sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pergunta de Leitora - Sem riso



Na minha família nunca fomos alegres. Nem mesmo em ocasiões festivas. Tudo era levado muito a sério e rir ou sorrir estava fora de cogitação. Até hoje isso é assim com meus pais e irmãos. Hoje, depois de formada, estou morando em uma outra cidade e não vivo com minha família. Mesmo assim me sinto triste. As pessoas me acham muito séria e alguns acham que estou sempre brava e com cara feia. Não sei mesmo rir. Perceber isso é estranho. Os outros conseguem rir de boca aberta e são bem mais espontâneos, já eu no máximo apenas esboço um sorriso tipo da Mona Lisa mas sem mostrar nada mais. Não sei se sou feliz. Quando criança eu lembro que quando eu sorria ou algo assim meus pais ficavam bravos e me repreendiam. Será que é possível eu sorrir normalmente, sem sentir vergonha e sem me achar feia?

            No romance O Nome da Rosa de Umberto Eco dois monges de opiniões contrárias têm uma violenta discussão sobre o riso. Para um deles o riso é demoníaco, pois deforma as feições do rosto deixando o ser humano parecido com um animal e acrescenta que o riso mata a fé já que pode ridicularizar as coisas. Já para o outro monge o riso era próprio da inteligência humana e mostra refinamento de espírito e cita o exemplo de São Francisco de Assis como um santo que usou da comédia para atrair pessoas e mostrar um lado mais leve da religião.
            Na sua família o riso foi tratado negativamente e com isso impediu abrir espaço para a espontaneidade. É como se todos devessem viver um papel sério e jamais viver o que realmente sentiam, representavam uma pseudo seriedade pois temiam a espontaneidade. Mas quem disse que o riso também não é sério? A boa risada significa se entregar a um sentimento de prazer e isso é coisa séria.
            Não rir e impedir o riso é repressão, ou seja, é violência e quem vive se reprimindo não se permite ser feliz. Quando você se pergunta se lhe é possível rir sem sentir vergonha e sem achar isso feio você se questiona se consegue se sentir feliz sem que isso lhe seja proibido. Felicidade, tal como o riso, ficou para você sem possibilidade de acesso.
            Falta mais informações para entender porque para a sua família o riso e a espontaneidade se tornaram tão mal vistas, mas isso é algo que você pode descobrir ao analisar a sua história de vida e a história da sua família. É importante você se submeter a uma análise para compreender o que se proíbe ao se proibir o riso e com isso se livrar dessa atitude e adotar outra que permita que você ria, sem repressões, quando tiver vontade para tanto. Concordo com o segundo monge que citei acima. Rir é prova de inteligência porque significa aproveitar melhor o que há de bom na vida e fazer pouco caso da imagem do que é supostamente a seriedade.

Um comentário:

  1. Sylvio, sempre fui uma pessoa grave, desde criança. Muito responsável e, quem sabe, até triste, um pouco. Não sou de gargalhar, embora aconteça, mas concordo contigo que o sorriso, uma boa risada é algo que faz bem à alma, traz vida e brilho. E o prazer de ver as crianças rindo? eu acho que tem algo de divino no riso dos pequenos.

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