sexta-feira, 9 de março de 2012

Pergunta de leitora - Guerra doméstica



Meus filhos quando estão com muita raiva (porque eu os mando para o banho e atrapalha, ou fazer alguma tarefa, ou separo a briga dos dois e dou castigo, como não ver TV, ou não poder jogar), pegam as armas de brinquedo, miram e atiram em mim. Sem parar. Se for “metralhadora”, que eles não têm, mas fingem ter, melhor. A pergunta é: Eu os proíbo de fazer isso e como? Ou eu ignoro e volto a tocar no assunto novamente só quando eles estiverem menos revoltados?
Na hora em que eles estão permeáveis e amorosos, digo que não quero mais que finjam me matar, e eles concordam um pouco envergonhados, mas na hora da raiva, não resistem.

            O que te mobilizou a fazer esta pergunta foi o fato de que você fica triste e magoada com essa reação dos seus filhos. Além disso, você fica assustada quando eles têm uma demonstração obvia do ódio que sentem quando você os frustra de alguma forma e talvez pense que poderia haver algo de errado no relacionamento de vocês.
            Melanie Klein, grande psicanalista e fundadora da psicanálise infantil, percebeu que as crianças podem odiar com bastante intensidade e agredir (principalmente em fantasia) a mãe quando se encontram frustradas. É que as crianças projetam na mãe toda a frustração que sentem e a responsabilizam pelo desprazer que a dominam. Até acreditam que a mãe causa esse desprazer todo propositalmente e por isso sentem esse impulso de atacá-la, acabar com ela e se ver livre do incômodo.
            Quando você chama a atenção dos seus filhos, cobra deles ou os castiga, eles ficam com uma baita raiva e demonstram isso fantasiando te aniquilar. Mas você está no seu papel quando exige deles. A mãe precisa, uma hora ou outra, frustrar os filhos, para que eles aprendam e se eduquem. Deixar os filhos soltos e permitir que não tenham nenhuma responsabilidade não os ajudaria em nada, pois daria a falsa impressão de que tudo se pode.
            Não há nada de errado em seus filhos terem essa fantasia de te matar. Nos contos de fadas sempre existe a figura da madrasta que é sempre morta no final para depois haver um reencontro com a mãe. A madrasta nada mais é do que esse lado da mãe que todos nós gostaríamos de matar para ficar com aquela mãe que dá carinho e que se ama. Aceite que ser mãe é em certa medida ser a madrasta, ou seja, odiada, mas pode deixar claro a eles que mesmo estando bravos e com raiva, assim mesmo, terão que te obedecer. O tempo é o seu melhor aliado.

Um comentário:

  1. Desculpe acrescentar uma opinião?
    Achei perfeita a sua orientação, só gostaria de acrescentar que a mãe poderia criar opções para os filhos descarregarem a raiva e a frustração em esportes, no desenho, em histórias e até socando almofadas, ou amassando argila... entre outras.

    Um abraço.

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