A vida civilizada seria impossível sem contenção dos
nossos impulsos agressivos. Freud, em seu famoso trabalho “Mal estar na
civilização”, deixou claro que todos nós carregamos impulsos de natureza
agressiva que se não forem devidamente contidos e elaborados são um sério risco
à sociedade. Sem contenção imperaria a lei do mais forte e a humanidade não
poderia se desenvolver. O que está acontecendo no estado do Espírito Santo
mostra bem a barbárie que existe em cada um de nós quando não há contenção.
Foi só a polícia se retirar das ruas que o pandemônio se
instalou rapidamente. E não foram só ladrões que saquearam lojas e mercados,
depredaram, assaltaram e criaram terror, mas cidadãos de bem que nunca haviam
praticados atos dessa magnitude. Se tivesse sido apenas os bandidos
entenderíamos que a falta da força policial deixou o terreno aberto para os
crimes. Todavia, homens e mulheres comuns, sem passagem pelo crime, mostraram
que internamente são selvagens e que nunca desenvolveram uma verdadeira
contenção para com seus impulsos.
Quem não construiu dentro de si contenção fica sujeito
aos próprios impulsos e para de pensar. Agem como bestas sem limites e creem
que tudo podem. O fato de não haver polícia deu a sensação de que tudo era uma
festa sem fronteiras para satisfazer o que de mais primitivo havia em suas
mentes. É a lei do mais forte e esta lei é o fim do respeito que preserva a
vida em sociedade. Mais do que a falta dos serviços da polícia o que falta é
uma mente que tenha se desenvolvido a contento para não cair nos impulsos
primitivos.
Por contenção não me refiro a repressão. De nada adianta
viver uma repressão maciça na mente. Isto também gera sofrimento. Contenção é o
meio do caminho entre a selvageria e a ditadura. Viver bem e em sociedade
significa entender que nem tudo se pode e se deve. Diferentemente dos
brasileiros, quando houve a tsunami no Japão deixando tanta gente desabrigada,
os japoneses não incorreram em nenhum crime. Será que os japoneses não têm
impulsos agressivos ou será que eles desenvolveram uma mente que lida melhor
com a primitividade? Precisamos de uma educação sentimental que nos dê meios
para conter o que há de mais selvagem dentro de nós.
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