segunda-feira, 11 de julho de 2016

Quando o Amor se Deturpa




            O amor devotado de uma mãe ao seu filho é de grande importância para o bom desenvolvimento deste. Aliás, sem esse amor materno fica impossibilitado a criança internalizar funções que propiciem um crescer tranquilo e seguro. A mãe é então vital. Entretanto, esse mesmo amor que se faz tão necessário pode se tornar algo perigoso e que ao invés de favorecer o amadurecimento corre o risco de trazer sérios prejuízos.
            Esse perigo se encontra quando a mãe se acredita na posse de seu filho e com isso não abre espaço para que ele encontre e faça os próprios caminhos. A mãe precisa aprender a abrir mão quando é chegado o momento, senão prende o filho, o que pode tornar o relacionamento intolerável. A mãe que não consegue compreender que seu filho não lhe pertence é narcísica, pois só reconhece a si mesma e os seus medos, sem perceber que seu filho é um ser independente.
            Quando uma mulher está em período de gestação o feto que dentro dela se desenvolve é parte de seu corpo. O cordão umbilical é a prova de que o feto é algo pertencente à sua mãe. O feto é totalmente dependente e a mãe se sente incumbida de fornecer total cuidado e passa a gostar disso. Após o parto há um bebê separado de sua mãe, porém mesmo assim continua na dependência dos cuidados maternos e a mãe o sente como parte de si mesma, afinal é algo saído de seu corpo. Nem poderia sentir diferente e é justamente esse sentimento de posse que permite que muitas mães deem aos seus bebês o cuidado e carinho que tanto precisam. Só que com o tempo esse filho tão dependente vai crescendo e tendo desejos próprios e o direito de ir em busca do que quer para si. Nada mais natural. O problema começa quando a mãe se ressente da independência de seu filho.
            No momento que a mãe sente-se mal com a liberdade do filho não se trata mais de um amor verdadeiro, mas de um amor deturpado que visa apenas o controle e a posse. Quando o filho, crescido e independente, é sentido como um filho ingrato o amor já perdeu espaço e o que domina é o ressentimento. Isso pode fazer com que muitos filhos se sintam culpados pelo próprio desenvolvimento e muitos até mesmo abdicam de si próprios para não contrariar a mãe que amam. Não é fácil ser filho, assim como não é fácil ser mãe. Os relacionamentos sejam de qual natureza for são complexos e necessitam de muita delicadeza e reflexão. A mãe, para estar bem, precisa aprender a aceitar que seu filho, que já lhe pertenceu por um tempo, tem vida própria. Fez o melhor que pôde o seu papel e se este foi desempenhado a contento o filho pôde ter crescido de maneira favorável e que já não mais precisa dela. Não precisar dela não implica o fim do relacionamento, mas apenas uma transformação. Onde antes havia uma ligação de dependência passa a existir uma ligação de independência. Deixar o filho seguir adiante é difícil, mas extremamente necessário.

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