A pior paixão que pode existir é a
paixão pela ignorância. Buda dizia isso com todas as letras e acrescentou que
esta paixão é perigosa porque leva ao apego e por consequência ao
aprisionamento. Para o budismo todo sofrimento tem como base o apego e toda
pessoa que tem apego é no fundo movida pela paixão. Quem fica apaixonado pela
ignorância, ou seja, fica fascinado por ela não consegue viver as experiências
de vida de maneira livre e desimpedida.
Freud dizia a mesma coisa sobre esse
tipo de paixão e pôde mostrar que uma pessoa nessa situação fica apegada ao seu
passado, não consegue larga-lo e por isso mesmo se repete indefinidamente. A
cura para a psicanálise pode ocorrer quando o sujeito se desapega de seu passado,
parando de se repetir para enfim ser livre e viver sua história de maneira
nova. A pergunta, então, é como essa cura se faz possível?
A cura em psicanálise acontece
através da fala e da escuta. O analisando fala de si, de suas experiências, de
suas ideias, de suas “teorias” e o analista escuta. Porém, essa escuta é
diferente de uma escuta passiva. É uma escuta onde novos significados e
sentidos podem emergir trazendo transformações. Quando o analista escuta o seu
analisando este último aprende a se ouvir e percebe onde e no que vem se
apegando. É só quando alguém aprende a se escutar é que pode aprender a se
desapegar do que nem sabia que estava apegado.
A descoberta da importância da
escuta é a origem da psicanálise. A escuta psicanalítica permite a associação
livre das ideias do analisando que conecta a vida que está vivendo hoje com as
experiências passadas das quais não consegue se livrar por estar fascinado
(apaixonado) pelo que já aconteceu. E
apenas quando o sujeito se desapega do que já lhe aconteceu pode viver livre e
disponível para as experiências de vida do tempo presente. Assim, a sua vida é
reinventada e não mais uma série de repetições. A psicanálise e o budismo têm
muitos pontos em comum ao entender o ser humano.