sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Pergunta de Leitor - Mais Mente




Tenho 35 anos e estou com uns projetos profissionais importantíssimos que estão me tirando o sono. Percebo que estou muito irritado com minha família e brigo com facilidade, coisa que nunca fazia antes, sempre havia sido muito tranquilo. Não estou dormindo e nem descansando bem e o estresse está me deixando mal, cheio de aborrecimentos diários. Antes tinha um trabalho remunerado, as coisas eram até mais fáceis, mas agora estou abrindo o próprio negócio e tento fazer de tudo para que as coisas deem certo. O que será que faço, será que vou a um médico para tomar remédio? Muita gente toma, não?


            Ir a um médico e ele te passar medicação até é possível. Entretanto, não há remédio algum no mundo que consiga evitar o que sentimos. A sua questão tem a ver com o que você sente e com a maneira que lida com o que sente.
            A sua irritação não vem, propriamente, dos seus projetos e dos resultados destes. Porém, vem do desconforto da angústia que lhe é despertada quando você não sabe acerca do futuro, quando é com o desconhecido que tem que lidar, com o não saber. O controle que você tem dos seus projetos vai até um certo limite e quando você percebe isso a angústia vem com intensidade.
            Não dormir, irritar-se, estressar-se são todos sintomas de que aí dentro de você as coisas estão caóticas. Procure o médico, se quiser, mas não deixe também de pensar na análise que precisa começar e que agora é o melhor momento. Numa análise poderá aprender a lidar com o que sente de maneira mais eficiente e sem tantos desgastes. A análise nos ensina a pagar menos na vida.
            Certamente o remédio seria mais fácil, mais difícil é procurar se compreender e desenvolver recursos que te permitam tolerar o que você sente sem precisar ficar estressado e irritado. Só nos irritamos e nos estressamos quando a demanda da mente não é atendida, ou seja, quando há mais coisas a serem digeridas e pouca mente para dar conta. Não é de menos irritação que você necessita contudo, é de mais mente.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Não estamos Sós




            Não se pode noticiar sobre suicídios abertamente na mídia. Isso ocorre porque se todos os suicídios fossem amplamente divulgados isso poderia gerar ideias em quem está pensando em tirar a própria vida. Seria como estimular, mesmo que indiretamente, o suicídio. Só para se ter noção estima-se que no Brasil uma pessoa se mata a cada 45 minutos, o que é uma taxa altíssima e faz do pais o oitavo em números de suicídios. É compreensível que não se divulgue com tanta precisão e acurácia sobre os suicídios que estão acontecendo a toda hora, mas o que precisamos é falar mais sobre eles.
            Falar sobre os motivos que podem levar uma pessoa atentar contra si mesma é fundamental para que entendamos que isso pode ocorrer com qualquer um, de qualquer classe social e escolaridade. Muitas vezes pensamos que só famílias nitidamente desajustadas, com sérios problemas é que terão algum membro que se mata, mas na realidade não é assim. Claro que em famílias disfuncionais o suicídio ocorre, mas não apenas nelas. E falar sobre o sofrimento desesperador que pode levar ao suicídio pode fazer com que muita gente que está sofrendo em silêncio veja que não é só ela que está se sentindo assim e com isso possa vir procurar ajuda.
            Sofrer silenciosamente, como se fosse algo muito incomum e vergonhoso, é uma das piores coisas para quem pensa em suicídio. Porque esse silêncio torna tudo muito mais pesado, muito mais forte do que realmente é. A solidão amplifica os sentimentos negativos e faz com que um rato transforme-se num elefante. Acreditar-se só em uma dor pode deixa-la insuportável e levar a pessoa a querer se livrar dela tão desesperadamente que ela confunde a dor que sente com ela mesma e mata-se a fim de matar a dor.
            Porém, falar sobre os sofrimentos e sentimentos pode ser libertador. Quando compartilhamos o que sentimos e o que vivemos com outras pessoas nos damos conta de que não somos os únicos que sofrem, mas que há todo um mundo de gente passando por problemas e adversidades similares. Isso acalma, nos torna humanos e vemos que não somos fracassados e exceções, mas simplesmente somos humanos. Saber que outros também passam e compreendem a dor que sentimos pode ser humanizador. Falar sobre os distúrbios mentais, sobre as fantasias que nos angustiam é vital e se faz necessário. Não estamos sós em nossas dores e saber disso pode nos levar à vida.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Pergunta de Leitora - Gozo pelo Sofrimento




Casei com 23 anos, hoje tenho 30 e estou entediada com o casamento. Meu marido é muito, muito ciumento e não me deixa sair para lugar algum. De uns tempos para cá um amigo dele começou a me falar que eu sou muito bonita e inteligente para me submeter a tantas exigências. Com o tempo acabamos ficando muito íntimos e em uma briga que tive com meu marido fui desabafar com esse amigo e nós acabamos ficando. Já tem quase cinco meses que estamos saindo escondidos, estou tentando separar do meu marido mas não sei se ele aceita, meu amante quer que eu me separe para ficar com ele de vez . Não sei o que fazer.


            O que será que você de fato quer? Não entendi pelo email que me enviou. Quer se separar? Então, o que te impede? Se você deseja a separação deve ir atrás dela, no entanto fica a esperar que seu marido se separe por você. Quem quer algo deve correr atrás e pagar o preço.
            Posso estar errado, mas tenho a impressão que é justamente isso, o preço, que você evita pagar. Seu marido estabeleceu sua vida e você aceita e faz da vontade dele lei, mesmo que cladestinamente você faça o contrário. Não luta pelo o que quer e precisa se esconder. Agora, assim como fez com o marido faz com o amante que decide que você não deve se submeter às exigências do marido, só que cria outras exigências a que você se submete. Isso é o mesmo que pular da panela para a frigideira. Em outras palavras você não mudou, só mudou os personagens, mas o roteiro continua o mesmo.
            Enquanto não aprender a ser sujeito da própria vida tudo será a mesma coisa e se repetirá. Para isso não acontecer precisará se conhecer e ser fiel ao seu desejo do que pode na vida. A questão não é o marido e nem o amante, mas o que você faz consigo.
            Somos responsáveis pela maior parte do que nos acontece na vida. Muitas vezes gostamos de pensar que somos vítimas do destino já que o sofrimento também proporciona um gozo. Um gozo masoquista, mas mesmo assim um gozo! Só que ficar presa a esse tipo de gozo empobrece a vida e os sentidos e deixa-se de se descobrir de verdade a pessoa que poderia vir a ser. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A Desgraça e o Ipê




            Na quinta-feira passada estava no centro de Londrina e vi que uma multidão se reunia numa esquina olhando para cima. O trânsito ficou parado, carros da polícia e bombeiros trancavam as ruas e as pessoas exalavam uma mistura de medo, angústia e excitação. Alguns já sacavam o celular e apontavam para cima. Uns riam, outros colocavam a mão na boca como se estivessem muito ansiosos. Quando olho para cima vejo um homem, parece que jovem, do lado de fora da janela de um edifício ameaçando se jogar. Uma cena de suicídio estava prestes a acontecer.
            Apesar de ser extremamente triste se deparar com aquela situação de uma pessoa, provavelmente desesperada com uma carga de sofrimento alta, ameaçando se jogar me surpreendeu e me deixou desconfortável perceber a reação das pessoas assistindo a cena. Tinha pessoas que até gritavam e ensaiavam um coro de “pula, pula”, outros caçoavam do sujeito do lado de fora da janela dizendo que ele era um perdedor e muitos, quase toda a maioria, estavam com seus aparelhos celulares levantados filmando a cena e mais ainda, esperando poder capturar o momento fatal.
            Sim, havia pessoas torcendo para que o homem pulasse. Claro que também havia aqueles que ficaram incomodados e com empatia pelo sujeito, mas foi muito deprimente notar que a grande maioria queria um show, uma cena para poder registrar e depois compartilhar como se não fosse nada demais. Isso me fez pensar no quanto há alegria na desgraça alheia. Parece que há um prazer em ver o outro numa situação tão ruim e comprometedora. Por que?
            Quando se vê o outro numa situação pior faz com que muita gente se sinta bem consigo própria. Dizem para si “Posso estar ruim e mal, mas esse sujeito está pior, então não estou tão mal assim” Essas pessoas se identificam com o sujeito que está desesperado, mas também se comparam de uma maneira que as façam se sentir melhor ou por cima. Alegram-se que existe gente mais desesperada. Uma cena de acidente, por exemplo, sempre junta vários transeuntes, mas poucos são os que ajudam ou oferecem apoio sendo a maioria curiosos e sedentos pela desgraça alheia. Estão procurando uma confirmação que a vida deles não está tão ruim assim.
            Triste notar que o funcionamento dessas pessoas torna uma situação tão delicada, tão complexa e perigosa quase em um entretenimento. E na era dos smartphones com câmeras precisas o que se registra é o desejo pela desgraça para assim se sentir bem. Quando um lindo ipê no mesmo centro de Londrina abriu-se maravilhosa e fartamente em flor não vi tanta gente ir registrar essa beleza. Passavam inconscientes de que estavam diante de uma mágica da vida muito preciosa. Pois é, estamos nos esquecendo de nos conscientizar da beleza, do bom, daquilo que é vida e estamos com o olhar preparado para a morte e o sofrimento. Isso tudo forma a sociedade em que vivemos e devia nos alertar para nos transformamos urgentemente. Não perco as esperanças, contudo, porque sei que há pessoas buscando com seus olhares aquilo que nos torna humanos, que nos encanta e que buscam e trazem razão para se viver.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Pergunta de Leitora - Os Caminhos de cada um




Ao longo da vida tive vários namorados. Me sentia satisfeita sexualmente com a maioria deles. Sou casada há 10 anos e tenho filhos. Amo muito meu marido. Entretanto, ele não me satisfaz no sexo quando o assunto é a penetração. O pênis dele é muito pequeno e nunca me senti preenchida. O amor falou mais alto e achei que superaria esta questão. Então acabei namorando e casando. Apesar de estar feliz com ele em vários aspectos a insatisfação sexual me incomodava e este sentimento ficou grande. Faço academia há algum tempo e há dois anos estou ficando com meu personal. Ele me faz sentir feliz na cama. Como estou feliz hoje! Minha relação com meu marido, que já era boa, melhorou muito. Tenho mais paciência com todos e meu olhar brilha. Sinto-me viva! Amo muito meu marido e minha família. Amo muito também fazer sexo com meu amante. Todos dizem que estou radiante. Não sinto culpa por fazer o que estou fazendo e viveria assim fácil. Mas o que estou fazendo está correto? A religião diz que é pecado. A sociedade diz que é errado. Como abrir mão disso tudo se estou me sentindo tão bem? Por que a sociedade tem que ser assim, cheia de regras? Queria poder continuar fazer o que faço, mas ao mesmo tempo não queria que minha felicidade causasse danos a outras pessoas. Não tenho como contar isso ao meu marido. Ele sofreria e se separaria de mim. Não quero vê-lo sofrer e quero o amor dele. Quero que seja meu companheiro até que a morte nos separe. Só não quero abrir mão de minha satisfação sexual. O que faço?


            Você vive como muitos homens viveram e vivem. Você consegue, ao que parece, separar o amor do sexo. Sempre foi mais fácil para os homens fazer essa separação, muito pela própria cultura, e sempre foi vedado às mulheres esse tipo de vida. A culpa você não carrega (e nem precisaria) mas se preocupa com o que os outros dizem e impõe.
            Como deveria ser um casamento? Será que há uma única resposta certa para essa questão? Há vários tipos de casamentos e cabe a cada casal descobrir o que funciona para eles. Sim, porque na realidade o casamento não é aquela coisa bonitinha e idílica que todos insistem em vender, mas é algo bem mais complexo e sem definições claramente nítidas.
            Claro que o que você vive pode te trazer problemas, mas só você mesma poderá decidir se deve arriscar esses problemas ou não. O que você sabe é que sente que não pode abrir mão do prazer sexual que é muito importante para a qualidade de vida nem pode abrir mão do marido que ama e te faz bem. Como pode ver não é mesmo uma situação que possui resposta pronta e fácil. Depende muito do que você pode arriscar perder.
            A vida não é mesmo fácil e como sempre costumo dizer ela não vem com manual de instrução. A gente precisa aprender a viver, a escolher. Algumas coisas podemos abrir mão enquanto outras não e não há um guia que indique quais são essas coisas porque a vida é individual e intransferível. Cabe a cada um aprender como pode viver. A moral e a religião até têm seus lados positivos e úteis, mas em muitos aspectos qualquer teoria do que é certo ou errado está mais a serviço de se encontrar uma resposta mágica e universal do que incentivar cada um a descobrir os próprios caminhos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Quando a Psicoterapia é Nociva




            No momento em que alguém procura ajuda psicoterapêutica é porque está sofrendo. Quando a vida se torna um peso e algo muito custoso é preciso mudanças que melhorem as perspectivas e a forma que se vive. Problemas, sofrimentos e adversidades todos têm e não há como se livrar disso tudo, mas a forma como vamos lidar com o que nos acontece pode ser trabalhada para que não tenhamos que pagar um alto preço que prejudique nossa qualidade de vida. Estar bem internamente é algo fundamental para vivermos apropriadamente. E por isso mesmo muita gente acaba procurando ajuda psicoterapêutica.
            Apesar de parecer bom algumas pessoas procurarem ajuda com algum psicoterapeuta isso pode ter um lado negativo. Afinal, nem tudo o que reluz é ouro como já diz o ditado. O perigo está no próprio psicoterapeuta e em sua formação. Infelizmente, há profissionais que mais fazem mal que bem e com isso geram toda uma variedade de prejuízos nocivos.
            Um bom profissional da psicanálise e psicologia é aquele que passa por uma formação extensa que exige muito mais do que apenas cursos e supervisões. Exige a própria análise pessoal. Sem ela o profissional é um completo cego, pois terá muitos núcleos dentro de si que não foram analisados a contento e que o impedirão de lidar de forma satisfatória com seus analisandos. Como um cego pode conduzir outro? Não dá, senão corre-se o risco de ambos caírem.
            Um profissional que não conta com sua experiência pessoal de análise pode prejudicar o analisando alimentando sua patologia ao invés de ajudar a pensar sobre ela. Há pacientes que ficam piores ao longo de suas terapias e que se tornam, por exemplo,  mais narcísicos e vaidosos ou mais intolerantes e fazendo uso frequente de diversas defesas que embotam a vida. Nesses casos a psicoterapia tornou-se um vínculo patológico e não algo a favor do crescimento e desenvolvimento. Vemos que a relação psicoterapêutica pode ter uma natureza nociva também, dependendo da dupla que se forma entre analista e analisando.
            Ao contrário do que muitos acreditam nem toda psicoterapia é benéfica. É importante que se veja qual o vínculo predominante entre um analista e um analisando. Pode até haver boas intenções, porém recorrendo a outro antigo e verdadeiro ditado popular: o inferno está repleto de boas intenções. Não é porque duas pessoas se encontram num consultório com regularidade que algo bom está acontecendo. Pode estar ocorrendo apenas enganos e prejuízos.         

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Pergunta de Leitora - Demasiadamente Humano




Tenho um irmão com doenças sérias: diabetes, colesterol alto, cálculo na vesícula biliar e outros males. Sempre digo que ele precisa praticar meditação, mas ele não me dá bola e só continua com os tratamentos convencionais e tradicionais. A meditação faz milagres acontecerem, como já foi provado e todas as doenças podem encontrar na meditação a sua cura. Só ver que os monges orientais que praticam meditação não padecem de nenhum mal que nós ocidentais padecemos. Por mais que eu insista com ele, ele se mantém fechado e resistente. Queria saber que técnicas da psicologia ou psicanálise posso usar para convencê-lo de que é para o bem dele praticar meditação? Desde já obrigada.


            A sua pergunta é frequentemente feita por muitas pessoas que não entendem o que seja ou como funciona a psicologia. Aliado a isso há também a má fé e o mau uso que muitos profissionais fazem de suas profissões e que acabam por trazer todo um mal-entendido. E haja enganos e deturpações!
            O engano está em acreditar que a psicologia ou a psicanálise vai estar a serviço do ato de convencer. O psicanalista não convence ninguém até porque convencer é invasivo e rude. Ninguém deve jamais interferir no livre arbítrio do outro e convencer é apenas outra palavra para manipular. A manipulação é um desserviço e mais atrapalha do que ajuda.
            Há inúmeras pessoas que perguntam como podem convencer o outro disso ou daquilo. Entendo que você queira o bem dele, mas não há nada mais que possa fazer além de conversar com ele. O que ele vai fazer com a conversa de vocês é problema dele e não seu. Precisamos entender que temos limites dos quais não podemos ultrapassar. A vida é dele, o preço é ele quem paga e portanto só ele tem como saber o preço que pode e que quer pagar. Uma das coisas mais importantes de aprendermos na vida é saber aceitar que nem tudo podemos e controlamos mesmo que tenhamos boas intenções.
            Agora, vejo também que há da sua parte idealização da meditação e do estilo de vida oriental. Que as técnicas meditativas e orientais são uteis e existentes por milênios todos sabemos, mas não é o remédio universal que serve a todos. Esse remédio milagroso está mais nas suas fantasias que na realidade. No oriente, e mesmo entre os monges praticantes de meditação, há também doenças e males que são típicos do corpo e da condição humana. O próprio Dalai Lama, autoridade máxima do budismo tibetano, afirmou que adoece fisicamente como qualquer outro, afinal ele é um homem como qualquer outro. Idealizar uma existência independente do corpo e dos seus males pode ser onipotência e medo de entrar em contato com a própria humanidade.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Ônus e Bônus




            Um homem passou grande parte de sua vida trabalhando e vivendo em uma ilha que era considerada uma das mais belas do mundo. Ao se aposentar, voltou para uma cidade grande e lá uma pessoa lhe falou: “Deve ter sido maravilhoso passar tantos anos num lugar que é considerado uma das maravilhas do mundo!” O homem pensou sobre isso e disse: “Se eu soubesse que esse lugar era tão lindo, assim como todos falam, eu teria dado uma olhada melhor nele”.
            Parece que na história acima o homem era tão inconsciente, vivia trabalhando e se ocupando de outros afazeres, que era incapaz de aproveitar o que estava ao seu redor. Não abria espaço dentro de si para a experiência do encantamento e, por isso mesmo, não percebia a beleza do lugar onde se encontrava. Passou anos vivendo (ou seria sobrevivendo?) dessa maneira. Só quando alguém lhe falou que aquele lugar era especial ele se permitiu ficar curioso. Sim, parece uma historieta boba e inocente, mas extremamente reveladora do que muitas vezes fazemos conosco no dia a dia.
            Quantas pessoas não estão assim? Muitas. Ficam inconscientes de si mesmas e deixam de notar e conhecer coisas belas que têm dentro de si próprias. Essa ilha espetacular e cheia de belezas é nada mais do que a própria vida que temos a nosso dispor. Será que a apreciamos devidamente? Creio que devido ao grande número de pessoas que se prolongam em sofrimentos e lamentações a resposta seja um grande "não". Vamos nos ocupando com tantos outros assuntos que nos desgastam que nossa vida fica sempre para segundo plano, como uma coisa supérflua. Vivemos com tantos ônus que nos esquecemos de aproveitar os bônus que existem.
            Obviamente que a vida exige que trabalhemos, que invistamos tempo e dedicação em muitas áreas da vida relativas ao mundo do ônus. Afinal, isso é inerente à vida. Não há nada demais nisso. Entretanto, também faz parte da vida se permitir aproveitá-la. Devemos sempre nos questionar se estamos aproveitando verdadeiramente o que está a nosso dispor e se a resposta for não, procurar meios de mudar isso. Caso contrário a vida passa a ser muito limitadaAproveitar, contudo, não implica em viver um excesso de prazeres sem fim. Isso é entorpecimento, que torna-se prisão. Viver o bônus é muito melhor. Todos precisamos descobrir o bônus que está ao nosso alcance e tirar dele o melhor proveito.