segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Trânsito, Onipotência e Contenção



            É mais do que sabido de que o trânsito nas cidades se encontra caótico e lamentável. Infrações, atropelamentos, xingamentos fazem parte do dia a dia de quem se locomove. Tudo isso é muito triste e é causado pela falta de contenção e pelo excesso de onipotência.
            A onipotência é um estado na qual a pessoa acredita que ela tudo pode, tudo dá conta e não reconhece limites. Vejo, com grande freqüência e infelicidade, que muitos motoristas estão prontos a chamarem atenção de seus pares quando alguém ultrapassa o sinal vermelho ou realiza qualquer manobra ilegal. Buzinam loucamente, quando não xingam ou fazem gestos obscenos. Porém, quando eles mesmos incorrem nos mesmos erros e são flagrados, eles ficam ultrajados e arrumam qualquer desculpa para tentar justificar suas infrações. Hoje tive que fazer isso porque estava com pressa. Parei na faixa de pedestre porque não deu pra atravessar. Enfim, são muitas as falsas desculpas porque no fundo, na maior parte das vezes, se trata mesmo é de falta de respeito. Se todo mundo pensar assim o numero de infrações será grande e o bom senso e respeito será deixado de lado.
            A contenção se faz necessária para a boa convivência no trânsito e na vida. Sem ela tendemos a achar que temos mais direitos que os outros e de que nossas necessidades são mais urgentes. Um grande engano porque todos têm pressa, mas não devemos nos basear nisso para justificar a falta de respeito. É necessário se conter e saber aguardar para que os direitos dos outros também tenham vez.
            Se valer da onipotência é um grande mal porque nos faz achar que somos melhores e mais importantes que os outros. Isso destrói a humanização e cria cada vez mais violência e desrespeito. Se conter é se dar limites e saber que não existe só nós, mas toda uma comunidade lá fora. Se dar limites é reconhecer e ver o outro não como obstáculo que só existe para nos aborrecer, mas como um outro ser que está vivendo a vida assim como nós.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Timidez é auto-olhar cruel



Sou extremamente tímida e morro de medo de errar. Tenho medo de falar em público e começar a gaguejar. Nunca consigo falar o que realmente quero e penso e suo frio quando alguém me questiona. Não namoro e nunca namorei e já tenho 28 anos. Fiz minha faculdade de nutrição e quando tinha que apresentar seminários eu até tinha que tomar calmantes. Só que estou cansada de ser tão tímida e queria ser mais leve e tranqüila. Queria entender porque sou assim e melhorar. Quanto tempo leva para eu melhorar se eu fizer uma terapia? E você pode me falar um pouco sobre o que é a timidez?

            O primeiro passo para uma mudança é o desejo por ela e isso você já mostrou que tem. No entanto para uma mudança real acontecer é preciso mais passos e que você seja persistente e paciente com sua caminhada rumo à mudança que tanto deseja.
            A timidez é um estado no qual a pessoa sempre acha que está sendo observada e julgada. Teme receber a rejeição do outro e de que jamais será aceita do jeito que ela realmente é. Isso acontece porque todo tímido é um crítico cruel de si mesmo. É alguém que tem uma baixa autoestima e se julga constantemente. Assim, como o tímido se julga negativamente ele acredita que os outros façam a mesma coisa e venham a rejeitá-lo e a rejeição é sempre algo muito doloroso. Para evitar a suposta rejeição se intimida e fecha-se sobre si próprio, pois quem não se expõe corre menos risco de receber uma avaliação e ser rejeitado.
            O problema é que com isso o tímido, por não se expor, termina por perder muitas oportunidades o que contribui para o aumento de sua baixa autoestima e com isso sempre acredita menos em si próprio. Quem não se expõe não evolui, pois não aprende já que aprender significa lidar com os erros e aprender com eles. O desenvolvimento implica não se deixar intimidar pelos erros, mas saber usá-los como matéria prima para o crescimento.
            Se você se percebe cansada da sua timidez é sinal de que deseja uma mudança e de que vê que não precisa ficar mais assim. Quanto ao tempo da sua psicoterapia não há meios de precisar, já que cada psicoterapia é única e tem suas próprias características. Não se preocupe com o tempo, vai lhe ser muito mais produtivo você aproveitar sua psicoterapia para ser mais generosa consigo própria e aprender a não se julgar tão negativamente. Em sua psicoterapia vai ter a chance de aprender a ver os erros como aprendizagens e não mais temê-los. Ao aprender a ser diferente consigo mesma você tem uma maravilhosa oportunidade de construir uma outra história para a sua vida que já não precise mais se refugiar na timidez.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Boa Persistência



            João Carlos Martins é um nome bem conhecido aqui no Brasil e no exterior. Mas o que fez sua fama não foi apenas a sua brilhante competência na música, que é indiscutível, mas foi sua enorme força de vontade e paixão pela vida. Ao olharmos para a vida desse grande maestro e homem podemos aprender coisas valorosas como a importância da persistência.
            Seu primeiro contato com a música se deu aos 8 anos quando seu pai comprou um piano. Seu amor pela música foi imediato e ele numa idade bem precoce ganhou vários prêmios. Após um acidente que rompeu um nervo de sua mão direita ele precisou parar com o piano e se submeter a vários tratamentos para recuperar os movimentos. Depois de ter melhorado se descobriu portador de um mal que paralisa alguns membros, no seu caso as mãos que lhe são tão preciosas. Ele acreditou que dessa vez teria que parar com a música para sempre tanto que até foi se dedicar a outras coisas que nada tinha a ver com a música. No entanto, sua paixão era intensa e não podia ser relegada. Quando a paixão é grande não há escapatória a não ser vivê-la, caso não seja assim a vida perde o sentido. Após vários tratamentos ele conseguiu recuperar parte do movimento das mãos e tocava do jeito que era possível.
            Para aumentar ainda mais as dificuldades João Carlos sofreu um assalto no qual teve sua cabeça golpeada e isso fez com que perdesse os movimentos das mãos novamente. Ao tentar tocar sentia e até hoje sente dores terríveis, mas como que uma paixão pode terminar mesmo ao preço de terríveis suplícios? Jamais. Quando ele consegue suportar a dor ele toca e nos momentos que não consegue ele afirma que toca dentro de sua própria mente. Em vez de se amargurar com a vida e se lamentar pela má sorte que encontrou ele ousou sempre continuar em frente. Sua capacidade de acreditar numa renovação é incrível. Quando não mais podia tocar como antes, ele se tornou um maestro o que o sempre deixou perto de sua grande paixão: a música. Ele se reinventou e fez, como diz o ditado, das tripas o coração. Persistiu naquilo que mais dava sentido à sua vida e lutou e luta muito para não se deixar cair preso ao desânimo.
            Cair no sentimento de desamparo é fácil, mas ele usou todos seus recursos mentais para não ter pena de si próprio e conseguir tirar o melhor proveito da vida. A mente foi feita para ser usada e não para ser um depósito de amarguras e tristezas. Desenvolver recursos que nos possibilite crescer mesmo na presença de adversidades é um trabalho vital para se viver bem e se realizar. Como sua paixão pela música é tão grande ele foi obrigado a desenvolver seus recursos internos para poder construir novas formas de vir a ser que o permitisse viver aquilo que mais amava. Todos temos muito o que aprender com isso. Bravo Maestro!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pergunta de Leitora - Dona da Verdade



Sou tipo uma psicóloga dos meus amigos. Eles sempre vem em busca dos meus conselhos e orientações e eu sempre sou solicita com eles. Devia ter feito psicologia, pois todos me acham a psicóloga. Só que não são todos que agüentam ouvir a verdade. Um amigo meu de longa data falando do relacionamento dele com outro homem não gostou das verdades que eu disse. Ele não fala mais comigo e não entende que eu só falei a verdade. Sinto muito que ele não suporte ouvir determinadas coisas. E quando alguém não segue minhas orientações e continuam na mesma e eu mostro isso as pessoas ficam bravas. A questão é: como faço para interpretar meus amigos e faze-los entender que estou certa e que só quero o bem deles? Eles parecem que não querem aceitar a verdade.

            Será que você aceita a posição de amiga? Creio que não, pois se coloca na posição de psicóloga e sai atirando o que você considera interpretações, mas que podem ser apenas julgamentos. Não cabe a alguém interpretar o amigo e insistir nisso pode fazer você se tornar inconveniente.
            Ao insistir e despejar nos seus amigos aquilo que você considera como verdade você ultrapassa limites e corre o risco de ofender. Primeiro porque pode nem ser uma verdade, é você quem pensa assim, e segundo nem todas as verdades a gente diz. Isso não é falsidade, porém respeito que se deve aos amigos. Você, parece, rompe fronteiras que deveriam ser preservadas. Você não preservou algumas fronteiras com seu amigo de longa data e ele talvez tenha mesmo sido ofendido pelo seu comentário.
            A questão que você precisa procurar responder é por que você necessita ser a psicóloga e não a amiga? Talvez porque você idealize a psicologia e julga que ela te arma com todas as respostas. Ao bancar a psicóloga você se sente mais poderosa só que isso é narcisismo e a psicologia não pode estar a serviço do narcisismo de alguém. O psicoterapeuta não tem todas as respostas e nem dá conselho e orientações, pois ele entende que não sabe tudo e que não deve nunca tirar a responsabilidade do paciente em tomar suas próprias decisões. O psicoterapeuta só pode ajudar o paciente a pensar sobre sua vida.
            Na amizade até há espaço para conselhos e orientações, mas apenas à medida que você saiba respeitar o próximo e não desejar que ele seja de um jeito ou outro. Ao se aborrecer quando não seguem suas orientações e conselhos você não aceita seus amigos já que estes questionaram suas diretrizes. Nestes momentos está mais para ditadora do que para amiga. Resta agora você refletir sobre como conduz seus relacionamentos e sua vida para que não se torne inconveniente e suposta dona da verdade.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sexualidade



            O enorme sucesso do livro Cinqüenta tons de cinza de E.L. James vem fazendo com que muita gente fale de sexo e sexualidade. Esse é um assunto que até hoje causa um certo incômodo. Apesar de parecer que se tornou um assunto banal, isto está longe de ser verdade. O que se tornou banal foi a vulgaridade, mas não o sexo. Sexo jamais será banal.
            O sexo é o assunto que mais desperta angústias e dúvidas em qualquer pessoa de qualquer idade. É como se nunca soubéssemos dele o suficiente, porém é justamente aí que reside o encanto do sexo. Ele jamais é limitado e não tem fim. Está sempre em movimento e causando emoções. Caso não fosse assim, tão inconstante, ele não teria a menor graça. Muito do sucesso desse livro citado acima é devido ele ser meio que uma desculpa socialmente aceita para se falar sobre sexo e fantasiar sobre ele. Isso denota que, intimamente, colocamos sérias restrições sobre a vivência sexual.
            Claro que os tempos já foram bem piores para aqueles que se aventuravam a viver a sexualidade com mais franqueza. Mesmo assim é notado, principalmente nos consultórios dos psicoterapeutas, que em grande parte das vezes o sexo traz um sentimento de culpa. Sentir prazer com o sexo é algo que muitos não encaram bem. Culpam-se por esse sentimento e acham que seus desejos são vulgares e feios, que os animalizam. A culpa só transforma o que é natural em algo condenável. A sexualidade liberta fantasias e é uma força de extrema intensidade. Ao se tentar condenar a sexualidade se está na verdade tentando controlar a força e fantasia de cada um. Nas sociedades mais restritivas o ato de falar de sexo é até proibido, chegando em alguns casos haver pena de morte.
            Outra coisa na sexualidade que assusta algumas pessoas é que no sexo não há certo e errado. Quando o sexo é algo consensual entre as pessoas envolvidas ele é certo, no entanto há gente que teima em querer ditar o que pode e o que não se pode. Quando uma pessoa abomina a sexualidade e tenta controlá-la, odeia a si mesma. Quer negar a sua própria sexualidade, sua força e seu encanto. Cinqüenta tons de cinza nem mesmo é um livro original, mas sua força reside em se “permitir” discutir o que no fundo desejamos. Está na hora de a culpa não se entranhar no conceito de sexualidade para que ela possa ser um direito de todos. O sexo, bem vivido, é fonte de vida, por isso não deve ser maculado com as tintas da culpa e nem restringido de forma que tire sua beleza. Ainda há um longo caminho para aprendermos mais sobre nossa própria vida sexual.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Vício Pode Separar



Tenho 27 anos e namoro um homem de 30. No inicio do nosso relacionamento estava tudo flores e por causa do meu encantamento (ele é meu primeiro namorado) eu não via determinadas coisas. Agora passado um ano eu começo a ver coisas que estão me desagradando. Ele é alcoólatra e está cada vez pior. Ele bebe muito e de tudo e nega que seja alcoólatra. Ele acha que consegue parar quando quiser, mas não é isso que tenho visto nele. Antes era de sexta a domingo e agora é quase todos os dias e quando ele não bebe ele fica muito chato. Só que qdo ele bebe ele tb fica chato e está começando a ficar violento. Semana passada ele me bateu pela primeira vez e isso me assustou. Ele pediu desculpas e disse que isso jamais iria acontecer de novo. Falo com ele, sou carinhosa, tento ser compreensiva, mas nada adianta e o faz mudar. Não quero parecer uma mulher que o abandona na pior fase da vida dele, mas está difícil agüentar. Mas não sou má e nem mesquinha, mas só quero que ele melhore. Como posso ajudá-lo de fato?

            Quem está viciado em drogas, seja ela qual for, tende a achar que tem tudo sob controle e se engana. Conforme o tempo vai passando o vício se acentua, mas para o viciado é como se tudo estivesse normal, apesar das pessoas ao redor começarem a dar sinais de alerta. O viciado se apega à onipotência e não reconhece o seu problema terminando por adiar ainda mais uma mudança de atitude. Provavelmente seu namorado nega que tenha um problema e por isso mesmo não procura por uma mudança.       
            A complicada situação em que você se encontra é que você já percebeu que ele tem esse problema com o álcool, mas ele não. Ele prefere acreditar que nada está acontecendo e com essa atitude irresponsável vai se afundando e te convida a deixar esse problema de lado e não mais pensar sobre ele. Ainda bem que você não caiu nessa estória e está procurando pensar.
            O problema é que para alguém que está viciado se recuperar depende muito dele mesmo. Por melhor e mais acolhedora que seja as tentativas de fazê-lo mudar, elas são ineficazes se não encontram dentro dele esse desejo por se recuperar. É difícil agüentar quando você está empenhada em ajudar e dar o seu melhor e o outro ignora isso. Você sente que está dando murro em ponta de faca. Tenta ajudá-lo e sai machucada.
            Você diz que o está ajudando, portanto não há porque se sentir mesquinha. Ninguém pode tudo e você vê que há limites para o que você pode fazer. Não exija demais de você mesma, afinal, você é humana. Se ele não mudar provavelmente você se desinteressará desse relacionamento e é importante deixar isso claro para ele. Por pior que seja esse momento na vida dele é vital você mostrar que ele tem responsabilidades para com ele mesmo e para com esse relacionamento. Caso você se faça permissiva além da conta ele pode se acomodar e você se verá numa relação infeliz. Não tenha receio de cuidar da sua vida e de seus interesses.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Hipocrisia



            A palavra hipocrisia vem do grego hupokrisis e tem o significado de fingimento. Inicialmente tinha um significado artístico, mas hoje é o ato de fingir ter determinados valores que não se possui. Esse termo, hipocrisia, é o melhor para se entender o que anda acontecendo com as tentativas de se proibir as obras do escritor Monteiro Lobato.
            José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor original para a literatura brasileira. Não só foi um escritor que dedicou praticamente metade de suas obras à literatura infantil como também tratou intensamente da cultura e temas brasileiros. Suas obras encantam gerações de leitores. Muitos começaram a aprender a ler com seus livros. No entanto, esse escritor vem sendo alvo de criticas que estão a serviço da hipocrisia, ou seja, da destruição.
            Segundo esses críticos a obra de Monteiro Lobato é racista e preconceituosa, então por isso deveria ser proibida. É que em alguns de seus livros ele se refere à Tia Nastácia com termos hoje considerados pejorativos e também faz comentários que atualmente são considerados politicamente incorretos. Ora, por essa lógica torta deveríamos proibir Os Maias de Eça de Queiroz, Dom Casmurro de Machado de Assis, O amante de lady Chaterlley de D.H. Lawrence. Enfim, por que não proibimos a literatura de existir? Afinal tudo que é escrito sempre pode ofender alguém.
            Na hipocrisia existe um falso moralismo. Se pretende ser o que de fato não se é. Agora a hipocrisia é também um mecanismo de controle. Deseja-se, através do discurso hipócrita ditar o que é certo e o que é errado, mas isso é perigoso, pois nos trata como crianças que não podem pensar por si próprias. Todas as ditaduras começaram com restrições aos livros que são veículos do pensamento. O que se deseja quando se proíbe um livro é limitar o pensamento, é infantilizar a sociedade dizendo: não se preocupem, nós pensamos por você e decidimos o que vocês devem ler e pensar. Em todo ser humano há um lado construtivo e outro destrutivo. É uma pena que muitas vezes o lado pior se sobressai e contamina e destrói o que há de bom. Ditaduras, guerras, torturas são frutos desse lado destrutivo. A tarefa de cada um é limitar o seu lado ruim e desenvolver o que carrega de melhor e mais nobre. Isso é se tornar humano.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pergunta de Leitora - Sem riso



Na minha família nunca fomos alegres. Nem mesmo em ocasiões festivas. Tudo era levado muito a sério e rir ou sorrir estava fora de cogitação. Até hoje isso é assim com meus pais e irmãos. Hoje, depois de formada, estou morando em uma outra cidade e não vivo com minha família. Mesmo assim me sinto triste. As pessoas me acham muito séria e alguns acham que estou sempre brava e com cara feia. Não sei mesmo rir. Perceber isso é estranho. Os outros conseguem rir de boca aberta e são bem mais espontâneos, já eu no máximo apenas esboço um sorriso tipo da Mona Lisa mas sem mostrar nada mais. Não sei se sou feliz. Quando criança eu lembro que quando eu sorria ou algo assim meus pais ficavam bravos e me repreendiam. Será que é possível eu sorrir normalmente, sem sentir vergonha e sem me achar feia?

            No romance O Nome da Rosa de Umberto Eco dois monges de opiniões contrárias têm uma violenta discussão sobre o riso. Para um deles o riso é demoníaco, pois deforma as feições do rosto deixando o ser humano parecido com um animal e acrescenta que o riso mata a fé já que pode ridicularizar as coisas. Já para o outro monge o riso era próprio da inteligência humana e mostra refinamento de espírito e cita o exemplo de São Francisco de Assis como um santo que usou da comédia para atrair pessoas e mostrar um lado mais leve da religião.
            Na sua família o riso foi tratado negativamente e com isso impediu abrir espaço para a espontaneidade. É como se todos devessem viver um papel sério e jamais viver o que realmente sentiam, representavam uma pseudo seriedade pois temiam a espontaneidade. Mas quem disse que o riso também não é sério? A boa risada significa se entregar a um sentimento de prazer e isso é coisa séria.
            Não rir e impedir o riso é repressão, ou seja, é violência e quem vive se reprimindo não se permite ser feliz. Quando você se pergunta se lhe é possível rir sem sentir vergonha e sem achar isso feio você se questiona se consegue se sentir feliz sem que isso lhe seja proibido. Felicidade, tal como o riso, ficou para você sem possibilidade de acesso.
            Falta mais informações para entender porque para a sua família o riso e a espontaneidade se tornaram tão mal vistas, mas isso é algo que você pode descobrir ao analisar a sua história de vida e a história da sua família. É importante você se submeter a uma análise para compreender o que se proíbe ao se proibir o riso e com isso se livrar dessa atitude e adotar outra que permita que você ria, sem repressões, quando tiver vontade para tanto. Concordo com o segundo monge que citei acima. Rir é prova de inteligência porque significa aproveitar melhor o que há de bom na vida e fazer pouco caso da imagem do que é supostamente a seriedade.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Correntes Perigosas



            Vem se falando muito ultimamente de cura de homossexuais. Principalmente entre os evangélicos, tanto que há até uma bancada no congresso que gostaria de transformar em lei que os psicólogos e psiquiatras sejam OBRIGADOS a oferecer esse “tratamento de cura” quando requisitados para isso. É incrível como o ser humano pode ser ridículo.
          Primeiro é preciso deixar claro que a homossexualidade não é doença. É apenas uma maneira de ser como tantas outras que existe. Houve até mesmo épocas e culturas na história que aceitava a existência da homossexualidade sem nenhum drama. A maior crítica à homossexualidade é que ela é considerada errada porque não tem como fim a reprodução. Ora, a sexualidade humana não se baseia na reprodução. Isso é característico dos animais, já o ser humano é muito mais dependente de seu desejo e imaginação. Negar a existência do desejo é negar o humano.
       Se alguém é homossexual e não quer viver sua homossexualidade, tudo bem. É direito de cada um fazer o que quiser da própria vida, mas o que se torna perigoso e estúpido é usar a ciência (psicologia e psiquiatria) para servir a alguns fins: como querer controlar como o outro deve viver e definir o que é normal ou não, por exemplo. Isso beira à onipotência e toda onipotência vem do fato de não se aceitar as diferenças.
            Ninguém tem o poder e direito de transformar a natureza de uma pessoa. Discussões como essas são pura perda de tempo e energia. Todo mundo tem o direito de viver a vida como melhor lhe apetecer contanto que respeite a dignidade do outro.  A psicologia e psiquiatria devem estar a serviço da vida e do ser humano e não do controle. Para o controle existe a ditadura que é sinônimo da ignorância. Já para a psicologia e psiquiatria o que vale é se abrir às inquietações e angústias das pessoas, sem preconceitos e opiniões morais, para poder melhor ajudar no desenvolvimento do bom ser humano. A psicoterapia é ajudar o sujeito a se livrar de suas amarras que o impedem de viver plenamente todo o seu potencial e não dirigi-lo para seguir uma cartilha.