Na quinta-feira passada estava no centro de Londrina e vi
que uma multidão se reunia numa esquina olhando para cima. O trânsito ficou parado,
carros da polícia e bombeiros trancavam as ruas e as pessoas exalavam uma
mistura de medo, angústia e excitação. Alguns já sacavam o celular e apontavam
para cima. Uns riam, outros colocavam a mão na boca como se estivessem muito
ansiosos. Quando olho para cima vejo um homem, parece que jovem, do lado de
fora da janela de um edifício ameaçando se jogar. Uma cena de suicídio estava
prestes a acontecer.
Apesar de ser extremamente triste se deparar com aquela
situação de uma pessoa, provavelmente desesperada com uma carga de sofrimento
alta, ameaçando se jogar me surpreendeu e me deixou desconfortável perceber a
reação das pessoas assistindo a cena. Tinha pessoas que até gritavam e
ensaiavam um coro de “pula, pula”,
outros caçoavam do sujeito do lado de fora da janela dizendo que ele era um
perdedor e muitos, quase toda a maioria, estavam com seus aparelhos celulares
levantados filmando a cena e mais ainda, esperando poder capturar o momento
fatal.
Sim, havia pessoas torcendo para que o homem pulasse. Claro
que também havia aqueles que ficaram incomodados e com empatia pelo sujeito,
mas foi muito deprimente notar que a grande maioria queria um show, uma cena para
poder registrar e depois compartilhar como se não fosse nada demais. Isso me
fez pensar no quanto há alegria na desgraça alheia. Parece que há um prazer em
ver o outro numa situação tão ruim e comprometedora. Por que?
Quando se vê o outro numa situação pior faz com que muita
gente se sinta bem consigo própria. Dizem para si “Posso estar ruim e mal, mas esse sujeito está pior, então não estou
tão mal assim” Essas pessoas se identificam com o sujeito que está
desesperado, mas também se comparam de uma maneira que as façam se sentir
melhor ou por cima. Alegram-se que existe gente mais desesperada. Uma cena de
acidente, por exemplo, sempre junta vários transeuntes, mas poucos são os que
ajudam ou oferecem apoio sendo a maioria curiosos e sedentos pela desgraça
alheia. Estão procurando uma confirmação que a vida deles não está tão ruim
assim.
Triste notar que o funcionamento dessas pessoas torna uma
situação tão delicada, tão complexa e perigosa quase em um entretenimento. E na
era dos smartphones com câmeras precisas o que se registra é o desejo pela
desgraça para assim se sentir bem. Quando um lindo ipê no mesmo centro de
Londrina abriu-se maravilhosa e fartamente em flor não vi tanta gente ir
registrar essa beleza. Passavam inconscientes de que estavam diante de uma
mágica da vida muito preciosa. Pois é, estamos nos esquecendo de nos
conscientizar da beleza, do bom, daquilo que é vida e estamos com o olhar
preparado para a morte e o sofrimento. Isso tudo forma a sociedade em que
vivemos e devia nos alertar para nos transformamos urgentemente. Não perco as
esperanças, contudo, porque sei que há pessoas buscando com seus olhares aquilo
que nos torna humanos, que nos encanta e que buscam e trazem razão para se
viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário