Traçar a natureza de
um estuprador não é tarefa fácil. Primeiro porque não existe apenas um único
tipo de estuprador, sendo que as pessoas são várias e portanto há vários tipos
de estupradores. Segundo, porque o que leva alguém a cometer tal ato bárbaro
pode ter vários motivos (nenhum justificável) e não um apenas. Entretanto,
podemos dizer que o estupro é de uma selvageria só e a demonstração de como
dentro das pessoas jaz um monstro que ameaça a humanidade.
Para a cultura e/ou civilização existir é necessário que
todos nós aprendamos a conter os nossos impulsos de violência. Sem essa
contenção o mundo estaria sempre submetido à lei física do mais forte e atos monstruosos
seriam corriqueiros e frequentes tornando a vida civilizada impossível. Na
civilização nem tudo se pode e há limites que não podem ser ultrapassados, pois
transgredi-los impediria que nos organizássemos de maneira eficiente que
pudesse permitir construir uma sociedade, uma ciência, leis e uma condição a
qual nos propiciasse a chance de virar humano de fato. Ninguém nasce humano,
mas a gente se torna humano através dos relacionamentos de qualidade.
Conter os próprios impulsos é desagradável, pois implica
em suportar certa dose de frustração. Quando nossos impulsos encontram
resistências ficamos mesmos frustrados, já que os impulsos só querem ser
satisfeitos. A questão é que não são todos os impulsos que podem ser
gratificados porque muitos deles são destrutivos e danosos. Quem aqui nunca
ficou com uma raiva danada de alguém que nos fez algo ou nos prejudicou e a
gente até pensou que queria matar ou esganar? Todos. Porém a contenção em nós
evita que gratifiquemos quaisquer impulsos, mas que pensemos e avaliemos
melhor. Agora, essa contenção só é possível se tivermos uma mente minimamente
desenvolvida. Sem mente não há educação que nos guie.
Esses 33 homens que participaram de um estupro coletivo a
uma jovem dopada não são seres humanos. São bestas monstruosas que só vivem de
acordo com os impulsos mais básicos e primitivos. Não há mente porque se
houvesse teriam vergonha de si e se colocariam no lugar da jovem submetida ao
estupro. Quem tem mente tem consciência. A falta da consciência escancara a falta
da mente. Tiveram vontade e oportunidade de estuprar. “Ora, por que não?” Devem
ter pensado. “Se eu posso e é o que o meu desejo manda.” A falta da mente faz
com que fiquemos presos aos desejos, sejam eles quais forem.
Todo estuprador é um impotente sexual. Sim, eles são
capazes de ereção, mas são incapazes de se relacionar com alguém. Essa é a
verdadeira impotência. Homens assim temem as mulheres, pois elas são
intensamente desejadas, mas como não são objetos elas independem do desejo
deles. Para um homem estar próximo e envolvido com uma mulher se faz necessário
conquista-la, despertar nela o desejo, ou em outras palavras, se relacionar com
ela. Por possuir desejo próprio a mulher pode aceitar ou recusar e homens
impotentes, que não desenvolveram uma mente para se relacionar humanamente,
temem a recusa e usam do terror para tomar violentamente o que querem.
O estupro é isso: um homem impotente, enraivecido pela
sua condição interna precária, cheio de desejo e que decide usar da força bruta
e da violência para fazer o que quer e obter prazer a qualquer custo. São tão
pobres esses homens que só possuem desejos primitivos. Não têm cultura porque a
cultura passa por um processo civilizatório. Só para terminar um alerta: 33
homens contra uma moça dopada nos envia um sinal que estamos falhando
seriamente em lidar com nossa natureza e em nos transformarmos verdadeiramente
em humanos.