Quando chega a época do carnaval vemos inúmeras pessoas
sentindo-se obrigadas a se divertir horrores. Para elas é preciso curtir,
pular, beber, gargalhar desenfreadamente. Não é opcional, mas obrigatório e
quem não entra na onda da folia sem limites é porque não sabe se divertir ou é
um fracassado. Bom mesmo, de acordo com muita gente, é festar como se não
houvesse amanhã e como se nossa felicidade se baseasse no quanto estamos
gozando de uma alegria exuberante. Hoje, o mandamento que muito seguem é:
“Terás que gozar”!
Uma pessoa que jamais se permite viver a dimensão do
prazer será, com certeza, frustrada. Se nada pode e se tudo é proibido isso
gerará muitos sofrimentos e “neuroses”. Afinal, a vida sem prazer e sem festa
torna-se intolerável. Entretanto, o mandamento obrigatório de ter que se
divertir à beça também é torturante e nos faz viver numa prisão. Nesses casos
uma pessoa se sente obrigada a mostrar uma alegria escandalosa que não existe,
mas que se quer fingir que existe.
Quando a festa é compulsória e exagerada é porque se
trata de um desespero que fica oculto atrás de tantos pulos e gritos. Não se
enganem. Quem mais entra num delírio de alegria é quem mais está desesperado e
quem procura uma forma de compensar esse sentimento de desespero através de
excessos: bebidas, comidas, drogas, sexo e declarações insistentes do quanto
sabem curtir a vida. Tanto a proibição do prazer quanto o prazer excessivo são
sinais de que algo não vai bem, de que se leva a vida ineficientemente.
O budismo acredita que só pode ser feliz quem alcança o
caminho do meio, que é equilibrado. Para Buda, as atitudes extremas só oferecem
mais sofrimentos e ignorância. A ignorância procura compensações para a vida, o
que só leva a enganos. Para a psicanálise quando há obrigação de se gozar é
porque já não há mais prazer, mas angústia que precisaria e poderia ser tratada.
Caso contrário o prazer facilmente vira tortura.