segunda-feira, 4 de julho de 2016

A Cura Gay e o Autoritarismo



            A psicanálise teve e tem um papel importante na compreensão da sexualidade humana. Antes dela a sexualidade era exclusiva do campo da biologia e de suas determinações. Em 1905 Freud publicou um texto que abalou tudo o que se pensava até então. O artigo Três ensaios sobre a teoria da sexualidade mostra que a sexualidade é tão variada e complexa que tentar explica-la apenas sob uma ótica biológica seria ingênuo. Neste mesmo texto Freud também separa a sexualidade da reprodução, ou seja, a sexualidade não mais está vinculada apenas para fins reprodutivos, mas é algo que faz parte de nossa identidade.
            Já que a sexualidade não tem fins estritamente reprodutivos não dá mais para dizer que a homossexualidade não é natural. A sexualidade ultrapassa o corpo e está inscrita na fantasia, que pode ser várias. A forma que cada um vive sua vida sexual é de foro íntimo e diz respeito ao que é possível para cada um. Talvez possamos dizer que o ser humano não é heterossexual, homossexual ou bissexual. O ser humano é simplesmente sexual.
            Para aqueles que temem que a homossexualidade vá corromper todo mundo e que não mais haverá casais heterossexuais, bem, no mínimo podemos dizer que essa afirmação é ridícula. Na história sempre houve homossexuais e teve até mesmo povos que a consideravam um destaque social, como os antigos gregos. Nem por isso a Grécia deixou de existir. Agora, podemos entender que quando o direito de alguém viver sua sexualidade passa a ser questionado é porque o autoritarismo ronda e isso é um péssimo sinal de como andam as coisas.
             A cura gay é projeto autoritário pois define o que é ou não ser normal, como se conceito de normalidade existisse. Em psicanálise diz-se que é cura quando há o cuidado consigo próprio e não quando alguém atinge esse ou aquele ideal. Desejar pelo outro deveria ser considerado crime já que priva o indivíduo de sua liberdade de se construir como realmente pode. Nenhuma figura autoritária reconhece a diferença e tem por ela ódio. Tem tanto medo do que não é capaz de entender que ultrapassa limites e decide o que pode ou não. Nenhuma autoridade pode decidir como cada um tem a possibilidade de vir a ser.

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