresso.
            Tal qual o progresso da ciência é também o nosso progresso mental. Quando há rigidez não tem como haver progresso pessoal. Se colocarmos determinadas ideias como verdade única e inabalável corremos sérios riscos de não mais conseguirmos pensar e por isso mesmo nos tornamos rígidos e empobrecidos. A dúvida é também amiga de nossa mente e algo vital para o nosso crescimento.
            A dúvida boa não é aquela que nos imobiliza e nos deixa inseguros, mas aquela que abre a possibilidade para um verdadeiro pensar, mesmo que nos sentimos inseguros. Como encaramos nossas dúvidas, que facilmente se transformam em angústias, é que faz toda a diferença entre se imobilizar e se enrijecer ou se mobilizar para aprender mais sobre si mesmo e com as experiências de vida.
            Nada pior do que encontrar pessoas que se acham certas de tudo. O nome disso é arrogância e isso é extremamente prejudicial para o progresso pessoal, já que alguém arrogante não se permite ter dúvidas e por isso mesmo não abre espaço para um questionamento mais profundo, o que por sua vez o impede de viver experiências de vida. Afinal, o arrogante pensa que já sabe tudo, ou seja, acredita que não precisa saber de mais nada. Radicais extremistas, fundamentalistas religiosos, adoradores desse ou aquele partido politico são um perigo para si e para os outros. Ao invés de tolerarem as angústias que vêm da dúvida preferem se apegar a uma ideia e pô-la no pedestal. A rigidez impede qualquer tipo de progresso e deixa o mundo mais ignorante e perigoso.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Pergunta de Leitora - A Própria Mudança


Meu namorado não dá a mínima para mim. Faço tudo por ele, sempre me interesso por ele e pelas coisas dele, mas ele pouco se interessa por mim. É sempre eu que tenho que ir atrás dele e ele nunca me procura. Não sei o que fazer para ele se interessar por mim. Eu sou apaixonada por ele. Fiquei sabendo que ele ficou com uma amiga minha mais de uma vez. Fiquei muito mal com isso tudo. Depois minha amiga e eu conversamos e voltamos a nos entender e vi que não foi culpa dela, ela me disse que ele a seduziu de tudo que era forma. Ele já se desculpou comigo e disse que foi um erro. Tenho agora medo de confiar nele e ele me trair de novo. Será que ele pode mudar como ele me prometeu? Será que posso voltar a confiar?

            Parece-me que você quer resolver o seu namorado e não a você mesma. Quer que ele seja de confiança e que ele se interesse por você. Quer ser mais procurada por ele e se sentir querida. Enfim, quer que ele mude em relação à você, quando na verdade você tem muito mais a ganhar se você buscar a sua própria mudança.
            A pergunta que você deve se colocar é por que você aceita um relacionamento deste. Você se diz apaixonada, mas por que se apaixonou por alguém que não se interessa por você? O que será que significa essa paixão? Por que você não consegue cair fora de algo que te faz se sentir tão para baixo? Parece que há um certo prazer masoquista.
            E que amiga é essa? Amigos não traem amigos, o que foi justamente o que ela te fez e que se saiu com uma desculpa esfarrapada dizendo que ele a havia seduzido e ela caiu na sedução. Ela e ele escolheram te trair, só você que não consegue ou não quer enxergar isso. Você aceita situações que não lhe são nada favoráveis e enquanto não mudar essa posição nada vai mudar na sua vida.
            A mudança que lhe falta é a sua e não a dos outros. Precisa entender porque está identificada com uma posição de tanta baixa autoestima. O que será que na sua história de vida fez com que você ficasse ligada a uma auto-imagem tão empobrecida? A medida que sua auto-imagem puder ser reconstruída para melhor você saberá avaliar com mais precisão quem você pode confiar e de quem você deve manter distância. Quando você mudar internamente, as suas escolhas e os seus relacionamentos também vão mudar. 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Análise de Filme: Álbum de Família


            O filme americano Álbum de Família (August: Osage County, 2013) foi baseado em uma peça teatral e retrata conflitos familiares potencializados. Violet é uma mulher após seus sessenta e com um câncer na boca. É uma mulher amarga cujo maior prazer se revela em atacar verbalmente e com injúrias qualquer pessoa que se digne a passar pela sua frente. Seu marido não a tolera e nem as suas próprias filhas. Todos a temem, pois em seus ataques ela consegue ser ferina e capaz de uma violência massacrante. No enredo seu marido some, aparentemente sem deixar rastro, o que faz com que toda a família se reúna: as três filhas com marido e namorados, a irmã casada, seu sobrinho e sua neta. O que era para ser uma reunião de amparo frente ao desaparecimento do marido e da doença que a mãe enfrenta acaba virando um campo de guerra que deixaria muitos generais experientes sem saber como agir.
            Espera-se que a família seja um grupo de pessoas que preze pela segurança emocional e física uns dos outros e que crie um espaço onde possa haver desenvolvimento. Infelizmente, nem todas as famílias são assim e esta da estória é mostra do quanto uma família pode ser um grupo de pessoas que se atacam e que contribui muito para o sentimento de desamparo e de fracasso. Violet, a matriarca com câncer, é uma pessoa primitiva, cheia de sentimentos e emoções negativas, e não consegue lidar com o que sente de forma eficiente e madura; e por isso mesmo projeta nos outros todos os ataques que sente dentro de si mesma. O outro, de fora, mesmo que seja membro da própria família, é o inimigo e inimigos são tratados com ataques. Quando parece que ela está para ter uma conversa tolerável com alguém, está na verdade preparando o próximo ataque.
            Para o psicanalista Bion, uma pessoa cheia de elementos psíquicos agressivos e que não servem para serem pensados só tem uma via: expulsar o que sente. Violet, interpretada genialmente pela atriz Meryl Streep, expulsa tudo o que de ruim sente e quando encontra esses mesmo elementos expulsos depositados em quem está fora age como se aquela pessoa em sua frente fosse monstruosa e que precisasse ser destruída. Suas relações só tem a característica da destruição, nada bom pode ser mantido. Manter algo bom exige que internamente exista um espaço livre de ataques e violência, o que para Violet é impossível.
            O relacionamento de Violet com suas filhas é opressivo, para dizer o mínimo. Qualquer que fosse o desejo delas ou suas conquistas a mãe tinha habilidade para desmerecer e transformar tudo em vergonha ou mediocridade. Ninguém escapava de sua amargura e violência, nem mesmo a empregada que sofria preconceito por ser de origem indígena. O marido desaparecido havia na verdade se suicidado. Ele era fraco e impotente para reagir contra a esposa e a saída foi antecipar a própria morte. Em vez de conseguir encontrar e criar alternativas saudáveis para se ver livre desta mulher, enlouqueceu. Até mesmo os periquitos que a mulher comprava morriam e era devido ao calor excessivo na casa. Uma metáfora para o clima sufocante que quem entrava naquela casa encontrava. Calor parece sinônimo de acolhimento, mas neste caso tinha mais a ver com ser fritado.
            O câncer em sua boca também pode ser interpretado como uma metáfora de que era justamente pela sua boca que saía as piores coisas. Suas palavras lhe intoxicaram e apodreceram a boca e não os cigarros que impulsivamente fumava. Conviver com uma pessoa dessas é uma experiência empobrecedora. Ninguém com um mínimo de autoestima suportaria acatar os ataques que eram desferidos. Quando a família é um grupo onde viceja o ódio mais primitivo, a melhor ou talvez única opção é mesmo a dissolução. Só cada um indo para o seu lado permitiria que cada um pudesse se reconstruir em outra base, base esta mais favorável, construtiva e saudável. Tornar-se uma pessoa amarga e nada fazer para remediar isto custa caro. O custo não é em dinheiro, mas em algo que não tem volta: a própria qualidade de vida.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Pergunta de Leitor - Uma dádiva e não um peso


Me pego com 37 anos e levando uma vida totalmente diferente e aquém do que sempre planejei. Tenho um casamento que foi forçado e que não me satisfaz. Não queria ser pai e agora sou contra a minha vontade porque a minha mulher decidiu assim. Meu trabalho é ridículo e mal serve para eu pagar as minhas contas. Olho para os meus irmãos que estão encaminhados na vida e fico me sentindo mal. Tenho raiva da vida e não consigo encontrar nenhuma saída. Jogo na loteria com esperanças de ganhar e mudar a minha vida, mas todas as vezes que vejo que outras pessoas ganharam menos eu, fico furioso. Sou bem mais inteligente que a maior parte das pessoas e mesmo assim vejo gente medíocre ganhando mais do que eu. Só sei que estou cansado e sem saber o que fazer.

            Há um ditado antigo que diz Quando alguém faz planos, Deus ri da ingenuidade dessa pessoa. Esse ditado fala que por mais que façamos planos sobre nossas vidas, muitas coisas se darão de forma diferente. É impossível e nem seria natural levar uma vida totalmente planejada. A vida sempre nos surpreende e, infelizmente, muitas surpresas não são agradáveis.
            No entanto, quando a vida sai totalmente fora daquilo que queríamos é porque de alguma maneira deixamos muito de lado o nosso caminho, fazendo com que a vida ou alguém externo decida tudo por nós. Não sei se esse é o seu caso, mas valeria a pena refletir.
            Você deve se perguntar porque aceitou um casamento forçado, porque seu desejo de não ser pai não foi ouvido e porque se encontra num trabalho que não te satisfaz. Você imagina como sua vida poderia ser, mas trabalha com você mesmo para que essa imaginação possa se concretizar? Ou fica só aguardando que coisas boas te aconteçam sem que você tenha que fazer nada? Será que é por isso que espera ganhar na loteria? Se for, perde tempo, pois este passa sem que você o aproveite.
            Agora, você se julga inteligente, só que está lhe faltando usar a sua inteligência a seu favor. De que lhe adianta manter a inteligência guardada? Porém, não seja só inteligente, mas também e acima de tudo seja sábio. O sábio não fica à espera da felicidade bater em sua porta, mas cria condições e meios para que a felicidade ocorra. Quando você mudar a sua posição perante a vida, ou seja, quando você abrir mão da posição de vítima e adotar outra mais ativa e responsável, poderá ver a vida com um olhar melhor. A vida passará a ser uma dádiva e não um peso.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Adoração Prejudicial



            Aconteceu num show de comédia, os populares stand ups, de um famoso humorista fazer piada sobre um popular e conhecido ex-presidente e uma pessoa da plateia se manifestar indignada e defendendo veemente e violentamente o tal ex-presidente. Evidente que uma pessoa ter apreço por política ou por algum representante político está em seus plenos direitos, mas o perigo é quando um político se torna alvo de adoração e passa a ser visto como se estivesse acima de tudo e de todos.
            Quando algum político ou qualquer outra figura de destaque ganha aura de intocável cria-se um perigo muito grande. O perigo reside no fato de que se uma pessoa é adorada ela ganha exclusividades que a torna diferente, ganhando uma posição de se estar acima das convenções que costumam gerir as demais pessoas. Está criado, nesses casos, a exclusão que é extremamente prejudicial para o bom andamento de qualquer sociedade.
            Ao tentar se criar figuras míticas e que jamais sejam questionadas é um pensamento infantil que crê num personagem que tenha todas as respostas e que possa tudo. Os limites, segundo o pensamento infantil, não existem para determinadas pessoas. As crianças acreditam que haja dois tipos de pessoas: aquelas que como elas se sentem vulneráveis e as outras que tudo podem e conseguem. Não é a toa que as crianças tenham adoração apaixonadas por muitos personagens e pessoas à sua volta. À medida que vão crescendo percebem que essa adoração toda era uma fase e que foi superada para poder viver a vida com mais realidade e possibilidade.
            Agora, quando o pensamento infantil se faz presente na política a situação pode ficar muito ruim. A política não deve ser vivida para alimentar a vaidade de algumas determinadas figuras, mas deve ser um instrumento onde se possa pensar sobre como construir uma sociedade mais justa e eficiente. Ao se criar um “deus” intocável mata-se  a justiça e instaura uma sociedade formada de pessoas que acatam tudo sem a menor cerimônia e sem o menor senso crítico. Gostar e se sintonizar com um dado político é uma coisa, porém é bem diferente construir um altar para determinada pessoa e atacar qualquer outra forma de pensamento diferente. Todas as ditaduras começaram desta forma. 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Pergunta de Leitora - Reconhecer os sinais


Estou divorciada há quase quatro anos. Fiquei casada por 15, mas meu ex era abusivo, chegando até me bater. Depois me relacionei com um homem que se revelou alcoólatra e que ficou também abusivo. Por fim, meu último relacionamento foi com alguém que descobri depois que era viciado em drogas. Enfim, todos os meus relacionamentos os caras se revelaram violentos e só fui perceber depois de algum tempo. Só que agora eu morro de medo de acabar de novo num relacionamento desastroso. Preciso quebrar essa repetição, mas tenho medo de confiar nos homens e me dar mal novamente. O que será que devo fazer?

            As pessoas não são livros fechados, do qual ninguém sabe o que tem dentro, mas dão sinais no decorrer do tempo. Num primeiro momento ninguém se revela e o que mostra é apenas aquilo que deseja que seja conhecido. No entanto, passado esse primeiro momento, sinais de advertência são deixados escapar nas pequenas ações do dia a dia permitindo, então, se ter uma idéia mais próxima da realidade de quem seja aquela pessoa.
            A questão que você deveria se fazer é por que você não conseguiu reconhecer esses sinais. O que será que te cegou e te ensurdeceu para negar os sinais que esses homens devem ter revelado ao longo dos dias em que vocês ficaram juntos? Uma possibilidade é que ao se encantar por um determinado homem você nega qualquer outra informação que não seja aquela que te mostre o quão maravilhoso ele é, ou seja, você se fecha aos sinais que contrariam o seu encanto.
            Quando é possível levar os sinais, por menores que eles sejam, em consideração é possível se ter uma idéia de quem é abusivo ou de como ele vai se relacionar com você. Pode ter certeza de que a maneira que ele se comportar com a vida em geral vai ser a mesma maneira que ele vai se comportar com você. Porém, quem nega os sinais se engana e só consegue ver o que quer e não a realidade.
            Você diz que está difícil confiar nos homens, mas o que está realmente difícil é você confiar na sua capacidade de avaliar, com mais propriedade, quem pode lhe ser um bom companheiro. A dúvida não é em si em relação aos homens, mas a si mesma. Conhecendo melhor porque você funciona negando os sinais e a realidade poderá ter uma idéia do porque se repete nesses relacionamentos e poderá quebrar esse padrão. Estará livre para criar outro tipo de funcionamento para si própria e pronta para encontrar alguém que lhe seja bom. Saberá reconhecer o outro com mais eficácia e entenderá se é isso o que realmente quer.