sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Pergunta de Leitora - Autora


Tenho 21 anos e moro com meus pais. Ainda não consegui passar no vestibular. Quero fazer psicologia. Sou baixa (1,50m) e gorda (86 kg). Me sinto horrível e terrivelmente feia e totalmente deslocada. Não tenho amigos e nem amigas. Nunca beijei ninguém e só sei me lamentar. Minha mãe me faz tanta pressão para emagrecer que acabo comendo de nervosa. Meu pai não fala nada, mas sei que ele tb me acha muito gorda. Sofro muito com minha vida e não sei o que fazer para melhorá-la. Já até pensei em suicídio mas nunca tive coragem. Quero mudar mas não sei como. Queria aproveitar melhor quem eu poderia ser. Mas parece que não tenho perspectiva. O que posso fazer?

            Você me fala como se você fosse duas. Uma delas você odeia, pois tem um corpo que você desgosta e uma vida que te aborrece e não te traz nenhum bom sentimento. Outra que você sente que está aí dentro de você, mas que não consegue ter acesso. Digo dessa outra baseado quando você escreveu: “queria aproveitar melhor quem eu poderia ser”. O que precisa é aprender a acessar essa outra que você sente que poderia ser.
            A sua condição é a da prisão. Você se sente presa a um corpo e a uma situação que não te favorece e que só serve para curtir o masoquismo. A primeira pergunta que você deve se fazer é o por quê disso? O que será que impede essa outra, muito mais conveniente ao seu desenvolvimento, de surgir com mais força? É importante e vital você responder essa pergunta.
            Para chegar a uma resposta que você necessita precisa se analisar e aprender a se ouvir. Ao se ouvir você entenderá as quais impedimentos inconscientes você se prende e com isso poderá vir a reconstruir a sua história de outra forma. Em vez de só saber se lamentar vai encontrar alternativas que te mostrem uma saída desse aprisionamento.
            A sua dor e sofrimento podem ser seu grande trunfo para se tornar uma psicóloga acolhedora com os sofrimentos dos futuros pacientes. Mas para isso é preciso primeiro aprender a acolher o seu sofrimento e transformá-lo. Quando você pensa em suicídio é esse corpo e situação que deseja matar e não você de fato. Está na hora de passar de vítima a autora da sua vida. Não perca mais tempo.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Procurar a cara metade


            Tantas pessoas reclamam que não têm ninguém em suas vidas. São tantos o que se lamentam por não terem um namorado ou namorada. Sentem-se sozinhos e carentes. Passam, então, a dizer que ninguém mais quer nada com nada, que o amor não mais é levado seriamente e que não se fazem mais namorados como antigamente. Apesar de que mudanças sempre ocorrem na sociedade e isso muda até as formas de se relacionar, o que na verdade acontece é que se idealiza o que seja um namoro e acaba-se procurando por algo que não tem como existir na realidade.
            O problema por que essa idealização acontece é devido as pessoas procurarem sua cara metade e não um namorado ou namorada. Quem quer que seja nosso companheiro no amor, essa pessoa jamais será nossa cara metade, mas um outro com todas as suas singularidades. O amor existe apesar das diferenças e é bom que assim seja, pois amar alguém que fosse nossa cara metade (o que é irreal) seria a mesma coisa que um amor narcísico, ou seja, um amor apenas por nós mesmos e não pelo outro.
            Procurar pela cara metade é um exercício tão infrutífero quanto egoísta. É tal qual procurar por uma parte de si próprio no outro como se estivéssemos incompletos. Não é esse o caso. Ninguém deveria se envolver num namoro porque se sente incompleto. Isso só levaria ao fracasso do relacionamento já que implicaria a exigência de que o outro tenha que nos completar. Ninguém tem o poder de completar o outro e insistir nisso é se iludir e caminhar para a infelicidade. Muitos dos desentendimentos entre os casais é a decepção por notarem que o outro não traz a completude. Querem amar, porém colocam a condição de que o outro tenha que ser algo idealizado e não real.
            Amar significa, acima de tudo, aceitar que o outro é diferente. Amar implica se desfazer da idéia de que o outro precisa ser de um jeito ou outro. Procurar por caras metades é um engano e só leva ao desapontamento. Muito mais favorável é procurar alguém que podemos amar e que nos ame, mesmo havendo diferenças. É não precisar receber a etiqueta de “cara metade”, mas de companheiro ou companheira. Quando desejamos o possível, a felicidade se torna algo mais próximo.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Pergunta de Leitora - Trabalho de Todos



Minha questão é com o caso do menino que supostamente matou a família em SP. A polícia afirma que foi o garoto de 13 anos que matou a família toda e se matou. Uma criança não teria como arquitetar algo desse nível, porem estamos falando em um tempo onde tudo se transforma muito rápido, muitas informações. Hoje em dia é nítido em nossas crianças um desenvolvimento e uma malícia mesmo "inocente", mesmo a criança não sabendo o significado do que está falando, mas está aí, pais e mães muito maliciosos, enfim o mundo de hoje é bem diferente do mundo de uma criança e um adolescente de 10 ou 20 anos atrás, qual a sua opinião sobre esse caso? Um adolescente mostrando todo o amor e afeto pode estar escondendo um SER PSICOPATA e isso tem como ser tratado?

            Quando recebemos a notícia de casos como esse, de um crime bárbaro, o que sempre nos acomete é um sentimento de assombro e impotência. Assombro por perceber que o ser humano pode ser capaz de atos tão terríveis e inomináveis, seja ele jovem ou mais velho, e impotência por percebermos que não podemos controlar tudo e nem saber de tudo.
            Quanto ao caso em si não há como eu falar, pois me faltam informações para tal. Agora, o que podemos pensar é sobre o que notícias assim nos causam. Quando algo bárbaro ocorre tendemos a culpar alguém ou alguma coisa. É a televisão, a internet, o descaso dos pais e da sociedade. Só que culpabilizar de nada adianta, pois esta atitude é de fuga e não de realmente pensar sobre o que se está passando.
            Malícia não é algo que foi inventado agora, sempre existiu. Psicopatas também. Vivemos uma época em que não se dá mais para adiar pensar sobre a maneira que vivemos, sobre como nos relacionamos conosco e com nossos vizinhos. A psicanalista Melanie Klein estudou os impulsos destrutivos nos relacionamentos e considerou que a agressividade é inata ao homem. Em alguns mais e em outros menos. A questão que se faz importante é como vivemos essa agressividade, que educação sentimental recebemos dos pais, da família, da escola, da sociedade, da política? Enquanto não mudarmos o que de fato valorizamos no seio de cada área da sociedade cenas tristes e crimes assustadores continuarão nos acompanhando.
            Se queremos não ter mais tais notícias é porque precisamos passar por uma revolução, mas não de armas e nem de violência, que é a mesma coisa que trocar seis por meia dúzia, mas pela revolução da maneira que vivemos, a revolução da mente. Só que essa revolução leva tempo, muito tempo e muitos que começarem a plantar agora não estarão vivos para poder vê-la. Entretanto, o plantar precisa começar e já estamos atrasados. Nos angustiarmos com o que acontece é saudável, mostra que há vida dentro de nós, mas é preciso dar um passo além e esse é um trabalho de todos e não só de um. Não é a polícia, nem a política, nem a economia, nem a escola que farão essas mudanças sozinhas, mas são as pessoas que puderem se voltar mais para si mesmas e começar a aprender a valorizar o que de fato importa.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Carro


            No tarô de Marselha há uma carta que se chama O Carro. É a imagem de um jovem dirigindo uma carruagem com dois cavalos de cores diferentes. Segundo os místicos o cavalo vermelho representa o corpo físico, enquanto o cavalo azul representa o corpo espiritual. Deixando de lado os significados místicos que muitos dão ao tarô podemos pensar nessa carta sob um olhar psicanalítico.
            O tarô não precisa ser entendido como algo mágico que prevê o futuro e mostra quem vai ser seu mais novo amor. As cartas podem ser interpretadas como contando uma verdade do psiquismo. Na Idade Média, quando esse tarô foi criado, não existia psicanálise, psicologia e ciências tais, de modo que a investigação da mente era identificada como feitiçaria. Era inadequado e perigoso, naquela época, investigar o próprio pensamento, muitos foram parar nas fogueiras por causa disso. O pensamento era controlado.
            Voltando para O Carro, podemos entender esse cavalo vermelho como nossas emoções mais básicas e primitivas, aquilo que nos inflama e que são nossos impulsos que ás vezes nos leva a fazer besteiras. Já o cavalo azul pode ser entendido como a razão que nos faz refletir e pensar antes de qualquer atitude, é se conter e não se entregar cegamente aos impulsos. Na nossa vida mental temos então esses dois cavalos, emoções e razão, e não havendo um bom equilíbrio entre eles a carruagem (nossas vidas) podem tombar. Uma carruagem deve ser bem guiada, principalmente quando há dois cavalos. É necessário eles trabalharem conjuntamente, senão há riscos.
            Nossas vidas devem ser bem vividas e o equilíbrio é o que permite isso. Se entregar, sem qualquer restrição, a tudo que sentimos pode ser perigoso. Nos cega para ver a realidade e impede nos preservarmos. Porém, viver controlando todas as emoções rigidamente é se impedir de sentir o gosto pela vida, ficamos desumanos e frios. Mas quando podemos usar das emoções e razão de forma harmônica criamos a possibilidade de nos guiar bem na vida e tirar dela o que há de melhor. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Pergunta de Leitora - Atrás de cada um


Queria muito fazer análise para resolver algumas coisas na minha vida mas tem um porém. Não quero ter que revisitar o passado. Aliás acho isso tudo uma bela bobagem da psicoterapia. Por que eu deveria analisar o passado? Minha vida é agora, acontece já e o que passou já passou. Não tem sentido falar do passado e de quando eu era criança e tal. Para que tudo isso? Quem gosta de passado é museu. A gente deve sempre olhar para a frente e não”se debruçar sobre o passado”. Tem algum tipo de terapia que seja a certa para mim? Uma terapia que não tenha que fazer com que eu tenha que perder tempo?

            A psicanálise se volta ao passado não por um capricho tolo, mas porque tem um sentido ao procurar entender o que já se passou. Nem sempre é fácil pensar sobre o que se passou e a tentação de deixar o passado esquecido é muitas vezes grande. Só que quem foge de seu passado na verdade foge de si próprio. Você tenta fugir de si mesma e isso nunca ajudou ninguém.
            Ao se debruçar sobre o seu passado não significa que você vai esquecer o tempo presente e viver um tempo que já não mais existe, mas vai, sim, entender melhor sobre as coisas que te acontecem agora e com isso poder vir a mudar o seu futuro. No fundo os tempos estão conectados e não dá para separá-los como se um não tivesse nada a ver com o outro. Você quer dividir o indivisível.
            Todos carregam uma história e entender a sua história é a maneira de compreender a pessoa que você é hoje. Você diz que quer resolver algumas coisas na sua vida, mas muito provavelmente essas coisas vão ter uma ligação com eventos no passado e quem desconhece seu passado e suas razões tende a se repetir. Analisar seu passado lhe dá a chance de encontrar respostas novas para o presente e construir um futuro mais favorável.
            Ficar presa ao passado é uma coisa, porém aprender com ele é outra bem diferente. Você confunde as coisas e essa confusão te impede de se conhecer melhor e lidar melhor com o seu presente. O passado não deve jamais ser esquecido, mas ser usado como algo que leva ao aprendizado, se você assim permitir. Você sabe por que existem os memoriais como o memorial do holocausto, por exemplo? Não é certamente para ficar preso à história, mas para se aprender com a história e não deixar algumas coisas se repetirem. Querer esquecer o passado é querer esquecer a sua história e de quem você é.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

As emoções no corpo


            Todo mundo tem emoções. Elas são parte da vida psíquica e são de extrema importância para o bem estar. Uma pessoa que sabe lidar bem com suas emoções vive melhor e se conhece mais. Sabe até respeitar mais a si própria. Já uma pessoa que não se relaciona bem com suas emoções, tem raiva delas ou não as aceita, é uma pessoa que certamente não tem como viver bem. Quando isso acontece, de uma pessoa brigar com seu lado emocional, as emoções não deixam de existir. Quando recalca suas emoções elas continuam a existir de qualquer maneira, mesmo que de forma oculta, e é aí que pode haver um problema.
            Geralmente quando alguém não está em paz com suas emoções é porque esse alguém não conta com uma mente que possa pensar sobre o que sente. As emoções podem ser muito fortes e exigentes e para se lidar com elas se faz necessário uma mente que dê conta de um processo de elaboração. O psiquismo funciona tal como um aparelho digestivo, segundo a analogia feita pelo psicanalista Bion, que digere ou não o que se sente. Quando há boa digestão, aquilo que foi digerido passa a ser parte do ser, se torna assimilado ou em outra palavra, elaborado. Por outro lado, quando algo surge e não é bem digerido, tal como no sistema digestivo, se tem uma bela indigestão. Nesse caso uma indigestão mental. É quando há coisas demais e mente de menos.
            Nesses casos, quando a mente não tem como elaborar as emoções, muitas vezes o corpo pode sofrer. É que de alguma maneira as emoções acabam tendo que encontrar uma válvula de escape e comumente acaba sendo o corpo. São o que se chama de psicosomatizar. Em vez de sentir as emoções e se pensar sobre elas e lidar com elas mentalmente, elas acabam sendo sentidas de qualquer jeito, mas neste caso através do corpo. Muitas alergias, gastrites e outras doenças têm uma grande fonte de origem emocional. Podem perceber: toda vez que alguém passa por uma situação que exigiu muito emocionalmente essa pessoa tem uma chance grande de ficar mal. Alguma doença pode surgir, alguma alergia. Nessas horas o corpo sente o que a mente deveria sentir.
           Ninguém nasce com uma mente pronta e preparada para lidar com as emoções de forma madura e proveitosa. Isso é algo que se aprende ao longo da vida. Quando aceitamos ser sujeitos de nós mesmos e  ter que lidar com o que sentimos a mente vai se formando e se fortalecendo. Não dá para esperar ter primeiro uma mente e depois sentir, mas é um processo que ocorre junto, um contribuindo com o outro. No entanto, quanto mais a mente se fortalece menos as emoções são despejadas no corpo e menos doenças o corpo padece. Quando as emoções podem permanecer e serem resolvidas na mente o corpo agradece.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Pergunta de Leitor - Opressão


Tenho 35 anos e caso no fim desse ano. Sempre estive seguro disso mas agora que o casamento está perto começo a ter dúvidas. Fico me perguntando se ela é a mulher com quem devo me amarrar. Receio que depois do casamento ela não vá ser tão fiel. Digo isso porque ela gosta de sexo e muito e fico com a idéia de que ela possa querer sair com outros. Hoje me pego pensando se não seria melhor uma esposa mais tímida, mais recatada, alguém que desse mais confiança. A minha atual namorada nunca me deu motivos para desconfiar ainda mas ela é muito fogosa. Como fazer ela ser mais centrada?

            Enquanto os homens não abandonarem comportamentos arcaicos, dos tempos do Brasil colônia, o relacionamento homem-mulher será sempre conturbado e repleto de preconceitos e desconfianças. O seu comportamento é arcaico, pois visa à perpetuação da honra machista e não o amor. O que você tem medo é de ser desonrado e corre o risco de jogar fora algo importante e valioso por puro medo.
            Como namorada você a aceita como uma mulher “fogosa” e que gosta abertamente de sexo. No entanto, tem relutâncias em aceitar uma esposa desse jeito. É típico da ideologia machista catalogar as mulheres em duas categorias: aquelas que servem para casar e aquelas que servem para transar. Essa atitude tem origem na insegurança e na baixa auto-estima. O machista tem medo de uma mulher que sabe o que deseja.
            Esse seu medo de uma figura feminina abertamente desejante é devido à sua insegurança como figura masculina. Receia não ser capaz de satisfazê-la, não só sexualmente, mas na vida como um todo e com isso acredita que ela rapidamente perderia o interesse em você e se voltaria para outros homens. Um homem inseguro prefere se vincular a uma mulher insegura, pois esta é mais fácil de ser manipulada. Mulher que sabe o que quer não é enganada tão facilmente.
            Você já se perguntou por que em alguns tristes lugares do mundo as mulheres têm o clitóris extirpado? É porque mulher humilhada, violentada e inferiorizada não consegue desejar e se torna medrosa e submissa. Homens que praticam tais atos de agressão têm medo de mulheres fortes. Só que a solução não é então exigir subserviência das mulheres. A solução está em esses homens trabalharem a auto-estima e o sentimento de insegurança para aprenderem a viver com as mulheres relacionamentos sadios e felizes.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Qual o preço que você paga?


            Pessoas deprimidas, pessoas que sofrem, pessoas que vivem com medo. Há tantos exemplos de pessoas que não estão bem e pagando um preço muito alto por sua vida. Uma grande verdade é que nesta vida há sempre um preço a se pagar, por isso se faz necessário saber escolher bem o preço que cada um está disposto a pagar enquanto vive.
            Muitos querem passar pela vida sem ter que pagar preço nenhum, ou seja, querem viver sem ter que assumir nenhuma responsabilidade pela vida que levam. É um fato, e é sempre melhor aceitar isso, que muito do que vivemos na vida é conseqüência de nossa responsabilidade ou irresponsabilidade para conosco. Em muitos casos podemos optar por estarmos bem ou mal.
            Claro que essa opção não se dá na dimensão da consciência, mas na do inconsciente. É como se tivéssemos duas mentes sendo uma delas tudo aquilo a que temos acesso e sabemos e outra que nos fica oculta, porém que tem grande influência na origem de nossas atitudes para com a vida. O inconsciente nos leva a ser muitas coisas. Daí a necessidade de conhecê-lo.
           Conhecer o próprio inconsciente nada mais é do que um trabalho de autoconhecimento. Só que se conhecer exige um preço. Nunca é um processo fácil e nem rápido, mas que se torna necessário caso alguém queira viver com mais qualidade. Saber melhor de si nos permite avaliar o que é melhor para nós mesmo. Isso nos faz escolher o melhor preço a pagar. Quem está pagando um mau preço pela vida e com isso sofrendo é porque não soube avaliar corretamente o valor que está pagando. Depressão, medos fora da medida e angústias são más escolhas que muitas vezes fazemos. São preços altamente inflacionados, injustos e prejudiciais que, algumas vezes sem perceber, pagamos. Ao nos conhecer nos tornamos mais sábios e como resultado podemos escolher qual preço nos favorece mais. A maior diferença entre uma pessoa mentalmente sadia ou enferma é que a primeira escolhe o preço que paga enquanto a segunda deixa que a vida escolha o preço.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Pergunta de Leitor - Custo à Pagar


Sofro com a depressão. Não tenho motivo para ser deprimido. Minha vida é boa, tenho de tudo e nada me falta. Não consigo entender o por quê da minha depressão. Sempre fui meio assim deprimido, não é algo novo e que aconteceu só agora. Desde criança acho que sou assim. Já fiz algumas terapias que não tiveram nenhum resultado positivo. E apesar de eu ter dinheiro acho que a terapia é cara e um desperdício. Queria que as coisas fossem mais fáceis. O que você pode me dizer sobre eu ser deprimido sem ter nenhum motivo para isso?

            Não sei se seu caso se trata realmente de depressão, para saber disso é necessário mais informações e uma investigação mais acurada. Diagnósticos não devem ser distribuídos a torto e a direito. Agora podemos dizer, sim, que você nota em você, e já há algum tempo, um certo desinvestimento para com a vida.
            Com desinvestimento quero dizer que você está numa posição na qual as coisas parecem não ter a menor graça e sentido. A vida para ser prazerosa depende do quanto de afeto é investido nela. E a quantidade de afeto depende muito do quanto temos esperança de que ao investir afetivamente as coisas dêem retorno. Quem não investe é porque não tem esperanças de que nada venha a trazer alguma realização e felicidade e fica preso numa posição muito empobrecedora.
            O motivo para tal estado de desinvestimento você desconhece, mas pode vir a descobrir caso se debruce sobre a sua história de vida e com isso passar a se conhecer. Muito provavelmente o motivo não vai ser encontrado no plano consciente, aquele que você tem acesso, mas sim no plano do inconsciente que fica-lhe oculto e que demanda um trabalho de investigação. Hoje você se encontra ignorante do seu estado, mas pode ganhar muito mudando isso.
              No entanto, você disse que a terapia é cara e um desperdício. O que será que quis dizer com isso? Obviamente não foi pela questão financeira que parece não lhe ser nenhum problema. Porém o preço que você se refere é o de saber de si, ou seja, o de se descobrir e se reinventar. Em outras palavras, o se responsabilizar por si próprio é que lhe é custoso. Mas é impossível viver sem ter que pagar nenhum preço. Resta-lhe agora saber qual o melhor preço a ser pago: a irresponsabilidade consigo ou o autoconhecimento? Nietzsche, filósofo alemão, tem uma frase que você pode usar para refletir. Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.