Nasci
com um defeito físico na face e já passei por várias cirurgias. Mesmo que essas
mesmas cirurgias tenham melhorado nunca fui normal e são muitos o que me
encaram com espanto e horror na rua. Minha mãe fica triste e para baixo com a
minha situação. Ela não se perdoa, achando que a culpa é dela. No entanto, ela
nunca me protegeu das chacotas das crianças na escola e da rua. Sempre tive
vários apelidos pejorativos. Meu pai nunca quis saber de mim e falava que eu
jamais poderia ser filha dele sendo tão feia assim. Meu tio disse que já que eu
era feia deveria, ao menos, ser inteligente, mas ele me chama de burra
frequentemente. Eu sei que sou uma pessoa gentil e boa e que posso fazer muitas
coisas na minha vida que me deem prazer, mas parece que preciso sempre ficar
justificando minha existência. Só que as vezes fico desanimada e sem vontade de
viver. Já fiz terapia e não me ajudou. O que posso fazer para sair dessa
situação?
A marca mais pesada que você carrega não está no que você
chama de defeito físico, mas na falta de relacionamentos afetivos de qualidade.
Relacionamentos que tivessem te dado a oportunidade de você gostar de si e de aprender
a se amar. A diferença, seja ela qual for, é um direito e você não precisa justificar o seu direito
à existência.
Sua
mãe se culpa, você diz, talvez porque ela não consegue se perdoar por ter tido
uma filha com “defeito”. Ela fica infeliz nessa situação. Entretanto, você não
precisa ficar, afinal você não nasceu para fazer a sua mãe feliz. Esta não é a
sua obrigação. A sua missão é você poder viver bem, já a felicidade da sua mãe
é tarefa dela. Sobre seu pai não há comentários, além dele ser um desalmado.
Com pais assim que não se permitiram te amar você ficou sem aprender a se amar.
A gente aprende a se amar com o olhar do amor do outro.
Hoje,
você precisa de novos pais. Porém, os pais a que me refiro são os pais
internos, aqueles que você pode criar dentro de si para se
preservar dos ataques e maldades que vêm de fora; e que crie condições para uma
construção de uma verdadeira autoestima. Em outras palavras, você vai precisar aprender a se
olhar de uma maneira diferente. Você necessita dar a você mesma o
que seus pais e familiares nunca te deram: afeto verdadeiro que te instigue a
desbravar as suas potencialidades e que não te permita sentir pena de si
própria.
Você
diz que já fez terapia, mas será que foi a psicoterapia certa, com o
profissional certo? O profissional que pode te beneficiar é aquele que poderá
te escutar de fato e possibilitar que você tenha um novo olhar e entendimento
de você mesma e do seu sofrimento. É aquele que poderá enxergar além do seu
“defeito” e criar condições para fazer emergir quem você realmente é. Enfim, é
aquele que poderá te ajudar a transformar a sua dor em algo que te faça
crescer. Você já sabe que é gentil e boa e que pode realizar muitas
coisas, só precisa dar passos além que te possibilite dar um desfecho mais
favorável à sua história.
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