Tenho 20 anos e sou
estudante universitária do curso de letras. Comecei há pouco tempo fazer
terapia, mas fico muito incomodada na sessão porque as vezes não sei o que
falar, apesar de sentir que há todo um mundo dentro de mim. Já quis escrever uma
carta e entregar para meu psicólogo ler e me entender, mas será que posso fazer
isso? Tenho medo de ele achar que isso é algo infantil, mas me dou muito melhor
com as palavras do que com a fala. O que o senhor acha?
Escrever é
uma arte e a escrita das epístolas (cartas) serviram como meio de comunicação entre
várias pessoas pelo mundo afora. Freud, criador da psicanálise, por exemplo, mantinha
correspondência com muitos conhecidos e desconhecidos e essa atitude lhe foi
muito proveitosa. Outro exemplo, no novo testamento, as epístolas são partes
importantes da formação de novas ideias das comunidades que se criavam.
Se para você
o recurso da palavra escrita lhe é possível e agradável, por que não fazer uso
dele? Se a melhor maneira que você tem para se comunicar é escrevendo isso tem
que ser levado em consideração. Ao escrever o escritor se reinventa e organiza
o caos que está dentro de si. Há pessoas que escrevem porque a escrita já é uma
terapia.
Desapegue-se
da ideia que você tem do que seja uma sessão de psicoterapia. Talvez você
acredite que precise falar verbalmente e que se assim não ocorrer não haverá
terapia. Para a psicanálise não importa a palavra em si, mas o sentido que a
palavra carrega. É nas entrelinhas das palavras que a sessão ocorre e independe
se essa palavra seja verbal, escrita ou até gestual.
Não sei como
é seu psicólogo, mas é importante que ele te “leia” e que nesse sarau o
encontro analítico ocorra. Encontro que está sempre em busca de uma compreensão
e aceitação, com o analista te ajudando você mesma se ler e se aceitar. A gente
não deve nunca desperdiçar os nossos dons, já que estes são as verdadeiras
riquezas que existe no mundo. Para o escritor escrever não é luxo, mas
necessidade e quando ele escreve descobre a fonte da juventude.
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