O
filme Cake (2015) retrata uma
história de dor. Claire, uma mulher que sofreu um acidente que a deixou
destruída fisicamente, tem que lutar com dores crônicas intoleráveis e que a
deixam depressiva. Faz uso maciço de medicamentos controlados para aliviar as
suas dores que nunca parecem diminuir. Pelo contrário, suas dores só aumentam e
mais ela vai abusando das drogas para, desesperadamente, encontrar certa paz.
Acontece que inicialmente somos levados acreditar que o filme mostra como a dor
física imensa que ela vive é que é o problema, porém a verdade é outra. A dor
que ela sente e que realmente a machuca não é física, mas mental.
Ocorre que a dor mental nem sempre é
bem acolhida. Este tipo de dor, que não tem como ser medida, se encontra na
dimensão subjetiva, ou seja, ela não tem um local, mas está em todo o ser e
define como as experiências de vida podem ser vivenciadas. Claire perdeu muito
mais no acidente, perdeu o próprio filho que estava com ela em seu carro.
Entretanto, Claire tenta de todas as maneiras desviar o foco da origem de sua
real dor e volta-se para o seu corpo. Assim é o corpo que padece, é o corpo que
sente dor e com isso ela tenta, inutilmente, negar a dor da alma, que é bem
mais esmagadora.
Para se esquecer da perda do filho
mantem seu marido longe. Afinal, a presença do marido pode evocar memórias que
ela prefere deixar abafadas. Ela o trata como inimigo, alimentando desdém e
intolerante com o sofrimento que o marido também está passando. Como ela
poderia acolher a dor do marido se a sua própria já lhe era insuportável? Não
só o marido ela afasta, mas todos aqueles que querem ajuda-la. Ela é tomada de
tanto ódio que este se volta contra si mesma e ela se coloca num lugar onde
fica inacessível a qualquer ajuda. É assim que ela passa a se ver, como alguém
além de qualquer ajuda.
Devido ao trauma do acidente ela só
consegue andar de carro se for com o banco deitado, mostrando que não suporta
ver a vida de frente. Toda a dor em sua mente é transferida para o corpo. Esse
deslocamento é também uma forma de não encarar a vida, de não olhar para si e
de negar a real natureza de seu sofrimento. Para aplacar a dor Claire participa
de um grupo de ajuda aos portadores de dor crônica e lá ela conhece uma jovem
que se suicida, deixando marido e filho sozinhos. Ao entrar em contato com essa
família ela vai percebendo que não é a única que sofre dores, que outras
pessoas também passam por perdas e situações difíceis. E é justamente essa
percepção que vai se formando que a ajuda a compreender o significado de sua
dor.
A sua empregada, Silvana, a ama e
nunca deixou de estar ao seu lado, mesmo que Claire muitas vezes a tratasse com
cinismo e desprezo. Silvana funciona como uma terapeuta, trazendo realidade
para as experiências de Claire. Também como terapeuta questiona Claire em
vários momentos e consegue mostrar que Claire torna-se egoísta quando se
envolve tão apaixonadamente com sua dor e ódio que se esquece de viver e levar
os outros em consideração. Em outras palavras, a sua empregada lhe faz um corte
analítico que promove descobertas num nível subjetivo.
Não é mesmo fácil passar por dores e
perdas. Queremos negar as experiências dolorosas e desprazerosas preferindo até
mesmo sentir dor física do que mental. Contudo, negar a própria dor é evitar
que ela possa ser digerida. A mente não tem como ser negada sem sérias
consequências. O preço dos nossos sofrimentos é alto, mas o preço das nossas
negações é sempre mais alto e mais amargo. Chega uma hora que precisamos
aprender a enfrentar nossas dores. Só assim a vida pode existir.
Fiquei curiosa para assistir esse drama com a Jennifer Aniston.
ResponderExcluir