sexta-feira, 26 de junho de 2015

Pergunta de Leitora - Continuar a Dançar


Olhe bem o que me acontece. Casei pela primeira vez há alguns anos e pensei que seria feliz para sempre. Meu marido me abandonou e me trocou por outra. Depois disso vivi um período infernal, de muitas dores e sofrimentos. Me dediquei à arte e pintava quadros maravilhosos. Aprendi a tocar um instrumento musical. Enfim, fiz tudo aquilo que eu já fazia antes do meu casamento e que abandonei para me dedicar exclusivamente ao meu marido. Despois de um tempo conheci outro homem que parecia que ia ser o paraíso o nosso relacionamento e me dediquei cem por cento a esse homem, deixando tudo que era meu de lado. Mas mais uma vez fui abandonada. Não sei o que me acontece. Será que é minha sina ser abandonada? E percebo que quando estou na fossa, na lama, eu me dedico mais à minha arte. Me pergunto se só mesmo os que sofrem conseguem produzir arte.

            As pessoas entendem o casamento de uma maneira muito equivocada. O casamento, até mesmo os que estão registrados em cartório, não é uma coisa estável e que podemos chamar de um bem nosso, mas é algo vivo, que é fluido e em constante dinâmica. Por isso mesmo o casamento se trata de algo instável, um jogo que se não for jogado bem, termina. O amor é como uma dança e o movimento de um influencia o movimento do outro.
            Quando há uma separação decidida por um dos membros e que pega o outro de surpresa é geralmente porque o primeiro decidiu continuar dançando enquanto o outro optou pela imobilidade. É que o amor, que sustenta um relacionamento, só pode existir se os dois dançarem juntos e se um quiser ficar parado, sentado e esperando, o outro vai sentir uma irresistível vontade de procurar outro parceiro de dança. Será que é isso que lhe acontece?
            Você disse que nos seus dois relacionamentos você foi abandonada pelos companheiros que decidiram seguir sem você. Será que ao querer ser uma boa esposa e se dedicar exclusivamente ao parceiro você deixou de investir em você mesma, terminando por se abandonar e com isso foi murchando e perdendo atratividade? Vale a pena considerar essa hipótese para que você aprenda que o amor não implica em você se aposentar do que você faz por si mesma. Quando está só você consegue produzir, você diz, mas quando acompanhada parece abdicar de tudo que é você mesma e que havia encantado os seus parceiros.
            Quando não está acompanhada você se sente tomada por uma incrível vitalidade, que provavelmente deve ser um chamativo para que alguém se interesse e se aproxime de você. Depois de entrar em um relacionamento parece perder toda essa vitalidade e busca ser apenas uma esposa em tempo integral. Arrisco dizer que esses homens devem ter se sentido enganados por você. Quando pensaram que tinham encontrado alguém com quem dançar você demonstra que quer mesmo ficar parada. O que lhe é necessário é entender o que você faz com sua vitalidade assim que está em um relacionamento para que pare de se repetir e possa continuar dançando sempre. A vida, tal como a arte, não é rígida, mas sempre fluida. 

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